quarta-feira, 31 de março de 2010

TECNOLOGIA ► Nem tudo é o que se parece: História x Contos da Carochinha

A evolução tecnológica facilita muito a vida da humanidade, óbvio. Mas, usada com maldade e com interesses espúrios, pode até contar a História de uma forma que ela não aconteceu.

Hoje todos até brincamos com os recursos exageradamente usados de programas de edição fotográfica como o Photoshop. Mas essa brincadeira de manipular imagens pode ser uma coisa muito séria.

Na internet há muitas páginas interessantes, curiosas e divertidas a respeito. Esta postagem é só mais uma delas.

Esse negócio de manipular imagens é algo muito antigo, talvez do tempo dos bisavôs de Bill Gates. Consta que um dos pioneiros teria sido Matthew Brady, fotógrafo da guerra civil americana, que em 1865 alterou essa foto de generais confederados aí embaixo. Parece que alguém se atrasou e e ele resolveu o problema mais tarde, na sala escura.


O primeiro grande boom de manipulação de imagens com fins políticos ocorreu na extinta União Soviética, após o rompimento entre o então líder Josef Stalin e seu camarada de revolução Leon Trotsky. Com o fim da camaradagem, Stalin ordenou o desaparecimento de Trotsky da História.

Pode-se dizer que a situação chegou a um ponto em que se transformou em uma espécie de "Onde está Wally?" às avessas, tipo "Onde estava Trotsky?", para historiadores em busca da verdade.

A gente escreve brincando, mas o assunto é sério: apenas na era Gorbachev Trotsky voltaria de vez à história russa. Abaixo, dois exemplos da manipulação de que foi vítima o importante personagem da revolução soviética do início do século passado.


Se em priscas eras a manipulação fotográfica já era um recusrso maquiavelicamente utilizado, com a evolução tecnológica, então, não havia como o processo ser revertido. Ao longo daquele século, Hitler e Mao Tsé-Tung usaram e abusaram do recurso em seus governos totalitários.

O teste de lançamento de mísseis iranianos mais abaixo mostra que hoje a manipulação fotográfica passou a ser naturalmente usada, seja como recurso político, seja como recurso estético, daquele tipo que cansamos de ver no mundo do entretenimento, repleto de belas fotos de deusas que pareceriam até menos que simples mortais sem aquela ediçãozinha básica.

No caso dos mísseis, um não foi lançado, o que poderia enfraquecer não apenas a mensagem política (a demonstração de força), como a simples composição da imagem. Por um motivo ou por outro, tudo foi resolvido com um clique aqui, outro ali.


Para não faltar um exemplo brazuca, um conhecido caso - bem, não tão conhecido se depender da chamada "grande mídia" nacional - de manipulação por parte da "Isto É", que não gostou da inscrição de "Fora Serra" na placa durante manifestação do MST.


E claro que a evolução tecnológica não abalaria apenas a verdade iconográfica. Cada vez mais aparecem vídeos exibindo cenas que a vida não viu. Viajar no tempo passa a ser algo muito mais simples do que destrinchar a Teoria da Relatividade para encontrar fórmulas que, talvez, só Einstein mesmo seria capaz de aplicar.

Por exemplo: todo mundo sabe que Elvis não morreu e os mais "recentes" trabalhos do Rei do Rock'n'nRoll mostram não apenas isso, como também que o talento e a criatividade dos artistas de edição parecem não ter limites.

Primeiro, uma olhada na participação de Martina McBride no lendário especial de TV de Elvis Presley no Natal de 1968.


Depois, Elvis dá uma canja no American Idol de 2007, ao lado de Celine Dion.


Claro que é muito legal e divertido ver essas imagens. Mas há um risco nisso tudo aí: do jeito que a coisa vai, daqui a algumas décadas será difícil distinguir a realidade do virtual e será preciso muita atenção para que não se aprenda nas escolas contos da Carochinha em vez de História.

segunda-feira, 29 de março de 2010

MOTONÁUTICA ► Rapidinhas do fim de semana II: Motonáutica

Além de muito legal, eu diria até que inusitada a prova de motonáutica realizada na Baía de Guanabara pelo Mundial de Motonáutica Classe 1 Brasil, conhecida como Fórmula 1 dos mares. A grande presença de público atesta o fator hipnotizador exercido pelas velozes e coloridas lanchas, principalmente quando o domingo de sol e a geografia carioca ajudam a emoldurar um belo cenário.

Com contrato de 10 anos assinado e aprovação de pilotos e de todo o staff, a motonáutica pode entrar firme no calendário de eventos esportivos da cidade e cair no gosto popular.

FÓRMULA INDY ► Rapidinhas do fim de semana III: Fórmula Indy

Adiada de domingo para segunda-feira devido a uma forte tempestade na Flórida (EUA), a prova no circuito misto de St. Petesburg de Fórmula Indy foi – mais uma vez – repleta de alternativas e indefinida até o fim, tamanha a pouca diferença entre os pilotos até a bandeirada final – dada primeiro, mais uma vez, para o vencedor do GP São Paulo, o australiano Will Power.

Helinho Castroneves foi o melhor brasileiro, chegando em 4º, tendo pressionado até o fim o outro australiano, Ryan Briscoe, em busca de um lugar no pódio. Raphael Matos foi o 8º, Tony Kanaan, o 10º, Mario Romancini, 13º, e Vitor Meira, 15º.

Mário Moraes vinha na incrível batalha que cerca de 10 pilotos travaram durante quase toda a prova, entre a 5ª e a 15ª posições, quando foi vítima da quebra de suspensão do carro de Dan Wheldon, que acabou o tirando da prova em um acidente que poderia ter tido graves consequências, mas que, felizmente, ficou só no susto.
Confira abaixo:


A grande corrida do dia, porém, apesar do aparente modesto 5º lugar, foi a desse cara aí ao lado, o Escocês Voador, Dario Franchitti, a bordo do bonito carro da Ganassi, num desempenho de fazer o falecido Escocês Voador original, o bicampeão de F1 Jim Clarck, bater palmas do Além.

Faltando menos de 15 voltas para o fim, Dario Franchitti, em 14º, praticamente fechava a incrível fila de pilotos que brigavam da 5ª à 15ª colocação, quando iniciou uma incrível série de ultrapassagens no travado - e ainda mais apertado pelo numero de carros próximos uns aos outros – circuito de St. Petesburg.

