segunda-feira, 12 de julho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Espanha derrota Holanda na prorrogação e conquista seu primeiro Mundial

A primeira vez a gente nunca esquece. Ô clichê fácil e bobo, não é para isso que a gente estuda e aprende a escrever um pouco mais elaboradamente. Mas não deu para resistir. Os espanhóis, com certeza, não esquecerão. Com o Soccer City lotado e com direito à presença de Nelson Mandela no final do show de encerramento, a Espanha derrotou a Holanda por 1 x 0 no final da prorrogação e entrou para o seleto grupo de campeões mundiais de futebol (outro clichê, segunda-feira é fogo...).

Foi uma partida encardida, mal conduzida por um péssimo soprador de apito inglês que atende pelo nome de Howard Webb. Vou dizer uma coisa: quase deu saudade das arbitragens brasileiras. Brincadeirinha, nossas senhorias daqui são imbatíveis. Mas Webb foi péssimo. Não teve pulso para controlar o jogo duro imposto pela Holanda no primeiro tempo nem para punir jogadas desleais de parte a parte com o devido cartão vermelho. A primeira foi de Puyol, num claro revide ao estilo holandês de encarar essa decisão. O zagueiro espanhol entrou maldosamente por trás em Robben e foi premiado apenas com o cartão amarelo. Morrendo de inveja, num revide mais claro ainda, Van Bommel, logo em seguida entrou de carrinho nas pernas de Iniesta. Só aí já seriam dois límpidos lances de expulsão. Mas os piores viriam depois. Primeiro, ainda na etapa inicial, De Jong fez uma jogada absolutamente grotesca (achei mais grossa que desleal), mas estupidamente violenta, acertando com a sola o peito de Busquets, num lance que mais parecia um golpe marcial, tipo taekwondo. Webb, bonzinho como ele só, ficou no amarelo. Já no segundo tempo, fora da bola, Iniesta simplesmente agrediu Van Bommel depois de perder uma jogada (dessa vez, limpamente). O juizão viu a agressão, parou o jogo e fez aquele gesto que os árbitros do game Pro Evolution Soccer (ou Winning Eleven) costumam fazer com os braços, dizendo que "acabou". Mas não para o jogador, que nem o amarelinho recebeu.

Enfim, se disciplinarmente foi uma tragédia, tecnicamente Howard Webb também errou feio e ao menos um desses erros teve grave consequência - para os holandeses. Lá pelos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, a Holanda teve uma falta de média distância a seu favor, bem de frente para o gol. Sneijder cobrou e a bola desviou na barreira, quase entrando no ângulo direto de Casillas, que só pôde fazer golpe de vista. Todo o Soccer City, a torcida do Flamengo e o resto do mundo viram o claríssimo desvio. Mas Weeb e seu auxiliar, não. Em vez de escanteio, tiro de meta. Na sequência, gol do título espanhol. Que legal...

Mas a Espanha nada tem a ver com isso, até porque foi bem roubada naquela partida que a eliminou da Copa de 2002 contra a Coreia do Sul, não dá para esquecer. E também em 1962 contra o Brasil, outro crime de que foi vítima. Em campo, foi melhor, impôs seu jogo de toque envolvente, assim como fez contra a Alemanha, e venceu. Mas a falta de um definidor de verdade, um centroavante, poderia ter feito um campeão laranja. Com Fernando Torres muito mal fisicamente (conseguiu sentir o músculo nos pouquíssimos minutos que ficou em campo), David Villa acaba jogando mais enfiado na área, onde não tem muita presença e fica sem espaço para infiltrações, como a que gosta de fazer pela esquerda e que lhe rendeu importantes gols no Mundial.

A Espanha começou dominando, mas criando poucas chances. Devagar, a Holanda endureceu o jogo. Primeiro fisicamente. Depois, taticamente. Tanto que, ali pelo final do primeiro tempo, cheguei a comparar o duelo com uma luta de boxe. A Espanha entrou batendo e a Holanda, apanhando. Mas a Holanda resistia e aos poucos colocava a Espanha onde queria: com a posse bola, sim, mas cada vez mais em sua metade do campo, sem ameaçar a meta defendida por Stekelenburg. Aparentemente, a Holanda queria o jogo ali, aguardando a chance de um contra-ataque ou uma bola parada para decidir.

No segundo tempo, a Holanda não conseguiu exercer a mesma marcação e o jogo foi tornando-se cada vez mais perigoso para ela, pois em vez da posse de bola espanhola se dar da altura da linha média para trás, agora ela desenvolvia-se na metade holandesa do campo. Mas a estratégia de esperar pela chance de dar um bote fatal continuava lá, viva. Mesmo recuando - ou sendo recuada - cada vez mais, a falta de objetividade do ataque da Espanha mantinha viva essa esperança laranja de decidir tudo em uma jogada.

Curiosamente, apesar de todo o domínio e melhor futebol espanhol, pode-se dizer, sim, que a estratégia da Holanda deu certo. Ao menos, teoricamente. Porque a bola do jogo (ou a primeira bola do jogo) foi da Holanda, justamente como planejara: retomada de bola e lançamento ótimo de Sneijder para Robben, que entrou sozinho, cara a cara com Casillas. Mas o atacante do Bayer de Munique chutou na perna do goleiro do Real Madrid. Foi quase tudo como no script. Só que depois do mais difícil do plano dar certo (a criação da oportunidade), a parte mais fácil, a conclusão de Robben, deu errado. Isso foi aos 16'.

