O relógio assinalava o 15º minuto do segundo tempo da prorrogação do jogo entre Gana e Uruguai, que decide uma das vagas nas semifinais da Copa do Mundo. Falta na lateral direita do ataque ganês. Pantsil joga a bola na área. Há o primeiro toque, a bola sobe, o goleiro Muslera sai para evitar uma cabeçada e o gol fica vazio. A bola cai no pé esquerdo de Apiah, que chuta e o centroavante Luís Suarez salva em cima da linha com o joelho. A bola volta e Adiyiah cabeceia firme. A bola vence Muslera e o lateral Fucile voa e não acha nada, mas Suarez, em cima da linha, consegue espalmar e evitar o gol. Ato contínuo, pênalti marcado e Suarez, expulso, sai inconsolável do gramado, a camisa escondendo o choro. Gana está a uma cobrança de pênalti de tornar-se a primeira seleção africana a chegar às semifinais de uma Copa do Mundo.
Haja coração. As vuvuzelas baixam o volume no instante que Asamoah Gyan, um dos destaques não só de Gana como de todo o Mundial e o melhor homem do time em campo, parte para a bola. Imagino que o estádio inteiro tenha ouvido a batida seca na bola, o zunir da Jabulani pelo ar e a explosão com o travessão. A bola não entra.
Futebol é assim, diriam alguns, inclusive eu. Mas não nesse momento. É uma frase dita refletidamente, numa análise posterior, o sangue esfriando. Mas naquele momento, eu desliguei a TV da sala e fui para o quarto assistir deitado na cama e debaixo das cobertas às cobranças decisivas de pênaltis. Não há como um fã de futebol não se envolver com uma situação como essa. E quem acompanha há mais tempo, com mais dedicação, sabe que está presenciando a história do esporte ser escrita ali, à frente de seus olhos. No meu caso, via TV. Presenciando um momento com um grau de emoção e dramaticidade jamais visto e que será lembrado pelo resto de nossos tempos sempre que se falar em Copa do Mundo.
Bem, nos pênaltis, a vantagem emocional é toda uruguaia. Diego Forlán converte o primeiro, colocando mais pressão em cima dos jogadores de Gana. E quem pega a bola para a primeira cobrança ganesa é Gyan. Haja personalidade. O craque do time põe a bola na marca da cal e coloca no ângulo esquerdo. A disputa chega a ficar empatada em 2 x 2, quando Scotti põe o Uruguai em vantagem e o capitão Mensah cobra muito mal, atrasando nas mãos de Muslera. Maxi Pereira ainda desperdiçaria seu pênalti, mas a cobrança feita pelo jovem Adiyiah no canto esquerdo foi muito bem defendida por Muslera. Basta agora ao Uruguai que Loco Abreu converta seu chute para que a Celeste Olímpica volte a uma semifinal de Copa do Mundo depois de 40 anos.
Eu, a essa altura - na verdade, desde a altura do apito inicial -, estava de amarelo e vermelho de corpo e alma. Nada contra o Uruguai e a tradição de sua camisa, algo bom de ver voltar com força a uma disputa de Mundial. Mas a inédita presença de uma seleção africana numa semifinal na primeira competição realizada em seu continente era uma possibilidade apaixonante. Mas eu tinha certeza de que, se dependesse da última cobrança uruguaia, nos pés do centroavante do Botafogo Loco Abreu, as vuvuzelas seriam silenciadas. Eu só fazia pensar: "Ele vai dar a cavadinha, Kingson não vai ter chance. Ele vai dar a cavadinha." Eu disse, não disse? Ou melhor, pensei... E não deu outra. Com a frieza que lhe é peculiar, Loco Abreu cobrou do mesmo modo que nós aqui do Brasil já o vimos vencer os goleiros Doni, numa partida contra a seleção brasileira, e Bruno, na final do Estadual do Rio de Janeiro deste ano: goleiro num canto, bola levemente levantada no meio, morrendo na rede e explodindo a nação uruguaia lá no sul de nosso continente. Do outro lado, o choro inconsolável de uma das maiores estrelas da Copa. Trêmulo, Asamoah era consumido pela dor e pelas lágrimas, numa cena de impressionante emoção. E assim foi escrita uma página inédita e uma das de maior teor dramático e emocional da história das Copas do Mundo.
O resto do jogo, o que houve antes desse turbilhão de emoções, se não foi revestido de técnica, foi sempre carregado de paixão. Ambos os times jogaram com muita garra, disputando cada momento como se essa fosse a partida de suas vidas.
O Uruguai começou melhor, mesmo levando um tempo para Calvani se adaptar à posição mais recuada de Diego Forlán, que por sua vez se adiantara para o espaço normalmente ocupado por Calvani. Por que o treinador Oscar Tabárez fez essa inversão, não faço ideia. Mas, ainda assim, a Celeste tinha um certo domínio e rondava a meta defendida por Kingson. Gana errava muito nos passes, mas o Uruguai ameaçava mais era nas bolas paradas. No chão, a melhor chance foi uma arrancada de Suarez aos 10', invadindo a área pela esquerda e chutando para defesa de Kingson. Mas o normal era chegar como no escanteio cobrado fechado por Forlán da ponta esquerda que obrigou Kingson a uma grande defesa, de puro reflexo, após desvio no corpo de Mensah.
