sábado, 6 de março de 2010

VANCOUVER 2010 ► Superação: do que os verdadeiros atletas são feitos

O esporte tem lições de comprometimento que mereciam ser seguidas com mais frequencia em outros setores de nossas vidas. Recentemente, nas Olimpíadas de Vancouver, recebemos mais uma dessas lições.

Principal patinadora canadense, Joannie Rochette preparava-se para sua estreia na competição de patinação artística, a popular “dança no gelo”. Menos de dois dias antes, um domingo, foi surpreendida com o súbito falecimento de sua mãe, vítima de infarto.

Os pais da atleta viajavam de Montreal para Vancouver para acompanhar as provas, quando ocorreu a tragédia. Na Vila Olímpica, o próprio pai deu a notícia à filha.

Patinação artística é um desses esportes nos quais os atletas não conseguem treinar para competir em alto nível e se tornar profissionais sem a dedicada ajuda dos pais. É um esporte caro, que requer sacrifícios da família, com duros gastos com treinos, equipamentos e professores. E é muito comum o acompanhamento permanente dos pais durante a carreira dos filhos.

Logo, podemos imaginar o choque que Joannie recebeu. Deve ter ficado sem chão, para dizer-se o mínimo. Em um esporte que exige concentração total, a atleta encontrou forças para subir ao rinque na terça-feira seguinte para a série curta de dança e realizar uma belíssima e emocionante apresentação. Após seu último movimento, desabou em lágrimas. Seus pontos a levaram à terceira colocação. No final da semana, na série longa, confirmou o terceiro lugar e garantiu a medalha de bronze.

O desempenho de Joannie Rochette lembrou-me de Derek Fisher, jogador de basquete, armador do Los Angeles Lakers. No breve período em que esteve afastado dos Lakers, Fisher defendeu o Golden State Warriors e o Utah Jazz. Durante os playoffs da temporada 2006/2007, ele jogava pelo Jazz, que fazia a semifinal da Conferência Oeste contra os Warriors. Naquele momento, uma de suas filhas enfrentava um raro câncer nos olhos e faria uma delicada cirurgia em Nova York no dia da partida decisiva da série em Salt Lake City.

Fisher acompanhou a cirurgia da filha, felizmente bem sucedida, pegou um avião e partiu para Utah. Chegou ao ginásio no meio do terceiro quarto da partida. O Jazz enfrentava problemas na armação, com jogadores machucados ou pendurados em faltas. Fisher não teve dúvidas: como estava listado para o jogo, foi para o vestiário, vestiu o uniforme e se colocou à disposição para jogar. Ovacionado pela torcida e aplaudido até pelos adversários, Derek Fisher acabou decidindo o jogo na prorrogação, dando a vitória e a classificação às finais da Conferência Oeste ao Utah Jazz.

Joannie Rochette e Derek Fisher são dois de muitos exemplos de atletas que em quem todos devíamos nos espelhar. Atletas e homens que agem com coração, dedicação, personalidade, caráter.  São atitudes que nos deixam sem palavras e pensando que, sim, sempre podemos fazer mais um pouco.

sexta-feira, 5 de março de 2010

BRASIL ► Anistia não é impunidade

Um dos muitos gritos que certos setores da mídia brasileira desesperadamente vêm dando contra o governo tem como alvo a chamada "Comissão da Verdade", que, sinteticamente, quer colocar os pingos nos is, o preto no branco ou o clichê que quiserem usar sobre os anos negros da ditadura militar.

A história toda é bem simples: apurar os culpados por crimes cometidos durante esse período dito de exceção, caracterizado por governos autoritários e repressivos (como se pudesse haver uma ditadura que não seja repressiva...) que tomaram conta do país durante três décadas.

É uma questão polarizada, para usar um termo em voga em época de eleições: de um lado, os revolucionários (terroristas para os ditadores); de outro, a ditadura militar e sua prática da tortura.

O objetivo principal, mesmo, é não permitir que passem impunes à História aqueles que cometeram crimes hediondos contra a humanidade, os torturadores.

O discurso da direita (é, ainda existe e resiste firme e forte a direita neste país - e também existe esquerda) é absolutamente idiota, já que parte de um ponto de vista que revela que eles pensam que nós, "os outros", somos idiotas: "Ué, não houve anistia para os terroristas?" "Aqueles assassinos não foram anistiados?" "A anistia não foi ampla, geral e irrestrita? Não era para todos?" "Por que voltar a tocar nesse assunto?"...