Um a um os que estavam á sua frente foram ficando para trás, sendo que Alex Tagliani, Danica Patrick, Raphael Matos, Graham Rahal, Tony Kanaan e Ryan Hunter-Reay foram ultrapassados, simplesmente, um a cada volta, sucessivamente. Sempre achei Dario Franchitti um dos bons pilotos da Indy, mas agora o cara definitivamente ganhou mais um fã!

Chamou a minha atenção, também, o visual dos carros. Mesmo carros de mesma equipe têm diferenças que facilitam a identificação dos pilotos, já bastante facilitada pela simples e eficiente colocação do nome deles nos aerofólios traseiros. De quebra, os carros estão bastante coloridos - e muito bonitos.

Comparando, o visual dos carros da Indy está bem à frente do visual da F1 este ano. Há carros de todas as cores, com destaque absoluto, para o meu gosto, para a já citada máquina azul de diferentes tons de Dario Franchitti. Curiosamente, em São Paulo o escocês correu com um carro vermelho (aí no lado direito), também muito bonito. Talvez ele tenha estreado pintura nova agora. Vamos acompanhar.

Também gosto muito de ver na Indy a dinastia familiar de pilotos, que carregam o nome da família nas pistas, geração após geração, uma tradição antiga na categoria. E mais ainda gosto de ver um carro amarelo levando o nome Rahal na carroceria. Infelizmente, não é mais o campeão Bob com seu lendário número 18. Desta vez, é o filho Graham (na foto) que leva o nome da família na carroceria amarela, cor também muito usada pelo pai, especialmente na época que nosso Emerson abrilhantou a Indy com seu talento. 

FÓRMULA 1 ► Rapidinhas do fim de semana I: Fórmula 1

Acho que todo colunista deve se achar um pouco esperto e engraçadinho, então não podia perder a chance de usar o infame trocadilho do título do post aí em cima para falar de três eventos de velocidade...

A segunda corrida da temporada de F1, realizada em Melbourne, na Austrália, foi bem mais interessante que de costume. Para isso contribuiu muito um fator de dor de cabeça para os pilotos, mas que costuma tornar as cosas divertidas para o torcedor: a chuva.

O chove-não chove do início deu uma boa enroscada na corrida e acabou propiciando algumas boas emoções – além de alguns micos do tamanho de um king Kong para o narrador Galvão Bueno, que vaticinou, logo após a saída de pista de Jenson Button no início da prova, sua ida para os boxes e nova saída de pista assim que retornou com pneus lisos: “Button fora da prova!” Não satisfeito, logo depois, após mais alguns incidentes: “Três campeões mundiais fora da prova: Button, Hamilton e Schumacher!” Aí ao lado a gente vê dois deles: Schumacher e Hamilton.

Bem, todo mundos abe como a história terminou: Schumacher somando um pontinho em 10º, Hamilton arrumando um troco maior em 6º e Button, com uma excelente atuação, vencendo a prova.

O problema de Galvão – e que gera muito da antipatia que boa parte do público por ele – é que, além de narrar, ele parece querer ser também comentarista, repórter, mecânico, chefe de equipe... Não precisava passar por essa, não bastasse o piti na última volta do GP passado, no Bahrein, quando achou que a corrida já havia acabado ao ser aberta a última volta.

Falando dos pilotos, como não poderia deixar de ser, pelas circunstâncias, quase todos deram a sua derrapada aqui, outra ali. Foi difícil correr sem errar. Mas, apesar disso, muitos pilotaram bem e fizeram boa corrida. Button venceu com justiça. Massa conseguiu se aguentar em 3º. Após ótima corrida de recuperação, Alonso estacionou em 4º, preferiu respeitar o companheiro de equipe – creio que se quisesse forçar, ultrapassaria o brasileiro, estava com mais carro e é mais piloto - e se defendeu bem de Hamilton. Nico fez o que pôde com sua Mercedes e deixa claro que vai justificar o sobrenome e dar muito trabalho a Schumacher, assim como o pai, Keke, deu a Emerson Fittipaldi. Liuzzi conseguiu uma ótima 7ª posição para a Force India, Barrichello arrancou com competência a 8ª para a Williams e por aí vai.

Mas meus destaques vão para três pilotos: Robert Kubica, Lewis Hamilton e Mark Webber.

Único dos pilotos que não errou, o polonês Kubica fez uma excelente largada com  sua Renault amarela e segurou o 2º lugar no pódio mesmo com um carro inferior à concorrência.
Lewis Hamilton fez uma corrida de campeão, com uma espetacular reação, ultrapassando um sem número de carros, até esbarrar em Alonso. Aí ele optou por respeitar o bicampeão espanhol e, quando achou ser a hora de atacar, acabou jogado fora da pista por Webber.

E o australiano Mark Webber, correndo em casa, leva o destaque negativo. “Santa barbeiragem, Batman!”, diria o Menino Prodígio ao ver o bólido de Weber atingir Hamilton quando o inglês atacava o espanhol na entrada de uma curva. Parecia que Weber se distraía assistindo ao duelo e esqueceu-se de pilotar... O que deu margem a outro mico de Galvão, que achou um jeito de criticar o jovem campeão inglês (como de hábito, aliás), apesar da óbvia culpa de Webber, tão óbvia que o piloto da RBR acabou advertido após a corrida. Vejam a lambança aí embaixo.


Vamos aguardar os próximos GPs para ver se a F1 consegue repetir essa emoção ou se foi apenas uma madrugada de ilusão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

BRASIL ► Caso Isabella: mais um exercício de sadismo da imprensa e hipocrisia da sociedade

Impressionante como é possível perceber a degustação saborosa da dor, do sangue e do sofrimento por grande parte da imprensa brasileira quando surge um caso como o da morte da menina Isabella.

A tragédia é curtida, amaciada e servida em tons sensacionalistas à mesa do cidadão quase 24 horas por dia. Vá lá agora, nesta semana de 22 a 29 de março, por exemplo, ligar a TV ou acessar algum portal de notícias e você poderá até perceber o sangue escorrendo por baixo do televisor ou do monitor do PC.