Esse panorama não se alterou até ali por volta dos 25'. Foi bem quando o zagueiro Vorsah foi à área cabecear rente à trave direita uma cobrança de escanteio feita por Asamoah. A partir daí, Gana adiantou a marcação para pressionar a saída de bola do Uruguai e aos poucos seu domínio se acentuava. Como costuma acontecer nessas situações, forçado a apelar para a ligação direta e permitindo maior posse de bola ao adversário, o time uruguaio acabou isolando seus três homens de frente do resto do time e não chegava mais próximo à meta defendida por Kingson. As chances ganesas começavam a surgir e a se avolumar. O domínio era visível e já nos acréscimos Muntari arriscou de fora da área. O chute saiu à meia altura, a Jabulani voou e quicou, fugindo de Muslera e se alojando no canto esquerdo do gol.
Com a desvantagem, o Uruguai voltou disposto a empatar logo. E Gana não conseguiu segurar a vantagem por mais de dez minutos, porque Forlán cobrou uma falta da meia esquerda por cima da barreira e a Jabulani viajou por cima de Kingson. Partida empatada. E daí para frente, muito equilíbrio em campo.
Pouco antes do empate, Gana desperdiçara um contra-ataque quando Prince Boateng errara um passe até simples. Sem Ayew, suspenso com dois cartões amarelos, Gana perdia a inversão de posições de seu ataque. Assim, seu substituto Muntari se fixava na ponta-esquerda e o jovem Inkoon ficava na direita. Asamoah desta vez não aparecia tanto na área adversária e isso fez falta ao time. Prince Boateng fez um grande primeiro tempo, mas caía de produção na medida em que suas pernas cansavam. Na frente, Gyan mais uma vez se destacava, procurando jogo e incomodando a zaga uruguaia o tempo inteiro.
O jogo seguiu até o fim do tempo normal na mesma toada, equilíbrio nas ações e as duas equipes tentando decidir tudo sem prorrogação. Mas não foi possível e o tempo extra começou em clima de total indefinição, com alguns jogadores acusando visível desgaste. No Uruguai, os volantes Pérez e Arévalo Rios pareciam não se aguentar mais em campo. Forlán também pegara e não voltava mais, sem deixar de ameaçar quando tinha a bola nos pés. Suarez ainda tinha pernas, mas poucas bolas lhe chegavam em boas condições. No lado africano, Boateng sofria fisicamente e sua expressão facial mostrava a frustração de não conseguir mais realizar com as pernas o que sua cabeça pedia. Por isso se fixou à frente e não compunha mais o meio. Muntari também pregou e foi uma pena Apiah não entrar bem. Mas Gyan ainda lutava como um touro e Pantsil, mesmo errando tecnicamente, se aventurava ao ataque sem importar-se com a avenida que deixava atrás.
Nos minutos finais do segundo tempo da prorrogação, Gana tentou com o que restava de suas forças pressionar em busca da vitória ainda com a bola rolando. Abria-se na defesa, mas faltavam pernas aos uruguaios para aproveitar os espaços. E assim o quadro foi sendo desenhado até aquele momento em que Fucile derrubou Adiyiah na lateral direita e foram riscados os últimos traços de um quadro que hoje já é História.
No vencedor Uruguai, Forlán foi a alma do time e ameaçou mesmo quando não tinha mais pernas. Fucile foi muito bem na lateral esquerda e o chato Suarez (reclama, simula, discuta...) ameaçou bastante e acabou sendo decisivo ao evitar o gol da vitória ganesa. Muslera destacou-se nos pênaltis, especialmente na cobrança de Adiyiah.
Na seleção de Gana, Asamoah Gyan foi o melhor, o mais lutador e o trágico personagem que errou no momento decisivo. Kingson alternou saídas estranhas com algumas defesas muito difíceis. Pantsil tentou sempre, o volante Annan se destacou no desarme e nas tentativas de apoio e Boateng atuou muito bem enquanto teve pernas.
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 58: Uruguai 1 (4) x (2) 1 Gana.
Blog que o jornalista David Telio Duarte utiliza como registro de memórias sobre assuntos de seu interesse, como esporte, política, cinema, escolas de samba ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça.
sábado, 3 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
COPA DO MUNDO 2010 ► Holanda vira e elimina Brasil do Mundial
Venceu o melhor time. Acho relativamente fácil medir esse tipo de comparação quando parece consenso geral que o Brasil produziu no primeiro tempo sua melhor atuação na Copa, enquanto, do outro lado, a Holanda realizou provavelmente sua partida mais discreta, cometendo erros de passes que normalmente não comete. Ou seja: a Holanda não precisou jogar o seu melhor futebol - longe disso - para eliminar uma seleção brasileira que mostrou seu máximo durante 45 minutos.
E acho triste ver que ainda há comentaristas que dizem coisas como "o Brasil perdeu para si mesmo porque é melhor..." ou que "o Brasil é melhor, a seleção da Holanda é apenas ok..." Sei lá... Ou andei assistindo a uma outra Copa do Mundo ou minha concepção de futebol é bem diferente de quem o vê desse jeito.
Hoje o lindo estádio de Porto Elizabete viu o Brasil realizar um grande primeiro tempo, dentro de suas possibilidades e do tipo de futebol que propõe seu treinador. O meio campo marcava bem e tirava espaços para o toque de bola holandês. De quebra, encontrava brechas para ameaçar a meta defendida por Stekelenburg. Sneidjer não se achava, Robben era bem e multiplamente marcado na ponta direita e Kuyt era pouco acionado na esquerda. Vale lembrar que, antes da volta de Robben, Kuyt vinha saindo-se muito bem pelo lado direito.
