sexta-feira, 6 de agosto de 2010

POLÍTICA ► Deu na Internet: "A escalada do muro: como reagiria a mídia a uma vitória final da candidata de Lula?" - Coluna de Mino Carta na Carta Capital

Hoje o blogueiro estou sem ideias e sem muito tempo - para variar. Decidi reproduzir uma coluna que achei excelente - mais uma - de Mino Carta, na Carta Capital. O link original é este aqui . Abaixo, a reprodução.

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A escalada do muro
Mino Carta - 6 de agosto de 2010 às 10:45h

Pergunta ao acaso: se Dilma vence, quem irá dedicar-se ao alpinismo e quem não?

Aguardo com alguma ansiedade para a próxima semana a pesquisa eleitoral Datafolha. Às vezes, nos últimos tempos, me agrediu a impressão de que costuma basear-se mais na esperança, belíssimo sentimento, do que em critérios estritamente técnicos. Fique claro, porém, que a esperança não é exclusividade da Folha de S.Paulo. Abriu as asas, pássaro formoso, no céu das redações da mídia nativa em geral.

Não me surpreenderei se o Datafolha começar uma operação de pouso em proveito de sua credibilidade. Pois é do -conhecimento até do mundo mineral que a candidatura de Dilma Rousseff continua em ascensão e a de José Serra em queda. As próximas pesquisas devem confirmar a tendência. Será possível que a discrepância entre o Datafolha e os demais institutos não comece a encolher?

Uma questão interessante neste momento passa a ser a seguinte: como reagiria a mídia a uma vitória final da candidata de Lula? E como reagiriam todos aqueles da plateia que lhe deram ouvidos? Quem se apressaria a subir no muro e quem manteria em relação ao governo Dilma a mesma feroz oposição observada contra o governo Lula? Existe, por mais vaga e remota, a possibilidade de ruptura de uma frente midiática automaticamente armada desde sempre ao menor sinal de risco para a minoria privilegiada e seus aspirantes?

Sublinho que não ouso me atirar a um precipitado prognóstico eleitoral, de fato emprego o condicional. Mas, aqui e acolá, com meias palavras ou nas entrelinhas, insinuam-se, nas páginas impressas e nas falas dos comentaristas do rádio e da tevê, os indícios de uma comedida, contudo insólita cautela. Sintomático o texto de Merval Pereira, da ala de frente da Escola Serrista, publicado em O Globo de quarta-feira 4.

Registra-se ali a “percepção majoritária de que, ao fim e ao cabo”, Dilma derrotará Serra. Puro espanto de minha parte. Tu quoque, Merval? Logo, como outro pássaro, aquele do Cáucaso, vingador dos deuses do Olimpo traídos por Prometeu, o colega põe o bico na ferida: essa percepção baseia-se, sim, na popularidade do presidente, “mas, sobretudo, no jogo bruto que ele vem usando, não respeitando limites na faina para eleger a sua escolhida”. Excesso de gerúndios e de severidade.

Qualquer presidente, em qualquer canto do mundo democrático, e nem tanto, mergulha na faina (faina?) de, como se diz, “fazer seu sucessor”. Recentemente, para citar personagem do agrado da mídia nativa, o presidente colombiano Uribe esforçou-se bastante para levar à vitória seu ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, por ele ungido candidato à sucessão.

Por outro lado, não estava calculado o peso que o apoio de Lula exerceria a favor da escolhida? Não era este o resultado previsto para a estratégia do plebiscito cultivada pelo presidente mais amado da história do Brasil?

Jamais sustentaria que Merval Pereira é de escalar muros, muito pelo contrário. O que escreve hoje prova que ele ficaria onde está, de opinião e letra intocadas, caso Dilma Rousseff viesse a ser a presidente por ele tão peremptoriamente indesejada. Mas haveria certamente jornalistas e seus patrões de súbito dados ao alpinismo, e entre outros e mais diversos donos do poder, explícito ou acobertado, os senhores do estamento, como diria Raymundo Faoro, dispostos a rever posições em nome do pragmatismo.

