sexta-feira, 16 de abril de 2010

FUTEBOL ► Como na vida, a lei no futebol é mais para alguns do que para outros

Todo mundo sabe que no futebol quem faz gol é advertido com cartão amarelo se comemorar tirando a camisa ou mostrando por baixo do uniforme mensagens de qualquer teor. Mas colocar boné pode? Não, não pode. Cadê o cartão amarelo para toda essa gente do Santos?

Aliás, gente que se recusa a participar de evento beneficente em casa de caridade, mas que dá uma força a um artista de atitudes controversas e com letras que... hum... acho que não seriam cantadas em nenhuma igreja de qualquer religião. Tudo numa boa, mano.

Enquanto isso, o meia improvisado de lateral-esquerdo Marquinho, do Fluminense, recebeu um cartão amarelo durante a comemoração do gol marcado por Fred que deu a vitória ao Tricolor contra a Portuguesa de Desportos por 1 x 0, quarta-feira passada no Canindé, pela Copa do Brasil. Nas TVs e nos jornais, ninguém entendeu direito. Dizem que foi por ter chutado a bola para longe após o gol. É algo que ocorre frequentemente e que não me lembro de ver juiz considerando indisciplina a ponto de amarelar alguém, inclusive esse próprio péssimo juiz, Heber Roberto Lopes, cujas atuações parecem fazer crer que traz muito “azar” às equipes cariocas.

Foi um cartão que quase custa caro ao Flu, já que o jogador acabou expulso pouco depois ao receber um justo segundo cartão amarelo depois de uma desastrada trombada em um adversário. Vejam o lance e julguem por si mesmos se o árbitro foi rigoroso ou não. Quantas vezes já não vimos – e vemos – lances assim?


Eu só gostaria que ele fizesse isso SEMPRE. Vamos ficar de olho?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

FÓRMULA INDY ► Não, vi mas vale o registro: Hélio Castroneves vence no Alabama 3ª prova de Fórmula Indy da temporada


Perdi no fim de semana o GP de Alabama de Fórmula Indy. Menos mal que Hélio Castroneves venceu. Na foto, Helinho comemora após o triunfo. Ia postar a foto da bandeirada, mas vi que meu amigo Márcio Arruda já tinha feito isso. No blog dele, aliás, mais sobre a corrida: http://jblog.com.br/formula1.php?itemid=20566.

Pelo visto, o piloto brasileiro deu uma aula de estratégia, o que o redime perante si mesmo (pode isso?), já que após a corrida em São Paulo, Helinho, bem-humorado, lamentou que não fosse estrategista, apenas piloto, por ter optado por ficar na pista com pneus de chuva quando o asfalto já ameaçava secar.

Acontece com as melhores famílias - e com  os maiores campeões também.

terça-feira, 13 de abril de 2010

RIO DE JANEIRO ► Para prevenir, é preciso reconhecer: o Rio de Janeiro é uma área de grande risco geológico

Nós crescemos ouvindo aquela história de que no mundo todo acontece tudo de ruim em matéria de intempéries climáticas: terremotos, maremotos, furacões, tornados, tufões, tsunamis, nevascas, erupções vulcânicas... Mas nada disso acontecia no Brasil. Ainda engulíamos a piadinha que dizia que não precisaria Deus prover nossa terra de catástrofes naturais, pois bastaria o povinho que ele colocaria aqui. E crescemos acreditando nisso, mesmo com a (História assim, com H maiúsculo) nos provando que a realidade não é bem essa. A recente tragédia deste abril de 2010 no Rio de Janeiro está aí mesmo para nos lembrar disso.


Fico aqui pensando: como pode uma mentira - ou  uma inverdade, vá lá - tão grande ser disseminada por tanto tempo pelos formadores de opinião? Só para ficar em um exemplo óbvio, há mais de século o Nordeste sofre com a seca, uma imensa tragédia para grande parte de nossa população. Será que nunca repararam nisso? Ou a parte da população afetada não conta para os que têm o poder de contar a história (esta aqui, com H minúsculo, pois é uma história muito mal contada...)?


Como uma espécie de castigo pela falta de humildade em reconhecer suas mazelas, os Céus parecem ter se revoltado e começado a despejar recentemente um pouco de tudo sobre o território brasileiro em curtos espaços de tempo. Enchentes, secas, ciclones e até tornados e terremotos têm ocorrido por aqui, algo nunca imaginado - ou comentado. Será que já ocorriam, mas não havia o interesse de divulgá-los? Hoje, como sabemos, é praticamente impossível manter uma verdade oculta. mas em tempos passados...