Os volantes brasileiros movimentavam-se bem, a zaga estava segura, especialmente Juan, e Maicon conseguia chegar à frente com certa liberdade, inclusive quase marcando aos 45'. Muito ajudou o gol marcado por Robinho logo aos 10', emendando de primeira um tão espetacular quanto improvável lançamento de Felipe Melo pelo meio da zaga. Fosse um time mais capacitado no ataque e poderia ter decidido o jogo nessa etapa inicial, mas o Brasil é um time de reação e não de ação. Ele depende do adversário se oferecer e oferecer espaços. E mesmo em desvantagem e atuando mal, a Holanda em momento algum perdeu o equilíbrio emocional ou aventurou-se afobadamente ao ataque.
E o ataque foi o que nos faltou para matar a Holanda no primeiro tempo. Kaká jamais apareceu na armação, Luís Fabiano fez uma partida bem fraquinha e Robinho fez um gol e uma grande jogada, que, se fosse aproveitada, talvez justificasse sua atuação. Mas não foi e mais nada Robinho fez. A grande jogada, o lance que poderia ter decidido a classificação, foi uma descida de Robinho pela esquerda, driblando dois defensores e passando a Luís Fabiano, que deixou de calcanhar para Kaká, que tentou achar o ângulo superior direito de Stekelenburg, que foi lá buscar.
Mas mesmo nesse bom primeiro tempo, desde o início o Brasil mostrou uma faceta que poderia lhe custar muito caro. Na verdade, desde o início da Copa do Mundo. Bastou o japonês Yuichi Nishimura fazer a bola rolar e os jogadores brasileiros começaram a mostrar um descontrole emocional totalmente fora de propósito, xingando, batendo, peitando... E o Brasil vencendo. O Brasil vencendo e o técnico Dunga praguejando, gesticulando, tresloucadamente, batendo na proteção do banco de reservas. A tal ponto que o quarto árbitro precisou intervir e pedir ao treinador que se controlasse. Enquanto isso, do outro lado, as câmeras flagravam o treinador holandês Bert van Marwijk placidamente sentado, pernas cruzadas, conversando com seu auxiliar, acompanhando seu time ser derrotado naquele momento.
No segundo tempo, sabe-se lá por que cargas d'água, o Brasil voltou mais tenso ainda e com sua marcação recuada. A Holanda seguia tentando impor seu jogo de toque e movimentação e começava a aumentar sua posse de bola. Pressionava fisicamente, se aproximava e cercava a área brasileira, mas pecava muito no penúltimo toque, aquele que cria a real situação de gol. Aí ficou claro que a Holanda não estava em seus melhores dias. Mas estava equilibrada, não perdeu seu padrão tático e insistia no que apostava. Robben aos poucos dominava mais o setor direito do ataque. Mesmo sem ser brilhante, jogava com muita inteligência. No primeiro tempo, mesmo errando bastante, amarelou Michel Bastos pela reincidência de faltas. Acabou provocando a entrada de Gilberto e continuou forçando ali, nas ultrapassagens com Sneijder. Sneijder, por sua vez, já encontrava espaços para se movimentar e administrar o toque de bola holandês, porque a marcação brasileira simplesmente desencaixou e passou a deixar os meias adversários respirarem.
Sem ameaçar mais, o Brasil começou a ver a Holanda jogar. Uma hora o leite ferve. Um escanteio cobrado curto de Robben para Sneijder foi jogado na área e Júlio Cesar saiu mal, encontrando Felipe Melo e deixando a bola passar. 1 x 1.
Na teoria, tudo bem. Basta recomeçar e ir à luta. Mas o destempero brasileiro exacerbou-se a tal ponto após esse gol que o time simplesmente parou em campo. De vez. O jogo estava nos pés da Holanda, que, mesmo errando aquele tal penúltimo passe, mantinha absoluto controle emocional e maior posse de bola. Logo, num escanteio bobamente cedido por Juan (num lance que pegara a defesa bem desarrumada, certo, mas poderia ser evitado), a Holanda chegou ao gol que seria o da vitória. Robben cobrou quase a meia altura no primeiro pau, Kuyt desviou e o baixinho Sneijder escorou de cabeça. 2 x 1. Uma jogada pra lá de manjada.
Eu já registrara aqui que essa seleção brasileira era consistente e competitiva dentro do esquema traçado pelo treinador. Mas que não havia um plano B. O que fazer na hora de atacar, de precisar correr atrás de um empate? Por isso não surpreendeu o eclipse parcial depois do empate e o eclipse total após o segundo gol. E o desequilíbrio foi retratado na previsível agressão de Felipe Melo a Sneijder, um pisão covarde que ele diz que precisa ver na TV porque acha que o juiz foi muito rigoroso...
Bem, a partir do momento que conseguiu a vantagem, a Holanda fez o que sabe fazer de melhor: tocou a bola, tocou a bola, tocou a bola, tocou a bola... E se estivesse feliz, acertaria um dos meia-dúzia de ótimos contra-ataques que teve para vencer com mais folga.