A essa altura, Jesus Navas, bom atacante pela ponta direita, havia entrado na Espanha, substituindo o sumido garoto Pedro. Acho que Navas deveria ter sido mais utilizado ao longo da Copa, ele dá mais profundidade e objetividade ao ataque espanhol. Enfim... Era uma tentativa espanhola de ser mais incisiva. E quase deu certo aos 24'. Como numa resposta ao gol perdido por Robben, Navas foi ao fundo e cruzou para David Villa desperdiçar uma chance incrível. Van der Wiel furou e Villa bateu de primeira, de dentro da pequena área, para uma defesa... Tá, esquece aquele incrível ali atrás, finge que não usei antes... Para uma defesa incrível de Stekelenburg! Na cobrança desse escanteio, Sérgio Ramos, completamente livre e abandonado dentro da área, errou uma cabeçada fácil, jogando por cima.

Esses lances em nada alteraram o panorama da partida. A Espanha continuava melhor e em cima e a Holanda, sem conseguir impor o seu próprio toque de bola, continuava apostando "naquela" jogada. Que saiu novamente aos 37'. Dessa vez, sim, creio que foi a bola do jogo. Um chutão da zaga foi desviado de cabeça por Van Persie e na velocidade, mesmo partindo depois, Robben deixou Puyol para trás, ficando de novo na cara de Casillas. Mas Robben demorou a finalizar, foi pressionado por Pique e perdeu para o goleiro ao tentar driblá-lo. Acho que não é à toa que há tanta gente sem cabelo nesse time holandês, porque desperdiçar duas chances dessas, nos pés de seu maior astro, numa final de Copa do Mundo, é de arrancar até os últimos fios mesmo... Talvez para evitar isso que eles já raspem logo tudo de uma vez.

Na prorrogação, a defesa da Holanda já não se compactava mais como antes e os espaços para as chances espanholas começavam a se oferecer com maior generosidade. Aos 4', por exemplo, Iniesta deixou Fábregas livre para marcar. Tal como Robben, o meia do londrino Arsenal entrou sozinho e tocou na saída de Stekelenburg... nos pés do goleiro. No minuto seguinte, Mathijsen quase marcou de bola parada, cabeceando por cima a cobrança de um escanteio. O zagueiro holandês, definitivamente, não estava com capacidade artilheira em dia: ainda no primeiro tempo, quase na pequena área, estragou de canela uma cobrança de falta muito bem ensaiada e executada.

O treinador Bert Van Marwijk percebeu que a situação estava ficando insustentável e tratou de tentar dar maior munição ofensiva ao seu time, tirando o volante De Jong e colocando Van Der Vaart. Mas o jogo estava agora mais ainda nos pés espanhóis. Aos 8' foi Iniesta quem demorou uma eternidade para finalizar, quando estava na cara de Stekelenburg, dando tempo para Van Bronckhorst salvar. Aos 10', Navas chutou forte de dentro da área, a bola bateu em Van Bronckhorst e desviou do goleiro holandês, que caiu para a direita e viu a Jobulani (mudaram ao nome da bola para a final, que coisa...) triscar sua trave esquerda e correr pelo lado de fora da rede.

No início do segundo tempo da prorrogação, Howard Webb viu puxão de Heitinga em Iniesta na frente da área e expulsou o defensor, que já tinha o amarelo. Robben reclamou muito porque num lance anterior com Villa ele se disse puxado, mas nada foi marcado. Eu não vi nada nem em um lance nem no outro. Segue o jogo... Com dez homens em campo, as chances holandesas de encaixar um contra-ataque caíam drasticamente. Mas ainda havia a esperança de uma bola parada. Como a que Sneijder cobrou e quase marcou, com a bola desviando na barreira para escanteio, que não foi marcado e... O resto hoje já é História.

Fernando Torres (substituiu David Villa) levantou da meia esquerda para Iniesta, que estava dentro da área, numa improvável inversão de posicionamento: o óbvio não seria o contrário, Iniesta levantar para Torres? Bem, Van Der Vaart rebateu, Fábregas pegou a sobra e enfiou para Iniesta, que ficou livre, com a bola quicando à feição, na meia direita da grande área. Meio que sem alternativa, o muito bom meia Iniesta foi praticamente obrigado a fazer algo que parece não fazer parte de seu vasto repertório: chutar a gol. E chutou bem, forte, cruzado, para baixo, sem chances de defesa para Stekelenburg, que viu a bola estufar a rede no seu canto direito.

Os holandeses reclamaram muito, pedindo impedimento no primeiro lançamento de Torres para Iniesta. Realmente, na hora me pareceu irregular a posição do carequinha espanhol. E, se estivesse irregular, o impedimento teria que ser marcado, porque ele obviamente era elemento ativo na jogada. A bola foi lançada para ele e por causa disso houve a intervenção de Van Der Vaart. Nas primeiras repetições, durante o jogo, continuei com a mesma impressão. O pessoal da ESPN também, apesar do bom Paulo Vinícius Coelho erroneamente dizer que Iniesta não participara do lance e que o impedimento só teria que ser marcado se Van Der Vaart tivesse deixado a bola passar. Mas como assim...? Deve ter sido cansaço do PVC... Bem, depois (na verdade, agora há pouco, via YouTube), por outro ângulo, achei que Iniesta estava na mesma linha de Van Der Vaart quando Fernando Torres tocou na bola. Um lance difícil, que seria mais fácil para o auxiliar levantar a bandeira, tanto que Iniesta olha para ele antes de sair comemorando.

