quarta-feira, 1 de setembro de 2010

POLÍTICA ► Deu na internet: "Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT", artigo de Leonardo Boff

Segue reprodução de excelente artigo assinado pelo teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, autor de "Depois de 500 anos: que Brasil queremos" (Vozes, 2000), no ótimo site Adital.

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30.08.10 - BRASIL
Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT
Leonardo Boff
Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, "capado e recapado, sangrado e ressangrado". Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguradados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: "façamos nós a revolução antes que o povo a faça". E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde "a coisa pública", o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: "não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido". Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. O "Fome Zero", depois o "Bolsa Família", o "Crédito Consignado", o "Luz para Todos", o "Minha Casa, minha Vida, o "Agricultura familiar, o "Prouni", as "Escolas Profissionais", entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um "não retorno definitivo" e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses "descobrindo/encobrindo" o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): "Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-Nação" (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

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Assino embaixo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

IMPRENSA ► O blues nasceu tanto na África quanto a bossa nova nasceu na Europa, certo?

Adicionar legenda
Sem querer ser o dono da razão, mas opinando porque a internet é livre, acho que os veículos de imprensa perderam de vez o cuidado com a qualidade do material que produzem. De vez em quando dou exemplos aqui porque é algo que me incomoda. Afinal, é minha profissão.

Uma coisa é pessoas como eu cometerem erros em meios como este, já que o fazem por puro diletantismo, passatempo, distração ou o que for. Outra é um profissional receber para isso e alguém pagar para receber informações equivocadas.

Já postei aqui alguns exemplos que me incomodaram. Aqui vai mais um. Esta semana, fechando uma matéria num dos jornais da Globo News sobre o recente evento Back2Black Festival, realizado no Rio de Janeiro, a repórter encerrou seu texto dizendo que o blues nasceu na África. Não é bem assim. Na verdade, não é nada assim.

O blues nasceu tanto na África quanto a bossa nova nasceu na Europa. Não se devem confundir raízes com a formatação de um estilo. Dizer que o blues nasceu na África é o mesmo que dizer que eu, você e todos à nossa volta somos africanos. Afinal, foi lá que foram encontrados indícios mais antigos da presença do homem moderno.

O que parece é que ninguém revisou a matéria para corrigir a informação ou revisou e achou que era aquilo mesmo. Ou, pior, ninguém liga para a qualidade do que é produzido. O que importa é cumprir pauta e finalizar o trabalho.

A pessoa mais desatenta acaba tomando por verdade uma mentira como essa. E, com o tempo, a mentira vai se perpetuando como verdade.

No fim, por linhas tortas segue-se uma não menos torta máxima jornalística: se a lenda é mais interessante que o fato, publique-se a lenda. E dane-se a verdade.

É minha opinião.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FÓRMULA 1 ► Lewis Hamilton vence em Spa-Francorchamps e polariza campeonato com Mark Webber

Ainda a seis corridas do final da temporada de Fórmula 1, parece que a inconsistência de Sebastian Vettel e os azares de Jenson Button vão deixar a competição polarizada entre o inglês Lewis Hamilton e o australiano Mark Webber. No Grande Prêmio da Bélgica, disputado no lindo e desafiador circuito de Spa-Francorchamps, sob sol, chuva e o que mais a natureza mandasse, Hamilton chegou na frente, seguido de Webber e do polonês Robert Kubica (mais um grande desempenho). Agora Hamilton lidera com três pontos de vantagem sobre Webber, que já tem 28 a mais que seu companheiro de equipe, Vettel, e 32 que Button.

Foi uma corrida de minimização dos erros, porque, como de hábito, o tamanho do circuito e o clima da região tornam cada volta um desafio a superar. Mesmo Hamilton não pode evitar uma escapada na brita, precisando de muito talento para não se chocar com o muro de proteção e manter-se na prova.

Logo após a largada, com tempo seco, desabou um aguaceiro no meio da volta que encharcou a pista a pista na região chamada de Bus Stop, fazendo quase todos os pilotos dar um passeio na área de escape. Pior para Rubens Barrichello. Rubinho, que completava 300 corridas não achou o freio e deu o azar de encontrar pela frente um dos poucos carros que fazia a curva dentro da pista, a Ferrari de Fernando Alonso.


Ali acabou a corrida de Barrichello, mas Alonso parou logo no boxe e aproveitou para colocar os pneus de chuva para tentar tirar proveito do acidente. Mas não era dia do espanhol, porque a chuva não durou muito e ele logo teve que fazer nova prematura entrada nos boxes. Depois a chuva voltou. E parou. E voltou...

Felipe Massa conseguiu um bom 4ª lugar, mas parece conformado com uma discreta temporada. Lucas di Grassi foi 17º e Bruno Senna parou na sexta volta.

O destaque negativo da prova foi Sebastian Vettel, cuja caixinha de asneiras parece ter sempre uma surpresa a mais. Desta vez, o rápido alemão provocou uma incrível colisão com Jenson Button. Uma barbeiragem daquelas. Na tentativa de ultrapassar o inglês, com pista seca, Vettel entrou rápido na reta, mas, ao se aproximar do carro da frente, parece ter ficado indeciso sobre que movimento deveria fazer. Ameaçou sair por um lado, recolheu e aí quem decidiu sair sozinho foi o carro, que rabeou e entrou de bico na carenagem da McLaren de Button, furando o radiador de uma maneira nunca vista na Fórmula 1. A McLaren parecia um avião abatido, fatalmente atingido, com um jato d'água forte saindo da lateral como se fosse fumaça.


Do lado positivo, além de Hamilton, Webber e Kubica, Nico Rosberg lutou com unhas e dentes para chegar à frente de Michael Schumacher - e conseguiu. A Mercedes já deve ter percebido que se não tivesse priorizado o veterano e recordista alemão em detrimento do mais jovem após as primeiras provas, Nico certamente estaria com uma pontuação bem maior.

Colocação final após as 44 voltas do GP da Bélgica:

1º) Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes) - 1h29m04s268
2º) Mark Webber (AUS/RBR-Renault) - a 1s571
3º) Robert Kubica (POL/Renault) - a 3s493
4º) Felipe Massa (BRA/Ferrari) - a 8s264
5º) Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes) - a 9s094
6º) Nico Rosberg (ALE/Mercedes) - a 12s359
7º) Michael Schumacher (ALE/Mercedes)- a 15s548
8º) Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari) - a 16s678
9º) Vitaly Petrov (RUS/Renault) - a 23s851
10º) Vitantonio Liuzzi (ITA/Force India-Mercedes) - a 34s831
11º) Pedro de la Rosa (ESP/Sauber-Ferrari) - a 36s019
12º) Sebastien Buemi (SUI/STR-Ferrari) - a 39s895
13º) Jaime Alguersuari (ESP/STR-Ferrari) - a 49s457
14º) Nico Hulkenberg (ALE/Williams-Cosworth) - 43 voltas
15º) Sebastian Vettel (ALE/RBR-Renault) - 43 voltas
16º) Heikki Kovalainen (FIN/Lotus-Cosworth) - 43 voltas
17º) Lucas di Grassi (BRA/VRT-Cosworth) - 43 voltas
18º) Timo Glock (ALE/VRT-Cosworth) - 43 voltas
19º) Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth) - 43 voltas
20º) Sakon Yamamoto (JAP/Hispania-Cosworth) - 42 voltas

Não chegaram:

21º) Fernando Alonso (ESP/Ferrari) - 38 voltas
22º) Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) - 15 voltas
23º) Bruno Senna (BRA/Hispania-Cosworth) - 6 voltas
24º) Rubens Barrichello (BRA/Williams-Cosworth) - 1 volta

Classificação do Mundial de Pilotos após 13 provas:

1º) Lewis Hamilton - 182
2º) Mark Webber - 179
3º) Sebastian Vettel - 151
4º) Jenson Button - 147
5º) Fernando Alonso - 141
6º) Felipe Massa - 109
7º) Robert Kubica - 104
8º) Nico Rosberg - 102
9º) Adrian Sutil - 45
10º) Michael Schumacher - 44
11º) Rubens Barrichello - 30
12º) Vitaly Petrov - 19
13º) Kamui Kobayashi - 17
14º) Vitantonio Liuzzi - 13
15º) Nico Hulkenberg – 10
16ª) Sebastien Buemi – 7
17ª) Pedro de la Rosa - 6
18ª) Jaime Alguersuari - 3

Classificação do Mundial de Construtores:

1º) McLaren -Mercedes - 329
2º) Red Bull -Renault - 330
3º) Ferrari - 250
4º) Mercedes - 146
5º) Renault - 123
6º) Force India-Mercedes - 58
7º) Williams -Cosworth - 40
8º) Sauber-Ferrari - 27
9º) STR-Ferrari - 10
10º) Lotus-Cosworth - 0
11º) VRT-Cosworth - 0
12º) Hispania-Cosworth - 0

FUTEBOL ► CBF adia jogo para Corinthians comemorar aniversário

Falar de favorecimento da CBF de Ricardo Teixeira ao Corinthians de Andrés Sanches é como chover no molhado, secar gelo, bater em bêbado ou qualquer outra expressão do gênero que expresse algo sem valor, sem efeito ou redundante. Mas quando fatos se sucedem assim...

Após uma semana em que decidiu arbitrária e injustificadamente (ou melhor, com justificativas patéticas e idiotas) interditar todo o Maracanã ao menos 45 dias antes do previsto (se necessário fosse antes do fim do ano) por não poder receber mais de 45 mil torcedores e dar um estádio de 48 mil lugares ao Corinthians para receber até a Copa do Mundo, a CBF segue sem medir esforços para ajudar os amigos, no tradicional estilo "toma lá, dá cá" de Ricardo Teixeira.