Porque notícia, mesmo, não há o suficiente para tanto. Começou o julgamento dos acusados pela morte da menina Isabella. Ponto. Agora é aguardar o resultado, talvez com uma pequena nota sobre o andamento do caso aqui, outra ali. Fora isso, nada. Com o veredicto, aí sim, notícia. De resto, o que faz a imprensa brasileira é puro e impressionante sensacionalismo, de um tipo que não se imaginaria registrar em pleno século 21.

E fora o sensacionalismo, há a hipocrisia de toda a sociedade. Porque se há esse sensacionalismo, é porque esse sensacionalismo satisfaz uma mórbida curiosidade social... e vende. E esse sensacionalismo é mais exacerbado e vendido sempre que o crime envolve classes sociais mais favorecidas e pessoas famosas (ou nem tanto). Ou alguém acha mesmo que mais de uma dezena de crianças não são mortas nas grandes cidades todos os dias em crimes igualmente hediondos? Ah, sim, mas são de periferias e subúrbios pobres, não são notícia...

É sempre assim: todo o mal que ocorre com gente de nome ou de classe social elevada “choca” a população e a imprensa, grupos de diretos humanos e ONGs disso e daquilo movem mundos e fundos exigindo justiça e cobrando uma rápida apuração do caso. Como no recente assassinato do cartunista Glauco. E poderia citar inúmeros outros casos afins.

É ruim a rápida apuração desses casos? Claro que não. Crimes jamais deveriam permanecer impunes. Só assim uma sociedade dita civilizada pode evoluir. O ruim, o péssimo, o horroroso, a hipocrisia da coisa toda é que apenas a apuração de casos como o da menina Isabella e do cartunista Glauco seja cobrada assim. O assassinato daquele trabalhador dentro de um ônibus ou na saída de um banco na Baixada Fluminense, trabalhador que deixa muitas vezes mulher e filhos desamparados, por exemplo, fica ao deus-dará.

Para a mídia e grande parte da sociedade brasileira, infelizmente, há diferentes classes de cidadãos: há os que são capa e vendem e os que não passam, quando muito, de notas de pé de página perdidas em algum caderno interno.

terça-feira, 23 de março de 2010

FUTEBOL ► Campeonato Carioca: do luxo ao lixo

Alguns gênios decidiram transformar em 2010 o dito “mais charmoso campeonato do país” em um torneio. É, um torneio apenas entre os quatro grandes, já que eles disputam uma série de partidas inúteis contra os chamados clubes pequenos que, por influência da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão, raramente podem exercer o direito de jogar em seus campos contra Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Assim, vemos acentuada a diferença técnica entre grandes e pequenos e jogos com resultados pra lá de previsíveis. A emissora prefere mostrar confortáveis estádios vazios a transmitir um campeonato competitivo.

Os grandes clubes jogam quase sempre nos campos que a Globo “autoriza”: Maracanã, Engenhão, São Januário e Raulino de Oliveira, o Estádio da Cidadania em Volta Redonda. No final, acontece o que todo mundo imagina desde o início: um torneio entre eles para definir o primeiro turno (a Taça Guanabara), outro para definir o segundo (a Taça Rio) e duas partidas finais para decidir o campeão, se o mesmo time não conquistar os dois turnos.

Ou seja: um monte de partidas tão inúteis quanto vender ventilador no deserto e a no máximo oito partidas que realmente valem alguma coisa. 120 jogos sem qualquer apelo, fora um clássico ou outro, o que tem sido muitíssimo raro.

O mínimo que se espera em um torneio desses é que se criem atrativos para convencer o torcedor a ir aos estádios e não esperar apenas os jogos que valem. Afinal, o torcedor tem dado amplas provas de que nãom é bobo. Ele percebe a diferença entre o Campeonato Brasileiro, onde TODOS os jogos valem, já que o campeonato é de pontos corridos, e um torneio embromatório como o carioca.

Mas os dirigentes esportivos daqui fazem o contrário: marcam jogos para horários completamente idiotas, como 19h30min de domingos e 21h50min de quartas-feiras, e, não satisfeitos com isso, majoram absurdamente o preço dos ingressos. O torcedor não é bobo de pagar R$ 40,00, R$ 50,00 por nada. Para fechar o pacote, ainda distribuem ingressos para as famigeradas torcidas organizadas que tantas famílias expulsam dos estádios.

E a situação fica nesse nível: um trabalhador paga R$ 70,00 por uma arquibancada, como no caso do recente Botafogo x Flamengo no Engenhão, para ir a um jogo numa noite de domingo em que 1/3 dos presentes não pagaram nada para estar ali. É querer fazer o torcedor de otário ou não?

Agora, porteira arrombada, os dirigentes e demais autoridades se questionam sobre o que deu errado e no motivo da ausência de torcedores nos estádios. Precisa pensar? Basta perguntar a qualquer torcedor em qualquer esquina da cidade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

RIO DE JANEIRO ► Por que a CET-Rio não liga para faixas?

Não bastasse o caótico trânsito do Rio de Janeiro sofrer com as barbaridades cometidas por pilotos desastrados ou mal-educados, ainda a CET-Rio (Companhia de Engenharia e Tráfego do Rio de Janeiro) contribui com o caos geral por simplesmente ignorar a relevância de haver faixas bem pintadas nas pistas.

É impressionante! Em vias escuras ou sob chuva forte, um grande socorro para os motoristas é orientar-se pelas faixas pintadas no asfalto. Mas que faixas? Sendo que, em virtude das crateras que há décadas tomam conta das ruas da cidade, alguns até diriam: "Mas que asfalto?" Mas isso é outra história...

A história aqui é que pegar a Avenida Brasil à noite, por exemplo, a principal via da cidade, é uma verdadeira aventura. Apesar do trajeto muitas vezes sinuoso, praticamente não há faixas e é absolutamente comum vermos um carro invadir a pista alheia e ameaçar colidir com outro.

O que vale para a Avenida Brasil vale também para a Linha Vermelha (felizmente em obras de recapeamento, esperamos que novas faixas sejam pintadas agora) e grande parte das ruas cariocas. A imprudência dos motoristas já não ajuda, assim então...

Como motorista, sinto imensa falta de faixas bem pintadas que ajudem à direção noturna. Não dá para entender como os responsáveis pelo trânsito do Rio aparentemente não se importem com isso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

BRASIL ► Sob a ótica de Ibsen Pinheiro, o petróleo é da ONU!


