sábado, 27 de fevereiro de 2010

CARNAVAL ► Globo se supera, dá as costas para as escolas de samba e faz pior transmissão da História

E para a Liesa, tudo bem?
(Publicado em OBatuque.com em 26 de fevereiro de 2010)

Quando foram anunciadas mudanças na coordenação da transmissão do desfile das escolas de samba do grupo Especial feito pela Rede Globo, agora sob responsabilidade de Roberto Thalma e Boninho BBB, cheguei a pensar em fazer um artigo com o título “Promessa ou ameaça?”. Só que resolvi dar um crédito à emissora, não ser negativista. Mas às vezes as coisas são como dizem por aí: de onde menos se espera é que nada vem mesmo.

Uma vez, em 1995, ao comentar no programa noturno de domingo da extinta Rede Manchete a final do Campeonato Carioca entre Flamengo e Fluminense, vencida pelo Tricolor com o antológico gol de barriga de Renato Gaúcho no fim da partida, o comentarista Márcio Guedes observou que há uma tendência natural a engrandecermos e contextualizarmos os fatos com o passar do tempo, em retrospectiva. “O maior isso”, “o maior aquilo” etc. Mas ali, naquela noite, ele disse, sem medo de errar (em suas próprias palavras), que aquele havia sido o maior Fla-Flu da História.

Eu, aqui, vou só escrever o óbvio, porque muita gente tem comentado isso por aí: a Rede Globo conseguiu fazer a pior transmissão de desfiles de escolas de samba da História da televisão.

Começar por onde? É chato ficar falando mal quando todo mundo já fala. É como chutar bêbado. Mas perguntei a várias pessoas: “Por favor, houve alguma coisa legal na transmissão dos desfiles pela Globo para que eu possa citar na coluna?” Até agora... Bem, talvez a imagem em full HD estivesse um deslumbre, mas ainda são poucos os que têm acesso a essa tecnologia. Eu não tenho, então, vou apenas comentar uma ou outra coisa ruim.

Não vi a transmissão toda, claro. Quem nos acompanha sabe que OBatuque.com esteve aquartelado em Campinho, na Intendente Magalhães, acompanhando os desfiles das escolas de samba da AESCRJ. Mas, graças ao bom e velho videocassete, vi a transmissão integral do desfile da União da Ilha, alguns momentos de escolas da segunda-feira e trechos da campeã Unidos da Tijuca.

Houve uma série de lambanças que uma emissora do porte da Globo, com os recursos que tem e a experiência de dezenas de carnavais, jamais poderia cometer. Mas o principal de tudo foi o desrespeito escancarado com as escolas de samba. Onde já se viu alguém dar as costas para uma escola de samba enquanto ela passa à sua frente? Os profissionais globais se aboletaram numa patética tentativa de recriação do bom “Botequim da Manchete”, sentaram de costas para a pista e... acompanharam o desfile por um telão??? Como assim???

Deram a isso o nome de “Esquina do Samba”, mas deveria ser “Esquina da Vergonha”. Como pode ignorarem a tradição do samba, não prestarem seus respeitos a baianas, mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda, que passavam ali, bem em frente? Além disso, interrompiam os desfiles de uma agremiação para entrevistar gente de... outra agremiação! Ninguém me contou, eu vi. Exemplo: a Vila crescia na Avenida e a Globo cortou para a “Esquina da Vergonha” para conversar com pessoas da Mangueira.

Esquenta? Grito de guerra? Entrada da bateria? Desfile ala a ala? Tudo aquilo que a gente gosta de ver, não vemos na Globo. Mostrar essas cosias deve ser algo muito complicado. Claro, porque não queremos imaginar que a emissora que detém exclusividade na transmissão não esteja nem aí para isso. Preferimos crer que não conseguem - ou será que não querem, não têm interesse mesmo? A transmissão do grupo de Acesso do ano passado lembrou como se faz. A Manchete fazia décadas atrás. Não é difícil.