Só aqui no Rio de Janeiro, a História (a de verdade) registra dezenas de eventos recorrentes de chuvas torrenciais que castigam a terra e fazem o povo sofrer. Sempre foi assim. De tempos em tempos a cidade sofre com isso. É como uma região sujeita a abalos sísmicos: você sabe que em meio a vários choques fracos, haverá periodicamente um terremoto de grandes proporções.


Se a nossa imprensa sempre tão oportunista, sensacionalista e interesseira honrasse um  tal de compromisso social que deveria ser inerente aos profissionais do meio, talvez não fôssemos sempre pegos desprevenidos  e a cidade, cobrada, certamente poderia estar melhor preparada para enfrentar essas mazelas.

Não que estar preparada signifique não haver danos. A Califórnia está "superpreparando-se" para o chamado Big One, um tremendo terremoto próximo a inimagináveis 10 pontos na escala Richter que sabe-se que mais cedo ou mais tarde - acredita-se até que mais cedo - a atingirá. Mesmo com toda a expectativa e preparação para o choque, ainda assim a região será destruída. O Japão é todo estruturado para suportar tremores de terras. De tão preparados, até pouco de suas estruturas têm sofrido, muito menos pessoas. Mas, claro, até um certo nível de força do abalo. Não há como deter a força da natureza. Mas o que a prevenção humana pode fazer de suma importância é ajudar a preservar vidas, minimizar o número de vítimas.


Aqui no Rio de Janeiro é assim. De tempos em tempos uma grande catástrofe climática abala a cidade. Mas aqueles que podem tomar alguma providência não parecem preocupados com isso. O importante é divulgar que aqui é a Cidade Maravilhosa, e não preocupar-se com planos de emergência para quando ocorrerem - e vão continuar ocorrendo - essas grandes e impiedosas pancadas de chuva. Elas sempre caem. Nas décadas de 1840, 1880, 1940, 1960, 1990, hoje... Caem e matam como se fossem algo surpreendente e a culpa apenas das autoridades de então.


Mais que culpa das autoridades ao longo de todas essas décadas, a culpa é de quem nunca cobrou dessas autoridades medidas cabíveis para minimizar o impacto dessas chuvas inevitáveis. Hoje, abrimos os jornais e ligamos a TV e encontramos uma série de especialistas em clima, geologia, encostas... Cada um com uma solução mais simples que a outra. Ora, onde estavam todos ANTES? Esses também são culpados, pois se têm as soluções, por que não se fizeram ouvir? Não faltam meios para isso. Pecam pela omissão. E o que dizer da cobertura midiática? Como sempre, preocupados em vender - e sensacionalismo vende muito -, os órgãos de imprensa parecem promotores do Apocalipse cobrando mundos e fundos das autoridades. Mas... espera aí: não seria melhor para o povo se esses órgãos de imprensa, em vez de esperar a porteira ser arrombada, ajudassem a colocar um baita cadeado antes? Cobrassem antes? Alguém já viu alguma campanha de imprensa pela prevenção contra chuvas torrenciais? Por que eles também só se preocupam com o assunto após as coisas acontecerem?


Todos somos culpados, começando de cima, pelas autoridades, por motivos óbvios, pois deveriam planejar antes das coisas acontecerem, até nós, povo sujo e mal educado, que insistimos em jogar todo tipo de lixo nas ruas, canais e rios da cidade, desmatar encostas, construir em terrenos íngremes ou inseguros, para depois sofrermos com as consequências desses atos. Mas a culpa também passa - e muito - por essa imprensa hipócrita e oportunista, que sempre tem solução para tudo em todas as áreas... mas só depois que as coisas acontecem.

Entrevistando um geólogo, um repórter de TV (desculpem, não lembro quem nem que canal) resumiu toda a explicação técnica para o caos: "Então o Rio de Janeiro não poderia ser fundado onde foi?" Pois é, mas isso não vai mudar. A cidade não vai sair daqui. Cabe às autoridades e aos cidadãos cariocas cuidarem melhor dela.


Este post é ilustrado por capas e páginas internas do extinto jornal Ultima Hora após as grandes e terríveis chuvas de janeiro de 1966 e 1967, disponíveis no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Apenas para lembrar que as consequências estão aí, hoje, como sempre estiveram, mas as causas só são lembradas após a tragédia consumada.

sábado, 10 de abril de 2010

FUTEBOL ► Gol irregular decide clássico no Rio e repórter pergunta: “Atrapalhou um pouquinho?”