Agora, Brasileirão pegando fogo, principal competição de futebol do país, a CBF adia o jogo do Corinthians contra o Vasco em São Januário, no dia 1º de setembro, sob o prosaico motivo de permitir que o Corinthians comemore seu 100º aniversário em casa.

Mas não adiou para o dia seguinte ou mesmo antecipou o jogo. Adiou para dali a mais de 40 dias. Assim, em plena maratona de jogos quarta-domingo-quarta-domingo, o Timão tem uma semana livre para festejar - e treinar.

Ué, mas isso não é análogo ao tal "esta deliberação tem por escopo, também, manter a igualdade de condições entre os clubes participantes do Campeonato, que poderiam ser prejudicados caso a interdição do uso do estádio ocorresse em meio do returno do Campeonato" que a CBF usou como justificativa, divulgada em nota oficial, para a interdição do Maracanã?
Pergunta que não quer calar: será que a CBF de Ricardo Teixeira faria o mesmo por Flamengo ou Fluminense?

E não é ridículo que a grande maioria dos jornalistas esportivos apontem uma clara retaliação da CBF ao Fluminense por não ter cedido Muricy Ramalho à seleção brasileira? Será que não dava para disfarçar um pouco melhor?

Enfim, é apenas mais um fato desmoralizante que parece mostrar que o Campeonato Brasileiro da CBF é feito mais para uns que para outros.

Mas moral é palavra que não faz parte do dicionário CBFelesco, não é mesmo? Moral, ética, vergonha...

A CBF ainda é um dos resquícios do Brasil que dizia amém para o capital, a cultura e as diretrizes que vinham do estrangeiro. Na política e na economia nacional isso não existe mais. Mas o futebol, infelizmente, é independente e por isso está nas mãos de um ditador mantido no poder por asseclas espalhados por federações falidas, que, por sua vez, são eleitos até por clubes e ligas municipais fantasmas. Depois a CBF não sabe por que muitos torcedores a chamam de Casa Bandida de Futebol.

Mas um dia isso acaba.

É a minha opinião.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

RIO DE JANEIRO ► E aí, vai dar primeira página? Ah, é, não foi na Zona Sul...

Até quando a sociedade carioca e a mídia vão continuar a agir hipocritamente, reverberando com destaque apenas o que acontece no mundinho da Zona Sul do Rio de Janeiro? Abaixo, reprodução do G1:

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22/08/2010 12h36 - Atualizado em 22/08/2010 12h36
Jovem é morto após sair de baile funk no subúrbio do Rio


Ele estava acompanhado da namorada e casal de amigos.
Rapaz não tinha antecedentes criminais.

Do G1 RJ

Um jovem foi morto a tiros quando saía de um baile funk em Manguinhos, no subúrbio do Rio, na manhã deste domingo (21). De acordo com a Polícia Civil, ele estava acompanhado da namorada e um casal de amigos quando foi abordado por dois homens.

O rapaz, de 21 anos, foi morto próximo ao Colégio estadual Compositor Luiz Carlos da Vila. Segundo a polícia, testemunhas contaram que o jovem foi baleado no peito e nas axilas. As testemunhas contaram que, ao mesmo tempo que os assassinos mandaram ele “ir embora” fizeram os disparos contra a vítima.

O rapaz chegou a ser levado para um posto médico em Bonsucesso, mas não resistiu. De acordo com agentes da 21ª DP (Bonsucesso), onde o caso foi registrado, não há passagens da vítima pela polícia. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios.
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Pois é, nem primeira página nem quatro páginas de meio. Muito menos discussões pseudoantropológicas sem fim.

É minha opinião.

FUTEBOL ► Cretina decisão da CBF segue estapafúrdias declarações corintianas

Irônica coincidência a repentina e autoritária decisão da CBF de proibir o Fluminense de jogar no Maracanã logo após estapafúrdias e desqualificadas declarações do treinador Adilson Batista e do veterano lateral Roberto Carlos, ambos do Corinthians.

Adilson Batista começou a bater com esquisita insistência na tecla de que "o Fluminense vai perder um dia". Ora, claro que vai. Como perdeu para o Corinthians, numa partida em que foi vergonhosamente prejudicado pela arbitragem. Aliás, da mesma forma perdeu para o Ceará.

Já Roberto "No Meu Pulso Tem Um Apartamento De Quatro Quartos" Carlos fez insinuação de que os adversários entregam os jogos contra o Fluminense e se esforçam em dobro contra o Corinthians. Além de patética e infantil, a ponto de ser constrangedor de assistir (porque ele falava realmente a sério, não estava brincando), é uma declaração de graves implicações legais. Em qualquer país sério ou que não reze na mesma cartilha da Fifa esse jogador seria indiciado.

Logo depois Ricardo Teixeira abruptamente deu sua canetada sobre o Maracanã.

Tudo muito suspeito em se tratando de quem está envolvido e do passado recente de nosso futebol. Sabe como é, gato escaldado tem medo de água fria.

Se for uma tentativa de desestabilização (depois de perder a Libertadores, eliminado pelo Flamengo, o Corinthians precisa vencer o Brasileirão no ano de seu centenário), poderia ter sido feita de maneira mais discreta... e inteligente. Vamos ver se surtirá efeito.

É a minha opinião.

Vergonha: CBF quer sujar mais um campeonato fechando o Maracanã à revelia dos clubes, da Suderj e do governo do Estado do Rio de Janeiro

O maior favorecido? O Corinthians de Andres Sanches - de novo! "Santa coincidência, Batman!", diria o Garoto Prodígio. Do "1-0-0" das armações de resultados do campeonato de 1996 para cá, a CBF de Ricardo Teixeira tem sido bastante condescendente com os corintianos. Ou é pura sorte alvinegra.

Começando, vale explicar que a Suderj, o governo do Rio de Janeiro e os responsáveis pelas obras de reforma do Maracanã deliberaram o fechamento das cadeiras inferiores após o jogo de domingo passado entre Fluminense e Vasco para o início das obras. São eles os responsáveis por liberar ou não um estádio de futebol no Rio de Janeiro. As arquibancadas continuariam liberadas por, ao menos, mais 55 dias, até que uma avaliação fosse feita, havendo, inclusive, uma grande possibilidade das arquibancadas continuarem abertas até o fim do campeonato caso Fluminense e/ou Flamengo tivessem chances reais de conquistar o título. Ponto. Porém...

Como em 2005, a CBF age arbitrariamente e favorece, desta vez no ano de seu centenário, o Corinthians (atual segundo colocado) de Andres Sanches, presidente amiguíssimo, parceiro e provável candidato à sucessão do nefasto presidente da CBF, Ricardo Teixeira e vingar-se de inimigos notórios: Fluminense e Flamengo. O Flamengo, que ha tempos faz oposição a Teixeira; o Fluminense, que cometeu a heresia de não ficar de quatro para o pequeno ser que comanda nosso futebol e ousou não liberar Muricy para a seleção brasileira - problema rapidamente solucionado, com extrema boa vontade, por Andres Sanches. O presidente corintiano sabe que com Teixeira é "toma lá, dá cá".

Todos que acompanham futebol sabiam que em algum momento haveria o troco ao Fluminense. E é apenas isso aí que podemos deduzir da arbitrária medida, sem qualquer fundamento lógico ou respaldo histórico. Apenas ingênuos ou capachos podem cair nesse argumento de "temer pela segurança do torcedor". A nota oficial da CBF é um primor de cretinice e é tão burra que dá margem, simplesmente, à anulação ou interrupção do campeonato.

O Maracanã já passou por várias reformas, inclusive com gerais totalmente fechadas, sem que as arquibancadas fossem interditadas e sem que qualquer incidente fosse registrado. Aliás, já passou por diversas reformas nas próprias arquibancadas sem que o setor fosse totalmente interditado. Nem vale a pena lembrar todos os anos, mas, como ilustração, posso citar, sem pensar muito, 1999 e 2005. É algo corriqueiro para o torcedor, que jamais se incomodou ou manifestou qualquer preocupação quanto a isso. Paulo Cesar Vasconcelos, do SporTV, canal que costuma encampar tudo que sai da CBF, reproduziu o discurso oficial falando dos entulhos que poderiam ser usados como armas em caso disso, caso daquilo... Bobagem. Pura desculpa. E daquelas bem esfarrapadas.

As entradas de arquibancadas e cadeiras inferiores são totalmente independentes no Maracanã. Esse argumento de uso de entulhos como arma é absolutamente imbecil e ofensivo, porque quer tratar a nós, torcedores, que acompanhamos futebol com muito mais interesse que Ricardo Teixeira, como idiotas. É uma coisa tão idiota como dizer que o policiamento no estádio não pode usar revólveres, porque, em caso de confusão, eles poderiam ser tomados dos policiais e serem usados por vândalos.

Alguns trechos do comunicado oficial da CBF são extremamente hipócritas. É um comunicado burro, porque sequer soube alinhavar argumentos válidos. Como se diz no popular: "Quer roubar, rouba direito."

"Trata-se de decisão motivada estritamente por motivos técnicos, visando a preservar a segurança e o conforto dos torcedores." Tolice. Como disse acima, já passamos, nós torcedores, por isso em várias ocasiões sem problema algum. Que problema de conforto poderia haver na arquibancada se as obras começarão lá embaixo? Cadeiras e arquibancadas são setores tão estanques no Maracanã que não há como passar de um lugar a outro. E outros estádios seguiram recebendo partidas da CBF em condições semelhantes. O Mineirão também já passou por isso diversas vezes. O Atlético paranaense disputou mais de um campeonato inteiro com obras no setor que fica do lado oposto às câmeras de televisão.