Fora outros... foras. O que foi aquele texto de abertura do desfile? Como disse alguém, parecia texto do Pedro Bial no BBB. Ah, e o desfile da Ilha não foi a abertura do carnaval: alguém tem que avisar à Globo que o carnaval não é o que ela transmite. O carnaval é aberto sexta-feira, quando o Rei Momo recebe a chave da cidade das mãos do prefeito, e encerra-se na terça. Não começa no domingo e acaba na segunda.

Para diminuir ainda mais o tempo de cada escola no ar, exibiam vídeos de 5, 6 minutos APÓS o início do desfile. A animação gráfica que anunciava as escolas fez da tricolor União da Ilha uma agremiação vermelho e branco. E aquele palco de publicidade no curral da bateria? Não, não me venham com essa de que aquilo foi feito com aquela inclinação para facilitar o trabalho dos mestres de bateria, isso é fazer muito pouco deles. Aquilo é só mais um espaço absurdo de publicidade. E ainda havia repórter entrevistando ritmistas... Aliás, uma poluição visual tremenda durante toda a transmissão, mal se via as escolas.

Comentaristas e apresentadores? Haroldo Costa tem uma gama imensa de serviços prestados ao nosso carnaval e às escolas de samba. Foi a única voz entendida na transmissão. Chico Pinheiro... O que foi aquilo?  Luis Roberto é um bom profissional, visivelmente esforçado e que trabalha com correção, mas não havia muito o que fazer naquela situação.

Geraldo Carneiro? Pedro Luís? Deborah Colker? Comentando desfile de escola de samba? Melhor passar batido. Acredito que a ex-bodyboarder Glenda Kozlowski tenha feito alguma pesquisa, mas,
além de um tom deslumbrado, as palavras saíam de sua boca da mesma forma que eu falaria, por exemplo, sobre a Semana de Moda de Nova York ou microbiologia molecular: sem espontaneidade ou credibilidade alguma. O que eu entendo de moda ou microbiologia? Nada.

Aliás, a moça parece mal orientada. O outro dia apresentou o Globo Esporte sentada de pernas cruzadas em cima da bancada. É assim que se entra na casa dos outros para transmitir informação? Informalidade tem limite para um programa jornalístico. E a credibilidade, onde fica? Como levar a sério uma postura assim? Mas, enfim, ela é que está na boa, trabalhando na Globo, ganhando bem, e eu aqui, ralando no OBatuque.com, onde trabalhamos apenas por prazer.

E, definitivamente, alguém precisa dizer a essa gente que nós, pelo menos eu e todo mundo com quem comento, não temos o menor interesse em ver a cara de apresentadores e comentaristas durante um desfile de escola de samba. Quem disse que queremos ver essa gente enquanto comentam? Queremos no vídeo a imagem das escolas! Na minha ignorância, jamais conheci o rosto do falecido Roberto Barreira enquanto vivo (depois pesquisei no Google), ele que com tanto brilhantismo participou das cada vez mais saudosas transmissões da Manchete – saudosas, principalmente, pelo respeito que demonstravam à instituição escola de samba.

E não o conhecia simplesmente porque não era importante colocar no vídeo, durante a passagem das escolas, a cara dele, do Pamplona, do José Carlos Rêgo, Haroldo Costa, Mestre Marçal, João Saldanha... Quem queria ver isso? Eu, não. Mas vivemos uma era em que o jornalista cisma de ser mais notícia que o próprio fato. Em nosso caso, o fato que é notícia é o desfile das escolas de samba. Difícil entender isso?

Culpa da falta de concorrência. No tempo em que Globo e Manchete transmitiam, a Manchete era sempre melhor, mas a transmissão da Globo não era essa lástima de hoje. Havia um esforço para acompanhar a rival.  Sozinha, a Globo não parece estar nem aí para a qualidade da sua transmissão dos desfiles de escolas de samba.

Responsabilidade da Liesa

Em grandes eventos esportivos, como Olimpíadas, Copa do Mundo e jogos das grandes ligas norte-americanas (NBA, NFL...), os organizares cuidam da qualidade do trabalho das emissoras responsáveis pela  geração das imagens dos eventos. Elas pagam pelo direito e tanto podem transmitir sozinhas como negociar com outras emissoras. Mas são cobradas. Há pouco tempo, os chefões da NBA exigiram maior qualidade nas transmissões das suas partidas. Tanto o Comitê Olímpico Internacional como o Panamericano estabelecem padrões de qualidade para as transmissões de seus Jogos. Há vários outros exemplos mundo afora.