O Campeonato Carioca anda às raias da patetice. Já até postei algo aqui. E uma das partes mais patetas trata-se, claro, do nível da arbitragem.

Curiosamente, antes do jogo, comentei com meu irmão que uma das coisas que me surpreendem positivamente nas divisões inferiores do futebol paulista (é, assisto com alguma frequência às transmissões das séries A1, A2, A3, B1 etc. da Rede Vida, mas isso é outra história) são as boas arbitragens. Mas fiz uma ressalva, dizendo que é uma pena que quando sobem para a divisão principal, esses árbitros coloquem o galho dentro, se preocupem com nomes e camisas e acabem se enredando em um mar de más atuações.

Aqui no Rio nem vale a pena entrar em detalhes, o histórico é longo e as listas de casos e “causos” (aqueles que se ouve, se sabe, mas não se pode provar) só aumentam.

Mas pau a pau com a arbitragem anda o nível das transmissões televisivas. A pérola que – com a cabeça inchada pela derrota – me motivou a postar veio ainda a pouco, após o Botafogo vencer o meu Fluminense por 3 x 2 e garantir vaga na final da Taça Rio com um gol absolutamente irregular, um lance de almanaque que até criancinhas da categoria fraldinha apontam o dedo: “Não vale!”

Não foi um lance difícil, polêmico, muito pelo contrário. Escanteio, bola parada, situação clássica, com a zaga rebatendo para frente da área e um atacante concluindo. Entre a linha de zaga tricolor e seu goleiro, um jogador alvinegro dois metros adiante, completamente impedido, bem à frente do goleiro, abre as pernas, deixa a bola passar e... bola no fundo das redes. Um lance tão claro quanto o céu azul do passado verão carioca de 50 graus. Não cabe interpretação, subjetividade, nada. Basta apenas enxergar direito e ter a intenção de apitar direito para impugnar o lance.

Bem, mas isso para nós que temos a benção de Deus de enxergar razoavelmente bem, o que não deve ser o caso da bandeirinha que acompanhava o lance e do “apitador” do jogo em questão. Porque não vou falar em roubo, má intenção, essas coisas que podem ser subjetivas, passionais ou não comprováveis. Só posso supor que esses dois colaboradores (é, incrivelmente o superprofissional futebol dos dias de hoje ainda é arbitrado por amadores) não enxerguem direito e, assim, deixem claro que não podem apitar uma partida de futebol profissional que cobra ingressos – e caros – na bilheteria.

Pelo menos, ficamos tranquilos, sabendo que esses dois não deverão seguir “colaborando” em partidas de futebol profissional, não é mesmo? Ou não?

Mas vai daí que, após o jogo, um profissional de imprensa do canal que cobra muito caro, também, pelo pay-per-view pergunta a um jogador do Fluminense algo assim: “Vocês reclamaram muito do lance do terceiro do gol do Botafogo, que teria sido irregular. Isso atrapalhou um pouquinho?”

Não, só decidiu a partida, a semifinal, a vaga na decisão da Taça Rio e eliminou o Fluminense do Campeonato Carioca da 2010. Fora isso, não atrapalhou nada, nada.

E depois com que cara vai se reclamar da falta de obrigatoriedade de diploma para exercer o jornalismo?

CARNAVAL ► Distribuição de renda melhora no país, mas não entre as escolas de samba


(Publicado em OBatuque.com em 8 de abril de 2010)

Mostram as estatísticas que a distribuição de renda no país apresenta gradual melhoria ao longo do atual governo. Ainda longe da ideal, mas uma situação bem mais animadora do que a que se apresentava, digamos, nos 500 anos antes.

Mas não vou entrar em detalhes econômicos. Ao menos, não diretamente relacionados à economia nacional. O lance aqui é comentar, tristemente, que qualquer melhora a esse nível verificada no país passa longe, muito longe, da realidade do mundo das escolas de samba.

Enquanto no país até uma nova classe consumidora surgiu, o que significa mais gente com poder de compra, pessoas que antes não faziam parte do mercado consumidor e agora fazem, entre as escolas de samba a riqueza segue concentrada cada vez mais nos cofres de poucas agremiações. E isso acontece graças ao injusto e discriminatório regulamento da Liesa.