"Esta deliberação tem por escopo, também, manter a igualdade de condições entre os clubes participantes do Campeonato, que poderiam ser prejudicados caso a interdição do uso do estádio ocorresse em meio do returno do Campeonato." Fala sério! Isso não faz nenhum sentido. Prejudicados vão ser os que enfrentaram Flu e Fla no Maracanã em relação aos que não jogarão ali. Seguindo esse raciocínio patético, o campeonato deveria ser anulado. Apenas um de infinitos exemplos: sem o Mineirão, o Cruzeiro e o Atlético jogam itinerantemente. E aí, isso pode? Quantas vezes clubes jogaram fora de suas cidades por motivos financeiros, favorecendo alguns clubes em detrimento de outros? É possível um argumento tão hipócrita?

"Parece-nos claro, no entanto, que a forçosa diminuição da capacidade do estádio, numa fase do Campeonato que habitualmente desperta maior interesse do público, poderia levar a uma situação crítica, pela falta de ingressos que satisfizessem o natural aumento da demanda." Pois é, pode haver argumento mais hipócrita, sim. Hipócrita, cretino, idiota, burro... Então o Santos pode decidir uma Copa do Brasil num estádio como a Vila Belmiro e Flamengo e Fluminense não podem jogar para 45 mil pessoas (39 mil e poucos ingressos mais gratuidades) no Maracanã? Dizer que 45 mil lugares são insuficientes para o Maracanã receber o futebol é muita cara de pau. Então o Corinthians pode jogar no Pacaembu? Ou a torcida do Timão é tão pequena assim?

Mas espera aí! Meu Deus! O Fluminense assim vai ter que jogar agora com portões fechados, já que nenhum estádio no Rio de Janeiro vai atender à demanda de um "maior interesse do público"! Engenhão, São Januário, Raulino de Oliveira... Não dá! Cabe menos gente nesses estádios. A CBF não sabe disso? O Flu ou vai jogar de portões fechados ou... vai jogar na China, de repente. Mas o Pacaembu atende à demanda da torcida do Corinthians? Ou o Corinthians vai ter quem jogar no Morumbi se seguir bem colocado no Brasileirão?

Argumentos como os que destaquei simplesmente provam que não há justificativa válida alguma nessa interdição. E desafio a alguém provar o contrário com base nessa nota oficial. Há incoerências ali suficientes para não só interromper, como suspender de vez o campeonato brasileiro.

Ainda está lá na página principal do blog da Flusócio a enquete: "Qual o principal obstáculo do Flu na luta pelo título?" Minha resposta, postada há muito tempo, é a segunda opção, óbvia: "O prestígio atual do Corinthians na CBF". Um obstáculo não só ao Fluminense como a qualquer clube que não seja o Timão enquanto um presidente suspeito de tanta coisa ruim como Ricardo Teixeira permanecer no comando do futebol do Brasil.

A CBF prova, mais uma vez, sua torpeza com mais uma decisão que tem por intuito alterar os resultados que estão sendo conquistados dentro de campo. "O passado condena". "O hábito faz o monge". Há vários clichês baseados no passado da instituição que podem ser usados nesse caso. Assim ela deu o título ao Corinthians em 2005. Até corintiano sabe disso. E assim quer se vingar de Fluminense, líder do campeonato, à frente do Corinthians, e, por tabela, Flamengo, mesmo não estando tão bem posicionado no momento. Dois coelhos numa cajadada só.

Ouvi dizer também que a CBF poderia estar preocupada com um possível embargo dessa vergonhosa reforma do Maracanã e por isso estaria tentando acelerar o processo ou dar aparência disso. Por isso, inclusive, a retirada, primeiro, das cadeiras em frente às câmeras de televisão, para dar a impressão de que as coisas estão sendo feitas. Mas isso não é problema meu, do Fluminense, do Flamengo ou de qualquer torcedor carioca. A interdição, no contexto apresentado, é absurda.

Para mostrar isenção e que o blogueiro está totalmente equivocado, a CBF deve interditar o Pacaembu para jogos do Corinthians, São Januário para jogos do Vasco, Vila Belmiro para jogos do Santos e daí por diante. Simples assim. Caso contrário, tenho o direito de imaginar tudo que quiser e entender que é melhor pegar a taça e entregar logo no Parque São Jorge, sem precisar apelar para pênaltis ridículos e arbitragens descabidamente tendenciosas, que têm gerado críticas de praticamente todos os adversários do time paulista.

É a minha opinião.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

FÓRMULA INDY ► Will Power vence mais uma e aumenta a liderança a quatro provas do fim da temporada

Eu gosto muito de acompanhar a Fórmula Indy. Há alguns anos, bem mais que a Fórmula 1. Mas os horários das corridas da Indy quase sempre me derrubam. Como a maioria ocorre nas tardes de domingo, muitas vezes não consigo assistir.

Como no domingo passado, quando Will Power venceu sua quinta prova na temporada, desta vez o GP de Sonoma (na Califórnia, EUA), e ficou mais perto do campeonato de 2010. A quatro corridas do fim, o australiano lidera com 514, 59 à frente do escocês Dario Franchitti, seu mais próximo perseguidor.

Na prova de Sonoma, o neozelandês Scott Dixon chegou em segundo lugar e Franchitti completou o pódio. Hélio Castroneves foi o quinto colocado, Tony Kannan, o sétimo, Mário Moares, 11º, e Vitor Meira, 15º. Fechando a participação brasileira, Raphael Mattos não cruzou a linha de chegada do circuito misto, já que deixou a pista após um acidente na 67ª volta.

Abaixo, os melhores momentos da prova. Repare no incrível acidente de Dan Wheldon logo na largada.


A classificação da corrida (em negrito, os pilotos brasileiros):

1º) Will Power (AUS/Penske) – 75 voltas, 1h54min32s2568
2º) Scott Dixon (NZL/Chip Ganassi) – a 0s7432
3º) Dario Franchitti (ESC/Chip Ganassi) – a 6s6132
4º) Ryan Briscoe (AUS/Penske) – a 7s8607
5º) Hélio Castroneves (BRA/Penske) – a 10s4594
6º) Justin Wilson (ING/Dreyer-Reinbold) – a 10s9095
7º) Tony Kanaan (BRA/Andretti) – a 11s5246
8º) Ryan Hunter-Reay (EUA/Andretti) – a 11s8938
9º) Graham Rahal (EUA/ Newman-Haas) – a 17s5019
10º) Alex Lloyd (ING/Dale Coyne) – a 18s2069
11º) Mário Moraes (BRA/KV) – a 20s2411
12º) Marco Andretti (EUA/Andretti) – a 20s6759
13º) Simona de Silvestro (SUI/HVM) – a 21s8239
14º) Alex Tagliani (CAN/FAZZT)- a 22s4858
15º) Vitor Meira (BRA/AJ Foyt) – a 24s2879
16º) Danica Patrick (EUA/Andretti) – a 46s1339
17) Hideki Mutoh (JAP/Newman-Haas) – a uma volta
18º) Takuma Sato (JAP/KV) – a 1 volta
19º) E.J. Viso (VEN/KV) – 22 voltas Adam Carroll (IRL/Andretti) – a 1 volta

Não completaram:

20º) Francesco Dracone (ITA/Conquest) – 71 voltas
21º) Raphael Matos (BRA/Luczo Dragon) – 67 voltas
22º) Milka Duno (VEN/Dale Coyne Racing) – 67 voltas
23º) Bertrand Baguette (BEL/Conquest) – 65 voltas
24º) J.R. Hildebrand (EUA/ Dreyer-Reinbold) – a 38 voltas
25º) Dan Wheldon (ING/Panther) – 1 volta

Link para a classificação completa do campeonato na página oficial da Fórmula Indy: http://www.indycar.com/schedule/standings/.

Além da pontuação pela ordem de chegada ao encerramento de uma corrida, cada piloto da Fórmula Indy que liderar o maior número de voltas em cada prova receberá um bônus de 2 pontos, somados à pontuação normal. Além disso, há um ponto extra para quem conquistar a pole-position. Com isso, é possível que um piloto some 53 pontos em uma corrida. (Fonte: http://www.band.com.br/esporte/formula-indy/classificacao.asp)

POLÍTICA ► Abandonada à própria sorte e repetitiva, campanha de José Serra só falta apelar novamente para Regina Duarte

O PSDB e o DEM são partidos com os quais democraticamente não me identifico, seja em nível de ideologias, propostas, práticas políticas ou o que for. Mas isso não me impede de observar que a campanha para tornar José Serra presidente do Brasil parece claramente abandonada e equivocada.

A impressão que me dá, impressão de quem observa "do lado de cá", é que o candidato está abandonado à própria sorte, sem nenhum esforço estratégico por parte da cabeça da coligação. Fica ainda a impressão de que nomes coroados dos dois partidos evitam se expor em uma campanha aparentemente perdida, salvo um imenso acidente de percurso eleitoral. O que é uma covardia com o ex-governador de São Paulo.

Uma coisa que respeito em políticos mesmo que de orientação contrária à minha é a fidelidade a seus princípios e a seus pares. Um exemplo é a postura de Roberto Jefferson (PTB) no impeachment de Fernando Collor. Jamais votei e jamais votarei em Roberto Jefferson (se fizer isso, internem-me, porque provavelmente terei perdido o juízo), mas até hoje o respeito por não ter participado daquele espetáculo patético que foi protagonizado por diversos políticos da base governamental de Collor.

Vendo que o impeachment passaria, muitos decidiram abandonar o barco na última hora e surfar na onda popular do movimento, votando pela derrubada do presidente que apoiavam, com direito a inflamados e hipócritas discursos moralistas. Ao votar "não", Jefferson justificou dizendo que não fazia sentido votar contra o homem que ele apoiara até ali. Legal. Discordo totalmente do voto, mas democraticamente o respeito, sentimento que não tenho em relação àquela enxurrada de falsos "sim".