E aqui? A Liesa deve estar satisfeita com o trabalho global, já que não se ouve qualquer cobrança. Se a Liesa negocia os direitos exclusivos de transmissão com a Rede Globo, deve cobrar qualidade à altura do evento, e não fazer entrevistas promocionais afiançando desculpas para a má transmissão (culpa do Sambódromo, da luz, do asfalto...). A Globo fatura muita grana com o desfile. Muita! Deve ser cobrada à altura. Ou só o dinheiro já basta para a Liesa?

Aliás, como evento cultural que é, os desfiles de escolas de samba deveriam ter transmissão liberada para todas as TVs Educativas do país e jamais ser propriedade exclusiva de uma emissora privada. Da mesma forma que os jogos da seleção brasileira de futebol. Em outros países, as redes estatais transmitem os jogos. A Rai (Itália), a RTP (Portugal), TV5Monde (França)... No Brasil, não. Mas isso é outro papo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CINEMA ► 2012 - Uma maldição cinematográfica dos maias

Depois da trágica experiência assistindo à megaprodução "2012" (clique para ler), resolvi arriscar-me mais uma vez com a relação cinema-profecia maia. Não entendia como uma história tão interessante pudesse ser transformada em um filme tão ruim. E lá fui eu, cheio de coragem, assistir a "2012: O Ano da Profecia".

Ao contrário da dispendiosa produção de Roland Emmerich, tudo muito econômico. Em vez de atores renomados, elenco desconhecido, capitaneado pelo televisivo Cliff De Young. O diretor Nick Everhart é mais conhecido por... Bem, na verdade não é lá nada conhecido. Mas, enfim, numa expectativa reversa, poderia ser um surpreendente filme menor, de grande qualidade. Ou de boa qualidade. De alguma qualidade, vá lá. Mas, na verdade, é difícil achar qualquer qualidade nessa outra bomba.

Falta de dinheiro não justifica argumento inconsistente, roteiro fraco, direção sem ritmo e efeitos paupérrimos... Até a neve parece falsa. Não que não pudesse ser falsa. nada mais comum em cinema. Mas em pleno século 21 não é aceitável que não se apresente na telona neve com cara de neve.

E é aí que começo a desconfiar que a tal maldição maia seja essa: nos fazer até 2012 sofrer com uma enxurrada de filmes capazes de desesperar o ser humano que vá ao cinema apenas para assistir a um bom filme, e não para namorar, comer pipoca, beber refrigerante, farrear com a turma etc. Uma verdadeira provação.

Mas, pensando bem, há uma qualidade relevante nesse filme, sim. Vale a ressalva: é só uma hora e meia de sofrimento. Muito melhor que aquelas torturantes pouco mais de duas horas e meia de "2012".

Resumindo:

"2012" - Horrível, mas com efeitos espetaculares.
"2012: O Ano da Profecia" - Horrível, mas de curta duração.

Então, se juntássemos os efeitos de um com a metragem de outro, poderíamos ter um filme apenas ruim, o que, mesmo em grandes doses, talvez não fosse fatal para a raça humana.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

RIO DE JANEIRO ► Mas por que não parou? Não parou por quê?

Tá aqui na internet:

***
Globo.com
12/02/10 - 01h26 - Atualizado em 12/02/10 - 03h52
Comitiva de Madonna passa batida em blitz da ‘Lei Seca’ na Zona Sul do Rio
Os três carros que estavam na carreata foram liberados pelos batedores da Polícia Militar, em uma operação no bairro do Humaitá.
Léo Martinez
Do EGO, no Rio

