quinta-feira, 29 de julho de 2010

RIO DE JANEIRO ► Justiça fora de foco: "propinar" dá cana imediata; matar, não

A recente tragédia que envolve que enluta a família da atriz Cissa Guimarães deixa exposto um certo desvio de foco da Justiça que me incomoda. Sem entrar em maiores detalhes, até porque eles estão em inúmeras páginas de jornal e sites da internet, houve mais ou menos o seguinte: um túnel interditado, um grupo de jovens praticando skate, dois carros disputando pega, um atropelamento fatal, intervenção policial e liberação do automóvel do atropelador.

O atropelador, no caso, que fique bem claro, o assassino. Sua conduta não lhe dá atenuante. Quer dizer, não em qualquer parte do mundo, no Brasil nunca se sabe.

Pois vai daí que os policiais que abordaram o assassino ao volante o liberaram e ao veículo mediante propina cobrada ou oferecida. E as manchetes passam a dar espaço à conduta policial em detrimento ao assassino e seus cúmplices - afinal, não estava sozinho.

A família do assassino passou a ser vítima na história, devido à possível extorsão policial. Mas será que são santos? Se houve a propina (e houve), tanto policiais quanto familiares do assassino estão incorrendo em grave crime. A família pagou para acobertar um assassinato. É pouca coisa isso?

Não me detenho muito à leitura de mais esse doloroso caso de tragédia carioca. Mas não dá para deixar de falar em hipocrisia social ao saber que os policiais foram previamente detidos para investigações, enquanto o assassino, após se apresentar e confessar o crime, segue em liberdade - e assim ficará durante todo o desenrolar do processo. E provavelmente depois dele também.

Só no Brasil um assassino confesso vai para casa. Não foi a primeira vez nem a décima ou centésima, nem será a última.

E, claro, as famílias dos envolvidos no crime são da chamada elite carioca...

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