No fim, Espanha justa campeã. Impôs seu jogo e nele apostou do primeiro ao último minuto do Mundial. Pena a tal falta de um centroavante. Talvez isso explique os constantes 1 x 0 em jogos nos quais teve bem maior tempo de posse de bola. Também teria sido justo uma eventual conquista da Holanda, que trocou um pouco de seu romantismo (mas seus três atacantes continuam lá...) em busca de um estilo mais pragmático que a levasse ao sonhado primeiro título. Não foi ainda desta vez, mas vencer todos os jogos das Eliminatórias e mais seis na África do Sul é prova de seus méritos. Foram duas grandes campanhas.

Casillas acabou salvando a pátria espanhola, num jogo em que protagonizou uma cena meio estranha, meio patética. Uma devolução de bola (aquele tal fair-play...) feita lá do campo da Holanda quase o fez levar um dos gols mais inusitados da história do futebol, porque o chute fraco, porém, alto, fez a Jobulani quicar à sua frente e quase o encobrir. Com a pontinha da luva, Casillas conseguiu tocar a escanteio. Na cobrança, Van Persie fez questão de rolar bem fraquinho para o goleiro a fim de evitar novo constrangimento... O que importa é que a bola não entrou e Casillas parou Robben três vezes, duas na cara dele. Xavi e Iniesta dominaram o meio-campo e Iniesta ainda acabou coroando sua grande Copa do Mundo com o gol do título. David Villa e Pedro não apareceram muito e, no pouco tempo em que esteve em campo, Jesus Navas foi bem mais produtivo.

Na Holanda, Sneijder nunca se omitiu, mas não conseguiu fazer seu time rodar. Ainda assim, num lance, poderia ter decidido a Copa, se Robben aproveitasse o ótimo lançamento que fez. Robben não estava bem, mas mesmo assim ainda perturbou bastante a zaga espanhola. Pena, para ele, que desperdiçou duas bolas que provavelmente teriam mudado o final da história. O capitão Van Bronckhorst despediu-se do futebol bem na defesa, salvando a pátria ao menos em duas ocasiões. Mas o melhor laranja estava de amarelo, o goleiro Stekelenburg, que corou uma ótimo Mundial com mais uma atuação muito boa.

Xavi, Iniesta, Casillas, Stekelenburg... Foram todos bons no dia da decisão da primeira Copa do Mundo em solo africano. Mas gostei mais da Shakira...

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 64: Holanda 0 x 1 Espanha.

domingo, 11 de julho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Nova geração alemã derrota Celeste Olímpica e termina Mundial em terceiro

Para muitos um verdadeiro enterro dos ossos, a partida que decide o terceiro lugar numa Copa do Mundo costuma ser bem animado. Ontem, em Porto Elisabete, debaixo de chuva e frio e com um gramado bem castigado, não foi diferente. Ali pela altura do final do primeiro tempo, comentei com minha esposa que aquilo era jogo para uns 3 x 2. E acabou não dando outra, com o placar se definindo após duas viradas.

O Uruguai parecia mais motivado, tanto que entrou em campo com sua força máxima, inclusive com Godin de volta à zaga, em lugar de Victorino. Apesar dessa motivação maior, os uruguaios não puderam certo relaxamento natural nessa partida. Após sempre tensas e decepcionantes - para quem perde - semifinais, as equipes acabam afrouxando um pouco em sua disciplina tática. Assim, mesmo mantendo seu esquema, a Celeste Olímpica não estava tão taticamente determinada como de costume.

É certo que o esquema era o mesmo. Seus volantes pegadores estavam lá, mas um pouco mais distantes e menos atentos que de hábito. Cavani jogava bem aberto na esquerda e pouco voltava. Como Forlán, que foi praticamente um ponta-de-lança das antigas, livre para chegar sempre na área (afinal, é atacante de origem, apesar de jogar a Copa travestido de meia ofensivo) e sem maiores obrigações defensivas.

No lado da Alemanha, o abatimento parecia maior. Essa posição entre os quatro finalistas não é novidade, o país é o que mais vezes chegou tão longe na história das Copas. Então, natural um certo desapontamento por nãoe star na grande final, mesmo tendo chegado à África do Sul com uma seleção muito renovada e não cotada para os primeiros lugares. Mas o fato é que a Alemanha chega quase sempre. Em 2006, mesmo em casa, entrara na competição em clima de total descrédito e foi terceira colocada. Em 2002, chegou à Ásia da mesma forma e foi vice-campeã. Agora, com seu time de garotos, tendo mais em vista a Copa de 2014, novo pódio.

O técnico Joachim Low, então, optou por algumas alterações importantes na equipe. Nada que ocorresse se estivesse na decisão. No gol, deu chance ao veterano goleiro Butt. O capitão Lahm, com algumas dores e muito desânimo, deu lugar a Aogo, que entrou na lateral-esquerda, com Boateng passando para o lado oposto. Podolski e Klose, mais ou menos contundidos, cederam as camisas para Cacau e Jansen. Mais importante, Thomas Muller, revelação e um dos melhores jogadores do Mundial, injustamente fora da semifinal devido a um clamoroso erro da arbitragem, estava de volta para a despedida.

A Alemanha adiantou - e afrouxou - a sua marcação. Estava menos concentrada. Como o Uruguai também adotou uma postura mais, digamos, flexível, a perspectiva de muitos gols existia desde que a bola rolou. Foi um jogo bem animado, com a bola sempre rondando uma área ou outra. Antes dos três minutos Fórlan já tivera duas daquelas faltas que ele gosta tanto, mas uma foi interceptada com a mão pela barreira e a outra, na cobrança da nova infração, passou por cima.

