quinta-feira, 5 de agosto de 2010

FUTEBOL ► Flamengo: uma torcida desrespeitada por maus atletas e dirigentes

Todo mundo conhece a força e o tamanho da torcida do Flamengo no país inteiro. Não é por ser Fluminense que não vejo isso. É o óbvio. Menos para o Datafolha, claro. Mas o Datafolha não conta, porque esse instituto de pesquisa parece retratar um Brasil bem diferente da realidade. Pois bem, todo mundo que não seja o Datafolha sabe que a torcida rubro-negra é a maior do país, sem sombra de dúvidas. Mas a maior torcida do país anda meio constrangida, envergonhada - e por justas razões.

As sucessivas incursões de estrelas do time pelas páginas policiais são realmente de corar qualquer cidadão de bem. Enquanto torcedores de futebol, fingimos não prestar muita atenção na vida fora de campo dos jogadores que defendem nossas cores dentro das quatro linhas. Principalmente quando se começa a ouvir à boca pequena que um faz isso, outro aquilo... O que importa é o time ir bem. O resto a gente finge que não vê.

Mas para tudo há limite. Primeiro foi Adriano, depois Vagner Love, novamente Adriano, para culminar na trágica barbárie protagonizada pelo goleiro Bruno. Goleiro e capitão da equipe. Goleiro, capitão e ídolo da garotada flamenguista. E aí o estrago foi feito.

Os pais sentem-se envergonhados. Como explicar ao filho que o ídolo dele (ou até deles) foi capaz de participar de um ato insane e covarde daquele? Se os mais velhos não se conformam, a criançada simplesmente não entende e fica chocada.

Se o clube tem um prejuízo de imagem incalculável, a dor da torcida é maior ainda. Há uma máxima - que acho de mau gosto - de que para o torcedor o que importa é o que o jogador faz dentro de campo. Mas estamos vendo que não é bem assim. No clássico contra o Botafogo pelo campeonato brasileiro, os rubro-negros foram minoria de um público que mal chegou a 15 mil pagantes. Depois, mesmo com duas boas vitórias seguidas (Botafogo e depois Goiás, fora de casa), menos de 20 mil torcedores presenciaram o empate contra o Avaí no Maracanã. Domingo passado, contra o Vasco, mais uma vez a torcida do Flamengo foi minoria.

Não são números ou fatos à altura da torcida do Flamengo. O Flamengo luta para entrar no chamado G-4, enquanto Vasco e Botafogo tentavam sair da zona de rebaixamento. Mas é notório o desânimo pelos lados da Gávea. O torcedor sente e parece envergonhado com uma situação provocada pela falta de pulso da diretoria do clube, que sempre fez vista grossa aos excessos de seus atletas. Como pode, com o passado conturbado de Bruno (desde os tempos de Atlético Mineiro), o goleiro ser nomeado capitão? Maior exemplo de que diretoria e comissão técnica não tiveram competência ou interesse em cobrar disciplina e respeito de seus jogadores não há.

Mas isso passa. Torcedores de todos os clubes com alguma razão na cabeça passam por isso. Também tive minha cota como tricolor. Especialmente quando o jogador Romário fazia do clube gato e sapato nos anos de 2003 e 2004. Era algo entre o patético e o humilhante. Simplesmente deixei de ir a campo quando esse não atleta estava escalado. Por um lado foi bom, pude dedicar mais sábados e domingos à minha então namorada, hoje esposa. Mas felizmente um novato treinador de quem o já veterano jogador um dia dissera "está chegando agora e já quer a janelinha" o tirou do ônibus. E foi assim que Alexandre Gama devolveu o Fluminense a mim - ou vice-versa. Talvez um dia ainda escreva sobre esses negros anos tricolores por aqui.

Enfim, aos poucos a torcida do Flamengo voltará com força, dependendo apenas dos resultados do time em campo, sem recear ver o nome de seus ídolos nas páginas policiais. Até porque jogadores vêm e vão, o clube fica. Novos ídolos surgem. O jovem Marcelo Lomba, por exemplo, tem se saído bem no gol rubro-negro. E goleiros exercem enorme fascínio sobre a garotada.

E mais a mais, agora um acima de qualquer suspeita Zico está comandando o futebol da Gávea, o que é garantia de respeito e profissionalismo não só para o Flamengo como para todo o futebol nacional. Impossível imaginar Zico passando a mão na cabeça de jogadores que maculem o nome do clube do qual ele é o maior ídolo da história e tanto ajudou a brilhar.

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