quarta-feira, 28 de julho de 2010

CINEMA ► "Guerra ao Terror": um atentado cinematográfico

Sabe aquela história do "quem procura acha"? Pois é, há coisas na vida que acontecem que só nos resta dizer: "Eu mereço." Tipo ficar em casa sábado à noite e achar que vai encontrar algum filme bom para assistir nas TVs por assinatura. Porque todo mundo sabe que as TVs por assinatura têm um certo esquema maquiavélico para, em conjunto, punir os infelizes que ousam ficar em casa num sábado à noite.

Numa dessas noites de sábado em que minha esposa e eu decidimos desafiar o sistema e ficar em casa, arriscamos assistir ao "oscarizado" filme "Guerra ao Terror" ("The Hurt Locker") num desses canais especializados em blockbusters (ou "blockbombas"...). Acho que foi no Telecine Premium. A película (será película mesmo?), teoricamente antibelicista, é uma bomba, verdadeiro atentado à inteligência e à paciência do espectador que já leva algumas dezenas de filmes do gênero nas costas.

"Guerra ao Terror" tem um protagonista pra lá de caricato, com ações inverossímeis, daquelas que nos fazem pensar que as tropas americanas no Iraque sofrem um sério problema de QI . Estereotipado, pretensioso, ruim como filme de guerra (porque estereotipado, então nenhuma ação surpreende), raso como piscina vazia como suspense psicológico.

Pior: o filme inteiro tem aquele jeito déjà vu de quem já viu isso desde "Apocalypse Now", passando até por "Memphis Belle - A Fortaleza Voadora". "Memphis Belle..." (um ótimo filme, por sinal) retrata a 25ª missão de um bombardeiro na 2ª Guerra Mundial, um fato verídico. E toda tripulação que conseguisse completar 25 missões voltava para casa. "Guerra ao Terror" mostra um grupo de soldados no fim de seu tempo de serviço no Iraque. Mas tudo fazendo com que você a cada cinco minutos pense "já vi isso antes" ou "já sei o que vai acontecer". Só faltava a gente exibir aquela tradicional faixa durante a exibição: "Eu já sabia!"

Agora, "Guerra ao Terror" o filme ganhou um monte de Oscar, né? Seis ao todo. O que, na verdade, atesta seu duvidoso valor. Afinal, conforme vamos crescendo, aprendemos que o Oscar é parâmetro para tudo na indústria cinematográfica, menos para atestar a qualidade dos filmes.

Dentre os prêmios recebidos por "Guerra ao Terror" está o de Melhor Direção para Kathryn Bigelow, a primeira mulher a ganhar a estatueta nessa categoria. Pobres mulheres, tanta coisa bonita feita por diretoras talentosas... Kathryn Bigelow é ex-esposa de James Cameron e abusa daquele visual moderninho de câmera em movimento e caprichada fotografia para esconder o vazio da trama. Mas a moça deve ser bem relacionada, bastante influente. Isso explicaria nomes como Guy Pearce e Ralph Fiennes praticamente fazendo pontas, entrando e saindo de cena quase sem que se perceba. Aí eu aqui começo a maliciar as coisas e a supor que bons relacionamentos e bons contatos em Hollywood são prova de força e meio caminho andado para o sucesso. Como se não fosse assim...

Vale ressaltar a maldade do cartaz de divulgação do filme (clique na imagem para ver maior), que destaca Fiennes e Pearce, que mal aparecem em cena. Propaganda enganosa mesmo.

Mas nessa não caio de novo, apesar de sempre repetir isso a mim mesmo. Bem, vou tentar não cair de novo. Eu tenho meus parâmetros para priorizar filmes a assistir. Um deles é o Oscar: quanto mais "oscarizado", menos valor. É preconceito, eu sei, mas a história cinematográfica está ao meu lado. "Cidadão Kane", provavelmente o melhor filme de todos os tempos pelo conjunto da obra (qualquer dia posto aqui uma versão de um texto dos tempos da faculdade), foi indicado em oito categorias, mas ganhou apenas em Melhor Roteiro Original. O bom, mas convencional, "Como Era Verde o Meu vale" foi o vencedor daquele ano, com cinco estatuetas.

De todo modo, vou é dar mais valor ao meu gosto pessoal e pouco sociável por filmes fora do esquema das superproduções hollywoodianas, de preferência por cinema independente norte-americano, europeu, asiático... Ou então evitar ficar em casa sábados à noite. E, se o fizer, optar por DVDs ou pelos sempre a postos para nos socorrer canais de documentários.

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