Aos 19', a Alemanha abriu o marcador. Completamente livre na intermediária, Schweinsteiger chutou forte, à meia altura. A bola jabulaniou à frente de Muslera, que bateu roupa bem para frente. Muller entrou livre e escorou. O empate uruguaio veio nem outro lance típico da falta de concentração em campo. Schweinsteiger tentou passar por Perez na linha média, foi desarmado e deu um contra-ataque de três contra dois para o adversário. Suárez recebeu e enfiou para Cavani na esquerda. O atacante do Palermo, da Itália, entrou e tocou na saída de Butt. Tudo igual. Dois gols, curiosamente, frutos de falhas de marcação inimagináveis até o meio da semana.

As chances continuavam se alternando, com maior ou menor clareza. A melhor delas foi uruguaia, aos 41', quando Forlán enfiou para Suárez na meia direita, por trás da linha da zaga. Suárez entrou livre na área e chutou cruzado, rasteiro, à direita de Butt.

Na etapa final, o panorama não se alterou. Logo aos 2', o Uruguai teve duas ótimas chances. A primeira com Cavani, livre pela esquerda. Na sequência, com Suárez. Duas ótimas intervenções de Butt. Aos 6', a Celeste marcou o segundo, um belo gol. Arévalo Rios fez uma rara incursão pela direita, tabelou com Suárez e centrou do fundo, à meia altura, para Forlán, que acertou um lindo voleio para baixo, à esquerda de Butt, que nem pôde se mexer.

Aos 9', um lance que não retundou em nada, perdido ali por uma dessas intermediárias da vida. Mas vou contar para você, a matada de bola de Oezil foi qualquer coisa, qualquer nota... Merece, ao menos, um parágrafo à parte.

Voltando ao jogo em si, a Alemanha empatou aos 10'. Boateng, bem mais desenvolto na direita do que na esquerda, centrou para a área, Muslera caçou borboletas e Jansen jogou para a rede. O que já estava aberto, ficou mais. Low substituiu Cacau, que não foi mal, mas jogava fora da área, pelo grandalhão Kiessling, que aos 34' quase completou novo cruzamento de Boateng. A Alemanha jogava mais perto do gol de Muslera, mas os ataques uruguaios sempre tinham espaço para ameaçar Butt. O gol que seria o da vitória acabou saindo para o lado germânico, aos 37'. Oezil cobrou escanteio de pé trocado, a bola pipocou na pequena área e subiu para Khedira colocar de cabeça no ângulo esquerdo.

Ainda houve emoção até o apito final. Aos 42', por exemplo, Boateng puxou um contra-ataque na diagonal e, da esquerda, deixou Kiessling sozinho com Muslera, mas o atacante, da marca do pênalti, chutou por cima. E aos 48', no último lance, Suárez foi derrubado na meia-lua. Forlán cobrou e a Jabulani caprichosamente achou o travessão. Fim da história de Alemanha e Uruguai na Copa do Mundo da África do Sul. Uma bonita história.

No Uruguai, o destaque, como em toda a competição, foi o trio ofensivo, com Calvani, Suárez (sempre arisco) e Forlán, um dos melhores jogadores da competição. Não dá ficar criticando Oscar Tabárez, já que o homem colocou o país novamente na elite do futebol mundial. Mas acho que ele poderia ter entrado mais vezes com Loco Abreu como referência na frente, deixando esses três mais livres ainda para tramar as jogadas ofensivas. O sistema defensivo foi sempre firme, com a feroz proteção de Pérez, Arévalo Rios e Maxi Pereira. Fucile foi um dos bons laterais da Copa. Muslera também se saiu bem, menos ontem, quando se atrapalhou algumas vezes com a Jabulani e a chuva. Foi muito bom ver a mística da Celeste Olímpica de volta aos holofotes de um Mundial.

A Alemanha atirou no futuro, mas já acertou no presente. A base para a Copa no Brasil está formada. Seus quatro homens de meio-campo, Khedira, Schweinsteiger, Muller e Oezil, têm ainda muitos anos de futebol pela frente. Khedira e Schweinsteiger são volantes que sabem jogar - e muito. Muller e Oezil foram duas ótimas revelações. A volta de Muller mostrou como Oezil ficou sobrecarregado na semifinal contra a Espanha. Mertesacker e Friedrich formaram provavelmente a melhor dupla de zaga do Mundial, um Mundial com grandes desempenhos nesse setor. O capitão Lahm é um dos falsos veteranos do time, tem apenas 26 anos e joga bem nas duas laterais. Podolski é outro de quem ouvimos falar há muito tempo, mas que recém completou 25 anos. Vai acabar jogando no meio. Neuer foi um bom goleiro. Para o futuro, a seleção vai precisar de um substituto para Klose, que cumpriu com louvor seu papel defendendo o país em Copas do Mundo. Do time titular, apenas Friedrich, já com 31 anos, também não deve estar no Brasil.

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 63: Uruguai 2 x 3 Alemanha.

sábado, 10 de julho de 2010

MÚSICA ► Da minha série “Não dá para ficar melhor que isso”: Paul Simon e Art Garfunkel no Central ParkPaul Simon e Art Garfunkel no Central Park

No meu panteão musical há espaço para tudo, encabeçado por dezenas de interpretações de Elvis Presley. A única exigência é que, lógico, seja do meu gosto. Mas assim como deve ser impossível escolher um filho predileto dentre vários, não consigo imaginar a possibilidade de definir "o mais isso" ou o "o mais aquilo", não só em relação à música como em relação a tudo que se refira à arte - e as outras coisas também, como a maior vitoria ou maior gol do seu clube de futebol. Arte é expressão de sentimento, logo, sua interpretação é subjetiva, totalmente pessoal e intransferível. Cada um sente de forma particular e ninguém tem como dizer o que o outro deve sentir como "bom" ou "ruim".