É uma direita que apoiou e ainda defende a ditadura, seja implícita ou explicitamente, como no caso do editorial da Folha de São Paulo* que chamou a ditadura brasileira de "ditabranda". Lógico, quem escreveu não teve o pai amarrado a dois carros que partiam em direções opostas...

Realmente, um argumento desses só pode ser ingênuo ou ofensivo. Ofensivo por chamar o povo - essa palavra que odeiam - de ignorante.

Por quê? Simples: a anistia foi - e é - ampla, geral e irrestrita para todos aqueles que cometeram crimes durante a ditadura militar e que, após condenados, tiveram a liberdade retomada e seus direitos restabelecidos nos últimos suspiros daquele período de terror.

Ora, só um lado foi julgado durante a ditadura e todo mundo sabe qual. Os revolucionários foram caçados, assassinados, presos, assassinados, torturados, julgados (sabe-se em que condições...), torturados, condenados, torturados, exilados, assassinados... Obviamente, a repetição das palavras "assassinados" e torturados" não é falta de revisão nem mera coincidência.

Uns sobreviveram à prisão e outros, ao exílio. Com a anistia, tiveram suas penas comutadas e retomaram a liberdade, recebendo de volta seus direitos como cidadão.

Fácil de entender: condenados, receberam a anistia.

Falta o outro lado agora, já que, na ocasião, foi feito o acordo possível entre as partes. Assim revolucionários condenados e mortos e impunes torturadores entraram no mesmo saco da "anistia ampla, geral e irrestrita".

Mas para existir uma anistia deve haver um motivo, no caso, uma condenação. E, antes, um julgamento. Qual parte "eles" não entendem? Ou não querem entender?

Será que não é hora dos militares serem julgados? Ou melhor: será que já não passou a hora? Vários países sul-americanos estão à nossa frente nessa questão.

Aí alguns tabloides de nome reverberam o discurso de que "isso é revanchismo", "a anistia foi para todos" e um monte mais de blablablás covardes, de quem tem medo da verdade.

Revanchismo seria pegar um militar daqueles de qualquer escalão que tivesse participado da tortura e torturá-lo também. Ou pegar a esposa de um deles e violentá-la à sua frente. Ou "apenas" sodomimizá-la com um cabo de vassoura... Talvez pegar uma filha e fazê-la ver o pai no pau de arara. Ou ainda... Melhor parar, porque estômagos sensíveis podem começar a revirar. Isso, sim, seria revanchismo.

O que se quer é pegar esses seres ditos humanos e levá-los a julgamento. Sendo julgados e condanados pelo crime hediondo que cometeram, ninguém quer que apodreçam atrás das grades. Apenas queremos, a sociedade civilizada quer, a verdade exige, que criminosos sejam sempre julgados e condenados - e que paguem por seus crimes. E, neste caso, que paguem por seus crimes passando à História como torturadores durante o período mais triste vivido pelo Brasil.

Não, definitivamente eles não passarão sequer um dia atrás das grades. Afinal, a anistia não é ampla, geral e irrestrita e para todos? Para os torturtadores também. Mas a condenação deles é um legado importante a ser deixado para as futuras gerações do país. Um legado que dirá que aqui, no Brasil, a tortura não ficou impune. E que por isso jamais ficará.

O Brasil é um país que não irá evoluir com a pecha da impunidade estampada em sua bandeira. Os resquícios disso vemos em nosso dia-a-dia e exemplos, infelizmente ainda bastante atuais, são os covardes trotes que alunos abastados, jovens privilegiados, insistem em aplicar em faculdades. Eles o fazem com a certeza da impunidade. E são esses covardes protótipos bem acabados de criminosos que tomarão conta do país em um futuro próximo.

Outro dia, vendo mais um documentário sobre os anos da ditadura e a tortura (mais um daqueles em que militares negam-se a prestar depoimentos... ), um ex-prisioneiro político, preso, condenado, torturado, sobrevivente e anistiado, disse algo sintomático, que pode-se resumir assim: "Hoje ando de cabeça erguida e conto minha história aos meus filhos e netos. Será que os torturadores fazem o mesmo?"

Se depender de Globos e Folhas da vida, maus militares torturadores jamais precisarão tocar no assunto com familiares, muito menos com a Justiça. Aliás, se depender dessa parte da mídia, acabam criando uma teoria revisionista dizendo que a tortura não existiu no Brasil.

*Sobre a Folha de São Paulo e a ditadura, vale a leitura do livro de Beatriz Kushnir, "Cães de Guarda - Jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988", editora Boitempo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

BRASIL ► Deu na internet: "Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma"

Publicado no site Carta Maior em 3 de março de 2010 (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16414):

Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma

Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.

