quarta-feira, 31 de março de 2010

TECNOLOGIA ► Nem tudo é o que se parece: História x Contos da Carochinha

A evolução tecnológica facilita muito a vida da humanidade, óbvio. Mas, usada com maldade e com interesses espúrios, pode até contar a História de uma forma que ela não aconteceu.

Hoje todos até brincamos com os recursos exageradamente usados de programas de edição fotográfica como o Photoshop. Mas essa brincadeira de manipular imagens pode ser uma coisa muito séria.

Na internet há muitas páginas interessantes, curiosas e divertidas a respeito. Esta postagem é só mais uma delas.

Esse negócio de manipular imagens é algo muito antigo, talvez do tempo dos bisavôs de Bill Gates. Consta que um dos pioneiros teria sido Matthew Brady, fotógrafo da guerra civil americana, que em 1865 alterou essa foto de generais confederados aí embaixo. Parece que alguém se atrasou e e ele resolveu o problema mais tarde, na sala escura.


O primeiro grande boom de manipulação de imagens com fins políticos ocorreu na extinta União Soviética, após o rompimento entre o então líder Josef Stalin e seu camarada de revolução Leon Trotsky. Com o fim da camaradagem, Stalin ordenou o desaparecimento de Trotsky da História.

Pode-se dizer que a situação chegou a um ponto em que se transformou em uma espécie de "Onde está Wally?" às avessas, tipo "Onde estava Trotsky?", para historiadores em busca da verdade.

A gente escreve brincando, mas o assunto é sério: apenas na era Gorbachev Trotsky voltaria de vez à história russa. Abaixo, dois exemplos da manipulação de que foi vítima o importante personagem da revolução soviética do início do século passado.


Se em priscas eras a manipulação fotográfica já era um recusrso maquiavelicamente utilizado, com a evolução tecnológica, então, não havia como o processo ser revertido. Ao longo daquele século, Hitler e Mao Tsé-Tung usaram e abusaram do recurso em seus governos totalitários.

O teste de lançamento de mísseis iranianos mais abaixo mostra que hoje a manipulação fotográfica passou a ser naturalmente usada, seja como recurso político, seja como recurso estético, daquele tipo que cansamos de ver no mundo do entretenimento, repleto de belas fotos de deusas que pareceriam até menos que simples mortais sem aquela ediçãozinha básica.

No caso dos mísseis, um não foi lançado, o que poderia enfraquecer não apenas a mensagem política (a demonstração de força), como a simples composição da imagem. Por um motivo ou por outro, tudo foi resolvido com um clique aqui, outro ali.


Para não faltar um exemplo brazuca, um conhecido caso - bem, não tão conhecido se depender da chamada "grande mídia" nacional - de manipulação por parte da "Isto É", que não gostou da inscrição de "Fora Serra" na placa durante manifestação do MST.


E claro que a evolução tecnológica não abalaria apenas a verdade iconográfica. Cada vez mais aparecem vídeos exibindo cenas que a vida não viu. Viajar no tempo passa a ser algo muito mais simples do que destrinchar a Teoria da Relatividade para encontrar fórmulas que, talvez, só Einstein mesmo seria capaz de aplicar.

Por exemplo: todo mundo sabe que Elvis não morreu e os mais "recentes" trabalhos do Rei do Rock'n'nRoll mostram não apenas isso, como também que o talento e a criatividade dos artistas de edição parecem não ter limites.

Primeiro, uma olhada na participação de Martina McBride no lendário especial de TV de Elvis Presley no Natal de 1968.


Depois, Elvis dá uma canja no American Idol de 2007, ao lado de Celine Dion.


Claro que é muito legal e divertido ver essas imagens. Mas há um risco nisso tudo aí: do jeito que a coisa vai, daqui a algumas décadas será difícil distinguir a realidade do virtual e será preciso muita atenção para que não se aprenda nas escolas contos da Carochinha em vez de História.

segunda-feira, 29 de março de 2010

MOTONÁUTICA ► Rapidinhas do fim de semana II: Motonáutica

Além de muito legal, eu diria até que inusitada a prova de motonáutica realizada na Baía de Guanabara pelo Mundial de Motonáutica Classe 1 Brasil, conhecida como Fórmula 1 dos mares. A grande presença de público atesta o fator hipnotizador exercido pelas velozes e coloridas lanchas, principalmente quando o domingo de sol e a geografia carioca ajudam a emoldurar um belo cenário.

Com contrato de 10 anos assinado e aprovação de pilotos e de todo o staff, a motonáutica pode entrar firme no calendário de eventos esportivos da cidade e cair no gosto popular.

FÓRMULA INDY ► Rapidinhas do fim de semana III: Fórmula Indy

Adiada de domingo para segunda-feira devido a uma forte tempestade na Flórida (EUA), a prova no circuito misto de St. Petesburg de Fórmula Indy foi – mais uma vez – repleta de alternativas e indefinida até o fim, tamanha a pouca diferença entre os pilotos até a bandeirada final – dada primeiro, mais uma vez, para o vencedor do GP São Paulo, o australiano Will Power.