Assim, o meu pódio musical é recheado de momentos de diferentes vertentes. Um desses momentos imbatíveis, que não imagino como (eu) achar nada que supere, é o concerto no Central Park, em Nova York, realizado por Paul Simon e Art Garfunkel em 19 de setembro de 1981. Eles podem ter muita companhia ao lado, mas acima, não creio. Se houver, muito poucos.


A dupla já estava separada há mais de 10 anos quando realizou o show. Não brigaram, apenas seguiram caminhos diferentes na música. Mas para quem vê essa apresentação não fica a impressão de que eles estavam há uma década sem cantar juntos. O evento reuniu apenas 500 mil pessoas e me lembrei dele ao arrumar meus DVDs neste fim de semana. Ou melhor: não me lembrei, reencontrei.


Contextualizando, vi esse show pela primeira vez numa exibição na Bandeirantes, creio que ainda no mesmo ano. Naquele tempo, acredite quem não é da época, havia vida sem computadores e internet. As coisas não eram tão fáceis como hoje, tão de mão beijada. Porém, com certeza, eram mais românticas, mais valorizadas. Meu amigo Fernando Zimmer e eu queríamos gravar o show, só que também não havia videocassetes. Ou até já havia, sei lá, mas nós não tínhamos. O jeito foi fechar a porta do quarto, pegar o velho (já na época) gravador de fita cassete e colocar perto da saída de som da TV. E ficar colado na porta para não deixar ninguém entrar e estragar a gravação... Foram bons tempos, acredite. Ou, como diria Kevin Arnold, foram anos incríveis.


Hoje é mole. É só acessar o YouTube e... pronto! Assim pude sonorizar o post com três grandes momentos daquela noite mágica: o medley "Kodachrome"/"Maybellene", "The Boxer" e "The Sound of Silence". Momentos nota 10 da minha história, da minha memória.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

BRASIL ► Eleições: o vale tudo de quem se habituou ao poder e o quer de volta

A Copa do Mundo ainda está aí, as vuvuzelas ainda ecoam, mas não é por isso que não devemos estar atentos ao que acontece à nossa volta. A propósito das próximas eleições, vale registrar como certas coisas não mudam no país. É o que observamos - sempre.

Abaixo vou resgatar um texto de 2006 publicado no site da revista Carta Maior. Por quê? Porque, como disse acima, as coisas não mudam, ué.

Porque o apresentador do programa "Roda Vida" da paulista TV Cultura teria "rodado" porque teria feito pergunta a José Serra sobre os pedágios paulistas.

Porque o diretor da TV Cultura só durou uma semana no cargo, supostamente por ter pautado uma matéria sobre os mesmos pedágios.

Porque eu estava vendo a Globo News e após uma matéria de mais de dois minutos sobre José Serra (com sonoras e entrevista) e outra de tal tamanho sobre Marina Silva (com sonoras e entrevista), a apresentadora leu no seu script: "A candidata do PT, Dilma Rousseff, gravou entrevista em uma emissora de televisão." E mais não disse. É preciso ser muito mau profissional para fazer jornalismo assim, não é mesmo? Ou muito bom capacho do patrão... Em outra palavra: pelego.

O texto reproduzido retrata bem essas práticas "jornalísticas" adotadas pela chamada "grande mídia" do país, especialmente em época de eleições. E isso já é História.

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COMPADRISMO
Por: Bia Barbosa/Carta Maior

Segundo relatos de jornalistas das principais redações do país, há 'ordem velada' para se poupar candidaturas tucanas. Equipes são destacadas para investigar suposta venda do dossiê, enquanto pautas sobre relação de tucanos com sanguessugas são vetadas.

Um dos últimos boletins eletrônicos de campanha do presidente Lula afirma que o "ódio" de alguns meios de comunicação pela esquerda tem "motivos simples, embora inconfessáveis". "Acostumados ao controle que detinham sobre a opinião pública desde a redemocratização do país, alguns meios de comunicação não se conformam com a situação atual, em que a maior parte do povo vota em Lula, contra a opinião da maior parte da mídia, que é alckmista. O que mais incomoda estes setores da direita e dos meios de comunicação são as mudanças na estrutura social brasileira", diz o texto.

Nas últimas semanas, depois da eclosão da crise do dossiê contra Serra, o presidente tem feito duras críticas ao comportamento da imprensa. Em discurso feito em Porto Alegre nesta segunda-feira (25), Lula disse que a cada erro que companheiros do partido cometem os jornais reagem como se "tivesse caído uma bomba atômica", repercutem "meses e meses". Já o erro dos adversários sai "no dia seguinte das páginas dos jornais".

Estaria Lula exagerando nessa avaliação? Na última terça-feira (26), o jornal O Globo publicou uma matéria intitulada "Ataque de Lula à imprensa provoca reações", que afirma que, na opinião de jornalistas e políticos ouvidos pelo jornal, o "episódio da compra do dossiê contra o candidato do PSDB ao governo do Estado de São Paulo, José Serra, foi criado por integrantes do partido de Lula, não por jornalistas".

A reportagem ouve, no entanto, somente fontes que confirmam a tese de que a cobertura estaria equilibrada. Na reportagem, o jornalista Alberto Dines, do "Observatório da Imprensa", afirma que o discurso de Lula é "esquizofrênico" e que a mídia "tem se comportado muito bem". A outra fonte ouvida é o diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo, Sandro Vaia, que diz que a imprensa está cumprindo sua obrigação ao cobrir e dar espaço em suas edições ao episódio, sem "partidarismos". O ombudsman da Folha de S.Paulo aparece dizendo que a imprensa tem agido corretamente ao dar visibilidade ao caso.

