segunda-feira, 31 de maio de 2010

NBA ► Kobe Bryant brilha, Los Angeles Lakers fecha a série contra o Phoenix Suns e faz final dos sonhos contra Boston Celtics

Los Angeles Lakers 111 x 103 Phoenix Suns
Final Conferência Oeste
(4 x 2)

Assim que acabou o jogo em que o Los Angeles Lakers derrotou o Phoenix Suns no Arizona, garantindo o título da Conferência Oeste e vaga na final que toda a mídia e a NBA sonham contra o Boston Celtics, não resisti a comentar via e-mail com meu amigo Fábio Balassiano, o do blog Bala na Cesta: “Não sei como ainda me assusto com as cestas absurdas que o Kobe consegue arrumar marcado daquele jeito em momentos absolutamente críticos.” E o verbo é esse mesmo: assustar. Como diversos adversários lamentam depois, não dá para marcar mais que isso.

Pois é. Pelo prólogo aí em cima, fica claro que Kobe Bryant foi, mais uma vez, o cara. Li diversas análises sobre a partida e a série inteira e a conclusão geral é que Kobe fez a diferença em um confronto de estilos bem diferentes e que mostrou-se bem equilibrado.

Neste jogo 6, o Lakers fazia uma grande partida. Com certeza a melhor da série. Pelas circunstâncias, talvez a melhor de todos os playoffs. Apesar de toda a garra, velocidade, bolas de 3, liderança de Steve Nash, rotação de jogadores e torcida, o Phoenix Suns não conseguia encostar no placar. Até que, no início do último quarto, Sasha Vujacic, dando sequência a um estranho duelo particular com o compatriota Goran Dragic (sei não, parece até briga por causa de mulher), resolveu apimentar a partida respondendo a uma provocação do armador do Suns com uma cotovelada tão discreta quanto a cabeçada de Zidane em Materazzi na final da Copa do Mundo de 2006.

Resultado: como o Suns tinha acabado de marcar dois pontos, conseguiu um ataque de seis, graças a dois lances livres na cobrança da falta técnica e mais dois com a posse de bola que ainda ganhou - esses quatro últimos convertidos por Dragic. Assim, uma confortável diferença de 17 pontos caiu para 11 e a parada por causa da confusão incendiou o ginásio bem na hora em que estava em quadra toda aquela impressionante força B de Phoenix: além do iugoslavo, Leandrinho, Channing Frye e Jared Dudley.

E lá veio o Suns em mais uma tentativa de reação espetacular. Era o Suns correndo, diminuindo, chegando... e Kobe segurando, com ajuda daquelas bolas pontuais de Derek Fisher e de grandes rebotes conseguidos por Lamar Odom nas duas tábuas. Até Steve Nash diminuir para apenas três pontos a diferença, a 2’18” do fim. Aí Kobe pegou a bola e acabou com o jogo, marcando mais nove pontos, com duas cestas de quadra praticamente impossíveis de ser convertidas por um ser humano normal, a primeira sobre uma aparentemente perfeita dupla marcação de Grant Hill e Jared Dudley e a segunda, faltando 35 segundos e que finalizou o Suns, sobre uma marcação tão feroz de Hill que Alvin Gentry, ao lado de Kobe na jogada, não resistiu e gritou para seu jogador, tentando não só incentivá-lo como talvez até desestabilizar o astro de Los Angeles: “Grande defesa, Hill!”. Bem, Kobe encestou e ainda deu um tapinha no ótimo treinador adversário: “Ainda não o suficiente.” Não restou a Gentry outra a coisa a fazer senão abrir um grande e conformado sorriso, numa das cenas mais legais de toda a temporada.

Kobe terminou anotando 37 pontos e seis rebotes. Foi a décima vez nas últimas 11 partidas que ele marcou mais de 30 pontos – sendo que a exceção ficou para uma noite em que ele arremessou menos e bateu seu recorde de assistências em playoffs, 13. Ele igualou-se a Kareem Abdul-Jabbar como o segundo jogador a mais vezes pontuar acima de 30 pontos em playoffs (atrás apenas de Michael Jordan) e já é o jogador que mais vezes pontuou acima dessa marca em partidas em que seu time teve a chance de fechar uma série fora de casa em toda a história da NBA.