Um dos mais incríveis argumentos do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB/RS) para "surrupiar" os royalties de exploração da camada de pré-sal a que têm direito principalmente o Rio de Janeiro e o Espírito Santo sugere uma revolução na economia mundial. Senão vejamos o que ele diz em relação à extração de petróleo:

"Não existe estado produtor, no máximo tem uma vista para o mar."

Bem, um argumento desse, por analogia, também quer dizer isso:

"Não existe país produtor, no máximo tem uma vista para o mar."

Um argumento que, inclusive, acaba com o conceito de mar territorial, já que tudo seria paisagem...

Sob essa ótica, então, o petróleo é nosso... e de todos os países do mundo! Assim como todo o petróleo do mundo árabe e do resto do planeta!

Temos uma revolução econômica em escala mundial à vista!

segunda-feira, 15 de março de 2010

AUTOMOBILISMO ► Fórmula 1 x Fórmula Indy: estilo x emoção

Neste fim de semana começou a temporada 2010 de Fórmula 1 e em São Paulo foi realizada a etapa brasileira da Fórmula Indy. Bem, não vou entrar em maiores detalhes sobre as provas, para isso recomendo o blog do Márcio Arruda (http://jblog.com.br/formula1.php), especialista no assunto. Só gostaria de registrar diferenças básicas entre essas duas categorias do automobilismo  internacional que eu percebo como mero fã.

Acho a F1 uma categoria extremamente glamourosa, cheia de estilo e marcada pela beleza de seus circuitos. A prova do Bahrein, por exemplo. Achando que o novo regulamente traria mais competitividade à categoria (e até ainda acho) e considerando ser a primeira do ano, com novos pilotos e pilotos em novas casas, mesmo dormindo tarde, cedinho estava lá acordado para acompanhar a  corrida.

A corrida, em si, achei chata como têm sido as corridas de F1 desde o final do século passado. Muita influência tecnológica para pouco fator humano. Costumo brincar dizendo que hoje você forma um piloto de F1 deixando uma criança brincar desde cedo com o PlayStation. Mas fica difícil tirar o olho daquele visual hipnotizante do lindo circuito no deserto aliado às cores dos carros e ao ronco dos motores.

Então fiquei ali, durante quase duas horas em que pouca coisa aconteceu, a ponto do narrador quase exultar de alegria ao menor indício de uma disputa por posição. Qualquer posição. Mais ou menos assim: “É isso que vamos ver este ano, é para isso que o regulamento mudou, vamos ver provas com muitas ultrapassagens e disputas por posição!”

Bem, tudo isso ficou para a próxima. Até creio que possa se chegar a esse ponto ideal, mas a F1 precisa deixar de ser refém da disparidade de forças entre as equipes. Pode ser que as mudanças no regulamento ajudem. Mas se acabar com a bobagem do reabastecimento é um passo a frente, exigir o uso de pneus liso e biscoito na mesma prova é uma corrente de aço presa aos boxes.

Estilo não é o forte da Indy, apesar das legendárias 500 milhas de Indianápolis. Aquele monte de circuitos ovais mesclados a circuitos de ruas simplesmente feios e desprovidos de qualquer charme não são propriamente atraentes. Bonito, na categoria, só os carros mesmo. A corrida em São Paulo é prova disso. Mas o que falta em visual a Indy compensa em competitividade e emoção.

Há um maior equilíbrio entre os carros e as provas ficam abertas a um maior número de pilotos. Muitas vezes a vitória e as primeiras posições dependem mais do acerto do carro para aquele circuito e do braço de quem está atrás do volante do que do poderio da escuderia em si.

Tá certo, às vezes o excesso de bandeiras amarelas cansa, mas cada vez que a bandeira verde é dada em uma nova largada, você se esquece disso. E ao contrário de Bahrein, não faltou emoção em São Paulo.

Houve sol, chuva, as primeiras posições foram disputadas até as últimas voltas e, no fim, apenas quatro segundos separavam o quarto do 10º colocado. Muito legal!

Como sou fã de F1 desde os tempos em que havia corridas aos sábados na Europa (é, um dia já teve disso...), torço para que as mudanças façam a categoria voltar a ser ao menos um pouco como nos tempos em que o braço valia mais que os dedos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

TECNOLOGIA ► Microsoft faz estranho jogo contra o patrimônio incentivando a pirataria

Apesar de não ter exercido a profissão a não ser como estagiário, sou formado em Administração. E fica difícil para quem faz esse tipo de faculdade ou qualquer curso de gerência entender a maneira de pensar de certos empresários. Talvez - provavelmente até - a falta de prática profissional faça certas coisas escaparem à minha compreensão. Como o caso da Microsoft, por exemplo.

A Microsoft sempre diz-se vítima da pirataria de softwares, principalmente em relação ao seu sistema operacional, o Windows, e que faz de tudo para combatê-la. Não acredito. Ao contrário, acho que a poderosa multinacional de tecnologia incentiva a pirataria através de sua - para mim, estranha - estratégia comercial.

Tomemos como exemplo o Brasil, onde há, no mínimo, 40 milhões de usuários domésticos de computadores. Desses, quantos devem possuir UMA licença legítima da Microsoft, que dá direito a apenas UMA instalação em UM único computador, pagando em torno de 500 reais pelo seu sistema operacional, agora o bom Windows 7? Poucos, não é? E quando digo poucos, quero dizer poucos mesmo. Creio que em torno de 1% (400 mil)... e olhe lá.

O Brasil é um mercado em que a Microsoft fatura corporativamente, vendendo para empresas, que não podem correr o risco de trabalhar com softwares piratas em suas máquinas e não arriscam-se em partir para o uso de software livre, como o Linux. E a Microsoft fatura muito bem. Ainda assim, isso não justifica o pouco interesse em faturar muito mais explorando o usuário doméstico, a quem a empresa não deixa muitas opções para obter um software original. O valor é extorsivo para a maior parte da população, ainda mais para uma licença que só vale a pena até a compra de um novo computador ou uma simples alteração de hardware ou mesmo a formatação da máquina.

Eu, simplesmente, não entendo. São 40 milhões de usuários provavelmente usando um Windows pirata, certo? Quanto a Microsoft fatura com isso? Zero.