Ninguém discorda disso. No entanto, onde estaria o acompanhamento da imprensa do outro lado desta história? Por que nossas equipes de jornalismo investigativo não foram atrás, como a mesma profundidade, das informações que o dossiê trazia? Como foram determinadas as linhas de coberturas dos jornais, revistas e da televisão acerca do caso?

No dia 18 de setembro, poucos dias depois da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha em São Paulo, a análise interna de Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S.Paulo, dizia que parecia "correta até aqui a cobertura jornalística da Folha do dossiê contra Serra que os Vedoin tentavam vender para um membro do PT e uma revista. Desde sábado o jornal está bem informado, deu destaque necessário nas Primeiras Páginas, tem dado espaço para as várias acusações e para as várias defesas e explicações e tem tratado as acusações ainda não confirmadas com cautela". Dois dias depois, no entanto, destacava que a "Folha relegou a uma nota pequena e sem destaque, no final da edição, à continuação da investigação que iniciou no interior de São Paulo seguindo as pistas reveladas pela entrevista dos Vedoin à IstoÉ e que relacionam os ex-ministros José Serra e Barjas Negri à máfia dos sanguessugas. Aliás, o título da nota - "Ex-prefeito admite ter sido pago por Abel", página A14 - é impossível de ser decifrado. Quem é Abel?".

Já no dia 21, Beraba afirma que "sumiu, na Edição SP, a única notícia que dava seqüência às investigações que a Folha vem fazendo do envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas. Na Edição Nacional, a nota "Barjas Negri é investigado em Piracicaba" está na página A7, mas depois caiu". No dia seguinte, o ombudsman aponta uma mudança importante na manchete da primeira página:

"A Edição Nacional circulou com a declaração do presidente à TV Globo: "Lula põe 'a mão no fogo' por Mercadante". Mais tarde, com o depoimento de um dos Vedoin à Polícia Federal, o título mudou: 'Vedoin isenta Serra do caso sanguessuga'. Embora as palavras dos Vedoin já não mereçam grande credibilidade, tantos depoimentos e entrevistas contraditórios já deram; o jornal, ao optar por mais esta declaração, deveria ter colocado na formulação da manchete ou da linha de apoio a informação completa: Vedoin disse que não sabia de indícios contra Serra, mas voltou a acusar Abel Pereira de receber propinas na gestão do também tucano Barjas Negri, sucessor de Serra. O título interno contempla as duas informações e mostra que a Primeira Página teria condições de ter feito formulação parecida - 'Vedoin isenta Serra, mas acusa sucessor'. Como está, a manchete da Folha faz parecer que a única preocupação do jornal é isentar o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, e não a apuração do esquema dos sanguessugas que teria se apropriado do Ministério da Saúde nos governos FHC e Lula".

As críticas à cobertura do jornal continuam até esta quarta-feira (27), quando Beraba afirma que desapareceu, na Edição SP da Folha, a meia página de noticiário sobre o suposto envolvimento do ex-ministro Barjas Negri (PSDB) no escândalo dos sanguessugas publicada na Edição Nacional. "Os títulos das reportagens da Edição Nacional que caíram: 'Presidente de CPI vê prova contra tucano', 'Empresário daria à Justiça papéis contra tucano' e 'Abel agora diz que foi duas vezes à Saúde' (página A7). Para abrigar o noticiário dos debates que terminaram tarde, a Edição SP teve de excluir algumas reportagens publicadas da Edição Nacional. Precisavam ser exatamente as referentes ao noticiário sobre o suposto envolvimento dos tucanos?", questiona o ombudsman.

DENTRO DAS REDAÇÕES - As decisões acerca da cobertura da Folha de S. Paulo, que são apontadas, mas não explicadas, pela crítica interna da redação, não são exclusivas do jornal cujo presidente – Luis Frias – é amigo pessoal de José Serra. Em veículos do mesmo grupo, vale a regra do faz de conta: faz de conta que Abel Pereira – o empresário ligado ao PSDB que também estaria envolvido em negociações do dossiê – não existe.

"Como Abel [Pereira] não está preso, não está indiciado, então faz de conta que ele não existe. Mas ele também estava negociando o dossiê com Vedoin; havia um leilão de informações, independente do conteúdo ser verdadeiro ou falso. Era preciso investigar por que ele estava lá. Mas o que se faz é repercutir o que sai no jornal impresso do dia. Então, se a Folha não dá, aqui também não sai nada. Parece que, por alguma razão, as pessoas não conseguem entender que há um outro lado da história", disse à Carta Maior um jornalista que trabalha numa empresa do Grupo Folha.

"Aqui não há uma pressão para que o Serra apareça bem, mas todo mundo sabe que a ordem de cima é pra poupá-lo. Se vier algo concreto contra ele, vamos dar. Mas se for uma situação nebulosa – como acontece com informações sobre outros políticos que acabam publicadas – não damos", explica outro profissional que trabalha na empresa.

Em outro grande jornal de São Paulo, cuja linha editorial é claramente favorável aos tucanos, a cobertura da crise recente foi "como o de sempre". "Ataquem os inimigos e finjam-se de mortos com os amigos", relatou um repórter. "O foco da pauta desses dias foi todo no bando que comprou o dossiê, mas ninguém se preocupou em ir atrás do dossiê. A pauta do dia já vem pronta, na verdade: o repórter chega e já dizem pra ele pra onde ele vai correr. Aí ele vai pra rua, apura o que pediram pra apurar e acabou", explica outro jornalista do mesmo jornal.

