sábado, 26 de junho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Na prorrogação, Gana bate EUA e põe a África na quartas de final

Em mais um bom jogo das oitavas de final, Gana derrotou os EUA com um gol de Asamoah Gyan no início da prorrogação (1 x 1 no tempo normal) e assim o único país africano na competição alcança as quartas de final. A partida realizada no Royal Bafokeng Stadium, em Rustemburgo, foi equilibrada e acabou decidida num lance de desatenção da defesa norte-americana e oportunismo do atacante ganês, que converteu em gol uma oportunidade semelhante a outras que os EUA tiveram no segundo tempo e não foram capazes de converter.

A primeira desatenção da defesa norte-americana, aliás, ocorreu logo no início do jogo, aos 4', quando Clark errou no meio-campo, foi desarmado por Kwadwo Asamoah e Prince Boateng avançou com a bola dominada pela meia-esquerda até a entrada da área, de onde chutou forte, rasteiro, no canto direito do goleiro Howard, fazendo 1 x 0. Nervoso, Clark, que não jogara contra Eslovênia e Argélia, perdeu os nervos depois disso, quase foi expulso dois minutos depois ao atingir Boateng e acabou substituído ainda aos 31' da etapa inicial.

Gana trocava bem a bola e, mesmo sem criar muito, envolvia os americanos, que erravam passes e só foram se equilibrar mesmo em campo com a saída de Clark e a entrada de Maurice Edu. Nesse final dos primeiros 45 minutos, os EUA já reagiam e dividiam a posse de bola com os adversários. Uma das grandes virtudes do time foi não afobar-se atrás do empate enquanto estava desacertado em campo, procurando tocar a bola em busca de espaços, o que ficou mais fácil após a já mencionada substituição de Clark.

Aos 22', os EUA mostravam qual seria uma de suas armas durante a reação: a movimentação de seus homens de meio-campo. Nesse lance, Dempsey caiu pela esquerda e tocou dentro da área para o volante Bradley, que foi ao fundo e cruzou para o meio, mas Kingson defendeu na pequena área antes da bola chegar aos pés de Findley. Aos 34', a melhor oportunidade no primeiro tempo, quando novamente Dempsey lançou, desta vez na diagonal, da meia-esquerda para a direita, onde Findley recebeu, penetrou sozinho na grande área e finalizou para ótima defesa de pé esquerdo de Kingson, que começava a se destacar.

Aos 36', um lance que foi o prenúncio do gol que derrubaria os EUA na prorrogação: Kingson cobrou um tiro de meta, Gyan raspou de cabeça e Asamoah apareceu dentro da área nas costas de DeMerit para chutar rasteiro e Howard salvar com o pé direito. Um lance para guardar.

No segundo tempo, o panorama mudou um pouco. Dempsey se bandeou mais para o lado direito, Donovan alternava pelos dois lados e Bradley chegava com maior frequência para colaborar na criação de jogadas. Sempre organizadamente e jogando com muita técnica, os EUA passaram a dominar o meio e abriram um buraco no time africano. Mesmo sem ter a intenção de recuar exageradamente, passou a existir um grande espaço entre a linha defensiva e os meias ganeses em relação aos homens de frente. Assim, os contra-ataques existiam, mas eram erráticos, sem a arrumação tática do primeiro tempo.

Logo no minuto inicial, Dempsey desceu pela direita e esticou para Donovan, que centrou rasteiro. Altidore dominou de costas para a meta e ajeitou para Feilhaber (substituiu Findley no intervalo), que riscou da marca do pênalti para a esquerda e quase da pequena área tentou tocar por cima, mas Kingson saiu muito bem e defendeu com a mão esquerda.

Gana ainda tentou confundir a marcação adversária, passando Ayew da esquerda para a direita (onde passou mais tempo nas partidas anteriores), com Inkoom ocupando o outro lado. Mas nesse momento os EUA pressionavam bastante. Até que, aos 15, Feilhaber tocou na meia-direita para Donovan, que apenas escorou para Dempsey dominar e invadir a área, onde foi derrubado por Jonathan Mensah. Pênalti que Donovan cobrou secamente no canto esquerda, à meia altura, com a bola ainda batendo na trave antes de entrar, enquanto Kingson caía para outro lado. Foi bom para o juiz húngaro Viktor Kassai, que um minuto antes deixara de marcar a infração máxima quando o mesmo Jonathan derrubou Feilhaber dentro da área.