Por isso acho que a participação - ou, no caso, a não participação - de nomes como Aécio Neves na campanha do candidato de seu partido à presidência da República é simplesmente vergonhosa. Enquanto Aécio mantém-se distante do pleito principal do país, vai garantindo com imensa folga sua vaga no Senado em Brasília por Minas Gerais - onde José Serra aparece atrás de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas.

E muitos peessedebistas estão agindo como Aécio. A intenção, na minha interpretação, é clara: ficar distante de uma candidatura que eles mesmos julgam derrotada, evitar se expor em um palanque contrário ao popularíssimo presidente Lula e assim seguir "imaculado" rumo a futuras eleições.

Ao lado de Serra, mas já sem o mesmo ânimo, apenas os chamados "jornalões" de Mino Carta (leia aqui).

Sem apoio político e sem criatividade, a campanha José Serra cai em discursos vazios, repetindo contra Dilma Rousseff mesmos argumentos usados contra Lula em eleições passadas: inexperiência, despreparo, ameaça de choque econômico, choque fiscal... Só falta ressuscitar Regina Duarte e seu vergonhosamente histórico bordão: "Eu tenho medo!" Em um ato que denuncia já certo desespero, até Lula Serra jogou em sua campanha.

Melhor seria que o candidato da coligação PSDB/DEM se prendesse a uma campanha de propostas efetivas, minimizando críticas como as citadas acima e mostrando suas ideias para mudar o que acha que está errado e aperfeiçoar o que julgar estar correto nas ações do atual governo. Simples assim, de maneira técnica. Até porque - como Dilma, aliás - Serra é considerado técnico competente. Só que Dilma está muito amparada pelos seus e Serra, não. Então faria mais sentido fazer campanha como um técnico e não como um político tradicional, papel em que não se sente nada à vontade, nunca representou bem e no qual sente imensa falta de uma direção ao menos interessada.

Posso estar completa e redondamente enganado, mas é assim que vejo a coisa.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

BRASIL ► Estes indivíduos merecem nova chance para conviver em sociedade?

Deu na internet (clique aqui para ver texto original):
***
22/08/2010 12h48 - Atualizado em 22/08/2010 12h52
Homem é morto após parar carro com defeito em rua no interior de SP
Motorista de micro-ônibus teria se irritado com bloqueio e atirado.
Caso aconteceu em Serrana, no interior de SP, na noite de sábado (21).
Do G1 SP, com informações da EPTV

Um ajudante de caminhoneiro de 28 anos foi morto na noite deste sábado (21) em Serrana, a 313 km de São Paulo, depois que seu carro teve um defeito e parou no meio da rua. O motorista de um micro-ônibus é suspeito do crime.

De acordo com testemunhas, o motorista do coletivo, que levava funcionários de uma transportadora, se irritou com o veículo da vítima parado no meio da rua. O pai do suspeito desceu do veículo e mandou o ajudante de caminhoneiro tirar o carro do caminho. Como isso não foi feito, o motorista do micro-ônibus atirou e atingiu a cabeça da vítima.

Em seguida, o pai do motorista tirou o carro da rua para dar passagem ao coletivo. Ele e o filho ainda não foram localizados.

O homem foi socorrido e levado para a unidade de emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, também a 313 km de São Paulo, onde morreu na madrugada deste domingo (22). Ele será enterrado nesta tarde.
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Até quando a justiça brasileira será condescendente com assassinos assim? Em qualquer lugar do mundo a sociedade não correria o risco de ver novamente em liberdade esse tipo de gente.

Mas será gente mesmo?

sábado, 21 de agosto de 2010

CARNAVAL ► Morre o baluarte Aurinho da Ilha, autor de "Domingo"

Vítima de problemas decorrentes de diabetes, morreu esta semana no Rio de Janeiro o compositor Aurinho da Ilha, autor de 11 sambas campeões na União da Ilha do Governador e mais dois na Acadêmicos do Salgueiro. Entre suas composições, verdadeiros clássicos dos sambas-enredos, como "Domingo" (União da Ilha, 1977) e "Dona Beija, a Feiticiceira de Araxá" (Salgueiro, 1968).

Nascido Áureo Campagnag de Souza, o compositor é de uma geração que já faz muita falta nas quadras da cidade. Foi o maior parceiro do também saudoso mestre Didi (o procurador da República Adolfo de Carvalho Baeta das Neves), com quem assinou 10 de seus sambas na Ilha do Governador. O primeiro, em 1955, "Fundação da Cidade do Rio de Janeiro". O último, o bonito " Um herói, um Enredo, uma Canção", em 1985, com a colaboração de Aritana.

No Salgueiro, além de "Dona Beija", Aurinho também foi o responsável pelo não menos belo e marcante "História da Liberdade no Brasil", em 1967.

Mas o maior sucesso de Aurinho é mesmo "Domingo", hino com o qual a União da Ilha encantou o país no amanhecer da segunda-feira de carnaval de 1977 e fincou seu nome na história dos desfiles de escolas de samba. E é com ele, criado em parceria com Waldyr da Vala, Ione do Nascimento e Adhemar Vinhaes, que ilustro este registro em memória de um daqueles compositores que nos deixam muitas saudades e obras de qualidade - o que pouco ouço hoje em dia. Abaixo, trechos daquela antológica passagem da Ilha pela Marquês de Sapucaí, com som ao vivo, direto do YouTube.


E a propósito:

1 - Atentem para a bateria batendo samba, com cadência de samba. Hoje as baterias batem forte e rápido. Cadência, melodia, suingue... Tá difícil.
2 - Salvem o samba-enredo!

Enfim, a morte de Aurinho enlutece todo o mundo do samba nacional, mas especialmente a Ilha do Governador. Na imaginação da poesia insulana, quem sabe Aurinho, agora lá em Cima, não volte a compor com Didi sambas maravilhosos para Aroldo Melodia cantar?

É o meu desejo.

Enfim, a morte de Aurinho enlutece todo o mundo do samba nacional, mas especialmente a Ilha do Governador. Na imaginação da poesia insulana, quem sabe Aurinho, agora lá em Cima, não volte a compor com Didi sambas maravilhosos para Aroldo Melodia cantar?

É o meu sonho.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

POLÍTICA ► Fernando Gabeira é a grande decepção das eleições 2010

Essa frase que dá título ao post eu posso falar de cadeira porque fiz muita campanha para Fernando Gabeira, desde sua primeira candidatura ao governo do estado do Rio de Janeiro em 1986.

Naquela época, fazia pouco que Gabeira fora fundador do recém-criado Partido Verde. Eu logo adotei a ideia de um partido ecológico no Brasil, nos moldes dos que já existiam na Europa.

Mas o PV não era levado muito a sério. Tinha uma aura meio elitista, meio inconsequente. Foi daí que surgiu uma oportuna coligação com o também ainda jovem Partido dos Trabalhadores: se o PV tinha uma imagem não muita séria, o PT, por sua vez, possuía imagem oposta, de um partido sério demais, dogmático demais, inflexível demais, ameaçador até para quase todas as camadas sociais do país.

Pois a coligação com o PV deu a leveza e a imagem de flexibilidade que o PT precisava para aliviar o peso carregado de sua estrutura e seu forte enraizamento ideológico e o PT, em troca, deu ao PV a chancela de um partido sério, que não estava ali apenas para brincadeiras.

Foi uma campanha muito bonita, com momentos marcantes, como a Passeata das Rosas na Avenida Rio Branco e o abraço à Lagoa Rodrigo de Freitas. Eu fiz muita campanha. Distribuí panfletos, usei broches e camisa. Gabeira não levou, mas amealhou mais de meio milhão de votos e fincou a bandeira do PV no Rio de Janeiro como um partido com um jeito diferente de fazer política. E se não elegi Gabeira naquele momento, ajudei a eleger Carlos Minc, depois elegi Alferdo Sirkis e, mais tarde, o próprio Gabeira, quando se candidatou a deputado federal em 1994.

Antes, em 1989, Gabeira saiu candidato à presidência da República. Era uma candidatura ideológica, não pragmática. Ninguém achava que houvesse qualquer chance de chegar ao menos ao segundo turno, mas era importante marcar posição pelas causas ambientais nacionalmente.

Na época, fui algumas vezes à sede do partido, ali na Lapa, pegar material para campanha. Fiz boca de urna, empunhei bandeira, fui a eventos e tudo o mais. O meu voto "pra valer" seria para Luís Inácio Lula da Silva, que eu tinha certeza que iria para o segundo turno, apesar da acirrada disputa com Fernando Collor e Leonel Brizola. Mas, antes disso, fiz o que achava importante na defesa de ideais ecológicos com os quais me identificava e resistindo a uma forte campanha pelo voto útil ainda no primeiro turno.

Por essas e outras, posso tomar emprestado sem muita cerimônia os versos de Chico Buarque e dizer: "Quem te viu, quem te vê, Fernando Gabeira." Quem diria que o Partido Verde tornar-se-ia só mais um partido na política nacional, e não o partido diferente. E quem diria ainda que chegaria o dia em que veria Fernando Gabeira fazer uma campanha em que renegaria nacionalmente o seu PV, passando a mim e a muita gente a ideia de um político pragmático e carreirista, coisas contra as quais tanto lutara no passado. O político Gabeira há um bom tempo vinha guinando à direita. Até apoio e capa da Veja recebeu. E parece que agora chegou ao seu destino - totalmente oposto ao seu ponto de partida.