Algo me intriga, de certa forma mais ainda, e diz respeito ao comportamento dos leitores que sofregamente esperam pela revista Veja na manhã de sábado, ou que se alimentam diariamente com os editoriais, as colunas, as reportagens editorializadas dos jornalões. E lhes repetem, em estado de parva obediência, de dependência canina, os chavões, os clichês, as frases feitas pelos locais públicos e privados.

Seriam capazes de se perguntar, movidos por razões morais e intelectuais, como se deu uma entrega tão passiva à má informação?

Seria salutar exame de consciência. E, sempre em caso de vitória de Dilma – insisto no esclarecimento –, que se daria se ela se habilitasse a dar continuidade ao governo Lula e o Brasil avançasse mais e mais no melhor dos caminhos, rumo ao país que há tanto tempo merece ser?

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A tendência é a eleição da candidata do governo, mas não creio que "a grande mídia" vá ntregar os pontos sem mais uma tentativa ou duas de golpe. Afinal, há anos trabalham avidamente nisso...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

FUTEBOL ► Flamengo: uma torcida desrespeitada por maus atletas e dirigentes

Todo mundo conhece a força e o tamanho da torcida do Flamengo no país inteiro. Não é por ser Fluminense que não vejo isso. É o óbvio. Menos para o Datafolha, claro. Mas o Datafolha não conta, porque esse instituto de pesquisa parece retratar um Brasil bem diferente da realidade. Pois bem, todo mundo que não seja o Datafolha sabe que a torcida rubro-negra é a maior do país, sem sombra de dúvidas. Mas a maior torcida do país anda meio constrangida, envergonhada - e por justas razões.

As sucessivas incursões de estrelas do time pelas páginas policiais são realmente de corar qualquer cidadão de bem. Enquanto torcedores de futebol, fingimos não prestar muita atenção na vida fora de campo dos jogadores que defendem nossas cores dentro das quatro linhas. Principalmente quando se começa a ouvir à boca pequena que um faz isso, outro aquilo... O que importa é o time ir bem. O resto a gente finge que não vê.

Mas para tudo há limite. Primeiro foi Adriano, depois Vagner Love, novamente Adriano, para culminar na trágica barbárie protagonizada pelo goleiro Bruno. Goleiro e capitão da equipe. Goleiro, capitão e ídolo da garotada flamenguista. E aí o estrago foi feito.

Os pais sentem-se envergonhados. Como explicar ao filho que o ídolo dele (ou até deles) foi capaz de participar de um ato insane e covarde daquele? Se os mais velhos não se conformam, a criançada simplesmente não entende e fica chocada.

Se o clube tem um prejuízo de imagem incalculável, a dor da torcida é maior ainda. Há uma máxima - que acho de mau gosto - de que para o torcedor o que importa é o que o jogador faz dentro de campo. Mas estamos vendo que não é bem assim. No clássico contra o Botafogo pelo campeonato brasileiro, os rubro-negros foram minoria de um público que mal chegou a 15 mil pagantes. Depois, mesmo com duas boas vitórias seguidas (Botafogo e depois Goiás, fora de casa), menos de 20 mil torcedores presenciaram o empate contra o Avaí no Maracanã. Domingo passado, contra o Vasco, mais uma vez a torcida do Flamengo foi minoria.

Não são números ou fatos à altura da torcida do Flamengo. O Flamengo luta para entrar no chamado G-4, enquanto Vasco e Botafogo tentavam sair da zona de rebaixamento. Mas é notório o desânimo pelos lados da Gávea. O torcedor sente e parece envergonhado com uma situação provocada pela falta de pulso da diretoria do clube, que sempre fez vista grossa aos excessos de seus atletas. Como pode, com o passado conturbado de Bruno (desde os tempos de Atlético Mineiro), o goleiro ser nomeado capitão? Maior exemplo de que diretoria e comissão técnica não tiveram competência ou interesse em cobrar disciplina e respeito de seus jogadores não há.

