quarta-feira, 25 de agosto de 2010

POLÍTICA ► Abandonada à própria sorte e repetitiva, campanha de José Serra só falta apelar novamente para Regina Duarte

O PSDB e o DEM são partidos com os quais democraticamente não me identifico, seja em nível de ideologias, propostas, práticas políticas ou o que for. Mas isso não me impede de observar que a campanha para tornar José Serra presidente do Brasil parece claramente abandonada e equivocada.

A impressão que me dá, impressão de quem observa "do lado de cá", é que o candidato está abandonado à própria sorte, sem nenhum esforço estratégico por parte da cabeça da coligação. Fica ainda a impressão de que nomes coroados dos dois partidos evitam se expor em uma campanha aparentemente perdida, salvo um imenso acidente de percurso eleitoral. O que é uma covardia com o ex-governador de São Paulo.

Uma coisa que respeito em políticos mesmo que de orientação contrária à minha é a fidelidade a seus princípios e a seus pares. Um exemplo é a postura de Roberto Jefferson (PTB) no impeachment de Fernando Collor. Jamais votei e jamais votarei em Roberto Jefferson (se fizer isso, internem-me, porque provavelmente terei perdido o juízo), mas até hoje o respeito por não ter participado daquele espetáculo patético que foi protagonizado por diversos políticos da base governamental de Collor.

Vendo que o impeachment passaria, muitos decidiram abandonar o barco na última hora e surfar na onda popular do movimento, votando pela derrubada do presidente que apoiavam, com direito a inflamados e hipócritas discursos moralistas. Ao votar "não", Jefferson justificou dizendo que não fazia sentido votar contra o homem que ele apoiara até ali. Legal. Discordo totalmente do voto, mas democraticamente o respeito, sentimento que não tenho em relação àquela enxurrada de falsos "sim".

Por isso acho que a participação - ou, no caso, a não participação - de nomes como Aécio Neves na campanha do candidato de seu partido à presidência da República é simplesmente vergonhosa. Enquanto Aécio mantém-se distante do pleito principal do país, vai garantindo com imensa folga sua vaga no Senado em Brasília por Minas Gerais - onde José Serra aparece atrás de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas.

E muitos peessedebistas estão agindo como Aécio. A intenção, na minha interpretação, é clara: ficar distante de uma candidatura que eles mesmos julgam derrotada, evitar se expor em um palanque contrário ao popularíssimo presidente Lula e assim seguir "imaculado" rumo a futuras eleições.

Ao lado de Serra, mas já sem o mesmo ânimo, apenas os chamados "jornalões" de Mino Carta (leia aqui).

Sem apoio político e sem criatividade, a campanha José Serra cai em discursos vazios, repetindo contra Dilma Rousseff mesmos argumentos usados contra Lula em eleições passadas: inexperiência, despreparo, ameaça de choque econômico, choque fiscal... Só falta ressuscitar Regina Duarte e seu vergonhosamente histórico bordão: "Eu tenho medo!" Em um ato que denuncia já certo desespero, até Lula Serra jogou em sua campanha.

Melhor seria que o candidato da coligação PSDB/DEM se prendesse a uma campanha de propostas efetivas, minimizando críticas como as citadas acima e mostrando suas ideias para mudar o que acha que está errado e aperfeiçoar o que julgar estar correto nas ações do atual governo. Simples assim, de maneira técnica. Até porque - como Dilma, aliás - Serra é considerado técnico competente. Só que Dilma está muito amparada pelos seus e Serra, não. Então faria mais sentido fazer campanha como um técnico e não como um político tradicional, papel em que não se sente nada à vontade, nunca representou bem e no qual sente imensa falta de uma direção ao menos interessada.

Posso estar completa e redondamente enganado, mas é assim que vejo a coisa.

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