O gol não tirou o ímpeto ofensivo dos EUA, que tinha na frente um Altidore muito participativo, mas mau finalizador - e que não teve velocidade para aproveitar excelente lançamento de Donovan aos 21', permitindo a Kingson abafar a jogada. Gana também ameaçava reagir, adiantando a marcação para forçar os americanos a não sair trocando passes. Mas isso não adiantou o suficiente para impedir que as grandes oportunidades continuassem a surgir apenas de um lado do campo. Como aos 30', quando Altidore enfiou para Bradley nas costas da defesa e o bom volante penetrou na área pela esquerda e bateu cruzado, rasteiro, para mais uma ótima defesa de Kingson. Aos 35', Altidore recebeu outro lançamento no ataque, ganhou no corpo de Jonathan e na saída de Kingson tocou para fora, ao lado do poste direito.

Como se vê, os norte-americanos desperdiçaram muitas chances para um jogo decisivo só. E o castigo veio logo no início da prorrogação. Sabe aquele lance lá em cima que disse que era para guardar? Pois é. Um chutão despretensioso da defesa pegou Gyan em condições de ganhar no corpo de DeMerit e Bocanegra e soltar uma bomba no meio do gol, sem qualquer chance para Howard.

Se parecia, durante o segundo tempo, que os jogadores de Gana estavam sentindo mais cansaço, fica-se a impressão - ou a certeza - de que um gol tem um poder de mil vitaminas. Os ganeses se recompuseram e posicionaram-se bem à espera do adversário, procurando segurar a bola o máximo que pudessem. Por outro lado, psicologicamente a nova desvantagem abateu bastante o time dos EUA, que pela primeira vez na Copa, provavelmente exausto de tanto correr atrás (foi assim contra Eslovênia, Argélia e hoje), apelou para a ligação direta da defesa para o ataque, chuveirando bolas e mais bolas, o que não é de seu padrão de jogo.

E apesar de todo o esforço, os EUA não conseguiram empatar novamente a partida, criando poucas chances na base do abafa, inclusive com o goleiro Howard indo para a área em um escanteio e nem voltando, para tentar aproveitar um novo cruzamento. A última chance americana ocorreu no penúltimo minuto, quando Dempsey conseguiu finalizar forte, mas Jonathan salvou no meio do caminho o gol que seria o de empate.

Na seleção de Gana, Ayew segue fazendo uma grande Copa e agora é um dos artilheiros da competição. Mas Kingson foi um monstro, só não pegando mesmo o pênalti. Bem armado e muito forte fisicamente, o time carece de maior tranquilidade nos momentos adversos e de se preocupar com a maneira como divide certas bolas, o que o deixa sempre a um passo da tragédia, que pode vir sob a forma de um pênalti ou de uma tola expulsão. Boateng poderia ter sido expulso e Jonathan já tinha entrado de maneira afoita e derrubado um adversário na área um minuto antes de fazer o mesmo no lance que o juiz assinalou o pênalti.

Nos EUA, destaque para Lando Donovan, cuja falta de pernas na prorrogação foi praticamente fatal para a equipe. Dempsey também fez um grande jogo, com ótimos passes deixando companheiros em condições de marcar. O filho do técnico, Bradley, mostrou muita versatilidade, desarmando firme e ainda saindo com qualidade para o apoio. É uma seleção que, apesar de não possuir muita habilidade, exibe uma técnica bastante apurada e é extremamente disciplinada taticamente. Mérito também do treinador Bob Bradley, para mim, um dos melhores desta Copa do Mundo - na verdade, até aqui o melhor. Pena que deu o azar de substituir Altidore (morto) na prorrogação e colocar em seu lugar o centroavante Gomez, que nada fez.

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 50: Estados Unidos 1 x 2 Gana.

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