 Já comentei aqui, muita gente reclama ali, mas a Liesa não está nem aí. A organização responsável pelo milionário desfile principal das escolas de samba insiste em rebaixar e ascender apenas uma agremiação a cada ano. É um horrível retrato da má concentração de renda no país, uma síntese dessa nossa triste sina histórica.

As escolas do grupo Especial recebem acima de 4 milhões de reais de diversas fontes para colocar seu carnaval na rua. Para as demais, trocados. Um trocado melhor, mas muito inferior, para o desfile do Acesso, organizado pela Lesga, com todo o jeitão da Liesa. E esmola para as demais escolas, as escolas da AESCRJ.

E lá da Liesa já ouvimos argumentos por muito tempo  – até hoje, na verdade – usados pela "elite" do país para manter os menos favorecidos fora disso, fora daquilo, à margem da sociedade, tipo: “Ah, mas as escolas dos grupos de acesso não têm estrutura para um desfile do porte do grupo Especial, por isso não podemos subir muitas escolas.”

Quanta discriminação, não é mesmo? Porque as escolas dos grupos de acesso só não têm a estrutura das escolas do grupo Especial porque as autoridades, da cidade e do carnaval, não deixam. Simples assim.

Se caíssem e subissem quatro escolas do grupo Especial, um número maior de escolas teria direito a receber a fortuna que as ricas coirmãs de cima recebem. E mesmo que caíssem de novo, já teriam obtido condições de dar uma melhorada na quadra, ajeitar um barracão para quando não estiver na Cidade do Samba (a “corte do reino”), de repente aprontar um estacionamento, agitar um trabalho social...

A partir daí, dessa "democracia" no grupo Especial, uma mais justa distribuição de verbas para os grupos de baixo, acabando com a demagogia dos governos municipal e estadual de dar mais para as escolas que precisam menos. 

Mas a intenção parece ser concentrar a renda sempre nas mãos dos mesmos. E daí começa-se a ouvir pelas esquinas que Beija-Flor não cai, Mangueira não cai, Unidos da Tijuca não cai, Salgueiro não cai... Bem, depois que a Portela não caiu naquele triste ano em que praticamente não desfilou, não restou muito de credibilidade aos resultados dos desfiles da Liesa. De todo modo, um  quadro que só muda quando a escola perde força na Liga, como aparentemente ocorreu com a Viradouro, "incaível" até pouco tempo atrás.

Enfim, há sete, oito escolas, que todo mundo comenta que “não cai”. Assim, essas escolas “incaíveis” ficam cada vez mais ricas e distanciam-se cada vez mais em questão de estrutura das demais escolas, pobres e discriminadas mortais.

A Cidade do Samba parece ter sido criada para essa elite, uma corte onde a plebe não tem direito de entrar. E a plebe, nesta história, é todo o conjunto de escolas de samba que não fazem parte do desfile principal. 

Todo mundo fatura com as escolas de samba e TODAS as escolas de samba fazem jus ao seu quinhão, pois compõem uma única célula cultural. Ou alguém acha que com o fim dos desfiles da AESCRJ, por exemplo, as escolas de samba "principais" resistiriam por muito tempo? 

Até porque escola de samba, mesmo, temos visto mais nos desfiles da AESCRJ, já que o milionário grupo principal hoje está mais para um grande e maravilhoso show de variedades, espécie de mistura das antigas e gloriosas grandes sociedades com Cirque Du Soleil, espetáculos de Vegas, paradas militares, painéis coreografados, aeróbica e agora até batidos truques de ilusionismo do que para desfile de escola de samba propriamente dito.

É preciso dar chance de crescer e de se estruturar a todas as escolas de samba. Mas o meio das escolas de samba, principalmente no que se refere àquelas que estão "lá em cima", parece contaminado pelos vírus da cobiça e do egoísmo, onde cada uma preocupa-se com o seu sem largar nem um pedaço do osso para quem precisa. E ainda ouvimos carnavalesco e dirigente chorando porque só teve 5, 6 milhões de reais para fazer o carnaval no grupo Especial...

E um carnaval cada vez mais impessoal, sem característica definida, em que se for trocado o nome da escola que estiver passando na Avenida ou na telinha pouca gente vai perceber. Todas estão muito parecidas e pouco destacam suas cores, parecendo não mais se orgulharem delas. Mas que, pelo menos, seja dado a todas, todas de todos os grupos, o direito de enriquecer também e assim ascender socialmente no reino das escolas de samba.