segunda-feira, 1 de março de 2010

VANCOUVER 2010 ► E o Brasil descobre que as Olimpíadas são de dois em dois anos...

As chamadas Olimpíadas de Inverno sempre foram algo distante das atenções brasileiras. Vivendo em um país tropical e com uma mídia que só costuma cobrir o que tem participação nacional – de preferência, uma relevante participação, disputando título ou medalha -,  praticamente ignoramos os “Jogos da Neve”. Tanto que sempre achavam estranho por aqui a mídia internacional chamar os Jogos Olímpicos, aqueles que conhecemos e acompanhamos de 4 em 4 anos e que serão realizados no Rio de Janeiro em 2016, de Jogos de Verão.

Provavelmente, o primeiro contato de muitos de nós com os Jogos de Inverno tenha sido o filme “Jamaica Abaixo de Zero”, que conta a epopeia da inusitada primeira participação jamaicana em uma competição no gelo. Foi em 1988, na Olimpíada de Calgary, no Canadá. A equipe caribenha que participou da competição de bobsled acabou alvo de muitas atenções.

Mas 2010 chegou e creio que tenha mudado isso para sempre. A transmissão de vários eventos pela Rede Record na TV aberta, principalmente com as tardes inteiras com a grade liberada, chamou a atenção de todos. Até da concorrência. Quando a Record adquiriu os direitos deste e do próximos Jogos Olímpicos e Panamericanos, houve rumores de que a Globo, ficando de fora, usaria sua velha tática “já-que-não-transmitimos-vamos-fingir-que-não-existe-porque-assim-ninguém-vai-ver” . E usou. Mas parte do conglomerado global, como o canal de esportes por assinatura SporTv, não caiu nessa. Acredito eu que, percebendo o potencial do evento e a popularidade gerada pela transmissão em TV aberta, o SporTv tratou de liberar um de seus canais para a exibição das competições em Vancouver durante praticamente as 24h diárias de sua grade.

Foi um ponto muito importante para o SporTv, já que os canais ESPN, que eventualmente transmitem competições desses esportes gelados, não fizeram a cobertura do evento. Para mim, foi o melhor momento desse canal de esportes por assinatura. Merece os parabéns pelas transmissões, que entravam ao vivo mesmo madrugada adentro, aproveitando bem a vantagem de tratar-se de um canal exclusivamente de esportes.

Mas o destaque maior vai mesmo para a grande e extensiva cobertura “recordiana”, já que ainda é incomparável o alcance de uma emissora de TV aberta de penetração nacional em relação ao de um canal fechado. A emissora do polêmico Bispo Macedo não apenas transmitiu os Jogos: ela montou na cidade canadense um verdadeiro quartel-general para cobrir o evento. E um QG com uniformes estrelados, como Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim e Mylena Ciribelli, tops da emissora. Além de entradas ao vivo durante toda a programação, encabeçavam os telejornais diários. Enfim, uma cobertura à altura de um dos maiores  eventos esportivos do planeta. Como diria nosso presidente, “nunca antes na história deste país” uma cobertura das Olimpíadas de Inverno havia sido feita assim. E uma cobertura que impressionou até o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogge, que não perdeu a chance de trocar afagos com a TV brasileira.

Vale ressaltar que os Jogos de Vancouver enfrentaram a dura concorrência do carnaval em sua primeira semana de competições. Não é pouca coisa, não.

E que Olimpíada foi essa! Bobsled, esqui alpino, snowboard, luge... Nomes a que pouco estamos acostumados revelaram-se esportes atraentes de se acompanhar. O que falar da  patinação artística, o mais belo esporte praticado no planeta? E o que foi a final de hóquei masculino entre Canadá e EUA? Aquele empate dos EUA no final do tempo normal e o “gol de ouro” na prorrogação de morte súbita que deu o título aos canadenses, fazendo explodir o país em uma partida acompanhada no mundo inteiro e que já entrou para os anais olímpicos. E sou obrigado a confessar: não consegui tirar os olhos da tela enquanto passava a decisão da medalha de ouro entre canadenses e suecas no... curling!

E por que esses atraentes Jogos Olímpicos de Inverno nunca chegaram até nós, permanecendo praticamente desconhecidas? Bem, quem sempre deteve o direito de transmissão era a Rede Globo, que talvez optasse por usar outras de suas conhecidas estratégias, como “não-queremos-exibir-mas-vamos-comprar-para-que-ninguém-possa-exibir-e-atrapalhar-nossa-audiência” ou “não-tem-brasileiro-disputando-pra-ganhar-entao-não-interessa”. Soluções padrões que costumam surgir lá pelos lados do Jardim Botânico, a história televisiva está cheia de exemplos disso.

Mas, enfim, o que importa é que agora os mais fanáticos por esportes, como eu, que costumavam entrar em depressão pós-olímpica e pós-panamericana, descobriram que suas recaídas agora serão em períodos bem mais curtos. E que venham Guadalajara-2011, Londres-2012, Sóchi-2014, Toronto-2015, Rio de Janeiro-2016...

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