Helinho Castroneves foi o melhor brasileiro, chegando em 4º, tendo pressionado até o fim o outro australiano, Ryan Briscoe, em busca de um lugar no pódio. Raphael Matos foi o 8º, Tony Kanaan, o 10º, Mario Romancini, 13º, e Vitor Meira, 15º.

Mário Moraes vinha na incrível batalha que cerca de 10 pilotos travaram durante quase toda a prova, entre a 5ª e a 15ª posições, quando foi vítima da quebra de suspensão do carro de Dan Wheldon, que acabou o tirando da prova em um acidente que poderia ter tido graves consequências, mas que, felizmente, ficou só no susto.
Confira abaixo:


A grande corrida do dia, porém, apesar do aparente modesto 5º lugar, foi a desse cara aí ao lado, o Escocês Voador, Dario Franchitti, a bordo do bonito carro da Ganassi, num desempenho de fazer o falecido Escocês Voador original, o bicampeão de F1 Jim Clarck, bater palmas do Além.

Faltando menos de 15 voltas para o fim, Dario Franchitti, em 14º, praticamente fechava a incrível fila de pilotos que brigavam da 5ª à 15ª colocação, quando iniciou uma incrível série de ultrapassagens no travado - e ainda mais apertado pelo numero de carros próximos uns aos outros – circuito de St. Petesburg.

Um a um os que estavam á sua frente foram ficando para trás, sendo que Alex Tagliani, Danica Patrick, Raphael Matos, Graham Rahal, Tony Kanaan e Ryan Hunter-Reay foram ultrapassados, simplesmente, um a cada volta, sucessivamente. Sempre achei Dario Franchitti um dos bons pilotos da Indy, mas agora o cara definitivamente ganhou mais um fã!

Chamou a minha atenção, também, o visual dos carros. Mesmo carros de mesma equipe têm diferenças que facilitam a identificação dos pilotos, já bastante facilitada pela simples e eficiente colocação do nome deles nos aerofólios traseiros. De quebra, os carros estão bastante coloridos - e muito bonitos.

Comparando, o visual dos carros da Indy está bem à frente do visual da F1 este ano. Há carros de todas as cores, com destaque absoluto, para o meu gosto, para a já citada máquina azul de diferentes tons de Dario Franchitti. Curiosamente, em São Paulo o escocês correu com um carro vermelho (aí no lado direito), também muito bonito. Talvez ele tenha estreado pintura nova agora. Vamos acompanhar.

Também gosto muito de ver na Indy a dinastia familiar de pilotos, que carregam o nome da família nas pistas, geração após geração, uma tradição antiga na categoria. E mais ainda gosto de ver um carro amarelo levando o nome Rahal na carroceria. Infelizmente, não é mais o campeão Bob com seu lendário número 18. Desta vez, é o filho Graham (na foto) que leva o nome da família na carroceria amarela, cor também muito usada pelo pai, especialmente na época que nosso Emerson abrilhantou a Indy com seu talento. 

FÓRMULA 1 ► Rapidinhas do fim de semana I: Fórmula 1

Acho que todo colunista deve se achar um pouco esperto e engraçadinho, então não podia perder a chance de usar o infame trocadilho do título do post aí em cima para falar de três eventos de velocidade...

A segunda corrida da temporada de F1, realizada em Melbourne, na Austrália, foi bem mais interessante que de costume. Para isso contribuiu muito um fator de dor de cabeça para os pilotos, mas que costuma tornar as cosas divertidas para o torcedor: a chuva.

O chove-não chove do início deu uma boa enroscada na corrida e acabou propiciando algumas boas emoções – além de alguns micos do tamanho de um king Kong para o narrador Galvão Bueno, que vaticinou, logo após a saída de pista de Jenson Button no início da prova, sua ida para os boxes e nova saída de pista assim que retornou com pneus lisos: “Button fora da prova!” Não satisfeito, logo depois, após mais alguns incidentes: “Três campeões mundiais fora da prova: Button, Hamilton e Schumacher!” Aí ao lado a gente vê dois deles: Schumacher e Hamilton.

Bem, todo mundos abe como a história terminou: Schumacher somando um pontinho em 10º, Hamilton arrumando um troco maior em 6º e Button, com uma excelente atuação, vencendo a prova.

O problema de Galvão – e que gera muito da antipatia que boa parte do público por ele – é que, além de narrar, ele parece querer ser também comentarista, repórter, mecânico, chefe de equipe... Não precisava passar por essa, não bastasse o piti na última volta do GP passado, no Bahrein, quando achou que a corrida já havia acabado ao ser aberta a última volta.