Bia Barbosa

Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.

Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.

A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.

“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.

A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.

“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.

O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.

“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.

“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.

O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.

Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.

“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.

O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.

Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.

“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.


*** *** ***

Bem, basta olhar as primeiras páginas de certos veículos de imprensa (veículos que a História costuma mostrar que adoram o poder e que estiveram ao lado de governos golpistas - normalmente, o lado contrário ao do povo) para vermos que o jornalismo há muito foi chutado para escanteio.

Vale ressaltar que cobraram R$ 500,00 por lebre e entregaram gato.

Por essas e outras que, em casos assim, costumo dizer: "Chavez tinha razão..."

segunda-feira, 1 de março de 2010

VANCOUVER 2010 ► Um gol para entrar na História

Canadá x EUA no hóquei é como Brasil x Argentina no futebol. A decisão pela medalha de ouro sobre o gelo tinha algumas peculiaridades que tornavam o jogo ainda mais atraente.

Não que eu seja particularmente um grande fã de hóquei. Acho as federações muito benevolentes com a violência do jogo. Parece que umas bordoadas aqui, uma tacada ali, socos e cotoveladas passaram a fazer parte do folclore do esporte e situações que no futebol ou no basquete, por exemplo, renderiam ganchos imensos aos protagonistas, no hóquei ficam quase que "por isso mesmo".

Mas, como fã de esporte, não há como ficar indiferente a competições de "alto rendimento", como campeonatos mundiais e olímpicos.

Todos os jogadores canadenses atuam na poderosa NHL, a liga profissional de hóquei dos EUA. E, na primeira fase, os favoritos canadenses foram surpreendidos em casa pelos estadunidenses por 5 x 3. Uma derrota que explodiu o meio da América do Norte e deixou engasgada a parte mais gelada acima. De quebra, os EUA queriam devolver aos canadenses a derrota na final dos Jogos Olímpicos de Salt Lake City, em Utah, em 2002. Naquela oportunidade, o Canadá venceu a decisão na casa do adversário e levou a medalha de ouro.

E o jogo cumpriu o que prometeu. Uma decisão de arrepiar os cabelos - como se o gelo por si só não o fizesse. O Canadá entrou no terceiro e último tempo vencendo por 2 x 1 e defendia-se com unhas e dentes. Talvez tivesse recuado e defendido-se até demais, permitindo aos EUA uma pressão que só aumentava com o passar dos minutos.

Faltando pouco mais de um minuto para o fim, em um contra-ataque, o Canadá desperdiçou a chance de matar o jogo. E a apenas 24 segundos para tudo acabar os EUA tiveram sua persistência coroada e empataram a partida, levando a decisão para a prorrogação, que seria decidida na morte súbita: 20 minutos de jogo, quem marcasse um gol primeiro levaria o ouro. Em caso de empate, pênaltis... e haja coração!

Interessante notar que no hóquei a uma mudança nas prorrogações. Jogado normalmente com seis jogadores, cinco na linha e um no gol, numa prorrogação os times entram com um atleta a menos, aumentando o espaço no rinque e tornando o jogo mais aberto.

E a prorrogação foi ainda mais emocionante. O Canadá tinha a iniciativa, atacava, perdia gols, mas sempre que os EUA chegavam também era com muito perigo. Até que o jovem astro Sidney Crosby, de quem muito exigiam e pouco fizera na competição até então, decide tudo com um golaço. O gol de ouro.



Foi demais! Que bom poder acompanhar mais um momento que entrou para a história dos esportes olímpicos, como a vitória da Polônia sobre a URSS no vôlei masculino por 3 x 2, em 1976 (a partida de vôlei mais longa da História), a eternamente discutida vitória soviética sobre os norte-americanos na final do basquete masculino de Munique, em 1972 (uma partida que ainda não acabou), e tantos outros mais...

VANCOUVER 2010 ► E o Brasil descobre que as Olimpíadas são de dois em dois anos...

As chamadas Olimpíadas de Inverno sempre foram algo distante das atenções brasileiras. Vivendo em um país tropical e com uma mídia que só costuma cobrir o que tem participação nacional – de preferência, uma relevante participação, disputando título ou medalha -,  praticamente ignoramos os “Jogos da Neve”. Tanto que sempre achavam estranho por aqui a mídia internacional chamar os Jogos Olímpicos, aqueles que conhecemos e acompanhamos de 4 em 4 anos e que serão realizados no Rio de Janeiro em 2016, de Jogos de Verão.