Mas isso passa. Torcedores de todos os clubes com alguma razão na cabeça passam por isso. Também tive minha cota como tricolor. Especialmente quando o jogador Romário fazia do clube gato e sapato nos anos de 2003 e 2004. Era algo entre o patético e o humilhante. Simplesmente deixei de ir a campo quando esse não atleta estava escalado. Por um lado foi bom, pude dedicar mais sábados e domingos à minha então namorada, hoje esposa. Mas felizmente um novato treinador de quem o já veterano jogador um dia dissera "está chegando agora e já quer a janelinha" o tirou do ônibus. E foi assim que Alexandre Gama devolveu o Fluminense a mim - ou vice-versa. Talvez um dia ainda escreva sobre esses negros anos tricolores por aqui.

Enfim, aos poucos a torcida do Flamengo voltará com força, dependendo apenas dos resultados do time em campo, sem recear ver o nome de seus ídolos nas páginas policiais. Até porque jogadores vêm e vão, o clube fica. Novos ídolos surgem. O jovem Marcelo Lomba, por exemplo, tem se saído bem no gol rubro-negro. E goleiros exercem enorme fascínio sobre a garotada.

E mais a mais, agora um acima de qualquer suspeita Zico está comandando o futebol da Gávea, o que é garantia de respeito e profissionalismo não só para o Flamengo como para todo o futebol nacional. Impossível imaginar Zico passando a mão na cabeça de jogadores que maculem o nome do clube do qual ele é o maior ídolo da história e tanto ajudou a brilhar.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

FUTEBOL ► Estreita relação entre Corinthians e CBF põe em xeque a credibilidade de mais um Brasileirão

Domingo passado, campeonato brasileiro, clássico entre Palmeiras e Corinthians e o atacante Kleber e todo o palmeiras saem bufando contra a arbitragem de Paulo Cesar Oliveira. E parece não ter sido choro de perdedor, até porque o jogo terminou empatado. A frase seguinte foi pinçada do blog do jornalista José Roberto Torero (blogdotorero.blog.uol.com.br), em post de 2 de agosto: "Corinthians: Não jogou bem mas também não foi mal. E teve mais um gol em impedimento validado no Pacaembu."

Pois é, essa palavra "mais" tem sido redundante em referência ao Corinthians e erros da arbitragem a seu favor. É comum até aqui no Brasileirão. O que mais Kleber reclamou foi o fato de todos os erros ou bolas duvidosas terem sido a favor do Timão. O meu Fluminense foi vítima disso lá no início da competição, sendo derrotado no Pacaembu com um gol na cobrança de uma falta inexistente, num jogo em que, coincidentemente (para quem acredita em coincidências...), nós tricolores reclamamos o mesmo que os palmeirenses: o superestimado juiz gaúcho Leonardo Gaciba errar vá lá, é humano e pode acontecer. Mas errar sempre a favor do mesmo lado? Sempre a favor do Corinthians? Essa situação foi patente tanto no clássico paulista como no confronto interestadual.

Vale registrar que até na derrota para o lanterninha Atlético Goianiense no Serra Dourada o Corinthians foi agraciado pelo péssimo carioca Gutemberg de Paula Fonseca com a marcação de um pênalti inacreditável, num lance em que se fica até em dúvida sobre onde o juiz encontrou pretexto para assinalar a infração máxima. Custa crer que um pênalti assim seja marcado numa partida de futebol profissional de um país cinco vezes campeão mundial do esporte. Não foi um lance sequer duvidoso. O placar apontava 2 x 1 para os anfitriões e se a cobrança fosse convertida alteraria o resultado da partida, que terminou 3 x 1 para o Atlético.

Esses sequentes erros (tomara que sejam erros mesmo...) a favor do Corinthians começam a tornar a situação constrangedora, mesmo os colunistas paulistas sublinham isso em seus textos. E o clima de desconfiança nos papos de botequins da vida aumenta por causa da estreitíssima relação entre Corinthians e CBF, na figura de seus presidentes, Andrés Sanches e Ricardo Teixeira, respectivamente.

