quinta-feira, 25 de março de 2010

BRASIL ► Caso Isabella: mais um exercício de sadismo da imprensa e hipocrisia da sociedade

Impressionante como é possível perceber a degustação saborosa da dor, do sangue e do sofrimento por grande parte da imprensa brasileira quando surge um caso como o da morte da menina Isabella.

A tragédia é curtida, amaciada e servida em tons sensacionalistas à mesa do cidadão quase 24 horas por dia. Vá lá agora, nesta semana de 22 a 29 de março, por exemplo, ligar a TV ou acessar algum portal de notícias e você poderá até perceber o sangue escorrendo por baixo do televisor ou do monitor do PC.

Porque notícia, mesmo, não há o suficiente para tanto. Começou o julgamento dos acusados pela morte da menina Isabella. Ponto. Agora é aguardar o resultado, talvez com uma pequena nota sobre o andamento do caso aqui, outra ali. Fora isso, nada. Com o veredicto, aí sim, notícia. De resto, o que faz a imprensa brasileira é puro e impressionante sensacionalismo, de um tipo que não se imaginaria registrar em pleno século 21.

E fora o sensacionalismo, há a hipocrisia de toda a sociedade. Porque se há esse sensacionalismo, é porque esse sensacionalismo satisfaz uma mórbida curiosidade social... e vende. E esse sensacionalismo é mais exacerbado e vendido sempre que o crime envolve classes sociais mais favorecidas e pessoas famosas (ou nem tanto). Ou alguém acha mesmo que mais de uma dezena de crianças não são mortas nas grandes cidades todos os dias em crimes igualmente hediondos? Ah, sim, mas são de periferias e subúrbios pobres, não são notícia...

É sempre assim: todo o mal que ocorre com gente de nome ou de classe social elevada “choca” a população e a imprensa, grupos de diretos humanos e ONGs disso e daquilo movem mundos e fundos exigindo justiça e cobrando uma rápida apuração do caso. Como no recente assassinato do cartunista Glauco. E poderia citar inúmeros outros casos afins.

É ruim a rápida apuração desses casos? Claro que não. Crimes jamais deveriam permanecer impunes. Só assim uma sociedade dita civilizada pode evoluir. O ruim, o péssimo, o horroroso, a hipocrisia da coisa toda é que apenas a apuração de casos como o da menina Isabella e do cartunista Glauco seja cobrada assim. O assassinato daquele trabalhador dentro de um ônibus ou na saída de um banco na Baixada Fluminense, trabalhador que deixa muitas vezes mulher e filhos desamparados, por exemplo, fica ao deus-dará.

Para a mídia e grande parte da sociedade brasileira, infelizmente, há diferentes classes de cidadãos: há os que são capa e vendem e os que não passam, quando muito, de notas de pé de página perdidas em algum caderno interno.

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