Provavelmente, o primeiro contato de muitos de nós com os Jogos de Inverno tenha sido o filme “Jamaica Abaixo de Zero”, que conta a epopeia da inusitada primeira participação jamaicana em uma competição no gelo. Foi em 1988, na Olimpíada de Calgary, no Canadá. A equipe caribenha que participou da competição de bobsled acabou alvo de muitas atenções.

Mas 2010 chegou e creio que tenha mudado isso para sempre. A transmissão de vários eventos pela Rede Record na TV aberta, principalmente com as tardes inteiras com a grade liberada, chamou a atenção de todos. Até da concorrência. Quando a Record adquiriu os direitos deste e do próximos Jogos Olímpicos e Panamericanos, houve rumores de que a Globo, ficando de fora, usaria sua velha tática “já-que-não-transmitimos-vamos-fingir-que-não-existe-porque-assim-ninguém-vai-ver” . E usou. Mas parte do conglomerado global, como o canal de esportes por assinatura SporTv, não caiu nessa. Acredito eu que, percebendo o potencial do evento e a popularidade gerada pela transmissão em TV aberta, o SporTv tratou de liberar um de seus canais para a exibição das competições em Vancouver durante praticamente as 24h diárias de sua grade.

Foi um ponto muito importante para o SporTv, já que os canais ESPN, que eventualmente transmitem competições desses esportes gelados, não fizeram a cobertura do evento. Para mim, foi o melhor momento desse canal de esportes por assinatura. Merece os parabéns pelas transmissões, que entravam ao vivo mesmo madrugada adentro, aproveitando bem a vantagem de tratar-se de um canal exclusivamente de esportes.

Mas o destaque maior vai mesmo para a grande e extensiva cobertura “recordiana”, já que ainda é incomparável o alcance de uma emissora de TV aberta de penetração nacional em relação ao de um canal fechado. A emissora do polêmico Bispo Macedo não apenas transmitiu os Jogos: ela montou na cidade canadense um verdadeiro quartel-general para cobrir o evento. E um QG com uniformes estrelados, como Ana Paula Padrão, Paulo Henrique Amorim e Mylena Ciribelli, tops da emissora. Além de entradas ao vivo durante toda a programação, encabeçavam os telejornais diários. Enfim, uma cobertura à altura de um dos maiores  eventos esportivos do planeta. Como diria nosso presidente, “nunca antes na história deste país” uma cobertura das Olimpíadas de Inverno havia sido feita assim. E uma cobertura que impressionou até o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogge, que não perdeu a chance de trocar afagos com a TV brasileira.

Vale ressaltar que os Jogos de Vancouver enfrentaram a dura concorrência do carnaval em sua primeira semana de competições. Não é pouca coisa, não.

E que Olimpíada foi essa! Bobsled, esqui alpino, snowboard, luge... Nomes a que pouco estamos acostumados revelaram-se esportes atraentes de se acompanhar. O que falar da  patinação artística, o mais belo esporte praticado no planeta? E o que foi a final de hóquei masculino entre Canadá e EUA? Aquele empate dos EUA no final do tempo normal e o “gol de ouro” na prorrogação de morte súbita que deu o título aos canadenses, fazendo explodir o país em uma partida acompanhada no mundo inteiro e que já entrou para os anais olímpicos. E sou obrigado a confessar: não consegui tirar os olhos da tela enquanto passava a decisão da medalha de ouro entre canadenses e suecas no... curling!

E por que esses atraentes Jogos Olímpicos de Inverno nunca chegaram até nós, permanecendo praticamente desconhecidas? Bem, quem sempre deteve o direito de transmissão era a Rede Globo, que talvez optasse por usar outras de suas conhecidas estratégias, como “não-queremos-exibir-mas-vamos-comprar-para-que-ninguém-possa-exibir-e-atrapalhar-nossa-audiência” ou “não-tem-brasileiro-disputando-pra-ganhar-entao-não-interessa”. Soluções padrões que costumam surgir lá pelos lados do Jardim Botânico, a história televisiva está cheia de exemplos disso.

Mas, enfim, o que importa é que agora os mais fanáticos por esportes, como eu, que costumavam entrar em depressão pós-olímpica e pós-panamericana, descobriram que suas recaídas agora serão em períodos bem mais curtos. E que venham Guadalajara-2011, Londres-2012, Sóchi-2014, Toronto-2015, Rio de Janeiro-2016...