Não bastasse o exemplo da mal administrada sucessão de Dunga no comando da seleção brasileira, quando Sanches facilitou toda a vida de Teixeira após a recusa de Muricy e do Fluminense, agora a CBF resolveu rasgar a tabela do campeonato para que o clube paulista possa ter o dia livre para comemorar seu centenário. Assim, a partida contra o Vasco marcada para o dia 1º de setembro em São Januário foi adiada para o dia 13... de outubro! E o Fluminense x Palmeiras do dia 2 de setembro foi antecipado para a véspera para preencher o buraco da televisão.

Falando bem sério: pode um presidente de federação dar mais uma prova clara de que não respeita a maior competição de futebol do país? Isso de data é para ser visto antes da bola rolar na primeira rodada. E pronto. Alguém é capaz de imaginar algo assim no campeonato alemão, italiano, inglês, espanhol ou "conchichinês"?

E Vasco, Fluminense e Palmeiras? Como ficam? E os demais clubes que participam do campeonato? Todos estão à disposição da CBF para atender à vontade corintiana? Agora o Corinthians, que no momento disputa a liderança, fará uma partida isolada e provavelmente em um momento mais agudo da competição, sabendo o resultado que precisa?

Acho que o Corinthians não precisa disso. Mas parece que a CBF precisa do Corinthians e, especificamente, de seu presidente, pois dizem por aí ser Sanches o homem que Teixeira quer indicar à sua sucessão. Isso no bendito dia que o mandatário maior do futebol brasileiro decidir largar o osso de seu quase vitalício mandato, já que as federações estaduais não demonstram muito interesse nisso.

E acho mais: além do Corinthians, talvez o maior beneficiado seja o grupo que comanda aquela tal máfia de apostas de que fazia parte o árbitro Edilson Pereira de Carvalho. Ou alguém acredita que só Edilson trabalhava pela fabricação de resultados? Eu, não.

Enfim: assim caminha o Brasileirão, sempre com fatores complicadores para que seja levado a sério. E um campeonato cuja credibilidade ainda está sob suspeita pelo ocorrido nos últimos anos (Edilson, alterações de tabela, decisões estapafúrdias do STJD...) acaba novamente em xeque. Praticamente um xeque-mate. Seria um novo 2005 à vista? Sinceramente, não creio. Ou melhor: prefiro não crer.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

IMPRENSA ► Descaso com informação até em cadernos especializados

A desinformação grassa na imprensa brasileira, em especial na esportiva. Fosse apenas por interesses escusos, já seria triste. Mas o pior é que muito ocorre por incompetência mesmo. Impressionante como uma profissão responsável por cuidar de boa parte da História anda sendo exercida nas coxas mesmo pelos principais veículos de comunicação.

Não sei exatamente o que acontece, mas suspeito. Lógico que as redações estão repletas de gente jovem e há quem possa argumentar que eles não conhecem direito a História, não viram muita coisa e coisas afins. Não acho que isso seja justificativa. O problema, para mim, passa pelos patrões, que não se preocupam em bem informar, apenas em vender e por isso ignoram qualquer tipo de controle de qualidade do material que veiculam.

Essa situação agravou-se paulatinamente a partir da informatização das redações. Algum gênio achou que as empresas lucrariam mais dispensando revisores e aproveitando a tecnologia para que o próprio repórter lançasse seus textos online. O que se viu foi o que já se sabia: nem sempre um bom repórter é um bom texto e muitas vezes um bom revisor salva um mau repórter de assinar matérias repletas de erros de informação.

A questão da idade é inteiramente irrelevante, porque um bom profissional pesquisa. E hoje, com a internet e a globalização, não há qualquer entrave para isso, muito pelo contrário. É só querer e ter competência para fazê-lo. Nos meus tempos de faculdade, após a impressão do jornal laboratório a turma se reunia com os professores orientadores e discutia página por página para avaliar o produto final e corrigir erros. Havia esse cuidado no passado. Isso é feito hoje na imprensa? No que é publicado online, então, é uma verdadeira vergonha o que acontece, porque a facilidade para se corrigir informações erradas é imensa, mas não parece haver muita preocupação quanto a isso.