Muitas pesquisas indicam que o consumidor gostaria muito de ter em seu computador um software original, mas não tem condições financeiras para isso. É caro.

Então vejamos: se em vez de R$ 500,00, pelo Windows 7, a Microsoft cobrasse um valor, digamos, social, em torno de R$ 20,00? Mesmo que por uma única licença para ser usada apenas uma vez em um único computador? Garanto que, no mínimo, metade desses 40 milhões de usuários domésticos comprariam o produto original. Mesmo que de ano em ano precisasse de outra licença, o preço não seria empecilho. Assim, a Microsoft faturaria pelo menos 400 milhões de reais de uma tacada só! Vai ver que eles nem consideram essa "ninharia" um faturamento relevante...

Para as empresas, a Microsoft poderia continuar cobrando seus 500 reais. Também poderia vender por esse preço ao usuário doméstico uma espécie de licença vitalícia ou de umas 50 instalações, incluindo aí as de novas versões do Windows.

Enfim, formas e formas de faturar mais e combater a pirataria e incentivar a compra de software original, existem. Mas ou não deve fazer diferença umas centenas de milhões a mais no recheado cofrinho da Microsoft ou outros motivos existem para a empresa apenas fingir que se incomoda com essa situação. Como costuma-se dizer, "aí tem..".

quarta-feira, 10 de março de 2010

BRASIL ► É sério isso?

1 - Deu na coluna do Ancelmo Góis no jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/posts/2010/02/18/a-coluna-de-hoje-267300.asp):

Calma, gente
A ONG Fala Bicho entra hoje com ação na Justiça contra a União da Ilha, que desfilou na Sapucaí mostrando uma simulação de tourada.
Scheila de Moura, presidente da ONG, diz que a alusão ao tema é apologia ao crime. Será?


Arquidiocese pede indenização por uso do Cristo Redentor em “2012”
A cena em que o Cristo Redentor é destruído no filme “2012” continua gerando polêmica. O longa foi lançado em novembro, mas a Arquidiocese do Rio de Janeiro ainda cobra da Columbia Pictures uma indenização por uso indevido de imagens do Cristo Redentor.
O jornal “O Estado de São Paulo” conta que as negociações começaram em dezembro e preveem retratação pública por escrito. Se as duas partes não chegarem a um acordo até março, a instituição vai entrar com uma ação judicial.
Apesar de não cobrar pelas imagens do Cristo, a arquidiocese pode vetar seu uso. Antes da gravação do filme, a Columbia havia consultado a organização e teve o pedido negado. O diretor Robert Emmerich fez as cenas mesmo assim.

*** 

Deixa ver, rapidamente, se entendi:

Caso 1 – Vamos dar o exemplo da escravidão. Falar sobre escravidão numa escola de samba, provavelmente a instituição que mais se fez ouvir bradando pelos direitos e enaltecendo a raça negra, também não pode? Representar a escravidão em filmes de cinema também é apologia? Simular consumo de droga numa peça teatral também é apologia? Nada disso pode? Ainda vou entender essas coisas... 

A propósito: odeio touradas, acho um ato desprezível, torço sempre pelo touro.

Caso 2 – Então destruir o Cristo em um filme de ficção não pode? Mas se der dinheiro para a Arquidiocese fica tudo por isso mesmo? Vender imagens do Cristo de braços abertos sobre a cidade em porta de igreja pode? Vender o Cristo crucificado também pode? Será que Jesus aprova isso? Lembram-se do que Ele fez ao chegar a um templo e encontrar um monte de oportunistas que vendiam de tudo e procuravam ganhar dinheiro de todas as formas? Acho que Ele não gosta nem um pouco desse negócio de venderem a imagem d'Ele por aí a torto e a direito... E eu gostaria de saber desde quando a Arquidiocese é dona do Cristo Redentor. Acho que perdi esse capítulo.



***

Dizem que quem inventou o trabalho não tinha muito que fazer. No fim das contas, acabou sendo uma grande ideia, porque não ter o que fazer pode gerar ideias muito piores. 

terça-feira, 9 de março de 2010

CINEMA ► “Podecrer” e “1972”: caricatura D+, filme D-

Tentei outro dia assistir a “1972”, filme de José Emílio Rondeau. Ontem, me aventurei com “Podecrer”, de Arthur Fontes. Ambos os filmes agradaram a uma faixa jovem do público de cinema. Bem, se os tivesse visto no cinema mesmo, onde por pagar ingresso me obrigo a assistir a um filme até o fim, talvez pudesse gostar também. Mas em casa, com o controle remoto na mão, não deu.

“Podecrer” passa-se em 1981 e “1972” em... Bem, é óbvio. Em 1972 eu era uma criança; em 1981, um jovem. Mas mesmo sendo criança em 1972, a realidade daquela época nunca me foi distante e ficou difícil de engolir mais de 20, 25 minutos de filme com personagens tão caricatos e situações idem.

A turminha do filme de 1981, então, bota caricatura nisso... Mas como me dizia mais respeito (tipo “eu tava por lá nos anos 80”...), até consegui resistir exatos 52 minutos. Mais, impossível, até porque nada de relevante acontecia.

Talvez esse tipo de estereotipação de jovens de diferentes épocas seja interessante para apresentá-los a novas gerações, mas para quem esteve próximo ou viveu aqueles dias, tudo tem sido muito caricato. E pior: na maioria desses filmes, nos 70 ou 80, são sempre os mesmos tipos de personagens repetindo as mesmas situações. Como uma espécie de “Feitiço do Tempo” cinematográfico cujas ações se repetem em filmes sem fim.

Mas o problema seja de pessoas como eu, para quem o filme não foi dirigido e tudo o que acontece é extremamente redundante, repetitivo, já visto... Envelhecer dá nisso.

Nos anos 80 houve um filme de Joel Schumacher chamado “O Primeiro Ano do resto de Nossas Vidas”, com uma turma de garotos logo apelidada de Brat Pack, numa clara alusão ao Rat Pack, o clã de Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr e Cia. O Brat Pack reunia, entre outros, Demi Moore, Molly Ringwald, Rob Lowe  e Anthony Michael Hall.

