domingo, 6 de junho de 2010

FUTEBOL ► Por que o golaço de Roger, do Guarani, passou quase despercebido pela mídia?

Na rodada de meio de semana do Campeonato Brasileiro, um golaço não recebeu as loas devidas por parte da mídia esportiva. Por quê? Veja o gol de Roger que deu a vitória ao Guarani contra o Vasco em pleno São Januário, no minuto final da partida:



Perguntei ao meu irmão: "Você viu o golaço que o Roger fez?" Não, não viu. Meu sobrinho também não. Meu irmão deu uma justificativa sintomática: "Ninguém falou nada nesses programas na TV." Pois é, ninguém falou praticamente nada. Por quê?

Algumas respostas plausíveis: grande parte da mídia esportiva não entende de futebol, só sabe vender notícia, fabricar craques e escândalos; gerar factoides; é populista no pior sentido; não dá valor a nada feito que não seja referente a um clube dito de massa; sequer sabe o que é um golaço etc...

A perfeita matada no peito de Roger (ex-São Paulo, Fluminense e Sport, entre outros), naquele curto pedaço do campo, é qualquer coisa. No melhor estilo eternizado e ensinado pelo Rei Pelé. E o toque sutil... O que dizer? E no último lance de uma partida disputada fora de casa, e logo em São Januário, onde o Vasco, independente de estar bem ou mal das pernas, sempre é um adversário difícil de ser batido? Golaço. Golaço que aqui em meu espaço faço questão de celebrar.

Foi o discreto e correto profissional Roger quem fez o golaço, jogando pelo Guarani, que não faz parte do bloco de clubes que recebe a quase total atenção da imprensa. Alguém pode imaginar a repercussão de um gol assim caso fosse marcado por um dos pares do recém-divorciado Império do Amor? Ou por um Neymar da vida, o rei do cai-cai? No mínimo parariam o mundo e empurrariam o menino problema goela adentro de Dunga lá África do Sul...

Ninguém chamou Roger de rei da área ou coisa parecida, nem as TVs ficaram de quatro para o gol e seu autor, como costumam ficar por muito menos para outros jogadores ou jogadores de outros times. Acompanhei algumas das vezes em que o gol foi exibido. Em nenhuma delas foi feito qualquer alarde. Aliás, se você não prestasse a atenção ou desse uma piscada na hora, em alguns canais nem repararia na beleza do gol, já que era exibido a toque de caixa, como mais um, sem direito nem àquele tradicional clichê do "esse vale a pena ver de novo". Uma injustiça.


Hoje tem gente que acha que golaço só é feito por jogador de time grande (?). Que golaço é um chute de bico, totalmente desequilibrado, verdadeiro pombo sem asas que faz trezentas e noventa e cinco curvas graças a essas patéticas bolas usadas atualmente e que literalmente cai no ângulo de uma baliza. Para essa gente, só certos jogadores de certos times fazem golaço, os outros só fazem gols bonito, assim como certos goleiros não frangam nem falham, apenas dão azar.

Não vou ficar aqui querendo definir o que é golaço, até porque é algo que tem alguns padrões subjetivos. Mas para mim um golaço passa por um chute refinado tecnicamente, um deslocamento surpreendente, uma jogada inesperada, um lance decisivo, um certo grau de dificuldade, que pode ser técnica ou psicológica (o momento).

Uma observação, porém, faço questão de registrar. Às vezes um time está ganhando de 20 x 0 (como é possível ver, adoro esses exageros de linguagem) de um Rosita Sofia da vida e aparece "craque" que pega a bola, dá de calcanhar aqui, dribla de letra ali, rabisca mais três, arrisca um balãozinho e faz o gol de bunda. Legal. Mas até aí (como também gosto de dizer), morreu o Neves. Quero ver fazer tudo isso no último minuto de um jogo decisivo e/ou contra o maior rival, seu time com a corda no pescoço e a torcida querendo arrancar seu couro fora. Aí, sim, não tem preço: é um golaço, e não apenas um gol bonito.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

NBA ► Defesa garante vitória do Los Angeles Lakers sobre Boston Celtics na abertura da final da NBA

Boston Celtics 89 x 102 Los Angeles Lakers
Final
(0 x 1)

É, o título do post não saiu truncado. Não foi a defesa do Boston Celtics ou o ataque do Los Angeles Lakers. O destaque da abertura do playoff decisivo da NBA foi a defesa do time da Califórnia. Domingo os times voltam a se encontrar na segunda partida da série, ainda no Staples Center.