Assistindo ao horário eleitoral gratuito (é, eu assisto quando posso e confesso que gosto, por favor, não tentem me internar!) não há como não ficar chocado ao ver Fernando Gabeira ignorar a candidata do PV à presidência, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina da Silva, e veladamente (ou nem tanto) apoiar a candidatura José Serra, da aliança PSDB e DEM, o DEM de Cesar maia, de quem Gabeira virou uma espécie de "peixe", como diria o ex-jogador e hoje político (?) Romário. Acho algo muito triste de ver. Não é questão de reformular opiniões e ideias ou de flexibilizar seu jeito de fazer política, mas de como fazer isso.

A ideia de traição ao partido e sua causas aumenta ao vermos vários candidatos do PSDB e do DEM com o painel ao fundo estampando o nome de Gabeira e até José Serra falando em prol de sua candidatura. Enquanto isso, os candidatos do PV seguem pedindo votos para si, para Marina e para o próprio Gabeira.

Hoje, vendo o programa de Fernando Gabeira, tive a sensação de ver apenas mais um político carreirista e fisiológico, sensação agravada pelo deprimente apoio a José Serra, desrespeitando seus eleitores, seu próprio partido e uma candidata como Marina Silva, que verdadeiramente não merecia isso.

Por isso, eu, que tanto votei nele, posso dizer de cadeira que Fernando Gabeira é a grande decepção das Eleições 2010. Tão decepcionante que deve estar deixando o V da bandeira do partido vermelho de vergonha.

Seria agora a minha vez de perguntar: "O que é isso, companheiro?"

É a minha opinião.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

BASQUETE ► Meu ídolo Ubiratan no Hall da Fama do Basquete dos EUA

Quase deixei passar batido, mas ficou no quase. Semana passada, o eterno ídolo de nosso basquetebol Ubiratan Pereira Maciel (18 de janeiro de 1944 / 17 de julho de 2002) foi entronizado no seletíssimo Hall da Fama do Basquete em Springfield (Massachusetts/EUA). Dentre as 259 personalidades já eternizadas ali, apenas outro nome brasileiro se faz presente: a Rainha Hortência.

Ubiratan foi um dos meus ídolos do basquete. Pensando melhor, foi o meu ídolo no basquete brasileiro, especialmente devido ao grande desempenho do pivô no Campeonato Mundial das Filipinas, em 1978. Foi uma competição que acompanhei com o ouvido colado ao radinho de pilha (é, o basquete aqui já foi tão popular que as rádios transmitiam os principais jogos) e de olho nas raras partidas transmitidas pela TV.

Ubiratan foi um dos grandes destaques daquele Mundial, que marcou também a popularização da chamada "ponte aérea", com Oscar jogando a bola por cima do aro para Marcel completar e vice-versa. Foi nesse campeonato uma das minhas maiores emoções no basquete, com a vitória do Brasil sobre a Itália na decisão do terceiro lugar. O Brasil perdia por um ponto de diferença a poucos segundos do fim, quando Marcel recebeu o fundo bola e arremessou do meio da quadra, com o cronômetro zerando para conquistar a vitória e garantir nosso lugar no pódio. Foi também ali nas Filipinas que me tornei admirador de um dos jogadores mais talentosos que vi em quadra, o canhoto iugoslavo Mirza Delibasic.

Mas o lance aqui é lembrar o velho Bira, que foi um monstro na briga debaixo do garrafão contra os gigantes americanos na grande vitória por 92 x 90 contra os EUA. Nosso pivô, que sempre foi mais um facilitador ofensivo que um cestinha e possuía uma notável capacidade defensiva, teve uma grande atuação naquela partida que ouvi pelo radinho.

Naquele time que saiu com o bronze do Mundial, Marcel e Oscar começavam a despontar, mas havia, além do velho Bira, nomes como Carioquinha, Hélio Rubens, Adílson e Marquinhos, que tanto vi jogar aqui nas quadras cariocas, assim como seu irmão Paulão. Também fazia parte daquele grupo o hoje comentarista da ESPN Brasil Eduardo Agra.

Foram bons tempos para o basquete brasileiro, um tempo em que os jogadores jogavam com muito mais paixão. Não à toa, cansei de pegar o desgastante ônibus 634 para me despencar à noite da Ilha do Governador para as quadras do Maracanãzinho, Tijuca e América para acompanhar jogos do Fluminense pelo campeonato carioca. E um dos grandes símbolos daqueles tempos foi Ubiratan, agora eternizado na terra do basquetebol.

Nestas mal traçadas linhas, sem muita inspiração, apenas faço questão de deixar registrada minha admiração pelo nosso grande pivô, um dos meus ídolos no esporte nacional.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MÚSICA ► Há 33 anos partia Elvis Presley, o Rei do Rock'n'Roll

"Antes de Elvis, não havia nada." John Lennon.

Desde criança eu sou fã de Elvis Presley. Sei lá exatamente por quê. Meu pai gostava, mas não era fã. Minha mãe também, mas da mesma forma não era fã. Talvez por influência dos filmes da Sessão da Tarde. Mas sei que o álbum duplo "Elvis 40 Greatest Hits" que pedi para meu comprar para mim assim que passou o anúncio na TV, em 1975, durante muitos anos não saída da vitrola.

Depois eu fui crescendo e à idolatria infantil somou-se a admiração pelo incrível talento e versatilidade interpretativa de Elvis Presley, que foi muito mais do que "apenas" (como se fosse pouco) o Rei do Rock'n'Roll - uma marca registrada, inclusive.

Quando Elvis morreu, em 16 de agosto de 1977, lembro que eu estava assistindo, se não me engano (a memória infantil confunde-se um pouco com o tempo), ao Capitão Aza (assim, com Z), na extinta e saudosa TV Tupi. A edição especial, urgente, anunciava a morte de Elvis Presley. Só sei que fiquei chocado. E mais nada me recordo até o dia seguinte. Também sei, pelo que meus pais contam, que chorei muito e fiquei tão consternado que minha Tia Ester, beatlemaníaca e também admiradora de Elvis, veio com o saudoso tio Michel lá da Glória até a Ilha do Governador por pura preocupação.


Elvis é de um tempo em que um cantor ou intérprete efetivamente cantava, não dublava usando playback. Isso era totalmente inaceitável. Aliás, em se tratando de canto, mesmo, continua totalmente inaceitável. Hoje cantores dançarinos usam e abusam desse recurso, mas sendo avaliados e idolatrados mais pelo espetáculo que proporcionam do que por seu talento interpretativo.

Mas lá nos anos 1950 não era assim. E não foi até a morte de Elvis Presley. Tanto que, já doente e com dificuldade para recordar-se de letras de músicas que cantava já há décadas, jamais cogitou-se à sua volta o uso de playback. Como todo artista deve fazer, Elvis dava a cara ao subir ao palco. E mais vale um artista errar e seguir em frente do que fazer uma apresentação fake calcada em uma perfeita gravação dublada nem sempre com perfeição.

Se Elvis fisicamente morreu ou não, pode haver dúvida. Mas seu legado é eterno. Elvis Presley foi a marca do século 20. Sua obra influenciou as mais diferentes vertentes do rock, de Paul McCartney, John Lennon, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Bono Vox, Mick Jagger, Janis Joplin, Steven Tyler, Roberto Carlos...

Tornou-se um ícone tão impregnado na cultura americana que seu nome é comumente citado em filmes, músicas e mesmo no dia-a-dia das pessoas. "Elvis não morreu" é uma máxima aqui em nossa terra. "Elvis has left the bulding", como anunciado ao fim de cada apresentação, é uma frase das mais conhecidas na música. Seus sanduíches, seus extravagantes hábitos alimentares, sua personalidade resvalando para a bipolaridade, os presentes dados a desconhecidos (a velhinha negra que ganhou um cadillac zero porque apreciava um no mostruário da loja onde Elvis estava), os tiros na TV ... Tudo em Elvis foi superlativo e marcante.


Musicalmente, Elvis Presley foi pioneiro em um sem número de coisas. Uma espécie de "Cidadão Kane", a inigualável obra-prima de Orson Welles, da música. O primeiro show transmitido ao vivo para todo o mundo, o primeiro acústico, o uso de orquestra, de som quadrifônico...

Principalmente, seu carisma e incrível talento para interpretar com feeling inigualável rock, country, gospel, baladas ou o gênero musical que fosse o faz único. Como disse alguém cujo nome infelizmente não recordo (lembrando eu atualizo aqui), Elvis era desses raros intérpretes cuja interpretação transcendia a qualidade do material com que trabalhava.

FUTEBOL ► Nada justifica que nos dias atuais o futebol brasileiro não adote o calendário europeu, só a vocação para perder dinheiro

Há muito tempo discute-se a necessidade do futebol brasileiro adotar o calendário europeu, mas sempre há vozes retrógradas e até carregadas de um bobo nacionalismo que se levantam em contrário. No profissionalismo globalizado de hoje, não adotar o calendário europeu é desperdício de dinheiro e de possibilidade de internacionalizar a marca dos nossos clubes. Fora a questão de que isso permitiria um maior planejamento para o Brasileirão, que tanto sofre com o sem número de jogadores transferidos para o Velho Mundo no meio do campeonato.

Eu cresci tentando acompanhar pelos jornais e pelo radinho de pilha os muitos amistosos que o Fluminense fazia fora do país, em especial na Europa, mas até no continente africano, e nos meses de julho e agosto. O Fluminense e todos os grandes do futebol nacional. Hoje, pesquisando o passado, é fácil observar que desde os anos 1950 até os clubes de menor expressão estavam sempre na estrada. No Rio de Janeiro, não era raro Bonsucesso, Bangu e Madureira aventurarem-se além-mar atrás de faturamento. Sempre foi assim. Até a já quase ditatorial gestão de Ricardo Teixeira à frente da CBF.