Por isso não espanta que durante a recente Copa do Mundo da África do Sul, um jornal de porte (de porte, não de qualidade...) como O Globo publique em seu caderno de esportes uma matéria de certo tamanho, ocupando bom espaço de página, cuja pauta por si só é completamente equivocada.

A matéria chamava a atenção para o fato de que as alterações no time de Dunga seriam um bom sinal, porque sempre que foi campeão mundial o Brasil não repetiu a escalação titular em todos os jogos. Até aí tudo bem, mas logo adiante, uma tremenda gafe: "À exceção de 1970, no México, quando o Brasil não alterou a escalação titular do primeiro ao último jogo." Mas como assim?

Juro que não precisei pesquisar nada. E nem é por causa dos meus 45 anos. Basta gostar de futebol e ter visto alguns dos sem número de reprises de jogos de Copas do Mundo exibidas especialmente nos meses que antecedem a competição, o que é uma obrigação para um jornalista esportivo que vai cobrir o evento.

Logo de cara lembrei que Gérson não jogou numa das maiores partidas da História dos Mundiais, senão a maior, Brasil x Inglaterra. Contundido, foi substituído por Paulo Cesar. Depois, já classificado, houve alterações também contra a Romênia. Lembro que Fontana jogou na zaga. Mais não digo porque realmente não pesquisei, apenas para deixar claro o absurdo e a grosseria do erro. E pesquisar é o mínimo que um profissional que ganha dinheiro para isso deve fazer, especialmente quando fala de História.

O profissional dos veículos de comunicação de nossos dias parece não ter a menor noção da relevância de sua produção. O jornalista produz História. O pior é que alguém mais desavisado, daqueles que ainda creem em tudo que sai na imprensa, acaba tomando essas coisas como verdade. E um pesquisador no futuro pode dar o azar de cair numa página com erros assim e acabar também tomando o erro como verdade. E assim a mentira vai se perpetuando através dos tempos. Lamentável.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

FÓRMULA 1 ► Ultrapassagem de Barrichello sobre Schumacher no GP da Hungria valeu por meia temporada de corridas bem chatinhas

O circuito de Hungaroring, na Hungria, é uma dessas coisas que me faz ter certeza de que a Fórmula 1 é dirigida por técnicos e não por pilotos. Que piloto desenharia uma pista sem qualquer ponto de ultrapassagem? Me parece coisa de técnico mesmo, preocupado com acelerações, freadas, efeitos aerodinâmicos, ajuste de asas, tamanho de aerofólio etc. Só pode.

Uma corrida dessas costuma ser decidida na primeira curva e nos boxes. Emocionante, não? Quem pula na frente só perde se errar ou o carro quebrar. Em regra, se nada de excepcional ocorrer, mesmo mais lento que os demais, ele não será ultrapassado.

Ontem a prova estava nas mãos de Sebastian Vettel (mais uma) e só um fato excepcional (mais um) tiraria a vitória do alemão. Como a distância exagerada que manteve para o carro da frente, no caso, de seu companheiro Mark Webber (que ainda não parara para a troca obrigatória de pneus) no momento da entrada do safety car. Acabou sofrendo uma punição de 10 segundos no boxe e voltou em terceiro, de onde, obviamente, não saiu mais.

Webber foi quem lucrou com isso. Àquela altura, procurava abrir vantagem o suficiente, ainda com o jogo de pneus supermacio, para fazer a parada e retornar à frente do terceiro colocado, Fernando Alonso, tão absurda era a superioridade da RBR sobre as demais equipes na Hungria. Com a bobeada de Vettel, acabou voltando em primeiro.

Mas Webber mereceu porque foi extremamente competente ao andar rápido sem deteriorar seus pneus. O australiano acabou dando incríveis 42 voltas com o composto mais macio, baixando o tempo diversas vezes até parar e voltar com folga na frente. Um desempenho para mexer com a cabeça dos engenheiros em relação à utilização dos pneus. Assim, Webber foi 10 no quesito técnico de pilotagem. Logo que terminou a prova ele beijou o carro, mas também merecia ser beijado pelo bólido, que foi muito bem tratado por seu piloto.