O melhor do Brasil, para mim, foi Maicon. Conseguiu apoiar bem e por seu lado o bom Kuyt não teve facilidade. Não pôde deixar de cair no segundo tempo, já que o time simplesmente travou. Juan foi outro bom nome. Cedeu um escanteio bobo, mas cá entre nós: mais bobo foi a defesa inteira deixar Sneijder marcar de cabeça com aquela altura toda. Lúcio o acompanhou bem. Júlio Cesar falhou no primeiro gol, que acabou sendo decisivo. Felipe Melo? Surpreendeu com aquele lançamento à altura de um Gerson, um Rivelino ou qualquer outro Gênio lançador da história do nosso futebol. O resto? Ah, o resto foi o esperado, previsível, especialmente a expulsão que vai entrar para nossos anais de Mundiais como "aquela que todo mundo sabia que ia acontecer". Robinho foi lamentável, destemperado desde o início e omisso durante o segundo tempo. Luís Fabiano foi visto apenas naquele toque de calcanhar, mas não o tiraria. Melhor teria sido sair Kaká, o pior de todos, não armando uma jogada sequer, fugindo de suas responsabilidades de grande nome da equipe. Ah, o quê? Estava machucado, jogando fora de suas condições? Nãããããooo!!! Ele jurou por Jesus e sua religião que o jornalista Juca Kfouri o perseguia por motivos religiosos e, ateu como é, inventara que sua contusão na região pubiana o impedia de jogar sem dor. Mas, espere aí... O que a gente ouve agora após o jogo? O Kaká dizendo que não tinha condições ideais? Mas então o bom garoto é mentiroso? Esse é o retrato dessa seleção brasileira, uma mentira.
Na Holanda, Robben foi genial sem ser genial. Quero dizer, Robben não estava em seus melhores dias tecnicamente, mas jogou com muita inteligência. Sneijder é um meia que o futebol brasileiro hoje não tem e marcou dois gols que entram para a história do futebol de seu país. Stekelenburg foi seguro quando exigido, especialmente no primeiro tempo. O time merece realmente os parabéns por jamais se desesperar nem com a desvantagem nem com o mau futebol nos primeiros 45 minutos. Acho que deve ser mérito do treinador, que se mostrou tranquilo o tempo inteiro. E costuma-se dizer que os jogadores são espelhos de seu treinador. Sendo assim, muito do que aconteceu nesta partida fica explicada...
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 57: Holanda 2 x 1 Brasil.
E acho triste ver que ainda há comentaristas que dizem coisas como "o Brasil perdeu para si mesmo porque é melhor..." ou que "o Brasil é melhor, a seleção da Holanda é apenas ok..." Sei lá... Ou andei assistindo a uma outra Copa do Mundo ou minha concepção de futebol é bem diferente de quem o vê desse jeito.
Hoje o lindo estádio de Porto Elizabete viu o Brasil realizar um grande primeiro tempo, dentro de suas possibilidades e do tipo de futebol que propõe seu treinador. O meio campo marcava bem e tirava espaços para o toque de bola holandês. De quebra, encontrava brechas para ameaçar a meta defendida por Stekelenburg. Sneidjer não se achava, Robben era bem e multiplamente marcado na ponta direita e Kuyt era pouco acionado na esquerda. Vale lembrar que, antes da volta de Robben, Kuyt vinha saindo-se muito bem pelo lado direito.
Os volantes brasileiros movimentavam-se bem, a zaga estava segura, especialmente Juan, e Maicon conseguia chegar à frente com certa liberdade, inclusive quase marcando aos 45'. Muito ajudou o gol marcado por Robinho logo aos 10', emendando de primeira um tão espetacular quanto improvável lançamento de Felipe Melo pelo meio da zaga. Fosse um time mais capacitado no ataque e poderia ter decidido o jogo nessa etapa inicial, mas o Brasil é um time de reação e não de ação. Ele depende do adversário se oferecer e oferecer espaços. E mesmo em desvantagem e atuando mal, a Holanda em momento algum perdeu o equilíbrio emocional ou aventurou-se afobadamente ao ataque.
E o ataque foi o que nos faltou para matar a Holanda no primeiro tempo. Kaká jamais apareceu na armação, Luís Fabiano fez uma partida bem fraquinha e Robinho fez um gol e uma grande jogada, que, se fosse aproveitada, talvez justificasse sua atuação. Mas não foi e mais nada Robinho fez. A grande jogada, o lance que poderia ter decidido a classificação, foi uma descida de Robinho pela esquerda, driblando dois defensores e passando a Luís Fabiano, que deixou de calcanhar para Kaká, que tentou achar o ângulo superior direito de Stekelenburg, que foi lá buscar.
Mas mesmo nesse bom primeiro tempo, desde o início o Brasil mostrou uma faceta que poderia lhe custar muito caro. Na verdade, desde o início da Copa do Mundo. Bastou o japonês Yuichi Nishimura fazer a bola rolar e os jogadores brasileiros começaram a mostrar um descontrole emocional totalmente fora de propósito, xingando, batendo, peitando... E o Brasil vencendo. O Brasil vencendo e o técnico Dunga praguejando, gesticulando, tresloucadamente, batendo na proteção do banco de reservas. A tal ponto que o quarto árbitro precisou intervir e pedir ao treinador que se controlasse. Enquanto isso, do outro lado, as câmeras flagravam o treinador holandês Bert van Marwijk placidamente sentado, pernas cruzadas, conversando com seu auxiliar, acompanhando seu time ser derrotado naquele momento.