Coincidência ou não, de lá para cá o calendário brasileiro passou a não dar brechas aos clubes para faturar em excursões ao exterior. Pior: com o recesso europeu ocorrendo justo no momento em que o campeonato nacional engrena, passamos a sofrer com o até patético desmantelamento de nossos maiores clubes em meio à competição. A tal ponto que virou lugar comum dizer que o campeonato brasileiro só começa de verdade após o fim da janela de transferência do mercado europeu e do impacto que isso provoca por aqui. Ridículo.

Mas o que mais me irrita, particularmente, não é nem a perda de jogadores no meio da principal competição do futebol mais vezes campeão do mundo. É perder a oportunidade de internacionalizar o nome dos clubes brasileiros numa época globalizada e marcada por inúmeros torneios e amistosos internacionais na Europa, na Ásia e na América do Norte.

Assim, fomos obrigados a ver no pós-Copa do Mundo deste ano, por exemplo, um sem número de partidas envolvendo grandes clubes europeus e outros nem tanto de países nossos sul-americanos, mexicanos e até do segundo escalão do Velho Mundo.

Bastaria à CBF ter um mínimo de respeito e atenção com nosso futebol para adequar nosso calendário ao europeu. Assim nossos clubes poderiam, como nos velhos tempos, "fazer a Europa". Poderiam, inclusive, sem muita dificuldade, contando apenas com competência e criatividade, fazer uma pré-temporada lá fora, se preparando para o Brasileirão e faturando um bom troco disputando jogos-treinos e amistosos em gramados estrangeiros, fossem nos EUA, na Europa..

Um dia, quem sabe a gente chega lá. Mas com certeza não será na gestão Ricardo Teixeira, porque não interesse para isso.

É minha opinião.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

RIO DE JANEIRO ► Bandalha nas ruas da cidade: será que há uma máfia disso também ou é apenas mais um caso de imensa incompetência?

Fico impressionado com certas situações que presenciamos no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro. Parece que a autoridade não existe e a lei que impera é a da bandalha. No trânsito, então...

Quem passa à frente do Ilha Plaza Shopping, por exemplo, na Ilha do Governador, em certos horários, deve imaginar ter chegado à casa da Mãe Joana, tal o número de veículos de transporte alternativo (muitas vezes irregulares) que se acumulam em fila dupla (e até tripla) à frente da entrada do estabelecimento à caça de passageiros.

A Guarda Municipal sabe disso. A Polícia Militar sabe disso. Qualquer anão de jardim daqueles que adornam antigas residências sabe disso. Então? O que falta para pôr fim a isso? Qual a dificuldade?

Isso ocorre não só com transporte alternativo à frente de um shopping da Zona Norte como com carros de madame na porta de caros colégios da Zona Sul da cidade.

Depois não há como querer que o povo não suspeite que haja dinheiro rolando por trás disso. Ou então trata-se apenas de mais uma grande, imensa, gigantesca, colossal prova de incompetência dos órgãos públicos responsáveis.

É minha opinião.

FUTEBOL ► Kaká: mais uma prova de que a mentira tem pernas curtas

Kaká sempre passou a imagem do jogador bonzinho, politicamente correto e, principalmente, temente a Deus, algumas vezes extrapolando ao misturar religião com sua atividade profissional. Mas os últimos meses têm revelado uma imagem que não condiz com uma pessoa que usa o nome de Jesus em praticamente cada discurso que faz.

Na recente Copa do Mundo da África do Sul, Kaká protagonizou um espetáculo absolutamente covarde, religiosamente preconceituoso e, acima de tudo, mentiroso. E que hoje soa ainda mais patético que na ocasião.

Após o jornalista Juca Kfouri escrever que o principal jogador da seleção brasileira enfrentava sério problema físico que poderia levar até à necessidade de cirurgia, comprometendo sua carreira, Kaká aproveitou uma coletiva de imprensa para, na vez de fazer sua pergunta o repórter André Kfouri, filho de Juca, atacar o pai do profissional de imprensa.

Foi covarde porque coletiva de imprensa numa Copa do Mundo não dá direito de réplica aos jornalistas. O profissional faz a pergunta e já passa o microfone para o seguinte. Não que André fosse fazer uso disso, até porque ele portou-se muito bem no decorrer de seu trabalho na África, sem jamais usar de seu espaço com um microfone frente às câmeras para sequer mencionar o incidente em suas reportagens.

Foi preconceituoso porque acusou Juca Kfouri de persegui-lo por ser ele, Juca, ateu e Kaká ser evangélico. Veja o paradoxo: sob pretexto de uma suposta perseguição religiosa de que estaria sendo vítima, ele, Kaká, é quem comete um ato de preconceito religioso explícito, usando a falta de religiosidade de Juca para desqualificá-lo e fazer a grave acusação de perseguição religiosa.

E foi mentiroso porque, como já declarara logo após a competição, jogou mesmo com dor, inclusive recebendo infiltrações. E o balde derramou mesmo agora que o médico belga Marc Martens, que o operou, disse que sua carreira inclusive esteve em risco - como Juca Kfouri havia escrito.

Hoje, 13 de agosto, Kaká se vê completamente desacreditado em suas declarações e ainda apela para o abominável discurso de que fez isso pelo Brasil. Ora essa...

Acho muita mentira e pouca verdade para alguém que vive com Jesus na boca, mas que, como muitos, não mostra O ter em suas ações.

É minha opinião.

POLÍTICA ► Como assim não fazer campanha olhando pelo retrovisor?

Há declarações que contradizem a história da própria pessoa que as faz. José Serra, mais uma vez candidato do PSDB à presidência da República, sempre usou a palavra experiência como um mote eleitoral, destacando seu currículo (mesmo com algumas contradições) e seus longos anos de vida pública.

O problema é que político, em geral, tem uma grande dificuldade de tornar coerentes seus discursos nas diferentes circunstâncias que enfrenta durante sua trajetória. Acontece à esquerda, à direita e ao centro também. Mas algumas vezes eles extrapolam e acabam passando uma imagem que depõe contra si mesmo. Especialmente em uma época em que os políticos têm uma maior visibilidade, como durante as campanhas eleitorais para o cargo maior da nação. É preciso ter experiência nesse jogo. Saber jogar.

José Serra é um homem inteligente. Sair por aí dizendo que não se deve fazer campanha olhando pelo retrovisor contradiz tudo o que pregou em pleitos anteriores e o faz passar apenas por mais um político oportunista em busca de frases de efeito que se adaptem a um determinado momento.

O candidato da oposição já tem se saído mal com feitos fictícios ("pai dos genéricos", "pai do FAT", combate à Aids...) que até o fizeram recorrer a constrangedoras retratações. José Serra é bom técnico e devia fazer campanha política como um técnico, enfatizando propostas e soluções, e não caindo no discurso comum de políticos carreiristas que se torna verdadeira armadilha para quem não tem jeito para isso - o que não é qualquer demérito.

Além do quê, fazer campanha sem olhar para as próprias realizações ou de seu partido é como procurar emprego e pedir para não levarem em conta seu passado profissional. Não faz qualquer sentido, certo?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

BRASIL ► Assassinos livres, inocentes em cana: retrato da justiça no Brasil

Deu em várias páginas da internet. Optei por reproduzir do site O Repórter:

*** *** ***

INACREDITÁVEL: confundido com assaltante,
jovem inocente está na cadeia
Por Redação - 09.08.2010 às 21:41:00

Justiça de cabeça para baixo. Inocentes na cadeia, culpados nas ruas

SÃO PAULO* - Ele estava no lugar de sempre e trabalhando. Wilson de Oliveira, estudante universitário está preso há dois meses acusado de roubar uma moto. Ele trabalhava como motorista numa empresa de ônibus de São Paulo e foi confundido ao sair da garagem onde trabalha.

Não faltam provas de sua inocência, mas no caso de Wilson, a Justiça fechou os olhos. No momento da prisão ele tentou explicar que não era o ladrão. "Até então eu falava [para os policiais], vamos lá na garagem que vocês vão ver que eu estava trabalhando. Mas, eles nem quiseram saber".

O boletim de ocorrência registrado na delegacia mostra que o roubo da moto aconteceu às 22h15 e o relatório de entrada e saída de funcionários da empresa onde Wilson trabalha registrou a entrada dele às 6h:04 da manhã e a saída às 22:19, quatro minutos após o roubo relatado na delegacia.

As câmeras de segurança da empresa comprovam a saída de Wilson que pilotova a própria moto.

Na saída, ele passou pelos ladrões que abandonaram a moto roubada e no caminho, a 700 metros da empresa, policiais militares confundiram Wilson com os ladrões e o prenderam. Ele alegou inocência, mas mesmo assim, está a 65 dias atrás das grades.

Dois pedidos de liberdade provisória foram negados pela justiça e os juizes não quiseram se pronunciar sobre o caso de Wilson de Oliveira. (com informações do Jornal Nacional da TV Globo).

*** *** ***

Enquanto isso, assassinos confessos seguem em liberdade aguardando isso, graças àquilo, apelando para esse ou aquele recurso...

Alguma novidade nisso?

FUTEBOL ► Blogueiro quebra a cara: Duque de Caxias x Bragantino teve 193 pagantes. Parabéns, CBF e televisão!

Pois é. O pessimista blogueiro apostou em menos de 50 pagantes no jogo entre Duque de Caxias e Bragantino, realizado ontem à noite no Engenhão no absurdo horário de 21h50min. Quebrei a cara: o público acabou sendo de 193 torcedores, que proporcionaram a renda (?) de R$ 4.780,00. Um grande feito para os promotores do evento, que devem sentir-se realizados.