Já era madrugada desta sexta-feira, 12, quando o jantar oferecido pelo casal Fátima e Álvaro Otero para a cantora Madonna, no Rio chegou ao fim, pelo menos para a cantora pop e seu namorado, o modelo Jesus Luz. No caminho de volta ao hotel onde está hospedada, no bairro de Ipanema, a comitiva de Madonna encontrou uma blitz da Operação Lei Seca, que atua pelas ruas da cidade com o objetivo de flagrar motoristas que estejam dirigindo alcoolizados. O carro de Madonna até chegou a dar uma meia paradinha ao passar pela barreira, mas acabou sendo liberado por causa dos batedores da polícia militar que acompanhavam a cantora e evitaram qualquer interrupção ou teste de bafômetro. Nem precisava. Afinal, a cantora estava no banco de trás com o namoradão!


http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL1487625-9798,00-COMITIVA+DE+MADONNA+PASSA+BATIDA+EM+BLITZ+DA+LEI+SECA+NA+ZONA+SUL+DO+RIO.html

***
Juro que já ouvi em algum lugar que a lei é para todos. Como diria aquele velho personagem humorístico: "Eu só queria entender."

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

BRASIL ► "Não se pode confundir a comoção, o choque que é você ver as fotos do corpo esquartejado com uma reprimenda que não fosse ajustada"

Li esta semana na internet:

***

09/02/10 - 19h59 - Atualizado em 09/02/10 - 20h07
Ex-cirurgião condenado por esquartejar namorada é aprovado na Fuvest
Farah Jorge Farah entrou no curso de Gerontologia da USP.

Do G1, em São Paulo

O ex-cirurgião plástico Farah Jorge Farah é um dos aprovados no vestibular 2010 da Fuvest. Ele poderá se matricular no curso de graduação de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), que investiga os fenômenos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais relacionados ao envelhecimento do ser humano.

A informação foi confirmada ao G1 pelo defensor dele, o advogado Roberto Podval. "Ele (Farah) que me ligou e me avisou que tinha sido aprovado. Ele está tão feliz quanto qualquer outra pessoa que passa no vestibular", comparou Podval.

Farah foi condenado a 13 anos de prisão no dia 17 de abril de 2008 pela morte e pelo esquartejamento de sua ex-paciente e ex-amante Maria do Carmo Alves. O crime ocorreu em 24 de janeiro de 2003. O ex-cirurgião ficou preso até 30 de maio de 2007, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou pedido de habeas corpus da defesa para que ele pudesse responder pelo crime em liberdade.

Apesar da condenação, Farah aguarda o julgamento dos recursos da Promotoria, que pede o aumento da pena, e da defesa em liberdade, decisão tomada pelo juiz do 2º Tribunal do Júri da capital, Rogério de Toledo Pierri. "Não se pode confundir a comoção, o choque que é você ver as fotos do corpo esquartejado com uma reprimenda que não fosse ajustada", avaliou o juiz, na ocasião, ao proferir a sentença.

Além de a lei permitir claramente que se recorra em liberdade de uma condenação criminal, pesou a favor do médico a decisão do STF que o livrou da cadeia por entender que, em liberdade, ele não oferecia riscos para o andamento da ação penal.

De acordo com Podval, que irá defender no final de março deste ano o casal Nardoni, acusado do assassinato da menina Isabella, não há qualquer impedimento legal para que Farah não se matricule no curso para o qual foi aprovado e assista às aulas normalmente.
Em abril de 2008, ele foi sentenciado a 13 anos de prisão.


(http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1483808-5605,00-EXCIRURGIAO+CONDENADO+POR+ESQUARTEJAR+NAMORADA+E+APROVADO+NA+FUVEST.html)

***

Pelo que lemos, o assassino é obviamente um psicopata. Ele não apenas (como se a palavra "apenas" pudesse ser bem aplicada aqui...) matou alguém em um acesso de fúria. Teve a frieza suficiente para esquartejar depois.

Em todo o mundo, um esquartejador receberia, no mínimo, uma pena de prisão perpétua. Em muitos países, pena de morte. No Brasil, uma pena de 13 anos de prisão. Uma piada, um escárnio com a nossa sociedade, uma prova do quão patética é a justiça brasileira. Todo nosso Código Penal parece feito por pessoas que procuram antever brechas para escapar dele em caso de cometer um crime. Só pode ser isso. Sempre tive essa impressão, tamanha a benevolência com os criminosos, com penas que seriam simplesmente risíveis se não fossem trágicas, como essa.