No segundo tempo, sabe-se lá por que cargas d'água, o Brasil voltou mais tenso ainda e com sua marcação recuada. A Holanda seguia tentando impor seu jogo de toque e movimentação e começava a aumentar sua posse de bola. Pressionava fisicamente, se aproximava e cercava a área brasileira, mas pecava muito no penúltimo toque, aquele que cria a real situação de gol. Aí ficou claro que a Holanda não estava em seus melhores dias. Mas estava equilibrada, não perdeu seu padrão tático e insistia no que apostava. Robben aos poucos dominava mais o setor direito do ataque. Mesmo sem ser brilhante, jogava com muita inteligência. No primeiro tempo, mesmo errando bastante, amarelou Michel Bastos pela reincidência de faltas. Acabou provocando a entrada de Gilberto e continuou forçando ali, nas ultrapassagens com Sneijder. Sneijder, por sua vez, já encontrava espaços para se movimentar e administrar o toque de bola holandês, porque a marcação brasileira simplesmente desencaixou e passou a deixar os meias adversários respirarem.
Sem ameaçar mais, o Brasil começou a ver a Holanda jogar. Uma hora o leite ferve. Um escanteio cobrado curto de Robben para Sneijder foi jogado na área e Júlio Cesar saiu mal, encontrando Felipe Melo e deixando a bola passar. 1 x 1.
Na teoria, tudo bem. Basta recomeçar e ir à luta. Mas o destempero brasileiro exacerbou-se a tal ponto após esse gol que o time simplesmente parou em campo. De vez. O jogo estava nos pés da Holanda, que, mesmo errando aquele tal penúltimo passe, mantinha absoluto controle emocional e maior posse de bola. Logo, num escanteio bobamente cedido por Juan (num lance que pegara a defesa bem desarrumada, certo, mas poderia ser evitado), a Holanda chegou ao gol que seria o da vitória. Robben cobrou quase a meia altura no primeiro pau, Kuyt desviou e o baixinho Sneijder escorou de cabeça. 2 x 1. Uma jogada pra lá de manjada.
Eu já registrara aqui que essa seleção brasileira era consistente e competitiva dentro do esquema traçado pelo treinador. Mas que não havia um plano B. O que fazer na hora de atacar, de precisar correr atrás de um empate? Por isso não surpreendeu o eclipse parcial depois do empate e o eclipse total após o segundo gol. E o desequilíbrio foi retratado na previsível agressão de Felipe Melo a Sneijder, um pisão covarde que ele diz que precisa ver na TV porque acha que o juiz foi muito rigoroso...
Bem, a partir do momento que conseguiu a vantagem, a Holanda fez o que sabe fazer de melhor: tocou a bola, tocou a bola, tocou a bola, tocou a bola... E se estivesse feliz, acertaria um dos meia-dúzia de ótimos contra-ataques que teve para vencer com mais folga.
O melhor do Brasil, para mim, foi Maicon. Conseguiu apoiar bem e por seu lado o bom Kuyt não teve facilidade. Não pôde deixar de cair no segundo tempo, já que o time simplesmente travou. Juan foi outro bom nome. Cedeu um escanteio bobo, mas cá entre nós: mais bobo foi a defesa inteira deixar Sneijder marcar de cabeça com aquela altura toda. Lúcio o acompanhou bem. Júlio Cesar falhou no primeiro gol, que acabou sendo decisivo. Felipe Melo? Surpreendeu com aquele lançamento à altura de um Gerson, um Rivelino ou qualquer outro Gênio lançador da história do nosso futebol. O resto? Ah, o resto foi o esperado, previsível, especialmente a expulsão que vai entrar para nossos anais de Mundiais como "aquela que todo mundo sabia que ia acontecer". Robinho foi lamentável, destemperado desde o início e omisso durante o segundo tempo. Luís Fabiano foi visto apenas naquele toque de calcanhar, mas não o tiraria. Melhor teria sido sair Kaká, o pior de todos, não armando uma jogada sequer, fugindo de suas responsabilidades de grande nome da equipe. Ah, o quê? Estava machucado, jogando fora de suas condições? Nãããããooo!!! Ele jurou por Jesus e sua religião que o jornalista Juca Kfouri o perseguia por motivos religiosos e, ateu como é, inventara que sua contusão na região pubiana o impedia de jogar sem dor. Mas, espere aí... O que a gente ouve agora após o jogo? O Kaká dizendo que não tinha condições ideais? Mas então o bom garoto é mentiroso? Esse é o retrato dessa seleção brasileira, uma mentira.
Na Holanda, Robben foi genial sem ser genial. Quero dizer, Robben não estava em seus melhores dias tecnicamente, mas jogou com muita inteligência. Sneijder é um meia que o futebol brasileiro hoje não tem e marcou dois gols que entram para a história do futebol de seu país. Stekelenburg foi seguro quando exigido, especialmente no primeiro tempo. O time merece realmente os parabéns por jamais se desesperar nem com a desvantagem nem com o mau futebol nos primeiros 45 minutos. Acho que deve ser mérito do treinador, que se mostrou tranquilo o tempo inteiro. E costuma-se dizer que os jogadores são espelhos de seu treinador. Sendo assim, muito do que aconteceu nesta partida fica explicada...
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 57: Holanda 2 x 1 Brasil.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
FÓRMULA 1 ► Corrida? Onde? GP da Europa em Valência mais parecia um trenzinho de parque de diversões
Corrida de Fórmula 1 durante Copa do Mundo de Futebol já é algo meio estranho de acompanhar. Uma corrida em um circuito de rua como o de Valência, onde foi realizado o Grande Prêmio da Europa, parece até sabotagem. Sempre fica a pergunta: quem inventa uma pista como essa, em que a chance de um carro ultrapassar outro é a mesma de um vagão de um trenzinho de parque de diversões ultrapassar o da frente?