Falando dos pilotos, como não poderia deixar de ser, pelas circunstâncias, quase todos deram a sua derrapada aqui, outra ali. Foi difícil correr sem errar. Mas, apesar disso, muitos pilotaram bem e fizeram boa corrida. Button venceu com justiça. Massa conseguiu se aguentar em 3º. Após ótima corrida de recuperação, Alonso estacionou em 4º, preferiu respeitar o companheiro de equipe – creio que se quisesse forçar, ultrapassaria o brasileiro, estava com mais carro e é mais piloto - e se defendeu bem de Hamilton. Nico fez o que pôde com sua Mercedes e deixa claro que vai justificar o sobrenome e dar muito trabalho a Schumacher, assim como o pai, Keke, deu a Emerson Fittipaldi. Liuzzi conseguiu uma ótima 7ª posição para a Force India, Barrichello arrancou com competência a 8ª para a Williams e por aí vai.

Mas meus destaques vão para três pilotos: Robert Kubica, Lewis Hamilton e Mark Webber.

Único dos pilotos que não errou, o polonês Kubica fez uma excelente largada com  sua Renault amarela e segurou o 2º lugar no pódio mesmo com um carro inferior à concorrência.
Lewis Hamilton fez uma corrida de campeão, com uma espetacular reação, ultrapassando um sem número de carros, até esbarrar em Alonso. Aí ele optou por respeitar o bicampeão espanhol e, quando achou ser a hora de atacar, acabou jogado fora da pista por Webber.

E o australiano Mark Webber, correndo em casa, leva o destaque negativo. “Santa barbeiragem, Batman!”, diria o Menino Prodígio ao ver o bólido de Weber atingir Hamilton quando o inglês atacava o espanhol na entrada de uma curva. Parecia que Weber se distraía assistindo ao duelo e esqueceu-se de pilotar... O que deu margem a outro mico de Galvão, que achou um jeito de criticar o jovem campeão inglês (como de hábito, aliás), apesar da óbvia culpa de Webber, tão óbvia que o piloto da RBR acabou advertido após a corrida. Vejam a lambança aí embaixo.


Vamos aguardar os próximos GPs para ver se a F1 consegue repetir essa emoção ou se foi apenas uma madrugada de ilusão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

BRASIL ► Caso Isabella: mais um exercício de sadismo da imprensa e hipocrisia da sociedade

Impressionante como é possível perceber a degustação saborosa da dor, do sangue e do sofrimento por grande parte da imprensa brasileira quando surge um caso como o da morte da menina Isabella.

A tragédia é curtida, amaciada e servida em tons sensacionalistas à mesa do cidadão quase 24 horas por dia. Vá lá agora, nesta semana de 22 a 29 de março, por exemplo, ligar a TV ou acessar algum portal de notícias e você poderá até perceber o sangue escorrendo por baixo do televisor ou do monitor do PC.

Porque notícia, mesmo, não há o suficiente para tanto. Começou o julgamento dos acusados pela morte da menina Isabella. Ponto. Agora é aguardar o resultado, talvez com uma pequena nota sobre o andamento do caso aqui, outra ali. Fora isso, nada. Com o veredicto, aí sim, notícia. De resto, o que faz a imprensa brasileira é puro e impressionante sensacionalismo, de um tipo que não se imaginaria registrar em pleno século 21.

E fora o sensacionalismo, há a hipocrisia de toda a sociedade. Porque se há esse sensacionalismo, é porque esse sensacionalismo satisfaz uma mórbida curiosidade social... e vende. E esse sensacionalismo é mais exacerbado e vendido sempre que o crime envolve classes sociais mais favorecidas e pessoas famosas (ou nem tanto). Ou alguém acha mesmo que mais de uma dezena de crianças não são mortas nas grandes cidades todos os dias em crimes igualmente hediondos? Ah, sim, mas são de periferias e subúrbios pobres, não são notícia...

É sempre assim: todo o mal que ocorre com gente de nome ou de classe social elevada “choca” a população e a imprensa, grupos de diretos humanos e ONGs disso e daquilo movem mundos e fundos exigindo justiça e cobrando uma rápida apuração do caso. Como no recente assassinato do cartunista Glauco. E poderia citar inúmeros outros casos afins.

É ruim a rápida apuração desses casos? Claro que não. Crimes jamais deveriam permanecer impunes. Só assim uma sociedade dita civilizada pode evoluir. O ruim, o péssimo, o horroroso, a hipocrisia da coisa toda é que apenas a apuração de casos como o da menina Isabella e do cartunista Glauco seja cobrada assim. O assassinato daquele trabalhador dentro de um ônibus ou na saída de um banco na Baixada Fluminense, trabalhador que deixa muitas vezes mulher e filhos desamparados, por exemplo, fica ao deus-dará.

Para a mídia e grande parte da sociedade brasileira, infelizmente, há diferentes classes de cidadãos: há os que são capa e vendem e os que não passam, quando muito, de notas de pé de página perdidas em algum caderno interno.