A partida em si foi um misto de playoff da Conferência Leste com futebol brasileiro. Foi como uma partida decisiva da Conferência Leste por ter sido extremamente física, não parecendo estar em quadra – e em sua quadra - um time mais adepto ao showtime como o Lakers, legítimo representante do tipo de basquete praticado na Conferência Oeste. E também parecia futebol brasileiro porque qualquer flatulência soltada próximo ao adversário os juízes interpretavam como falta.

Creio que o exagero na marcação das faltas foi uma opção covarde dos árbitros, que podem ter usado esse recurso para evitar que o jogo físico descambasse para... violência física. Assim a partida foi um tanto descaracterizada. Logo ambos os times ficaram pendurados, com praticamente todos os titulares se carregando em faltas.


A primeira consequência disso é que a todo instante o jogo era interrompido, jamais pegando embalo, e sempre havia alguém cobrando lance livre. A segunda é que os reservas acabaram ganhando mais tempo de quadra. E foi aí, no final do primeiro quarto, com infiltrações consecutivas dos bancos Jordan Farmar e Shannon Brown, que o Lakers conseguiu finalizar o período com cinco pontos de vantagem e usar essa margem (que no segundo período ainda caiu durante um breve momento para dois pontos e no último quarto chegou a 19) para sustentar-se à frente o resto da partida.

Enfim, não achei nada lindo de se ver. Acho que nem os adeptos de um bom basquete de defesa ficaram muito satisfeitos, porque muitas das faltas marcadas eram simplesmente patéticas. Estava difícil qualquer contato sem que isso fizesse soar um apito. O resultado óbvio é que, após pendurarem os times, os árbitros depois tiveram que fazer uma “conta de chegar” para decidir quando apitar as faltas seguintes, evitando tirar cedo peças importantes do jogo para que o mundo não caísse sobre eles.


O melhor em quadra foi Kobe Bryant, usando muito bem a forte marcação que sofreu para abrir espaços para seus companheiros. Mais uma vez anotou 30 pontos nestes playoffs e ainda pegou sete rebotes e fez seis assistências. De quebra, exerceu boa marcação sobre Rajon Rondo, impedindo que o emergente astro adversário explodisse na partida. Ron Artest também realizou ótimo trabalho defensivo e ainda anotou 14 pontos. Pau Gasol conseguiu 14 rebotes no garrafão e marcou 23 pontos. Na verdade, todo o time do Lakers (inclusive seu banco!) fez uma partida coletivamente muito correta e concentrada, sem ninguém destoar. Não é padrão “lakerniano” manter o mesmo ritmo durante os 48 minutos de jogo, como ontem.

No Boston, briga não faltou, mas o time pareceu surpreendido ao ver o Lakers tão firme no estilo de jogo que eles deveriam dominar. Não que esperassem um Lakers soft, mas acho que não imaginavam um adversário tão hard. O próprio treinador Doc Rivers disse que seu time foi superado em força e vontade. Apesar da forte marcação e do problema com faltas, Paul Pierce mostrou que segue sendo um pesadelo hollywoodiano, anotando 24 pontos e pegando nove rebotes. Rondo ainda conseguiu números bem decentes, apesar de insuficientes para a necessidade do time (13 pts, 8 ast, 6 reb). Ray Allen atrapalhou-se com as faltas e rendeu pouco e Kevin Garnett... Bem, Garnett fez 16 pontos, mas pegou ínfimos quatro rebotes e protagonizou uma cena um tanto ridícula para um supercraque como ele, um lance que parecia tirado do filme “Space Jam – O Jogo do Século”, onde pequenos alienígenas roubavam o talento dos astros da NBA. Parecia que o talento de Garnett havia sido roubado:



Para o Celtics, acendeu uma luz de alerta: o Lakers está aprendendo a jogar o basquete físico, o estilo de jogo que o arrasou nas finais de 2008. E isso pode ser um problema sério para o tradicional time verde de Boston, pois se o Lakers conseguir se adaptar durante toda a série a um jogo mais físico, concentrado na defesa, terá um grande trunfo em mãos, já que dificilmente o Celtics conseguirá se igualar ofensivamente ao time californiano. Assim, o Celtics perderia a vantagem do jogo físico e, pela lógica, o Lakers tiraria proveito de seu maior arsenal ofensivo, como fez neste jogo 1. Garnett e companhia precisam de todas as maneiras prevalecer quando o jogo estiver sendo jogado no estilo deles. Se não...