Foi isso que aconteceu no domingo passado naquela cidade espanhola: um longo desfile de carrinhos coloridos em fila indiana. Bem se deu Sebastian Vettel ,que saiu na frente e lá ficou até o fim. Ruben Barrichello conseguiu seu melhor resultado na temporada, largando bem e ganhando posições também com a confusão causada pela entrada do safety car na pista após o acidente entre Mark Webber e Heikki Kovalainen na oitava volta.
Aliás, um acidente que felizmente podemos chamar apenas de espetacular, e não de trágico. Webber escapou bem dessa. As imagens são impressionantes:
Esse safety car deu muita confusão e gerou acusações de manobras indevidas de vários pilotos. Muitos foram penalizados em 5s no fim da corrida e Lewis Hamilton ainda teve que fazer uma parada de penalização. Fernando Alonso e a Ferrari, principalmente, choraram muito depois da prova. Para entender melhor o chororô vermelho, sugiro o post do Márcio Arruda sobre o assunto.
E para não dizer que absolutamente nada aconteceu em termos de emoção, registre-se o ótimo desempenho do japonês Kamui Kobayashi. Aproveitando-se da confusão, aboletou-se na quarta posição e ali ficou, retardando ao máximo a parada obrigatória para troca de pneus. Quando o fez, a 4 voltas do fim, estava em terceiro e voltou em nono. Andando bem com os pneus macios, incrivelmente conseguiu ultrapassar Fernando Alonso e Sebastien Buemi, chegando em sétimo. De corrida mesmo, de verdade, foi o que aconteceu em Valência. Como disse meu irmão, parece que a Sauber não avaliou bem suas possibilidades, pois se previsse desempenho tão bom após o pit stop, poderia ter parado algumas voltas antes e disputado, com chances, até o quarto lugar.
Colocação final do GP da Europa:
1. Sebastian Vettel (ALE/Red Bull), 1h40m29s571
2. Lewis Hamilton (ING/McLaren), a 5s
3. Jenson Button (ING/McLaren), a 12s6
4. Rubens Barrichello (BRA/Williams), a 25s6
5. Robert Kubica (POL/Renault), a 27s1
6. Adrian Sutil (ALE/Force Índia), 30s1
7. Kamui Kobayashi (JAP/Sauber), 30s9
8. Fernando Alonso (ESP/Ferrari), a 32s8
9. Sebastien Buemi (SUI/Toro Rosso), 36s2
10. Nico Rosberg (ALE/Mercedes), a 44s3
11. Felipe Massa (BRA/Ferrari), 46s6
12. Pedro de la Rosa (ESP/Sauber), 47s4
13. Jaime Alguersuari (ESP/Toro Rosso), 48s2
14. Vitaly Petrov (RUS/Renault), 48s2
15. Michael Schumacher (ALE/Mercedes), 48s8
16. Vitantonio Liuzzi (ITA/Force Índia), 50s8
17. Lucas di Grassi (BRA/Virgin), 56 voltas
18. Karun Chandhok (Karun Chandhok (IND/Hispania), 55 voltas
19. Timo Glock (ALE/Virgin), 55 voltas
20. Bruno Senna (BRA/HRT), 55 voltas
21. Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth), 53 voltas
Não chegaram:
22. Nico Hulkenberg (ALE/Williams), 49 voltas
23. Heikki Kovalainen (FIN/Lotus), 8 voltas
24. Mark Webber (AUS/Red Bull), 8 voltas
Classificação do Mundial de Pilotos após nove provas:
1º) Lewis Hamilton - 127
2º) Jenson Button - 121
3º) Sebastian Vettel - 115
4º) Mark Webber - 103
5º) Fernando Alonso - 98
6º) Robert Kubica - 83
7º) Nico Rosberg - 75
8º) Felipe Massa - 67
9º) Michael Schumacher - 34
10º) Adrian Sutil - 31
11º) Rubens Barrichello - 19
12º) Vitantonio Liuzzi - 12
13º) Sebastien Buemi – 7
14º) Kamui Kobayashi - 7
15º) Vitaly Petrov - 6
16ª) Jaime Alguersuari - 3
17ª) Nico Hulkenberg – 1
Foi isso que aconteceu no domingo passado naquela cidade espanhola: um longo desfile de carrinhos coloridos em fila indiana. Bem se deu Sebastian Vettel ,que saiu na frente e lá ficou até o fim. Ruben Barrichello conseguiu seu melhor resultado na temporada, largando bem e ganhando posições também com a confusão causada pela entrada do safety car na pista após o acidente entre Mark Webber e Heikki Kovalainen na oitava volta.
Aliás, um acidente que felizmente podemos chamar apenas de espetacular, e não de trágico. Webber escapou bem dessa. As imagens são impressionantes:
Esse safety car deu muita confusão e gerou acusações de manobras indevidas de vários pilotos. Muitos foram penalizados em 5s no fim da corrida e Lewis Hamilton ainda teve que fazer uma parada de penalização. Fernando Alonso e a Ferrari, principalmente, choraram muito depois da prova. Para entender melhor o chororô vermelho, sugiro o post do Márcio Arruda sobre o assunto.