E o pior de tudo é que sabemos que a justiça aqui não é cega, muito pelo contrário: enxerga até demais, pena que de uma maneira um tanto peculiar e diferenciada. Será que se esse assassino fosse um irmão menos favorecido, de cor, que morasse em uma das favelas cariocas, por exemplo, teria recebido a mesma pena e os mesmos privilégios? Vai um miserável roubar de um supermercado uma caixa de leite para alimentar os filhos para ver o que acontece...

Mas a pergunta que não quer calar mesmo é outra: será que se a vítima esquartejada fosse a filha de quem trabalhou pela pena leve e pelos privilégios do assassino, eles (advogado, juiz...) teriam trabalhado do mesmo jeito? Nos resta aguardar que aconteça com um ente querido deles para ver como agirão. Sendo justos e honestos, daqueles que dormem com a consciência tranquila, pedirão clemência para o assassino de sua filha ou mãe ou cônjuge... certo?

Fica para a História o argumento do juiz: "Não se pode confundir a comoção, o choque que é você ver as fotos do corpo esquartejado com uma reprimenda que não fosse ajustada."

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FÓRMULA 1 ► De pilotos e heróis

Apenas esta semana tive a oportunidade de ler o ótimo post do meu grande amigo Márcio Arruda em seu blog “Cockpit”, do JB, sobre pesquisa realizada via internet por uma revista especializada em automobilismo que indicaria o melhor piloto da História.

Leia aqui: http://www.jblog.com.br/formula1.php?itemid=17902#nucleus_cf.

Como disse no comentário que deixei, assino embaixo, linha por linha.

Márcio foi muito feliz e extremamente fundamentado em seus argumentos. Felizmente, não é o tipo de jornalista que se deixa levar por um ufanismo barato. Apesar da pesquisa apontar o brasileiro Ayrton Senna em primeiro, ele questiona a relevância desse tipo de apuração, não só pelo meio, como pela dificuldade de se comparar talentos de épocas diferentes.

Vale destacar – e muito – a observação de que talento e capacidade não podem ser medidos em títulos e vitórias. E isso vale para todos os esportes. Se não, como explicar toda a fama e tradição de um Chicago Cubs, por exemplo, que há mais de 100 anos não vence a liga norte-americana de beisebol e nem por isso deixou de ser uma das equipes esportivas mais conhecidas no mundo todo?
Ler o post me fez pensar em quem eu acharia o “melhor piloto de Fórmula 1 da História”. A comparação é realmente difícil, mas sempre tenho a tendência de valorizar aqueles que corriam de mais com recursos de menos. A automação dos carros de corrida fazem parecer que qualquer um pode chegar a uma pista após treinar alguns anos em casa jogando PlayStation. Há botãozinho para tudo e até recursos que corrigem ou evitam erros de pilotagem.

Acho que a Fórmula 1 daria um grande passo qualitativo se, por exemplo, acabasse com o tal do câmbio automático e voltasse a fazer os pilotos trocarem as marchas no braço. Já viram aquela imagem de dentro do cockpit dos pilotos durante as corridas? Sinceramente, não parece nada diferente de uma criança brincando em casa. As mãos não saem do volante, só os dedinhos se mexem.

O fim do reabastecimento já ajuda bastante. Poucas coisas são tão idiotas numa competição de velocidade do que ultrapassagens feitas com o carro parado. Faz sentido? Tão emocionante...

Quanto ao melhor da História, se jogarmos os números num liquidificador e pusermos junto uma pitada de circunstâncias, recursos e condições de cada época, acho que o resultado final seria uma bela vitamina com gosto de Juan Manuel Fangio.

Dos que vi correr, não tenho sequer preferência quanto ao “melhor”. Os números de Schumacher são incontestáveis. Senna era incrivelmente competitivo. Prost fez não só os motores turbo andarem de verdade como uma abóbora da Ferrari virar carro de corrida. Mas nenhum deles tinha minha torcida particular, além do respeito e admiração que fãs de esportes nutrem por grandes competidores.

