quarta-feira, 5 de maio de 2010

FUTEBOL ► Saber perder é a grande virtude dos grandes times: Fluminense precisa jogar de cabeça erguida e encarar desafio no Olímpico

Quando falo em saber perder, não me refiro ao espírito esportivo da coisa, mas técnico. Tem time que perde e cai o mundo: entra em crise, torcida fica em pânico, começa um disse-me-disse etc. A maioria dos grandes clubes brasileiros é assim, despreparada para derrotas, agindo passionalmente a cada mau resultado.

O grande time de futebol tem que saber perder. Tem que saber que perder é uma das três possibilidades de resultados de um uma partida de futebol. Se você não contar com essa possibilidade em seu planejamento, estará agindo totalmente fora da realidade, no campo dos sonhos utópicos do torcedor, no qual seu time é o maior sempre e sempre deve vencer.

O São Paulo foi tricampeão brasileiro justamente por saber perder. Não dava ouvidos à torcida – aliás, sempre mantida a distância – nem cogitava demitir treinador. Aceitava o revés e seguia treinando a espera da próxima partida. Parece simples, e é.

Escrevo isso porque hoje à noite o Fluminense enfrenta o Grêmio em Porto Alegre na disputa de uma vaga para as semifinais da Copa do Brasil em condições bem desfavoráveis. Mas não impossíveis. Precisa vencer por dois gols de diferença, ou então marcando ao menos três gols, em caso de diferença mínima, para decidir nos pênaltis, ou, a partir daí, levar a vaga direto.

Tudo porque o Grêmio conseguiu uma ótima e previsível vitória de 3 x 2 no primeiro jogo, no Maracanã. E bem previsível mesmo, já que o time vinha embalado de boas atuações no Campeonato Gaúcho, enquanto o Fluminense estava bem desestruturado, sem seus principais jogadores e numa semana em que trocara de treinador sob pretextos patéticos.

Do seu trio de frente, que poderia decidir o jogo a seu favor, o Flu já não teria o argentino Conca (um jogador diferencial), suspenso, e o bom segundo atacante Alan, recuperando-se de uma cirurgia no apêndice. E eis que, no momento da preleção, perde sua grande estrela, Fred, incrivelmente vítima de um grave caso de apendicite aguda, exatamente como ocorrera com Alan uma semana antes e que também o levaria à mesa de cirurgia.


Ou seja: não era apenas o caso de ser mais um desfalque, mas o time não se prepara para jogar sem Fred. Aí mudou tudo. O time foi a campo sem referência ofensiva, sem jogadas, quase na base do improviso mesmo. Entrou, no lugar de Fred, André Lima, de características totalmente diferentes. André Lima é um típico centroavante de área, ali ele consegue concluir jogadas (como na cabeçada no gol que marcou) e só. Ele não vai trabalhar fora da área como Fred, tabelar, criar jogadas, enfiar bolas... A bola sempre terá que chegar a ele. Tanto que nesse primeiro jogo chegou apenas uma vez, no lance do gol.

Seria mais ou menos como o Santos entrar sem Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso, o Flamengo sem Adriano, Love e Leonardo, o Atlético sem Diego Tardelli... Ou o próprio Grêmio sem Jonas, Borges e Douglas, que tiveram ótimas atuações no Maracanã. Não há time que resista.

Daí o natural favoritismo gremista, que venceu, não sem que o Fluminense tivesse suas chances de ao menos evitar a derrota na partida, esbarrando em suas esbarrando limitações diante do gol adversário. O problema é que a cada derrota a torcida tricolor carioca entra em pânico e até sugeriram, como li em alguns sites, mandar os reservas para o Sul e ficar treinando para a estreia no Brasileirão domingo que vem.

Vejam vocês a diferença de visão: toda a imprensa esportiva, nas mais diversas páginas da internet, elogiou a partida, dizendo que foi um grande clássico, como gols, emoções e dois times lutando até o fim em busca do resultado. Mesmo desfalcado, o Fluminense foi razoavelmente elogiado, embora a vitória gremista, na circunstância, não fosse contestada. E concordo com o que li. Apesar de sair de cabeça inchada do Maracanã, deixando a paixão de lado, foi um bom jogo mesmo, vencendo a equipe em melhores condições. Já para a torcida do Fluminense, o time foi uma tragédia só e, sem Fred e Conca, principalmente, não presta para nada...

Como disse a um amigo meu mais tarde, quando me perguntou como foi o jogo. Respondi: “O pessoal todo da imprensa adorou, pelo que li por aí. Que foi um jogão, disputado, emocionante, imprevisível... A torcida do Fluminense achou só uma merda mesmo.” O goleiro é frangueiro, os zagueiros, fracos, o meio-campo, caneleiro, e por aí vai. Só salvaram o lateral Mariano, realmente o melhor do time nessa partida – e que, por causa do cartão amarelo que recebeu, não jogará no Olímpico. É muita passionalidade, mas esse, dizem, é o papel do torcedor. Por isso o dirigente não pode ser passional, em hipótese alguma.

Ora, o jogo é para ser jogado. Se não acreditar, nada acontece. O Santo André está aí para provar, quase roubando um título anunciado para o Santos. E só não conseguindo, talvez, porque o árbitro decidiu não assinalar nenhuma das várias faltas a favor do time do interior paulista ao redor da área santista nos 10, 15 minutos finais da partida. Ou porque a bandeirinha anulou uma jogada de gol de forma absurda, o que daria a diferença de dois gols que o Santo André precisava para ser campeão. A mesma circunstância enfrentada pelo Fluminense agora.

O favorito para hoje? O Grêmio, claro. Joga em casa, empolgado com o título gaúcho, pensando longe, na Libertadores do ano que vem. Cabe ao Fluminense ir sem medo para o tudo ou nada. Sem complexos. A vitória é um terço das possibilidades. Se vencer, meio caminho estará andado. Bastará um gol a mais para atingir seu objetivo. Se não, é começar de novo. E aqui, é começar de novo , de verdade, já que Muricy Ramalho está ainda apenas dando seus primeiros passos como treinador tricolor.

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