E para não dizer que absolutamente nada aconteceu em termos de emoção, registre-se o ótimo desempenho do japonês Kamui Kobayashi. Aproveitando-se da confusão, aboletou-se na quarta posição e ali ficou, retardando ao máximo a parada obrigatória para troca de pneus. Quando o fez, a 4 voltas do fim, estava em terceiro e voltou em nono. Andando bem com os pneus macios, incrivelmente conseguiu ultrapassar Fernando Alonso e Sebastien Buemi, chegando em sétimo. De corrida mesmo, de verdade, foi o que aconteceu em Valência. Como disse meu irmão, parece que a Sauber não avaliou bem suas possibilidades, pois se previsse desempenho tão bom após o pit stop, poderia ter parado algumas voltas antes e disputado, com chances, até o quarto lugar.
Colocação final do GP da Europa:
1. Sebastian Vettel (ALE/Red Bull), 1h40m29s571
2. Lewis Hamilton (ING/McLaren), a 5s
3. Jenson Button (ING/McLaren), a 12s6
4. Rubens Barrichello (BRA/Williams), a 25s6
5. Robert Kubica (POL/Renault), a 27s1
6. Adrian Sutil (ALE/Force Índia), 30s1
7. Kamui Kobayashi (JAP/Sauber), 30s9
8. Fernando Alonso (ESP/Ferrari), a 32s8
9. Sebastien Buemi (SUI/Toro Rosso), 36s2
10. Nico Rosberg (ALE/Mercedes), a 44s3
11. Felipe Massa (BRA/Ferrari), 46s6
12. Pedro de la Rosa (ESP/Sauber), 47s4
13. Jaime Alguersuari (ESP/Toro Rosso), 48s2
14. Vitaly Petrov (RUS/Renault), 48s2
15. Michael Schumacher (ALE/Mercedes), 48s8
16. Vitantonio Liuzzi (ITA/Force Índia), 50s8
17. Lucas di Grassi (BRA/Virgin), 56 voltas
18. Karun Chandhok (Karun Chandhok (IND/Hispania), 55 voltas
19. Timo Glock (ALE/Virgin), 55 voltas
20. Bruno Senna (BRA/HRT), 55 voltas
21. Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth), 53 voltas
Não chegaram:
22. Nico Hulkenberg (ALE/Williams), 49 voltas
23. Heikki Kovalainen (FIN/Lotus), 8 voltas
24. Mark Webber (AUS/Red Bull), 8 voltas
Classificação do Mundial de Pilotos após nove provas:
1º) Lewis Hamilton - 127
2º) Jenson Button - 121
3º) Sebastian Vettel - 115
4º) Mark Webber - 103
5º) Fernando Alonso - 98
6º) Robert Kubica - 83
7º) Nico Rosberg - 75
8º) Felipe Massa - 67
9º) Michael Schumacher - 34
10º) Adrian Sutil - 31
11º) Rubens Barrichello - 19
12º) Vitantonio Liuzzi - 12
13º) Sebastien Buemi – 7
14º) Kamui Kobayashi - 7
15º) Vitaly Petrov - 6
16ª) Jaime Alguersuari - 3
17ª) Nico Hulkenberg – 1
COPA DO MUNDO 2010 ► Espanha fura retranca de Portugal e chega às quartas de final
No primeiro minuto de jogo, Fernando Torres quase abriu o marcador. Caído pela ponta esquerda, cortou para o meio e bateu no ângulo direito do goleiro Eduardo, que foi lá buscar. No minuto seguinte, foi a vez de David Villa finalizar da meia-esquerda e obrigar Eduardo a trabalhar. Aos 5', novamente Torres invadiu pela esquerda e Eduardo salvou mais uma. Já há um padrão aí, não é mesmo? O jogo mal começara e ficava claro qual equipe partiria para a vitória e qual se limitaria a defender. Assim foi durante os 90 minutos em que a Espanha muito justamente eliminou a retrancada seleção de Portugal nas oitavas de final disputada na Cidade do Cabo.
O panorama durante os 90 minutos não mudou um instante sequer. Com a posse de bola e toques envolventes, a Espanha procurava espaços e rondava constantemente o gol guarnecido por Eduardo, até então invicto na competição. Com seus quatro homens do meio (Xabi Alonso, Xavi, Iniesta e Busquets, este um pouco menos) sempre à frente, mais os atacantes Torres e Villa e ainda o apoio constante do lateral Sérgio Ramos, a Espanha dominava o meio campo e ia criando chances de gol, apesar do forte bloqueio português à frente de sua área.
Já Portugal limitava-se a defender. Com Cristiano Ronaldo isolado, Simão mais recuado e muito distante dele e Hugo Almeida sempre brigando com a bola, pouco ameaçava a meta defendida por Casillas. Seu meio campo era absolutamente improdutivo e incapaz de uma troca de passes, o que não surpreendia, porque imaginar troca de passes entre os botinudos Pepe e Raul Meireles e Tiago requer um certo esforço mental. A presença do limitado Almeida à frente só tornava mais lógico o fato da equipe lusa nada criar. Desse modo, cabia a Portugal apostar no 0 x 0 e levar a decisão da vaga para a disputa de pênaltis. Só podia ser esse o objetivo do técnico Carlos Queiroz.
E lá foi o jogo nessa toada, com a Espanha atacando e o grito de gol preso na garganta. Grito que esteve mais próximo de sair aos 15' do segundo tempo, quando Sérgio Ramos centrou e Lloriente, que havia substituído o cansado Fernando Torres, cabeceou de peixinho para o chão, de dentro da pequena área, para ótima defesa no reflexo de Eduardo. Ou logo depois, quando David Villa entrou livre pela esquerda e perdeu, quando tinha a melhor opção de tocar para o lado na direção de quem entrava.