Vi esse filme várias vezes. Uma no cinema, outras em vídeo na faculdade, onde todo mundo gostou e queria uma cópia. Mesmo achando algumas situações bastante clichês, eu gostava, afinal, eram coisas que aconteciam com a gente. Apenas não me deixava levar o suficiente para considerá-lo um graaaaaaande filme. Mas achava bom, legal e gostava muito.

Meu pai, cinéfilo de décadas passadas, quando viu em vídeo... Diria que ele fez um “hum”, tipo “de novo?” ou “já vi isso um monte de vezes” e deixou sair um “filme de jovens” como comentário. Não, não vou dizer que “hoje eu entendo” porque na hora entendi: ele já tinha visto aquilo muitas vezes, muito tempo antes.

Mas prometo a mim mesmo que em uma nova oportunidade, de preferência no frio e munido de muita pipoca, darei nova chance aos dois filmes, tanto a “Podecrer” como a “1972”, assistindo-os sem má vontade, sem preconceitos, com as melhores intenções, como se fosse a primeira vez – mas, por via das dúvidas, sem o controle remoto por perto.

sábado, 6 de março de 2010

VANCOUVER 2010 ► Superação: do que os verdadeiros atletas são feitos

O esporte tem lições de comprometimento que mereciam ser seguidas com mais frequencia em outros setores de nossas vidas. Recentemente, nas Olimpíadas de Vancouver, recebemos mais uma dessas lições.

Principal patinadora canadense, Joannie Rochette preparava-se para sua estreia na competição de patinação artística, a popular “dança no gelo”. Menos de dois dias antes, um domingo, foi surpreendida com o súbito falecimento de sua mãe, vítima de infarto.

Os pais da atleta viajavam de Montreal para Vancouver para acompanhar as provas, quando ocorreu a tragédia. Na Vila Olímpica, o próprio pai deu a notícia à filha.

Patinação artística é um desses esportes nos quais os atletas não conseguem treinar para competir em alto nível e se tornar profissionais sem a dedicada ajuda dos pais. É um esporte caro, que requer sacrifícios da família, com duros gastos com treinos, equipamentos e professores. E é muito comum o acompanhamento permanente dos pais durante a carreira dos filhos.

Logo, podemos imaginar o choque que Joannie recebeu. Deve ter ficado sem chão, para dizer-se o mínimo. Em um esporte que exige concentração total, a atleta encontrou forças para subir ao rinque na terça-feira seguinte para a série curta de dança e realizar uma belíssima e emocionante apresentação. Após seu último movimento, desabou em lágrimas. Seus pontos a levaram à terceira colocação. No final da semana, na série longa, confirmou o terceiro lugar e garantiu a medalha de bronze.

O desempenho de Joannie Rochette lembrou-me de Derek Fisher, jogador de basquete, armador do Los Angeles Lakers. No breve período em que esteve afastado dos Lakers, Fisher defendeu o Golden State Warriors e o Utah Jazz. Durante os playoffs da temporada 2006/2007, ele jogava pelo Jazz, que fazia a semifinal da Conferência Oeste contra os Warriors. Naquele momento, uma de suas filhas enfrentava um raro câncer nos olhos e faria uma delicada cirurgia em Nova York no dia da partida decisiva da série em Salt Lake City.

Fisher acompanhou a cirurgia da filha, felizmente bem sucedida, pegou um avião e partiu para Utah. Chegou ao ginásio no meio do terceiro quarto da partida. O Jazz enfrentava problemas na armação, com jogadores machucados ou pendurados em faltas. Fisher não teve dúvidas: como estava listado para o jogo, foi para o vestiário, vestiu o uniforme e se colocou à disposição para jogar. Ovacionado pela torcida e aplaudido até pelos adversários, Derek Fisher acabou decidindo o jogo na prorrogação, dando a vitória e a classificação às finais da Conferência Oeste ao Utah Jazz.

Joannie Rochette e Derek Fisher são dois de muitos exemplos de atletas que em quem todos devíamos nos espelhar. Atletas e homens que agem com coração, dedicação, personalidade, caráter.  São atitudes que nos deixam sem palavras e pensando que, sim, sempre podemos fazer mais um pouco.

sexta-feira, 5 de março de 2010

BRASIL ► Anistia não é impunidade

Um dos muitos gritos que certos setores da mídia brasileira desesperadamente vêm dando contra o governo tem como alvo a chamada "Comissão da Verdade", que, sinteticamente, quer colocar os pingos nos is, o preto no branco ou o clichê que quiserem usar sobre os anos negros da ditadura militar.

A história toda é bem simples: apurar os culpados por crimes cometidos durante esse período dito de exceção, caracterizado por governos autoritários e repressivos (como se pudesse haver uma ditadura que não seja repressiva...) que tomaram conta do país durante três décadas.

É uma questão polarizada, para usar um termo em voga em época de eleições: de um lado, os revolucionários (terroristas para os ditadores); de outro, a ditadura militar e sua prática da tortura.

O objetivo principal, mesmo, é não permitir que passem impunes à História aqueles que cometeram crimes hediondos contra a humanidade, os torturadores.

O discurso da direita (é, ainda existe e resiste firme e forte a direita neste país - e também existe esquerda) é absolutamente idiota, já que parte de um ponto de vista que revela que eles pensam que nós, "os outros", somos idiotas: "Ué, não houve anistia para os terroristas?" "Aqueles assassinos não foram anistiados?" "A anistia não foi ampla, geral e irrestrita? Não era para todos?" "Por que voltar a tocar nesse assunto?"...

É uma direita que apoiou e ainda defende a ditadura, seja implícita ou explicitamente, como no caso do editorial da Folha de São Paulo* que chamou a ditadura brasileira de "ditabranda". Lógico, quem escreveu não teve o pai amarrado a dois carros que partiam em direções opostas...

Realmente, um argumento desses só pode ser ingênuo ou ofensivo. Ofensivo por chamar o povo - essa palavra que odeiam - de ignorante.

Por quê? Simples: a anistia foi - e é - ampla, geral e irrestrita para todos aqueles que cometeram crimes durante a ditadura militar e que, após condenados, tiveram a liberdade retomada e seus direitos restabelecidos nos últimos suspiros daquele período de terror.