Comecei a acompanhar F1 com o genial Emerson Fittipaldi, o Moisés de nosso automobilismo, que poderia ter conquistado números muitos mais expressivos em sua carreira (já que para muitos números é o que importa) se não tivesse bancado uma espécie de São Francisco do esporte nacional, abdicando de possíveis e prováveis glórias para correr em busca do sonho de ter uma escuderia brasileira de ponta na categoria.

E como Emerson foi maltratado pela tradicionalmente leviana e sensacionalista imprensa brasileira! Exatamente como fazem hoje com o correto Rubens Barrichello, um “perdedor” que só aumenta sua pobre conta bancária ano após ano em alguns milhõezinhos de dólares, enquanto profissionais das teclas de 5ª categoria tratam com escárnio sua carreira.

Mas apesar de admirar o talento de muita gente, depois de Emerson apenas Keke Rosberg ganhou minha torcida incondicional, com pequena vantagem sobre Gilles Villeneuve. Keke, inclusive, que venceu um campeonato extremamente difícil, mesmo estando longe de ter o melhor carro. A velocidade de seu Williams, um belo carro, mas sem muita potência, o deixava normalmente atrás de Ferrari, McLaren e Renault. Mas o Finlandês Voador conseguiu “zebrar” uma competição marcada pelo equilíbrio e graves acidentes (como os das Ferrari de Didier Pironi e Villeneuve, este lamentavelmente fatal) e conquistar o troféu com apenas uma vitória. Para se ter uma ideia daquela Williams em relação a outros carros de ponta, as Renault de Alain Prost e René Arnoux conseguiram vencer, juntas, nada menos que 10 corridas, cinco cada um!

Rosberg e Villeneuve foram dois pilotos que se corressem hoje passariam mais tempo cumprindo penalidades nos boxes do que disputando posições, já que não havia limites na pista para eles. Pilotos com estilo de pilotagem que os faziam parecer super-heróis para seu fãs, mas que eram simples mortais - ou melhor, mortais, mas nada "simples". Pilotos daquele tipo que não deixava uma corrida cair na mesmice. A mesmice que foi o principal problema da F1 na década passada.

Quem viu, viu, quem não viu... Keke e Gilles fazem muita falta às pistas de F1, mas o Youtube está aí para mostrar um pouco do que foram esses dois, como nos exemplos abaixo.



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FUTEBOL ► Paradinha era o que Pelé fazia, o que fazem hoje é presepada mesmo

O clássico de domingo passado entre Santos x São Paulo abriu uma nova rodada de discussões sobre a chamada paradinha, artifício que alguns jogadores usam na hora de cobrar um pênalti. No tal jogo, Robinho marcou para o Santos assim, gerando críticas do goleiro são-paulino Rogério Ceni - ele que já converteu pênaltis cobrando da mesma forma. Poderíamos dizer que o esporte, como a vida, é assim: um dia da caça, outro do caçador...

Mas voltando à paradinha propriamente dita, paradinha era o que Pelé fazia. Corria para a bola, dava uma ligeira travada e trocava de pé ainda em movimento, ganhando tempo para perceber para que lado o goleiro cairia e deslocá-lo. Não era algo simples de fazer, era preciso técnica. Tanto que hoje praticamente ninguém cobra pênaltis assim. Não me recordo de nenhuma cobrança mais ou menos recente sendo feita dessa forma.

O que esses Robinhos, Freds e muitos outros jogadores fazem hoje não passa de uma presepada antiesportiva que fere totalmente o espírito de qualquer esporte, já que é apenas uma trapaça para ludibriar o adversário.

E vejam que é uma trapaça tão boba quanto infantil. Tanto não requer maiores fundamentos que qualquer criança faz a mesma coisa brincando de jogar bola, fingindo chutar e passando o pé por cima, não é mesmo? Não é preciso categoria alguma para isso. No caso das crianças, é uma infantilidade própria da idade e do prazer de brincar, algo que até os mais velhos fazem quando estão se divertindo com os filhos ou amigos. Mas no futebol dito profissional, é apenas malandragem no pior sentido – como se houvesse algum bom sentido em ser malandro.

