segunda-feira, 9 de agosto de 2010

IMPRENSA ► O tênis é um esporte burguês. Alguma dúvida quanto a isso?

O presidente da república Luís Inácio Lula da Silva disse em vídeo que está rolando por aí que tênis é um esporte burguês.

E há alguma dúvida quanto a isso? Parece que sim, pois tem quem conteste a afirmação ou entenda que o presidente não pode falar isso. Provavelmente, que seria melhor mentir.

O vídeo, gravado aparentemente por um celular, é interessante. Em um evento aqui no Rio, um garoto de nome Leandro, aparentemente já conhecido do governador Sérgio Cabral, reclama de não poder praticar esportes por causa da falta de segurança. Quando ele cita o tênis, o presidente Lula retruca dizendo que tênis é esporte da burguesia e sugere: "Por que não faz natação?" Aí o garoto reclama da falta de segurança e o Lula dá uma chamada no Cabral, dizendo que é um prejuízo político deixar isso acontecer por não colocar guardas para fazer a segurança da área. Tremenda saia justa provocada pelo moleque.

O jornalista de nome Fernando Sampaio, que tem um blog no portal UOL, aproveitou a deixa e publicou um post intitulado "Burguês é a mãe" (que depois virou um mais simpático "Burguês é a vovozinha"), no qual destila toda sua verve contra o presidente - sem apresentar qualquer argumento que contestasse a afirmação de que tênis é um esporte burguês. Muito pelo contrário.

Tudo o que funcionário do grupo Abril escreveu apenas corrobora as palavras do presidente, especialmente a falta de quadras públicas em todo o país.

Até entendo que quem critique a óbvia afirmação o faça por questões ideológicas, oportunismo político. Vá lá, pode-se entender que faça parte do jogo democrático aproveitar para bater qualquer bola levantada na ponta da rede, mesmo sem acreditar no que se está dizendo. É como juiz de futebol em jogo em que nosso time perde, é sempre culpado, algumas vezes sem qualquer motivo justificado (por isso gosto de reclamar de arbitragem quando o time vence...).

Também entendo que atletas profissionais do esporte sintam-se melindrados e partam para o chororô, o que apenas não acho muito inteligente, pois não faz nenhum sentido lógico, basta olhar o panorama do tênis no Brasil. Parte dele, inclusive, retratado pelo blogueiro da Folha, digo do UOL Esporte. Melhor seria que os atletas aproveitassem o gancho para cobrar providências em sentido contrário.

Fica a impressão de uma clara ação de um jornalista que trabalha para um grupo de comunicação escancaradamente contrário ao governo atual, a ponto de ser acusado de forjar documentos e coisas afins, o que não chega a surpreender tratando-se de uma organização que apoiou a ditadura militar (vide o livro “Cães de Guarda – Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988″, de Beatriz Kushnir). Deve ser difícil para um funcionário ir contra os interesses patronais. Mais fácil é aderir, o que acaba tirando sua credibilidade. É preciso muita personalidade e um bom lastro profissional para ser independente nessas circunstâncias para falar bem ou mal de quem quer que seja de acordo apenas com o que pensa, e não com o que pensam por ele. Há exceções, felizmente, mas que, como toda exceção, apenas comprovam a a regra.

Eu gostei da frase, por mais óbvia que seja: "O tênis é um esporte da burguesia." E falo de cadeira.

Joguei tênis na minha adolescência. Ou tentava jogar. Afinal, nunca fui burguês. O tênis era - e é - um esporte caro. Uma raquete é cara. As bolas se desgastam rapidamente e ficar comprando latinhas de bolas novas era um problema. Problema maior era encontrar horário livre nas raras quadras públicas disponíveis. No meu bairro, eram apenas duas.

Cansei de jogar com raquetes inadequadas, com a rede espicaçada, bolas carecas e de ficar até horas esperando por uma brecha para poder entrar numa quadra. Contratar um instrutor? Nem pensar.

Fácil o tênis só é - como sempre foi - para quem tem grana. Aí não há problema para se ter sempre uma boa raquete, bolas novas, um instrutor à disposição e, claro, o título de sócio de algum clube para se jogar sempre que tiver vontade. Ou então morar em um condomínio bacana o suficiente para ter algumas quadras de tênis para os moradores se divertirem.

Daí eu pergunto: em que parte desse cenário não se enquadra a frase "o tênis é um esporte da burguesia"? Boa parte do que o Fernando Sampaio escreve simplesmente me faz novamente perguntar retoricamente: em que parte desse cenário não se enquadra a frase "o tênis é um esporte da burguesia"? Qual o motivo de tamanha revolta?

Como disse Mino Carta na coluna que reproduzi aqui, esse parece o tipo de texto direcionado àqueles que avidamente se agarram a qualquer discurso e palavras que possam usar contra o popular presidente, "aqueles que se alimentam diariamente com os editoriais, as colunas, as reportagens editorializadas dos jornalões. E lhes repetem, em estado de parva obediência, de dependência canina, os chavões, os clichês, as frases feitas pelos locais públicos e privados." Como diria Nelson Rodrigues, poderíamos imaginar o blogueiro babando enquanto mistura em seu argumento Irã, El Salvador, "imbróglios internacionais" e tudo que a visão burguesa possa deturpar contra um governo marcadamente popular.

O tênis é um esporte burguês. Talvez Fernando Sampaio não tenha tido qualquer dificuldade para praticá-lo, mas eu sempre tive, por isso meus tempos de tenista amador ficaram lá no passado, indo apenas até o ponto em que não tinha mais como me divertir praticando esse esporte que acho muito legal. Se o autor interpretasse o próprio texto, entenderia isso e veria como seu destempero o faz perder crédito. Tudo de útil que ele escreve corrobora com a frase "o tênis é um esporte da burguesia". O que seria legal ele ter feito, com um pouco mais de justiça e imparcialidade, era criticar o governo atual por não ter feito nada para mudar esse triste cenário e registrar que isso é uma maldita herança do passado, cujo maior responsável foi o governo à época dos vitoriosos tempos de Gustavo Kuerten.

Nos anos em que Guga viveu o auge de sua vitoriosa carreira, o governo brasileiro nada fez para aproveitar toda a visibilidade que o esporte estava tendo e massificá-lo país afora. Tudo conspirava a favor, só não havia iniciativa alguma nesse sentido. Ah, é, mas esse auge ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso... E esse gancho para analisar a triste situação do tênis no Brasil foi simplesmente ignorado pelo jornalista do UOL. Como diria algum ingênuo personagem de desenho animado ou seriado tatibitate: "Por que será, hein?"

Enfim, como Fernando Sampaio usou da liberdade de expressão conferida livremente a todos (será mesmo?) neste país para ofender explicitamente o mandatário maior da República ("nosso gênio Lula acaba de vomitar mais uma frase infeliz"), não creio que vá se considerar ofendido por eu interpretar que seu post seja um caso de diarreia mental.

Mas é bom para que um presidente da república saiba que não deve sair por aí chamando de burgueses esportes tão populares que podemos praticar em qualquer esquina, como tênis, golfe, motonáutica, automobilismo...

É a minha opinião.

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