Ora, só um lado foi julgado durante a ditadura e todo mundo sabe qual. Os revolucionários foram caçados, assassinados, presos, assassinados, torturados, julgados (sabe-se em que condições...), torturados, condenados, torturados, exilados, assassinados... Obviamente, a repetição das palavras "assassinados" e torturados" não é falta de revisão nem mera coincidência.

Uns sobreviveram à prisão e outros, ao exílio. Com a anistia, tiveram suas penas comutadas e retomaram a liberdade, recebendo de volta seus direitos como cidadão.

Fácil de entender: condenados, receberam a anistia.

Falta o outro lado agora, já que, na ocasião, foi feito o acordo possível entre as partes. Assim revolucionários condenados e mortos e impunes torturadores entraram no mesmo saco da "anistia ampla, geral e irrestrita".

Mas para existir uma anistia deve haver um motivo, no caso, uma condenação. E, antes, um julgamento. Qual parte "eles" não entendem? Ou não querem entender?

Será que não é hora dos militares serem julgados? Ou melhor: será que já não passou a hora? Vários países sul-americanos estão à nossa frente nessa questão.

Aí alguns tabloides de nome reverberam o discurso de que "isso é revanchismo", "a anistia foi para todos" e um monte mais de blablablás covardes, de quem tem medo da verdade.

Revanchismo seria pegar um militar daqueles de qualquer escalão que tivesse participado da tortura e torturá-lo também. Ou pegar a esposa de um deles e violentá-la à sua frente. Ou "apenas" sodomimizá-la com um cabo de vassoura... Talvez pegar uma filha e fazê-la ver o pai no pau de arara. Ou ainda... Melhor parar, porque estômagos sensíveis podem começar a revirar. Isso, sim, seria revanchismo.

O que se quer é pegar esses seres ditos humanos e levá-los a julgamento. Sendo julgados e condanados pelo crime hediondo que cometeram, ninguém quer que apodreçam atrás das grades. Apenas queremos, a sociedade civilizada quer, a verdade exige, que criminosos sejam sempre julgados e condenados - e que paguem por seus crimes. E, neste caso, que paguem por seus crimes passando à História como torturadores durante o período mais triste vivido pelo Brasil.

Não, definitivamente eles não passarão sequer um dia atrás das grades. Afinal, a anistia não é ampla, geral e irrestrita e para todos? Para os torturtadores também. Mas a condenação deles é um legado importante a ser deixado para as futuras gerações do país. Um legado que dirá que aqui, no Brasil, a tortura não ficou impune. E que por isso jamais ficará.

O Brasil é um país que não irá evoluir com a pecha da impunidade estampada em sua bandeira. Os resquícios disso vemos em nosso dia-a-dia e exemplos, infelizmente ainda bastante atuais, são os covardes trotes que alunos abastados, jovens privilegiados, insistem em aplicar em faculdades. Eles o fazem com a certeza da impunidade. E são esses covardes protótipos bem acabados de criminosos que tomarão conta do país em um futuro próximo.

Outro dia, vendo mais um documentário sobre os anos da ditadura e a tortura (mais um daqueles em que militares negam-se a prestar depoimentos... ), um ex-prisioneiro político, preso, condenado, torturado, sobrevivente e anistiado, disse algo sintomático, que pode-se resumir assim: "Hoje ando de cabeça erguida e conto minha história aos meus filhos e netos. Será que os torturadores fazem o mesmo?"

Se depender de Globos e Folhas da vida, maus militares torturadores jamais precisarão tocar no assunto com familiares, muito menos com a Justiça. Aliás, se depender dessa parte da mídia, acabam criando uma teoria revisionista dizendo que a tortura não existiu no Brasil.

*Sobre a Folha de São Paulo e a ditadura, vale a leitura do livro de Beatriz Kushnir, "Cães de Guarda - Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988", editora Boitempo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

BRASIL ► Deu na internet: "Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma"

Publicado no site Carta Maior em 3 de março de 2010 (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16414):

Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma

Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.

Bia Barbosa

Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.

Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.

A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.

“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.

A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.

“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.

O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.

“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.

“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.

O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.

Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.

“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.

O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.

Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.

“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.


*** *** ***

Bem, basta olhar as primeiras páginas de certos veículos de imprensa (veículos que a História costuma mostrar que adoram o poder e que estiveram ao lado de governos golpistas - normalmente, o lado contrário ao do povo) para vermos que o jornalismo há muito foi chutado para escanteio.

Vale ressaltar que cobraram R$ 500,00 por lebre e entregaram gato.

Por essas e outras que, em casos assim, costumo dizer: "Chavez tinha razão..."

segunda-feira, 1 de março de 2010

VANCOUVER 2010 ► Um gol para entrar na História

Canadá x EUA no hóquei é como Brasil x Argentina no futebol. A decisão pela medalha de ouro sobre o gelo tinha algumas peculiaridades que tornavam o jogo ainda mais atraente.

Não que eu seja particularmente um grande fã de hóquei. Acho as federações muito benevolentes com a violência do jogo. Parece que umas bordoadas aqui, uma tacada ali, socos e cotoveladas passaram a fazer parte do folclore do esporte e situações que no futebol ou no basquete, por exemplo, renderiam ganchos imensos aos protagonistas, no hóquei ficam quase que "por isso mesmo".

Mas, como fã de esporte, não há como ficar indiferente a competições de "alto rendimento", como campeonatos mundiais e olímpicos.

Todos os jogadores canadenses atuam na poderosa NHL, a liga profissional de hóquei dos EUA. E, na primeira fase, os favoritos canadenses foram surpreendidos em casa pelos estadunidenses por 5 x 3. Uma derrota que explodiu o meio da América do Norte e deixou engasgada a parte mais gelada acima. De quebra, os EUA queriam devolver aos canadenses a derrota na final dos Jogos Olímpicos de Salt Lake City, em Utah, em 2002. Naquela oportunidade, o Canadá venceu a decisão na casa do adversário e levou a medalha de ouro.

E o jogo cumpriu o que prometeu. Uma decisão de arrepiar os cabelos - como se o gelo por si só não o fizesse. O Canadá entrou no terceiro e último tempo vencendo por 2 x 1 e defendia-se com unhas e dentes. Talvez tivesse recuado e defendido-se até demais, permitindo aos EUA uma pressão que só aumentava com o passar dos minutos.