Antes do Kobetime, o Lakers contara com uma ótima presença de Ron Artest, que marcara surpreendentes 24 de seus 25 pontos nos três primeiros quartos, destroçando a tática adversária de optar por deixá-lo livre para os arremessos e focar a marcação em seus companheiros. Andrew Bynum também foi muito bem. Seu joelho desta vez o permitiu jogar 20 minutos de importante presença no garrafão, marcando 10 pontos e pegando seis rebotes. Apesar da grande partida, o Lakers não contou desta vez com muita ajuda de Pau Gasol (apenas nove pontos e sete rebotes) e Odom não estava chutando bem (acertou apenas três em 12 arremessos).

No Phoenix Suns, vale um grande parabéns ao time todo, que jamais desistiu de lutar. Não por acaso, um time comandando por um incrivelmente determinado Steve Nash, que teve mais uma grande atuação (21 pts, 5 reb, 9 ast). Stoudemire lutou muito, mas não estava numa noite muito feliz: apesar de seus 27 pontos (muitos em lances livres, o que mostra sua determinação em atacar a cesta), acertou apenas sete em 20 arremessos de quadra. Grant Hill abdicou do jogo ofensivo para dedicar-se à inglória tarefa de parar Kobe numa daquelas noites imparáveis. E fez o que pôde. Pouco se pode fazer a mais do que o veterano ala fez. Depois de um início de série horrível, Channing Frye despediu-se com mais uma boa atuação, marcando 12 pontos e pegando 13 rebotes. Quem decepcionou mesmo no adeus do valente time do Arizona foi o pivô Robin Lopez, que vinha bem, mas no sábado esteve apagadíssimo, conseguindo apenas um rebote e zerando em pontos.

Mais alguns números: Steve Nash tornou-se o jogador com maior presença em playoffs a nunca disputar uma final da NBA, uma pena; contando com a temporada passada, foi a sexta série consecutiva que o Lakers fechou fora de casa.

E o ponto final da série: entrevistado logo após a partida pelo repórter da TNT, Kobe respondeu o que faria com Vujacic se o time perdesse após a lambança do iugoslavo: "Ia matá-lo." "E agora?", insistiu o repórter. "Ainda vou matá-lo.", finalizou Kobe. Impagável - e revelador da disposição de Kobe e do Lakers nestes playoffs.

Agora Los Angeles Lakers e Boston Celtics fazem a final dos sonhos da NBA, para alegria de toda a cabeça da liga e de toda a mídia norte-americana e, porque não dizer, mundial. O Lakers conseguiu vingar-se este ano do Phoenix Suns. Kobe e Lamar jamais esqueceram as derrotas nos playoffs de 2006 e 2007, ambas na primeira rodada. Assim como, ao lado de Fisher, também não esqueceram a humilhante derrota na final de 2008 contra o Celtics, que fechou a série com uma vitória por 39 pontos de diferença no jogo 6. Além de Kobe e Odom, Gasol e Fisher também estavam lá. Bem, para muita gente, Gasol não estava. Bynum estava machucado, assim como Trevor Ariza, hoje no Houston Rockets. Agora o Lakers tem Bynum com um joelho só, o que já ajuda a fazer volume no garrafão. Tem Artest em lugar de Vladimir Radmanovic, o que é uma mudança da água para o vinho. Tem um Gasol muito mais maduro e confiante. Enquanto isso, o Celtics tem exatamente a mesma base e em função dela chega a mais uma final. E dependerá muito da resistência física de seu veterano trio Kevin Garnett-Paul Pierce-Ray Allen, pois sozinho Rajan Rondo não poderá vencer a série.

Vale lembrar que, após a partida final em 2008, em Boston, reza a lenda que Ron Artest teria ido ao vestiário do Lakers após o jogo falar com Kobe Bryant: "Você precisa de ajuda. Eu posso ajudá-lo." Artest queria ser campeão,  sempre admirou a competitividade de Kobe (as cotoveladas trocadas entre os dois seriam prova disso!) e sabia que Kobe precisava de ajuda para voltar a ser campeão, ao menos sobre o Celtics. Bem, Kobe conseguiu um novo anel já na temporada seguinte, mas o Celtics continuou entalado na garganta angelina. Duas temporadas depois, chegou o momento para o qual Artest se dispôs a ajudar Kobe.

Enfim, uma final em que muitos não arriscam prognósticos, mas eu arrisco (não vale dinheiro mesmo, então não tem problema errar...): se o Lakers mantiver o mando de quadra nas duas primeiras partidas, leva a série e conquista o campeonato. Acho fundamental para o Celtics roubar uma vitória em Los Angeles. Sem mando de quadra, Garnett tem se mostrado determinado a não decidir nenhuma série em um jogo 7 na quadra adversária. Ele parece entender que há limites para seu time. Principalmente, limites físicos, que podem ser negativamente determinantes numa série decidida assim.

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