Segundo os repórteres de uma das revistas semanais de maior circulação, há uma clara diferença de comportamento entre o período "padrão" e os períodos de "crise". As informações chegam, são apresentadas pela equipe de reportagem, mas não ganham continuidade na pauta.

"Não há uma ordem explícita. Mas quando chega a hora do fechamento, é só olhar para o espelho. Há seis páginas para falar da crise que envolve o PT e duas colunas pra dizer que há alguma suspeita sobre o PSDB", conta um jornalista. "Há pequenos boicotes internos e você nunca sabe se isso é voluntário", diz outro. "Você até tenta furar o bloqueio. Apura, mostra, mas a pauta não anda. É inexplicável", completa.

Na época da crise do mensalão, qualquer informação contra o governo era usada pela revista para confirmar a tese de autoritarismo e aparelhamento do Estado. Quando alguma coisa vazava "do outro lado" – por exemplo, quando surgiu a relação entre Marcos Valério e o tucano Eduardo Azeredo –, e não havia como sonegar a informação do leitor, "a matéria se transformava numa análise sociológica de como a política é suja no Brasil. Ou seja, uma matéria é a sujeira de um partido. A outra, é a sujeira da política no geral. Aí essas informações caem na vala comum", explica um dos jornalistas do veículo.

Pelos relatos – e pelo fato de todos os jornalistas temerem falar abertamente sobre a cobertura política que seus veículos realizam –, fica nítido que há uma pressão clara dos donos dos meios de comunicação não apenas para que a cobertura siga determinada orientação, mas também para que não se discuta isso publicamente.

NA TELEVISÃO - Na maior emissora de TV do país, o clima na redação não é diferente. Na semana passada, a Rede Globo não falou, em nenhum momento, que 70% das ambulâncias da Planam foram liberadas durante a gestão do PSDB, quando Serra estava à frente do Ministério da Saúde. A emissora também não enviou uma equipe até Piracicaba, para investigar Abel Pereira e as suspeitas que pesam sobre o ex-secretário-executivo de José Serra e atual prefeito da cidade, Barjas Negri. Durante a crise do mensalão, a emissora colocou repórteres investigando a fundo as denúncias contra Antônio Palloci em Ribeirão Preto. Mas Piracicaba parece que foi "esquecida" desta vez.

Esta semana, a emissora entrou na cobertura do "caso Abel" de forma tímida, mas com espaço para manipulações sutis. Na última terça-feira, em entrada ao vivo no jornal Hoje, o repórter da TV Centro-América, afiliada à Globo em Mato Grosso, disse que Abel Pereira esteve em Cuiabá na véspera da entrevista para a revista IstoÉ, e que Pereira é ligado a Barjas Negri, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso (Negri assumiu o ministério quando da saída de Serra). À noite, o texto da edição do Jornal Nacional descrevia Negri como "ex-ministro do governo anterior". Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Freud Godoy são descritos dezenas de vezes ao dia como petistas. Mas Abel Pereira não pode ser tratado como lobista de um ex-ministro e prefeito tucano.

Com didatismo, a emissora relaciona o presidente Lula e os corruptos de seu governo e do partido envolvidos com a história do dossiê. O mesmo não acontece com Serra, Negri, Pereira, Vedoin e os deputados mensaleiros do Mato Grosso, que na época eram do PSDB. A pergunta que o telespectador se faz é: "Lula não sabia de nada?". Mas ao eleitor não é dada a chance de se perguntar: "E Serra, não sabia de Abel? Se Barjas Negri era seu braço direito, como Serra não sabia dos sanguessugas atuando ali tão perto?"

O desequilíbrio da cobertura da Globo contaminou também o acompanhamento dos candidatos à presidência. Desde o início da campanha, a recomendação dos editores era a de que as entrevistas dos candidatos nas ruas deveriam ser sempre propositivas. Nada de críticas ou provocações aos adversários. No caso do PCC, por exemplo, o candidato petista ao governo de São Paulo não podia aparecer cobrando do governo do PSDB/PFL por que a polícia paulista havia perdido o controle do crime organizado. No entanto, diariamente se vê no Jornal Nacional as críticas dos demais candidatos a Lula.

Na quarta-feira (20) da última semana, Geraldo Alckmin foi agraciado com 1´20" no Jornal Nacional. Os outros candidatos tiveram 30 segundos. A justificativa dos editores cariocas foi a de que tratava-se do lançamento do programa de governo do PSDB, daí o tempo maior. No entanto, as declarações de Alckmin neste dia não foram sobre seu programa, mas atacando a corrupção do governo Lula. No dia do lançamento do programa de governo de Lula, na última semana de agosto, o candidato recebeu 1´30" – exatamente o mesmo tempo dado ao PSDB, incluindo espaço para Fernando Henrique criticar o presidente em seu discurso no Jockey Clube.

"Na redação, as pessoas estão com o estômago revirado. Ninguém duvida da necessidade de mostrar essa quadrilha de pseudo-sindicalistas que tentaram comprar o tal dossiê. Mas e o outro lado? E os sanguessugas tucanos? O que vemos, é um massacre ininterrupto no ar", contou à Carta Maior um jornalista da TV.

CREDIBILIDADE EM JOGO - Em seu site pessoal, o repórter da Globo Luiz Carlos Azenha avalia que o que acontece hoje é um "espetáculo de hidrofobia que, lamentavelmente, não se fez quando a Vale do Rio Doce foi privatizada ou quando surgiram denúncias de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comprou votos no Congresso para garantir seu direito à reeleição". "Embora isso não justifique o banditismo de integrantes do governo Lula, está claro que sanguessugas, vampiros e mensaleiros começaram a agir no governo FHC. O que fez a Polícia Federal, então? E Aristides Junqueira, o engavetador-geral da República?", questiona Azenha.

