sábado, 3 de abril de 2010

FUTEBOL ► Preconceito de jogadores santistas envergonha a legendária camisa preta e branca


Reproduzido do Blog da Redação do UOL Esporte (http://uolesporte.blog.uol.com.br/arch2010-03-28_2010-04-03.html):

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01/04/2010

Parte do elenco do Santos se recusa a entrar em lar espírita para ação beneficente

Era para ser uma ação solidária em conjunto. Porém, parte do elenco santista se recusou a entrar no Lar Espírita Mensageiros da Luz, em Santos. O clube organizou a entrega de 600 ovos de Páscoa para os pacientes da casa. Eles serão vendidos na loja oficial do Santos e todo o dinheiro será revertido para a instituição.
Grande parte do elenco santista partiu do CT Rei Pelé no ônibus do clube, no início da tarde, com destino ao lar espírita. Após a chegada, diversos jogadores, dentre eles, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos, Neymar, Robinho e André, resolveram permanecer no veículo.
A cena que mais chamou a atenção dos jornalistas foi proporcionada por Paulo Henrique Ganso. O meia foi ao local com seu carro, e se encaminhava para dentro da instituição quando foi chamado pelos jogadores presentes no ônibus. Ganso entrou no veículo e foi convencido a aderir ao movimento.
11 atletas santistas participaram da ação beneficente. Felipe, Wladimir, Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley foram os responsáveis pela entrega dos ovos. Dorival Júnior e grande parte da diretoria também estiveram presentes no local.
O presidente do clube, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, se dirigiu ao ônibus para conversar com os jogadores. Em seguida, foi abordado pelos jornalistas a respeito da situação desconfortável originada pelos atletas.
“Falei para os jogadores que eles encontrariam cenas fortes no local. Têm pessoas que não se sentem bem vendo isso. Acho normal cada um fazer o que bem entender. Eu não conhecia a casa, mas o Santos tem que provar que não é apenas um time de futebol” destacou o mandatário alvinegro. 
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O negrito no nome daqueles que demonstraram pobreza de espírito e preconceito é meu. E o preconceito aqui é tanto religioso quanto humano. Alguns desses nomes, inclusive, não surpreendem, já que costumam estampar manchetes por ações que denotam comportamento baixo e caráter duvidoso.

A instituição de caridade Mensageiros da Luz  acolhe pacientes carentes com paralisia cerebral. Que trabalha lá o faz voluntariamente, por amor, coisa que a maioria dos profissionais do futebol de hoje parece não ter noção do que seja. Não acredito que qualquer religião dita cristã vá contra os ideais do Senhor: "Fora da caridade não há salvação."

Robinho, cuja moral anda tão baixa que deveria evitar se expor assim, disse que o problema era religioso mesmo. Ou seja (segundo essa justificativa "robiniana"): a religião dele não permite que se participe de eventos beneficentes ou que se faça o bem em causas de outras religiões. Assim entendemos que nenhuma religião que não seja a dele pode fazer o bem. Bacana isso, não?

Fico bem à vontade para falar porque sou espírita e durante muitos anos contribuí com a Legião da Boa Vontade, que não é uma instituição espírita. E só deixei de contribuir porque mudei-me e, ocupado com coisas materiais do dia-a-dia, não atualizei meus dados, apesar de ainda continuar cadastrado. Vou tentar dar um jeito nisso...

O menino Neymar, por sua vez, disse que chegou em casa, conversou com o pai, viu a mancada que havia cometido, pediu desculpas e se comprometeu a voltar para visitar os internos da instituição de caridade. Legal mesmo, reconhecer um erro é meio caminho andado para futuros acertos.

Mas Neymar deixou escapar que o motivo da falta de solidariedade e espírito cristão - como já andava sendo ventilado pelos corredores da Vila Belmiro, segundo a imprensa - poderia não ser religioso, e sim financeiro, relacionado a um suposto atraso no pagamento de direito de imagens dos jogadores.

Um motivo tão ruim quanto o outro, já que denotaria maior dose ainda de egoísmo para com necessitados que, juntos, não devem ter renda que equivalha a um mês dos rendimentos de qualquer titular santista, por exemplo.

Vale ressaltar a postura firme do treinador Dorival Junior criticando a infeliz decisão de parte de seu comandados.

Mas, de todo modo, fica mal nessa história a instituição Santos, maculada por parte de seu elenco, que representava o clube em um evento de caridade e dá um vexame de poucos precedentes (na verdade não lembro de nada assim, muito pelo contrário) no meio esportivo. E o clube não merecia isso, pela bonita iniciativa que tomou.

Só lembrando: preconceito religioso também é crime.

Tomo a liberdade de começar a fechar o post reproduzindo uma citação de Chico Xavier muito bem lembrada pelo jornalista Vitor Birner em seu blog (leia o ótimo post na íntegra aqui):

"Um homem era tão pobre, mas tão pobre,  que só tinha dinheiro."

E Birner ainda postou o vídeo abaixo, com imagens da visita de parte da diretoria santista, do treinador Dorival Jubior e dos jogadores Felipe, Wladimir, o capitão Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley.


Esse jogadores podem não ser exatamente craques da bola - e não são. Mas demonstraram ser algo muito maior que isso: demonstraram ser homens, craques da vida.

5 comentários:

andre paiva disse...

Sugiro uma ação pública, ministério público em cima desses caras. Eles precisam responder judicialmente só para aprenderem "por mal" que o bem não tem credo. Queria saber o que o Pelé acha disso tudo.

David Telio Duarte disse...

É verdade. O ministério público precisava se manifestar sempre nessas ocasiões. Há pouco tempo, aqui no Rio, alguns vândalos que se dizem cristãos (!!!) foram processados por intolerância religiosa após invadirem um templo de umbanda e destruírem imagens daquela religião. É preciso tolerância zero com tudo relacionado a preconceito.

Daniel Duarte disse...

Cara, sinceramente? Tenho até medo de ouvir um pronunciamento do Pelé sobre esse caso....
Prefiro pensar que são jovens tolos, precariamente orientados e incrivelmente individualistas e deslumbrados com a fama e o dinheiro que recebem.
É uma pena que tenham tomado tal atitude. Mostra ainda que tem péssima capacidade de decisão para questões pessoais.
Imaginem quantas outras atitudes mesquinhas que devem tomar diariamente quando estão longe das câmeras?

Hélio disse...

O preconceito é uma instituição abominável. Esse tipo de atitude dá razão a um amigo meu que fala, fazendo terra arrasada:
"Nem todo o hipócrita é evangélico, mas todo o evangélico é hipócrita..."
Não concordo plenamente com a frase, mas ela faz pensar.

David Telio Duarte disse...

Infelizmente, existem ovelhas negras em todos os segmentos sociais. Em matéria de religião não poderia ser diferente. Há muitos adeptos das mais diversas religiões cristãs que vivem com Jesus na boca, mas não nas ações. Como bem lembrou um comentarista da ESPN Brasil (não lembro exatamente quem foi), Jesus simplesmente teria entrado, já que Ele levou Sua palavra e o Bem a todos indiscriminadamente.