Faltando pouco mais de um minuto para o fim, em um contra-ataque, o Canadá desperdiçou a chance de matar o jogo. E a apenas 24 segundos para tudo acabar os EUA tiveram sua persistência coroada e empataram a partida, levando a decisão para a prorrogação, que seria decidida na morte súbita: 20 minutos de jogo, quem marcasse um gol primeiro levaria o ouro. Em caso de empate, pênaltis... e haja coração!

Interessante notar que no hóquei a uma mudança nas prorrogações. Jogado normalmente com seis jogadores, cinco na linha e um no gol, numa prorrogação os times entram com um atleta a menos, aumentando o espaço no rinque e tornando o jogo mais aberto.

E a prorrogação foi ainda mais emocionante. O Canadá tinha a iniciativa, atacava, perdia gols, mas sempre que os EUA chegavam também era com muito perigo. Até que o jovem astro Sidney Crosby, de quem muito exigiam e pouco fizera na competição até então, decide tudo com um golaço. O gol de ouro.



Foi demais! Que bom poder acompanhar mais um momento que entrou para a história dos esportes olímpicos, como a vitória da Polônia sobre a URSS no vôlei masculino por 3 x 2, em 1976 (a partida de vôlei mais longa da História), a eternamente discutida vitória soviética sobre os norte-americanos na final do basquete masculino de Munique, em 1972 (uma partida que ainda não acabou), e tantos outros mais...

VANCOUVER 2010 ► E o Brasil descobre que as Olimpíadas são de dois em dois anos...

As chamadas Olimpíadas de Inverno sempre foram algo distante das atenções brasileiras. Vivendo em um país tropical e com uma mídia que só costuma cobrir o que tem participação nacional – de preferência, uma relevante participação, disputando título ou medalha -,  praticamente ignoramos os “Jogos da Neve”. Tanto que sempre achavam estranho por aqui a mídia internacional chamar os Jogos Olímpicos, aqueles que conhecemos e acompanhamos de 4 em 4 anos e que serão realizados no Rio de Janeiro em 2016, de Jogos de Verão.

Provavelmente, o primeiro contato de muitos de nós com os Jogos de Inverno tenha sido o filme “Jamaica Abaixo de Zero”, que conta a epopeia da inusitada primeira participação jamaicana em uma competição no gelo. Foi em 1988, na Olimpíada de Calgary, no Canadá. A equipe caribenha que participou da competição de bobsled acabou alvo de muitas atenções.

Mas 2010 chegou e creio que tenha mudado isso para sempre. A transmissão de vários eventos pela Rede Record na TV aberta, principalmente com as tardes inteiras com a grade liberada, chamou a atenção de todos. Até da concorrência. Quando a Record adquiriu os direitos deste e do próximos Jogos Olímpicos e Panamericanos, houve rumores de que a Globo, ficando de fora, usaria sua velha tática “já-que-não-transmitimos-vamos-fingir-que-não-existe-porque-assim-ninguém-vai-ver” . E usou. Mas parte do conglomerado global, como o canal de esportes por assinatura SporTv, não caiu nessa. Acredito eu que, percebendo o potencial do evento e a popularidade gerada pela transmissão em TV aberta, o SporTv tratou de liberar um de seus canais para a exibição das competições em Vancouver durante praticamente as 24h diárias de sua grade.

Foi um ponto muito importante para o SporTv, já que os canais ESPN, que eventualmente transmitem competições desses esportes gelados, não fizeram a cobertura do evento. Para mim, foi o melhor momento desse canal de esportes por assinatura. Merece os parabéns pelas transmissões, que entravam ao vivo mesmo madrugada adentro, aproveitando bem a vantagem de tratar-se de um canal exclusivamente de esportes.

Mas o destaque maior vai mesmo para a grande e extensiva cobertura “recordiana”, já que ainda é incomparável o alcance de uma emissora de TV aberta de penetração nacional em relação ao de um canal fechado. A emissora do polêmico Bispo Macedo não apenas transmitiu os Jogos: ela montou na cidade canadense um verdadeiro quartel-general para cobrir o evento. E um QG com uniformes estrelados, como Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim e Mylena Ciribelli, tops da emissora. Além de entradas ao vivo durante toda a programação, encabeçavam os telejornais diários. Enfim, uma cobertura à altura de um dos maiores  eventos esportivos do planeta. Como diria nosso presidente, “nunca antes na história deste país” uma cobertura das Olimpíadas de Inverno havia sido feita assim. E uma cobertura que impressionou até o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogge, que não perdeu a chance de trocar afagos com a TV brasileira.

Vale ressaltar que os Jogos de Vancouver enfrentaram a dura concorrência do carnaval em sua primeira semana de competições. Não é pouca coisa, não.

E que Olimpíada foi essa! Bobsled, esqui alpino, snowboard, luge... Nomes a que pouco estamos acostumados revelaram-se esportes atraentes de se acompanhar. O que falar da  patinação artística, o mais belo esporte praticado no planeta? E o que foi a final de hóquei masculino entre Canadá e EUA? Aquele empate dos EUA no final do tempo normal e o “gol de ouro” na prorrogação de morte súbita que deu o título aos canadenses, fazendo explodir o país em uma partida acompanhada no mundo inteiro e que já entrou para os anais olímpicos. E sou obrigado a confessar: não consegui tirar os olhos da tela enquanto passava a decisão da medalha de ouro entre canadenses e suecas no... curling!

E por que esses atraentes Jogos Olímpicos de Inverno nunca chegaram até nós, permanecendo praticamente desconhecidas? Bem, quem sempre deteve o direito de transmissão era a Rede Globo, que talvez optasse por usar outras de suas conhecidas estratégias, como “não-queremos-exibir-mas-vamos-comprar-para-que-ninguém-possa-exibir-e-atrapalhar-nossa-audiência” ou “não-tem-brasileiro-disputando-pra-ganhar-entao-não-interessa”. Soluções padrões que costumam surgir lá pelos lados do Jardim Botânico, a história televisiva está cheia de exemplos disso.

Mas, enfim, o que importa é que agora os mais fanáticos por esportes, como eu, que costumavam entrar em depressão pós-olímpica e pós-panamericana, descobriram que suas recaídas agora serão em períodos bem mais curtos. E que venham Guadalajara-2011, Londres-2012, Sóchi-2014, Toronto-2015, Rio de Janeiro-2016...