Já no tempo do Rei, os árbitros questionavam a esportividade da sua paradinha. Acreditem: algumas vezes mandavam voltar a cobrança. O que dizer da palhaçada que é feita hoje, então? É algo que simplesmente tira a moral da partida, põe em xeque a credibilidade do próprio futebol: em vez de esporte associado (conforme definição da própria Fifa), passa a ser esporte de moleques. Como se já não bastassem coisas ainda piores que rondam esse esporte dentro e fora de campo...

A Fifa fala, fala, fala, chia, ameaça, esperneia, diz que não quer, não pode, não deve, é ilegal, é imoral e engorda... mas não proíbe oficialmente essa calhordice. Até lá, continuaremos a assistir no futebol profissional, que cobra cada vez mais caro por um ingresso, falsos malandros protagonizarem cenas que seriam melhor apreciadas, gratuitamente, em qualquer campo de pelada ou no quintal de nossas próprias casas, regadas a cerveja ou refrigerante.

Se é para bagunçar, melhor que seja assim logo:

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CINEMA ► "2012" é o fim do mundo (ou como desperdicei duas horas e meia de minha vida sem fazer força)

Domingo de sol, mais de 40 graus do lado de fora, decido passar tempo assistindo finalmente a "2012", o mais recente filme apocalíptico de Roland Emmerich.

Pouco mais de duas horas e meia depois, minha esposa me encontra irritado e com dor de cabeça. "Mas o que você esperava de um filme desses?", ela perguntou.

Tá bom, eu sei que minha formação cinematográfica - se é que exista isso - passa mais por François Truffaut, Ettore Scola, Wim Wenders, Woody Allen e afins, os muitas vezes pejorativamente chamados de "filmes cabeça". Mas também gosto de geniais diretores de filmes que arrebentam na bilheteria, como Steven "quase-tudo-que-toca-vira-ouro" Spielberg e Francis "O Poderoso Chefão" Coppola. Fora que sempre fui grande fã de ficção científica.

E aí meu ecletismo cinematográfico se amplia: comédias idiotas, filmes despretensiosamente horríveis e filmes catástrofes sem cabeça alguma, mas com impressionante visual...

Então eu respondi: "Nada demais, só aquelas cenas espetaculares que ele mesmo (o diretor) fez em "Independence Day" e em "O Dia Depois de Amanhã", com um mínimo de inteligência no roteiro para que eu não seja chamado de burro."

E é aí que a porca torce o rabo: perto de "2012", "Independence Day" e "O Dia Depois de Amanhã" são verdadeiras obras-primas, como "Cidadão Kane" ou "Casablanca". Uma coisa é fazer um filme catástrofe sem cabeça, caprichando nos efeitos, com cenas de tirar o fôlego e deixar de boca aberta. Outra é fazer um filme sem cabeça, tronco e membros e que abusa - como poucas vezes vi no cinema - do direito de deixar o espectador ter a certeza do que vai acontecer na cena seguinte ou na sequência de uma mesma cena. Irritante! Não há efeito especial que dê jeito nisso.

Numa escala de 1 a 10, daria nota 2: 1 pelos efeitos e 1 pela presença de atores como John Cusack e Oliver Platt no elenco. Mas que diabos fazem atores como John Cusack e Oliver Platt em uma catástrofe como "2012"?

E o pior é que a história em que se baseia o filme é bem interessante e permitiria um roteiro minimamente inteligente e com alguma veracidade. Mas o diretor parece ter optado por apenas divertir-se torrando 200 milhões de dólares em efeitos espetaculares, gastando de repente uns trocados do bolso em um roteiro absolutamente inverossímil, já que praticamente nada explica e tudo apenas acontece.

Mas deve ter dado certo, já que arrecadou mais que o triplo do que gastou. Só que tenho a certeza que o povo que ainda vai ver esse filme o faz bem acompanhado, no ar condicionado, comendo pipoca e tomando refrigerante. E eu aturei essa bomba sem ar, pipoca e companhia. Pelo menos não levei ninguém para o mau caminho.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

CARNAVAL ► Vestir uma camisa listrada e sair cantando por aí no carnaval pode fazer mal ao bolso

Boa matéria publicada na “Revista de Domingo”, encarte de 31 de janeiro do jornal O Globo, com o título “Com o cadastro da prefeitura em mãos, o Ecad aperta o cerco aos blocos”. Quem puder, vale a leitura.

Responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais de músicas e de posse do cadastro na prefeitura dos blocos de rua que desfilarão este ano no Rio de Janeiro, o Ecad quer multar os organizadores que não pagarem os direitos autorais das músicas cantadas em seus blocos.

Segundo a matéria, “o cálculo dos direitos autorais é baseado na quantidade de pessoas: R$ 4,00 por folião”. Então imaginem vocês: se o Cordão da Bola Preta levar dois milhões de pessoas ao Centro do Rio, deve pagar 8 milhões de reais ao Ecad. É sério isso? Seria o fim do mundo para os blocos.

Ouvido pela reportagem da revista, um representante do órgão disse que antes do cadastro na prefeitura eles iam atrás de um bloco sempre que sabiam de sua existência. Então agora, sabendo antes, não vão atrás para saber as músicas executadas? Ou haverá um acordo, de mentirinha ou não, sei lá, com os organizadores apresentando um repertório e pagando antes pela execução de apenas aquelas músicas listadas? E nada da massa pedir bis ou improvisos, hein? Nem pensar vestir uma camisa listrada e sair cantando o que quiser por aí!

Acho surreal - e injusto. O Ecad tem uma função vital para garantir o direito dos autores, claro, mas isso é exagero e diria até imoral. Afinal, bloco de rua não cobra ingresso. Então se eu quiser pegar minha família, vizinhos e amigos e sair pelas ruas batendo em panelas cantando marchas de carnaval, vou ter que pagar direitos ao Ecad? De acordo com os argumentos apresentados na matéria, até em festinha de aniversário corremos risco de pagar direitos autorais. Torcida cantar música no Maracanã? Não pode também. Procissão religiosa? Direito$ para os autores dos hinos.

Falta bom senso nesse esforço do Ecad. Obviamente, nenhum bloco de rua pode arcar com essa cobrança, mesmo os maiores. Então vai rolar um acordo, uma conta de chegar, que satisfaça ambas as partes. O que deixa dúvidas sobre a legitimidade da cobrança. Não falo da legitimidade legal, mas da legitimidade moral de cobrar direitos autorais em eventos que não cobrem ingressos. Isso é uma ameaça a eventos realmente populares.

Ainda na mesma matéria, o querido João Roberto Kelly defende a posição do Ecad: “Adoro os blocos de rua. Mas o trabalho do Ecad é importante porque vários compositores, como eu, vivem disso.” Só que tomo a liberdade de discordar do genial compositor de marchinhas de carnaval, pois são os blocos de rua cantando clássicos como “Cabeleira do Zezé” que eternizam compositores como ele, Lamartine Babo, Haroldo Lobo, Zé Keti e Braguinha, que desse modo têm suas músicas levadas para os bailes, shows e discos de carnaval, onde, aí assim, a cobrança de ingresso e a comercialização fazem obrigatória a contrapartida ao Ecad.

Sem os blocos de rua, talvez não lembrássemos mais de “Cabeleira do Zezé”, “Me Dá um Dinheiro Aí”, “Mulata Iê-Iê-Iê”, “Mamãe Eu Quero”, “As Águas Vão Rolar”, “O Teu Cabelo Não Nega”, “Índio Quer Apito”, “Bandeira Branca”, “Linda Lourinha”, “Linda Morena”, “Máscara Negra”, “Pastorinhas”, “Até Quarta-Feira”, “Allah-Lá-Ô”, “Cachaça”, “Chiquita Bacana”, “Marcha do Remador”, “A Jardineira”, “Pierrô Apaixonado”... São os blocos de rua que divulgam e eternizam os autores dessas marchinhas maravilhosas - e de graça! Quer forma de divulgação maior e melhor que essa? E permanente, que se repete ano após ano.

*** *** ***

Leia mais sobre carnaval e escolas de samba em OBatuque.com!