O repórter diz que se sente à vontade para escrever sobre o atual governo porque investigou e denunciou alguns de seus integrantes. "Mas o trabalho de um jornalista deve ser guiado pela imparcialidade. A pior coisa que um repórter pode fazer é trombar com os fatos", afirma.

Nos bastidores do jornalismo, não são poucas as histórias do poder de José Serra junto aos donos dos meios de comunicação. Certa vez, ele teria ligado diretamente para Boris Casoy e pedido a cabeça de um repórter que não havia feito a "pergunta combinada" a ele numa entrevista de rua. Também não são poucas as inclinações das chefias às políticas conservadoras.

Na avaliação de Luís Nassif, em post publicado esta semana em seu blog, é evidente que há uma competição entre praticamente todos os grandes veículos da mídia para saber quem derruba Lula primeiro. "Está-se tentando repetir a história, quando o momento seria propício para o veículo que se colocasse acima das paixões, recuperasse a técnica jornalística e se comportasse como magistrado, duro, inflexível, porém justo, colocando a preocupação com o país acima das conveniências de momento", escreveu o jornalista.

Para Nassif, a virulência do editorial de domingo (24) da Folha de S. Paulo adotou um estilo inspirado em Carlos Lacerda. Lacerdista ou não, é fato que há uma guerra declarada da mídia ao governo e uma onda – não necessariamente articulada, porque nem precisa ser – para poupar tucanos e fingir que nada se passa do lado oposto do muro. Pesquisas quantitativas e qualitativas – como as divulgadas pelo Observatório Brasileiro de Mídia – mostram como isso se reflete no tempo e no espaço de textos negativos ou positivos dados pela imprensa a cada um dos candidatos. Dentro das redações, os movimentos são sutis. Por enquanto, as pesquisas eleitorais mostram que, apesar da artilharia, o efeito surtido questiona a eficiência da estratégia. Resta saber se, depois das eleições, o caminho escolhido pela imprensa brasileira não afetará sua credibilidade e sua capacidade de continuar influenciando a opinião pública.

Publicada em: 29/09/2006 às 22:47 Seção: Todas as Notícias

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Enfim, é preciso estar atento e forte. De repente, para aquela organização que possui "o maior jornal do país" e "a maior emissora de TV da América Latina", a apuração de votos da eleição para o governo do Estado do Rio de Janeiro de 1982 ainda não acabou e sempre há uma chance de Moreira Franco chegar na frente de Leonel Brizola - na contagem deles.

BRASIL ► Militar novamente condenado por crime contra a humanidade… na Argentina

Deu na internet.
Reprodução do site Vermelho :

AMÉRICA LATINA
9 DE JULHO DE 2010 - 10H22
Argentina: Ex-militares vão cumprir prisão perpétua em cela comum

O ex-general argentino Luciano Benjamín Menéndez foi condenado nesta quinta-feira (8) a prisão perpétua por crimes de violação de direitos humanos cometidos durante a última ditadura militar (1976-1983) da Argentina. Esta é a quarta pena de Menéndez, de 85 anos, que deve cumprir em penitenciária comum. Outro repressor sentenciado no mesmo dia foi o ex-chefe de polícia Roberto Albornoz, que teve a prisão domiciliar revogada e foi condenado à mesma pena.

Os dois são considerados culpados pela morte de cerca de 20 pessoas, torturas e a privação ilegal da liberdade, além de violações de domicílios. O processo incluía também o ex-governador da província de Tucumán Antonio Bussi, que foi excluído do julgamento por razões de saúde, além dos ex-militares e Mario Zimmerman e Alberto Cattáneo, que morreram quando as audiências, iniciadas em 16 de fevereiro, estavam em andamento.

Além do processo pelos crimes cometidos em Tucumán, Menéndez, o ex-presidente Jorge Rafael Videla e outros 29 militares, estão sendo julgados em Córdoba pelo fuzilamento, em 1976, de 31 presos em uma prisão clandestina.

No total, 779 pessoas, entre militares e civis, acusadas por crimes contra a humanidade estão nas mãos da Justiça atualmente, segundo dados divulgados ontem por uma entidade ligada à Procuradoria-Geral da Nação (ministério público argentino).

Destas, 123 já foram julgadas, das quais 110 foram condenadas e 13 absolvidas. Ainda de acordo com a procuradoria, são 656 os processados, dos quais 325 estão próximos de ser julgados; e 464 do total estão presos , 55% em presídios locais, 39% sob prisão domiciliar, 4% em unidades das forças de segurança e o restante em hospitais ou no exterior.

Idas e vindas

Os julgamentos relacionados à ditadura foram cancelados em 1987 pelas leis de Ponto Final e Obediência Devida durante o governo do presidente Raúl Alfonsín. Em 2005, no mandato do então presidente Néstor Kirchner (2003-2007), as medidas de anistia foram anuladas, permitindo a reabertura dos processos.

O anúncio foi feito no mesmo dia em que, no Chile, as penas contra chefes da polícia secreta de Augusto Pinochet, a Dina, foram atenuadas. Manuel Contreras, entre outros acusados, foi condenado anteriormente à prisão perpétua pelos assassinatos do general Carlos Prats e de sua esposa, Sofía. Hoje, a Suprema Corte do país diminuiu essa condenação a 17 anos de prisão.

Fonte: Opera Mundi
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Enquanto isso, por aqui... tudo como dantes no quartel de Abrantes.