Ao menos valeu para o Duque de Caxias a momentânea saída da zona de rebaixamento da segunda divisão. Alguns reforços deram mais competitividade ao time. Na verdade, foram mais de 10 no recesso da competição durante a disputa da Copa do Mundo. Alguns deles interessantes, como o veterano centroavante Somália e o volante Leandro Teixeira, destaque no campeonato carioca e que não teve chances no Fluminense. Talvez isso garanta mais um ano de permanência entres os 20 que sonham em disputar a divisão principal. O que seria, sem dúvida, um grande feito para um clube pequeno obrigado a jogar sempre fora de sua cidade.

A pergunta que não quer calar é aquela feita por todo mundo dotado de alguma razão: será que não dava para o Duque de Caxias mandar em seu estádio, o Marrentão, com capacidade para 7 mil pessoas, seus jogos na segunda divisão do campeonato brasileiro? De preferência, num horário mais decente?

Com a palavra, CBF e SporTV.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

FUTEBOL ► Jogo do Duque de Caxias é marcado para 21h50min no Engenhão. É ou não é uma idiotice?

Tem coisas no futebol brasileiro que mostram claramente por que, apesar de eu achar os times e a competitividade muito maior, não pode ser levado nunca tão a sério como o europeu, por exemplo.

Hoje, terça-feira, está marcada para o Engenhão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a partida entre Duque de Caxias e Bragantino, válida pela segunda divisão do campeonato brasileiro. O Duque de Caxias, como diz o nome, NÃO é um time da cidade do Rio de janeiro. É de Duque de Caxias (dããã), na Baixada Fluminense. Clube novo, sem torcida, cujo apoio costuma ser apenas de moradores vizinhos que por ventura comecem a simpatizar pelo clube. O que não poderia ocorrer, claro, em nenhum outro lugar fora de Caxias.

Ano passado o Duque de Caxias estreou na segundo na meio por acaso e já como um time itinerante. Qual um nômade, o clube da Baixada joga em tudo que é lugar, menos na sua cidade. Até em Volta Redonda! E assim proporciona públicos constrangedores para o futebol profissional do país que mais títulos mundiais possui.

Hoje, aposto em menos de 50 pagantes. Parafraseando Nélson Rodrigues, qualquer paralelepípedo de porta de botequim apostaria também. Mas isso não parece incomodar os gênios que comandam o futebol brasileiro: a pútrida CBF e a emissora que detém os direitos de transmissão dos nossos campeonatos nacionais.

Imagino que o SporTV deva achar uma beleza exibir uma partida de futebol com aquele fundo imaculadamente azul das cadeiras do Engenhão, sem uma alma viva para quebrar o triste espetáculo monocromático. Não bastasse o fato do adversário nem em casa (Bragança Paulista) atrair torcida. Isso é espetáculo que se venda?

Só me permito imaginar coisas negativas diante de um quadro desses. Uma é que realmente a CBF e as Organizações Globo não estão nem aí para o futebol brasileiro, representado na figura dos clubes e de seus torcedores. Não gosto de usar linguagem chula ou vulgar, pois sempre acho falta de recurso linguístico e falta de respeito a quem lê, mas sinceramente: parece que eles literalmente defecam e seguem caminhando sem sequer olhar para trás.

É essa a imagem do futebol brasileiro que querem exportar para o mundo todo? Para os comentaristas da emissora que detém os direitos de transmissão, parece que sim, já que não se vê qualquer crítica à organização do campeonato e a esse horário imbecil de jogos que eles transmitem (dããã 2). Mantém aquela empáfia de quem tem algo que o outro não tem e com isso se satisfaz e sente parzer. No caso, os direitos de exibição dos jogos, o que a concorrência não tem.

Fosse a CBF uma entidade interessada em atender aos interesses de seus afiliados e as Organizações Globo menos preocupada em apenas vender, independente da qualidade do espetáculo (o que importa é grana…), evitariam uma situação constrangedora como essa.

Diz a CBF que o estádio do Duque de Caxias, o Marrentão, não tem condições de receber jogos de seus campeonatos. Mas como assim? Jogos para 500, mil pessoas? Cabem sete mil no Marrentão. Não é o suficiente? E a Vila Belmiro tem condições de sediar finais de campeonatos da CBF? Final de Copa do Brasil num alçapão ultrapassado e que não atende à demanda da partida? Só para comparar, as finais de dois torneios equivalentes à nossa Copa do Brasil, mas disputados apenas por clubes das terceira e quarta divisões inglesas, são realizadas simplesmente no majestoso e agora moderno Wembley. Aqui, joga-se na Vila Belmiro… No tempo em que o Santos era um grande clube de verdade, realizava suas partidas importantes até no Maracanã, sempre no maior palco disponível. Mas hoje isso é passado e o Santos é um desses clubes ditos grandes cheios de atitudes pequenas, como já comentei aqui em relação ao meu Fluminense. Mas isso é outra história.

A marcação de jogos de clubes de menor número de torcedores deveria, obviamente, procurar torná-los os mais atraentes possíveis. Mas claro que não há qualquer interesse nesse sentido.

A história aqui é que esse horário, por si só, já constitui uma afronta ao torcedor. Numa situação dessas, uma verdadeira imbecilidade. É um caso, no mínimo, de extrema incompetência.

O canal por assinatura Multishow exibiu há pouco tempo um reality show chamado “Escola de Idiotas”. Os responsáveis por marcar um jogo como Duque de Caxias x Bragantino para 21h50min de uma terça-feira à noite no Engenhão com certeza deveriam frequentar uma escola assim – e provavelmente seriam eternos repetentes.

É a minha opinião.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

FÓRMULA INDY ► Dario Franchitti vence prova em que blogueiro levou volta da televisão

Ontem vi na grade da Net que a Bandeirantes transmitiria o Grande Prêmio de Mid-Ohio de Fórmula Indy às 23h, obviamente em videotape. Pois bem: programei-me para ver a corrida antes de dormir e, perdi um pouco a hora e às 23h30min, quando coloquei no canal, nada estava passando. Ou foi a corrida mais rápida da História ou caí no velho conto de acreditar na programação de um canal aberto de TV.

Venceu a prova o escocês Dario Franchitti, aproximando assim na classificação geral do líder Will Power, que chegou em segundo. Hélio Castroneves conseguiu superar uma temporada não muito feliz completando o pódio. A 12ª etapa da temporada foi marcada por muitas bandeiras amarelas, o que garantiu emoção até o fim.

Raphael Matos chegou na 7ª posição, Mário Moraes foi o 12º, Vitor Meira, o 15º e Tony Kanaan fechou o time brasileiro na prova de 85 voltas com a 17ª colocação.

Aí vai o compacto que a Indy Car distribui via YouTube:


A classificação da corrida (em negrito, os pilotos brasileiros):

1º) Dario Franchitti (ESC/Chip Ganassi) - 1h54min32s2568
2º) Will Power (AUS/Penske) - a 0s5234
3º) Hélio Castroneves (BRA/Penske) - a 4s0883
4º) Alex Tagliani (CAN/FAZZT)- a 5s6423
5º) Scott Dixon (NZL/Chip Ganassi) - a 5s9150
6º) Ryan Briscoe (AUS/Penske) - a 6s5100
7º) Raphael Matos (BRA/Luczo Dragon) - a 6s7518
8º) Simona de Silvestro (SUI/HVM) – a 10s1451
9º) Marco Andretti (EUA/Andretti) - a 10s9555
10º) Ryan Hunter-Reay (EUA/Andretti) - a 13s2344
11º) Bertrand Baguette (BEL/Conquest) - a 14s8260
12º) Mário Moraes (BRA/KV) - a 16s0461
13º) Alex Lloyd (ING/Dale Coyne) – a 16s5570
14º) Dan Wheldon (ING/Panther) - a 19s3518
15º) Vitor Meira (BRA/AJ Foyt) - a 20s0782
16º) J.R. Hildebrand (EUA/ Dreyer-Reinbold) - a 20s2169
17) Tony Kanaan (BRA/Andretti) - a 25s4286
18º) Hideki Mutoh (JAP/Newman-Haas) - a 26s5918
19º) Adam Carroll (IRL/Andretti) - a 27s3302
20º) Graham Rahal (EUA/ Newman-Haas) - a 27s6341
21º) Danica Patrick (EUA/Andretti) - a 28s2099
22º) Francesco Dracone (ITA/Conquest) - 82 voltas
23º) Milka Duno (VEN/Dale Coyne Racing) - 81 voltas

Não completaram:

24º) Jay Howard (ING/Sarah Fisher) - 38 voltas
25º) Takuma Sato (JAP/KV) - 28 voltas
26º) E.J. Viso (VEN/KV) - 22 voltas
27º) Justin Wilson (ING/Dreyer-Reinbold)– 22 voltas

Link para a classificação completa do campeonato na página oficial da Fórmula Indy: http://www.indycar.com/schedule/standings/.

Além da pontuação pela ordem de chegada ao encerramento de uma corrida, cada piloto da Fórmula Indy que liderar o maior número de voltas em cada prova receberá um bônus de 2 pontos, somados à pontuação normal. Além disso, há um ponto extra para quem conquistar a pole-position. Com isso, é possível que um piloto some 53 pontos em uma corrida. (Fonte:http://www.band.com.br/esporte/formula-indy/classificacao.asp)

IMPRENSA ► É preciso ser bem burguês para defender o horário de 21h45min no futebol - ou funcionário das Organizações Globo

Há pouco postei sobre um blog do Esporte UOL em que o autor dispara petardos aparentemente pelegos contra o presidente Lula. É só mais um exemplo de como o peleguismo tem dominado o jornalismo brasileiro. Mas há algum tempo estou com um bom exemplo disso para registrar aqui. Só que fui deixando para depois. Agora resolvi aproveitar o embalo.