Fechando, o recap do jogo 1 distribuído pelo site da NBA (por problemas técnicos, via YouTube):


quinta-feira, 3 de junho de 2010

FUTEBOL ► Juízes pusilânimes incentivam violência no futebol brasileiro

Que a arbitragem no futebol brasileiro faz coisas que até Deus duvida e nos faz, meros torcedores, suspeitarmos de tudo, todo mundo sabe. Mas agora suas excelências estão revelando um lado ainda mais aterrador: o da conivência com a violência que ameaça explicitamente a integridade física dos profissionais do esporte.

Dois exemplos tristes e ao mesmo tempo patéticos do nível da arbitragem nacional pudemos presenciar em menos de uma semana. Tristes, pelas consequências, as contusões dos atletas, uma mais grave que a outra. Patéticos pela ação dos árbitros das partidas, dois patetas bananas.

Na sexta-feira passada, dia 29 de maio, Santo André e Guaratinguetá jogavam pela segunda divisão do Campeonato Brasileiro em Guaratinguetá, quando o atacante William, do Santo André, teve a perna quebrada após um carrinho criminoso do zagueiro Júlio César.

Pior não é o crime, mas a impunidade. A entrada foi extremamente desleal. “Ah, mas pegou na bola...” Não tem a menor importância, não é nenhum atenuante. Foi pênalti, inclusive, já que a agressão ocorreu dentro da área. Mas o patético árbitro Rodrigo Braghetto (SP) marcou apenas... nada! mandou seguir o jogo.

Assim, o violento zagueiro Júlio Cesar está liberado para continuar distribuindo porrada (acho uma palavra de baixo calão e o uso de palavras assim simples falta de recurso linguístico, mas estamos falando de violência mesmo) à vontade em campo, ameaçando a integridade física dos colegas de profissão (será que um jogador desses tem alguma consciência disso?), enquanto sua vítima amarga pelo menos três meses fora dos gramados, sem trabalhar.


O lance que podemos ver no vídeo acima é muito parecido ao que marcou para sempre o na época ótimo ponta-esquerda Pedrinho, do Vasco, que nunca mais recuperou-se inteiramente após uma criminosa entrada do zagueiro Jean Elias (para quem não lembra, um renomado botinudo), do Cruzeiro, em uma partida disputada em São Januário pelo Campeonato Brasileiro de 1998. A entrada violentíssima tirou Pedrinho dos campos durante oito meses. Como mencionei acima, nunca mais o habilidoso atacante recuperou-se totalmente, tendo sua condição física comprometida pelo resto da carreira, jamais conseguindo emendar novamente grandes sequências de jogos.

Assim como no lance em Guaratinguetá, o agressor pegou a bola, mas não sem quase aleijar um colega de profissão, tal a violência da entrada. O que fez o árbitro goiano Antônio Pereira da Silva, um dos “grandes” da época? Marcou lateral... Lamentável.

Vai que ontem, no Maracanã, o atacante Lenílson, do Vitória da Bahia, de forma intencional e criminosa, chutou a cabeça do goleiro Rafael, do Fluminense, que já tinha a bola totalmente sob controle. A partida foi válida pela primeira divisão do Campeonato Brasileiro e o árbitro foi o incrível Wilson Luiz Seneme - incrível porque não sei como segue apitando impunemente, tamanho o número de erros que comete. O que fez, então, o paulista Seneme? Ele viu o lance, tanto que correu imediatamente para a área, chamou o agressor e... o premiou com um cartão amarelo!


Vimos aí no vídeo. Em qualquer lugar do mundo isso é um lance de expulsão, por sua covardia e por ameaçar não só a integridade física como a própria vida da vítima. O jogador não tinha a menor necessidade de atingir o goleiro. Não havia bola em disputa e ele teve todo o tempo do mundo para evitar o choque. Mas não, Lenílson proposital e acintosamente deixa a perna para atingir o adversário. Sabem, nem creio de repente que seja por maldade, talvez seja só molecagem, irresponsabilidade mesmo, sei lá. Prefiro até pensar assim. De todo modo, o goleiro teve que deixar o campo, enquanto o agressor seguiu a vida com o seu amarelinho no bolso.

Lances assim ainda ganham argumentos como "não tive a intenção" ou o famigerado "fui na bola". Ora, bolas: você amarra uma velhinha sobre os trilhos e passa com uma locomotiva por cima e diz que não teve a intenção de matá-la? Conta outra. E ainda há quem caia nessas desculpas esfarrapadas...

