segunda-feira, 9 de agosto de 2010

IMPRENSA ► É preciso ser bem burguês para defender o horário de 21h45min no futebol - ou funcionário das Organizações Globo

Há pouco postei sobre um blog do Esporte UOL em que o autor dispara petardos aparentemente pelegos contra o presidente Lula. É só mais um exemplo de como o peleguismo tem dominado o jornalismo brasileiro. Mas há algum tempo estou com um bom exemplo disso para registrar aqui. Só que fui deixando para depois. Agora resolvi aproveitar o embalo.

Alguns meses atrás, estava à toa clicando pela internet quando parei na capa de esportes do Globo.com. Passando os olhos pelos blogs em destaque, li o título de um deles: "A quem interessa o horário de 21h45min no futebol?"

Levei um susto: "Como assim um blogueiro do Globo.com critica algo imposto pela Rede Globo?" Confesso que me passou um sopro de satisfação por perceber a independência do jornalista e até de respeito ao Globo.com por publicar uma opinião contrária aos seus interesses. Mas tudo não passou de ledo e patético engano.

Ao clicar para acessar o blog de Emerson Gonçalves, percebi que tinha lido o título sem atenção. O título real era: "A quem não interessa o horário de 21h45min no futebol?" Não parece um bom exemplo de peleguismo?

Juro que não quero gastar muitas linhas, porque esse tipo de coisa, um texto como esse, me causa ojeriza. Faz mal ao espírito. É um claro exemplo de choque de classes. A dele, provavelmente burguesa, e a do povo trabalhador que ama o futebol.

Gostaria que esse colunista saísse de Campo Grande, por exemplo, de ônibus, numa quarta-feira à noite, para assistir a uma partida que comece quase às 22h no Maracanã. E ao fim do apito final ele saísse para pegar uma (uma só?) condução de volta para casa depois de meia-noite, um horário em que poucos ônibus circulam pelas nada seguras ruas da cidade, esperando muitas vezes uma, duas horas pelo transporte, chegando em casa sabe-se lá quando, para na manhã seguinte, normalmente por volta das 5h, ter que levantar para cumprir a dura rotina diária de trabalho.

Isso só se justifica numa situação excepcional, como uma final de campeonato. Particularmente, nem nesse caso eu concordo, mas entendo que existam alguns argumentos válidos. Fora essa situação excepcional, porém, não tem qualquer cabimento defender horário tão imbecil.

Quem defende o horário de 21h45min não sai do sofá para ir ao estádio. E quando o faz, vai na viatura da empresa, com ar condicionado, vaga garantida no estacionamento do estádio, transporte de volta para casa... E, com certeza, não levanta às 5h no dia seguinte.

Fico impressionado como há jornalistas que se prestem a esse papel de pelego. Ou será que há realmente quem acredite que 21h45min de um dia de semana é um bom horário para o torcedor que trabalha e madruga diariamente se arriscar nas violentas madrugadas das grandes capitais do país para assistir a uma partida de futebol?

Essa é a minha opinião. E mais não tenho nem paciência para argumentar.

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