Mas o grande momento da corrida - e provavelmente do campeonato até aqui - foi a ultrapassagem de Rubens Barrichello sobre Michael Schumacher a poucas voltas do fim numa insana luta pelo décimo lugar. Lógico, não era apenas a disputa por um ponto que estava em jogo, há toda aquela história dos maus bocados que Barrichello passou com Schumacher na Ferrari.

O lance é que Barrichello foi o único piloto a largar com os pneus duros. A ideia devia ser ficar o máximo de tempo na pista e ganhar posições com a parada dos outros, garantindo uma vantagem que permitisse uma volta dos boxes, já no fim da prova, numa boa posição. E para isso ajudou bastante sua largada, pulando do 12º para o nono lugar. Mas todo seu planejamento, fosse qual fosse, foi por água abaixo com a entrada do safety car ainda na 15ª volta.

Daí que Barrichello ficou na pista e se aboletou na quinta colocação. Com o travamento do circuito, porém, todo mundo atrás vinha em fila indiana e apenas por ter dado um gás antes do pit stop conseguiu voltar em 11º lugar, quando corria o risco de voltar ainda mais atrás, na 13ª posição. E quando voltou estava a quase dez segundo do 10º colocado, justamente Michael Schumacher. Mas a Williams de Barrichello voltou voando e logo colou na traseira da Mercedes do alemão. Só que ultrapassar em Hungaroring é realmente algo inimaginável caso não haja um vacilo de quem está na frente.

Mas Barrichello chegou no alemão e decidiu que ia passar. Foi com tanta vontade que a transmissão oficial ignorou os líderes da prova (inclusive com Vettel a menos de um segundo de Alonso, mas sem arriscar) para ficar com as imagens do duelo dos dois reconhecidos desafetos. Faltando quatro voltas, Barrichello conseguiu entrar na reta dos boxes quase dentro do cockpit de Schumacher e em frente aos boxes tirou para a direita para fazer a ultrapassagem. O alemão não se fez de rogado e simplesmente espremeu o brasileiro contra o muro. A Williams não tocou o concreto por... sei lá, ínfimos centímetros, a imagem deixa até a impressão de uma raspada. Para sorte de Barrichello, o muro acabou a tempo, como numa típica cena das aventuras de Indiana Jones. Mas como estava completamente fora da pista, ainda havia a grama pela frente. Barrichello pensou rápido e deu um "chega pra lá" no inimigo, chegando na curva já à frente. Sensacional.


Eu achei espetacular. Foi daquelas ultrapassagens para entrar na antologia da Fórmula 1. Schumacher exagerou e acabou punido com 10 posições na próxima corrida. E Barrichello foi excelente. Vive um grande momento e o trabalho que faz na Williams o coloca como um dos destaques da temporada. Me lembro de ter escrito há alguns meses que os carros da Williams pareciam autistas, vivendo uma competição à parte durante as provas, pois só estavam à frente dos carros daquelas três escuderias de mentirinha (Lotus, Hispania e VRT), o que não conta coisa alguma, já que perto das demais eram verdadeiras carroças. Aos poucos, porém, o veterano brasileiro vai dando jeito no carro e hoje a Williams já consegue aparecer com frequência no Q3 de classificação e fazer umas graças até para cima da Mercedes e da Renault, o que não ocorria no início do ano.

Vale destacar também a incrível trabalhada que algumas equipes fizeram quando o safety car entrou na pista e quase todo mundo foi para o boxe. Nico Rosberg, que vinha lá na frente, foi tirado da corrida por um pneu mal colocado. Foi só sair da parada e o pneu soltar, passando com velocidade por entre os mecânicos, estourando num muro e quicando incrivelmente alto por pelo menos três vezes, ameaçando ferir gravemente alguém que por (má) ventura fosse atingido. O bom Robert Kubica foi outra vítima. Seu mecânico o liberou para sair no instante que Adrian Sutil chegava para sua troca de pneus, bem à frente. Os carros acabaram batendo ali mesmo e ali mesmo ficou Sutil. Kubica ainda conseguiu voltar, mas só para fazer figuração por mais algumas voltas. Lamentável.