Alguns meses atrás, estava à toa clicando pela internet quando parei na capa de esportes do Globo.com. Passando os olhos pelos blogs em destaque, li o título de um deles: "A quem interessa o horário de 21h45min no futebol?"

Levei um susto: "Como assim um blogueiro do Globo.com critica algo imposto pela Rede Globo?" Confesso que me passou um sopro de satisfação por perceber a independência do jornalista e até de respeito ao Globo.com por publicar uma opinião contrária aos seus interesses. Mas tudo não passou de ledo e patético engano.

Ao clicar para acessar o blog de Emerson Gonçalves, percebi que tinha lido o título sem atenção. O título real era: "A quem não interessa o horário de 21h45min no futebol?" Não parece um bom exemplo de peleguismo?

Juro que não quero gastar muitas linhas, porque esse tipo de coisa, um texto como esse, me causa ojeriza. Faz mal ao espírito. É um claro exemplo de choque de classes. A dele, provavelmente burguesa, e a do povo trabalhador que ama o futebol.

Gostaria que esse colunista saísse de Campo Grande, por exemplo, de ônibus, numa quarta-feira à noite, para assistir a uma partida que comece quase às 22h no Maracanã. E ao fim do apito final ele saísse para pegar uma (uma só?) condução de volta para casa depois de meia-noite, um horário em que poucos ônibus circulam pelas nada seguras ruas da cidade, esperando muitas vezes uma, duas horas pelo transporte, chegando em casa sabe-se lá quando, para na manhã seguinte, normalmente por volta das 5h, ter que levantar para cumprir a dura rotina diária de trabalho.

Isso só se justifica numa situação excepcional, como uma final de campeonato. Particularmente, nem nesse caso eu concordo, mas entendo que existam alguns argumentos válidos. Fora essa situação excepcional, porém, não tem qualquer cabimento defender horário tão imbecil.

Quem defende o horário de 21h45min não sai do sofá para ir ao estádio. E quando o faz, vai na viatura da empresa, com ar condicionado, vaga garantida no estacionamento do estádio, transporte de volta para casa... E, com certeza, não levanta às 5h no dia seguinte.

Fico impressionado como há jornalistas que se prestem a esse papel de pelego. Ou será que há realmente quem acredite que 21h45min de um dia de semana é um bom horário para o torcedor que trabalha e madruga diariamente se arriscar nas violentas madrugadas das grandes capitais do país para assistir a uma partida de futebol?

Essa é a minha opinião. E mais não tenho nem paciência para argumentar.

IMPRENSA ► O tênis é um esporte burguês. Alguma dúvida quanto a isso?

O presidente da república Luís Inácio Lula da Silva disse em vídeo que está rolando por aí que tênis é um esporte burguês.

E há alguma dúvida quanto a isso? Parece que sim, pois tem quem conteste a afirmação ou entenda que o presidente não pode falar isso. Provavelmente, que seria melhor mentir.

O vídeo, gravado aparentemente por um celular, é interessante. Em um evento aqui no Rio, um garoto de nome Leandro, aparentemente já conhecido do governador Sérgio Cabral, reclama de não poder praticar esportes por causa da falta de segurança. Quando ele cita o tênis, o presidente Lula retruca dizendo que tênis é esporte da burguesia e sugere: "Por que não faz natação?" Aí o garoto reclama da falta de segurança e o Lula dá uma chamada no Cabral, dizendo que é um prejuízo político deixar isso acontecer por não colocar guardas para fazer a segurança da área. Tremenda saia justa provocada pelo moleque.

O jornalista de nome Fernando Sampaio, que tem um blog no portal UOL, aproveitou a deixa e publicou um post intitulado "Burguês é a mãe" (que depois virou um mais simpático "Burguês é a vovozinha"), no qual destila toda sua verve contra o presidente - sem apresentar qualquer argumento que contestasse a afirmação de que tênis é um esporte burguês. Muito pelo contrário.

Tudo o que funcionário do grupo Abril escreveu apenas corrobora as palavras do presidente, especialmente a falta de quadras públicas em todo o país.

Até entendo que quem critique a óbvia afirmação o faça por questões ideológicas, oportunismo político. Vá lá, pode-se entender que faça parte do jogo democrático aproveitar para bater qualquer bola levantada na ponta da rede, mesmo sem acreditar no que se está dizendo. É como juiz de futebol em jogo em que nosso time perde, é sempre culpado, algumas vezes sem qualquer motivo justificado (por isso gosto de reclamar de arbitragem quando o time vence...).

Também entendo que atletas profissionais do esporte sintam-se melindrados e partam para o chororô, o que apenas não acho muito inteligente, pois não faz nenhum sentido lógico, basta olhar o panorama do tênis no Brasil. Parte dele, inclusive, retratado pelo blogueiro da Folha, digo do UOL Esporte. Melhor seria que os atletas aproveitassem o gancho para cobrar providências em sentido contrário.

Fica a impressão de uma clara ação de um jornalista que trabalha para um grupo de comunicação escancaradamente contrário ao governo atual, a ponto de ser acusado de forjar documentos e coisas afins, o que não chega a surpreender tratando-se de uma organização que apoiou a ditadura militar (vide o livro “Cães de Guarda – Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988″, de Beatriz Kushnir). Deve ser difícil para um funcionário ir contra os interesses patronais. Mais fácil é aderir, o que acaba tirando sua credibilidade. É preciso muita personalidade e um bom lastro profissional para ser independente nessas circunstâncias para falar bem ou mal de quem quer que seja de acordo apenas com o que pensa, e não com o que pensam por ele. Há exceções, felizmente, mas que, como toda exceção, apenas comprovam a a regra.

Eu gostei da frase, por mais óbvia que seja: "O tênis é um esporte da burguesia." E falo de cadeira.

Joguei tênis na minha adolescência. Ou tentava jogar. Afinal, nunca fui burguês. O tênis era - e é - um esporte caro. Uma raquete é cara. As bolas se desgastam rapidamente e ficar comprando latinhas de bolas novas era um problema. Problema maior era encontrar horário livre nas raras quadras públicas disponíveis. No meu bairro, eram apenas duas.

Cansei de jogar com raquetes inadequadas, com a rede espicaçada, bolas carecas e de ficar até horas esperando por uma brecha para poder entrar numa quadra. Contratar um instrutor? Nem pensar.

Fácil o tênis só é - como sempre foi - para quem tem grana. Aí não há problema para se ter sempre uma boa raquete, bolas novas, um instrutor à disposição e, claro, o título de sócio de algum clube para se jogar sempre que tiver vontade. Ou então morar em um condomínio bacana o suficiente para ter algumas quadras de tênis para os moradores se divertirem.

Daí eu pergunto: em que parte desse cenário não se enquadra a frase "o tênis é um esporte da burguesia"? Boa parte do que o Fernando Sampaio escreve simplesmente me faz novamente perguntar retoricamente: em que parte desse cenário não se enquadra a frase "o tênis é um esporte da burguesia"? Qual o motivo de tamanha revolta?

Como disse Mino Carta na coluna que reproduzi aqui, esse parece o tipo de texto direcionado àqueles que avidamente se agarram a qualquer discurso e palavras que possam usar contra o popular presidente, "aqueles que se alimentam diariamente com os editoriais, as colunas, as reportagens editorializadas dos jornalões. E lhes repetem, em estado de parva obediência, de dependência canina, os chavões, os clichês, as frases feitas pelos locais públicos e privados." Como diria Nelson Rodrigues, poderíamos imaginar o blogueiro babando enquanto mistura em seu argumento Irã, El Salvador, "imbróglios internacionais" e tudo que a visão burguesa possa deturpar contra um governo marcadamente popular.

O tênis é um esporte burguês. Talvez Fernando Sampaio não tenha tido qualquer dificuldade para praticá-lo, mas eu sempre tive, por isso meus tempos de tenista amador ficaram lá no passado, indo apenas até o ponto em que não tinha mais como me divertir praticando esse esporte que acho muito legal. Se o autor interpretasse o próprio texto, entenderia isso e veria como seu destempero o faz perder crédito. Tudo de útil que ele escreve corrobora com a frase "o tênis é um esporte da burguesia". O que seria legal ele ter feito, com um pouco mais de justiça e imparcialidade, era criticar o governo atual por não ter feito nada para mudar esse triste cenário e registrar que isso é uma maldita herança do passado, cujo maior responsável foi o governo à época dos vitoriosos tempos de Gustavo Kuerten.

Nos anos em que Guga viveu o auge de sua vitoriosa carreira, o governo brasileiro nada fez para aproveitar toda a visibilidade que o esporte estava tendo e massificá-lo país afora. Tudo conspirava a favor, só não havia iniciativa alguma nesse sentido. Ah, é, mas esse auge ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso... E esse gancho para analisar a triste situação do tênis no Brasil foi simplesmente ignorado pelo jornalista do UOL. Como diria algum ingênuo personagem de desenho animado ou seriado tatibitate: "Por que será, hein?"

Enfim, como Fernando Sampaio usou da liberdade de expressão conferida livremente a todos (será mesmo?) neste país para ofender explicitamente o mandatário maior da República ("nosso gênio Lula acaba de vomitar mais uma frase infeliz"), não creio que vá se considerar ofendido por eu interpretar que seu post seja um caso de diarreia mental.

Mas é bom para que um presidente da república saiba que não deve sair por aí chamando de burgueses esportes tão populares que podemos praticar em qualquer esquina, como tênis, golfe, motonáutica, automobilismo...

É a minha opinião.