Parabéns às avessas, então, para árbitros como Rodrigo Braghetto, Wilson Luiz Seneme e Antônio Pereira da Silva, pela contribuição dada a páginas sujas pela violência do futebol brasileiro.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

BRASIL ► Declaração de José Serra escancara mais uma vez preconceito contra países da América Latina

Declaração do candidato à presidência da República José Serra, do PSDB: “Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice do narcotráfico.”

Todos sabemos que o PSDB e seu aliado DEM rezam pela cartilha norte-americana. Seus anos no poder atestam isso. Mesmo fora dele, muito raramente deixam de alinhavar suas opiniões àquelas emitidas pela Casa Branca. A maneira como os países da América Latina foram relegados a segundo (terceiro, sexto, nono, décimo-oitavo...) plano durante os anos FHC está registrada na História. Bom para o Brasil naquele tempo – e noutros também - era viver às boas com EUA e o FMI.

Até aí morreu o Neves. Como diria Nelson Rodrigues caso fosse um assunto relacionado ao futebol, qualquer pedaço de concreto de arquibancada sabe disso. Basta vermos a posição pesedebista e demoníaca (de DEM?) em relação a questões envolvendo China, Venezuela, Irã, Coreia do Norte, Cuba...

Mas chega a ser constrangedor quando um candidato à presidência com relevante possibilidade de eleição escancara tamanho preconceito em relação a um país vizinho em plena campanha eleitoral, o que reverbera tal sandice mundo afora. Pois não passa disso: puro preconceito, caso de discriminação mesmo, o que não chega a ser novidade, considerando que Jorge Bornhausen, um dos líderes de seu aliado DEM (demoníaco?), uma vez declarou aos quatro ventos que “vamos acabar com essa raça” – a “raça”, no caso, os cidadãos brasileiros militantes ou eleitores do Partido dos Trabalhadores. Bem, a “raça” não acabou, muito pelo contrário...

Mas a questão aqui é a seguinte:chamo de puro preconceito porque sabemos que não é uma opinião isenta, imparcial, que seria emitida independente de quem fosse o país atingido. Lembrando que os EUA constituem disparadamente o maior mercado consumidor de drogas do mundo, alguém consegue imaginar o candidato José Serra declarando algo assim?

“Você acha que os EUA iria importar 90% da cocaína produzida no mundo sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo americano é cúmplice do narcotráfico.”

Eu, não. Se o fizesse, subiria no meu conceito a ponto de dar algum valor mesmo a declarações estapafúrdias como a que gerou este post. Mas não vai rolar, não é?

MUNDO ► Ação assassina israelense põe em xeque o "dois pesos, duas medidas" da política internacional

É muito melhor distrair-se acompanhando as finais da NBA do que a podre política internacional. Mas como a decisão entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics só começa amanhã, deu vontade de registrar coisas que andam acontecendo impossíveis de não se notar e de se ficar indiferente.

Uma delas é a violenta e assassina intervenção israelense contra o comboio político-humanitário (não vamos ser tão ingênuos...) que tentava chegar à isolada Faixa de Gaza não tem justificativa. Pode-se dizer de tudo, que era um risco que os ativistas corriam, sabiam que poderiam ser impedidos de ir adiante, que havia uma intenção política em relação a uma possível interceptação militar de Israel, que não havia ingenuidade nos barcos et cetera e tal. Mas havia novecentas e setenta e oito maneiras diferentes de fazer a abordagem ao comboio sem tirar a vida de ninguém.

Principalmente porque a intervenção ocorreu em águas internacionais, o extremismo da ação militar israelense em nada difere das assassinas ações terroristas de que é vítima. Em nada. E não é a primeira vez que Israel age assim.


Esse seria um bom momento para que as forças políticas internacionais mostrassem independência e imparcialidade em suas ações e condenações. Mas não creio que isso ocorra. Há um óbvio e mal disfarçado modelo de gestão à base do "dois pesos, duas medidas" no ventre das decisões que envolvem a ONU e seus diferentes órgãos disso e daquilo. Ou alguém acha que se fosse uma ação promovida pelo governo iraniano do controverso presidente Mahmoud Ahmadinejad a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton pediria cautela nas investigações? Ou que o próprio Irã liderasse a investigação sobre o ataque?

Pois as declarações de Hillary Clinton são nesse sentido: cautela nas investigações e que Israel seja responsável pela investigação de sua ação assassina.

Acredite... se quiser.