Lewis Hamilton foi traído por sua McLaren, Jenson Button teve um fim se semana para esquecer (largou muito atrás, o que em Hungaroring é fatal), Alonso conseguiu um segundo lugar muito bom e Felipe Massa, beneficiado pelos azares de Kubica e Rosberg, conseguiu ao menos superá-los na classificação do campeonato com o quarto lugar que conquistou. Num raro momento de serenidade, Vettel decidiu não arriscar para cima de Alonso e garantir os preciosos pontos que o terceiro lugar lhe garantia. Mas talvez valesse apenas ver se Alonso arriscaria o pódio pelo segundo lugar.

Enfim: emoção mesmo, só o duelo Barrichello x Schumacher e as trapalhadas nos boxes. Pouco, muito pouco para o que se espera de uma competição de automobilismo, mas até muito para o que vem sendo a Fórmula 1.

Colocação final após as 70 voltas do GP da Hungria:

1 - Mark Webber (AUS/RBR-Renault) - 1h41m05s571
2 - Fernando Alonso (ESP/Ferrari) - a 17s821
3 - Sebastian Vettel (ALE/RBR-Renault) - a 19s252
4 - Felipe Massa (BRA/Ferrari) - a 27s474
5 - Vitaly Petrov (RUS/Renault) - a 1m13s100
6 - Nico Hulkenberg (ALE/Williams-Cosworth) - a 1m16s700
7 - Pedro de la Rosa (ESP/Sauber-Ferrari) - 69 voltas
8 - Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) - 69 voltas
9 - Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari) - 69 voltas
10 - Rubens Barrichello (BRA/Williams-Cosworth) - 69 voltas
11 - Michael Schumacher (ALE/Mercedes)- 69 voltas
12 - Sebastien Buemi (SUI/STR-Ferrari) - 69 voltas
13 - Vitantonio Liuzzi (ITA/Force India-Mercedes) - 69 voltas
14 - Heikki Kovalainen (FIN/Lotus-Cosworth) - 67 voltas
15 - Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth) - 67 voltas
16 - Timo Glock (ALE/VRT-Cosworth) - 67 voltas
17 - Bruno Senna (BRA/Hispania-Cosworth) - 67 voltas
18 - Lucas di Grassi (BRA/VRT-Cosworth) - 68 voltas
19 - Sakon Yamamoto (JAP/Hispania-Cosworth) - 68 voltas

Não chegaram:

Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes) - 23 voltas
Robert Kubica (POL/Renault) - 23 voltas
Nico Rosberg (ALE/Mercedes) - 15 voltas
Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes) - 15 voltas
Jaime Alguersuari (ESP/STR-Ferrari) - 1 volta

Classificação do Mundial de Pilotos após 12 provas:

1º) Mark Webber - 161
2º) Lewis Hamilton - 157
3º) Sebastian Vettel - 151
4º) Jenson Button - 147
5º) Fernando Alonso - 141
6º) Felipe Massa - 97
7º) Nico Rosberg - 94
8º) Robert Kubica - 89
9º) Michael Schumacher - 38
10º) Adrian Sutil - 35
11º) Rubens Barrichello - 30
12º) Kamui Kobayashi - 17
13º) Vitaly Petrov - 17
14º) Vitantonio Liuzzi - 12
15º) Nico Hulkenberg – 10
16ª) Sebastien Buemi – 7
17ª) Pedro de la Rosa - 6
18ª) Jaime Alguersuari - 3

Classificação do Mundial de Construtores:

1º) McLaren -Mercedes - 312
2º) Red Bull -Renault - 304
3º) Ferrari - 238
4º) Mercedes - 132
5º) Renault - 106
6º) Force India-Mercedes - 47
7º) Williams -Cosworth - 40
8º) Sauber-Ferrari - 23
9º) STR-Ferrari - 10
10º) Lotus-Cosworth - 0
11º) VRT-Cosworth - 0
12º) Hispania-Cosworth - 0