O gol, a essa altura, era questão de tempo, mas havia o risco do tempo não esperar e levar a partida para a prorrogação e pênaltis, como desejava Portugal. Mas prevaleceu o velho ditado "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" e aos 18' a Espanha chegou ao gol que lhe daria a classificação. E foi através do artilheiro David Villa. Na pressão, Iniesta deu um toquinho na entrada da área para Xabi Alonso, que, de calcanhar, deixou Villa livre na esquerda, na cara de Eduardo, que ainda salvou o primeiro chute, mas não teve como evitar a conclusão fatal no rebote.
Daí para frente Portugal... só escapou de levar mais um. Como aos 24', quando Sérgio Ramos avançou mais uma vez rumo à área, cortou para a perna esquerda e soltou a bomba rasteira e cruzada, para grande defesa de Eduardo no cantinho direito. Ou aos 27', quando Villa chutou de fora e Eduardo de novo defendeu. Ou ainda aos 41', quando Lloriente recebeu um lançamento longo e cabeceou para baixo no canto esquerdo, com a bola raspando a trave.
Quanto a Portugal, sua única chance realmente relevante ocorreu aos 6' dessa etapa final, quando Almeida conseguiu puxar um ataque pela esquerda, limpou Puyol e procurou Ronaldo na área. A bola desviou na zaga e encobriu Casillas, quase caindo dentro do gol. E foi só.
Na Espanha, destaque para o artilheiro David Villa, os meias Iniesta e Xabi Alonso (que toque foi aquele?) e o lateral Sérgio Ramos, incansável no apoio. Em Portugal, só há lugar de honra para Eduardo. Não à toa, o goleiro foi o jogador que mais sentiu a derrota. Afinal, foi quem mais se empenhou por sua seleção em campo. A entrevista final de Carlos Queiroz, dizendo que a Espanha merecera por controlar mais a bola e que quem tem a posse de bola está sempre mais próximo da vitória, é um primor de paradoxismo. Se ele acha isso, como escala o meio de campo que ele escalou? Como deixar Deco e Liedson de fora assistindo a Pepe, Raul Meireles e Hugo Almeida maltratarem a bola? Pepe e Meireles só fizeram disputar com Ricardo Carvalho a malfadada honra de mais violento jogador no gramado. Apesar dos esforços, quem acabou expulso no final foi Ricardo Costa, após uma covarde cotovelada em Capdevilla. Que coisa feia...
Não sei o que foi melhor para a Copa do Mundo: a permanência do bom futebol espanhol ou a eliminação da retrancada e botinuda seleção portuguesa.
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 56: Espanha 1 x 0 Portugal.
O panorama durante os 90 minutos não mudou um instante sequer. Com a posse de bola e toques envolventes, a Espanha procurava espaços e rondava constantemente o gol guarnecido por Eduardo, até então invicto na competição. Com seus quatro homens do meio (Xabi Alonso, Xavi, Iniesta e Busquets, este um pouco menos) sempre à frente, mais os atacantes Torres e Villa e ainda o apoio constante do lateral Sérgio Ramos, a Espanha dominava o meio campo e ia criando chances de gol, apesar do forte bloqueio português à frente de sua área.
Já Portugal limitava-se a defender. Com Cristiano Ronaldo isolado, Simão mais recuado e muito distante dele e Hugo Almeida sempre brigando com a bola, pouco ameaçava a meta defendida por Casillas. Seu meio campo era absolutamente improdutivo e incapaz de uma troca de passes, o que não surpreendia, porque imaginar troca de passes entre os botinudos Pepe e Raul Meireles e Tiago requer um certo esforço mental. A presença do limitado Almeida à frente só tornava mais lógico o fato da equipe lusa nada criar. Desse modo, cabia a Portugal apostar no 0 x 0 e levar a decisão da vaga para a disputa de pênaltis. Só podia ser esse o objetivo do técnico Carlos Queiroz.
E lá foi o jogo nessa toada, com a Espanha atacando e o grito de gol preso na garganta. Grito que esteve mais próximo de sair aos 15' do segundo tempo, quando Sérgio Ramos centrou e Lloriente, que havia substituído o cansado Fernando Torres, cabeceou de peixinho para o chão, de dentro da pequena área, para ótima defesa no reflexo de Eduardo. Ou logo depois, quando David Villa entrou livre pela esquerda e perdeu, quando tinha a melhor opção de tocar para o lado na direção de quem entrava.
O gol, a essa altura, era questão de tempo, mas havia o risco do tempo não esperar e levar a partida para a prorrogação e pênaltis, como desejava Portugal. Mas prevaleceu o velho ditado "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" e aos 18' a Espanha chegou ao gol que lhe daria a classificação. E foi através do artilheiro David Villa. Na pressão, Iniesta deu um toquinho na entrada da área para Xabi Alonso, que, de calcanhar, deixou Villa livre na esquerda, na cara de Eduardo, que ainda salvou o primeiro chute, mas não teve como evitar a conclusão fatal no rebote.
Daí para frente Portugal... só escapou de levar mais um. Como aos 24', quando Sérgio Ramos avançou mais uma vez rumo à área, cortou para a perna esquerda e soltou a bomba rasteira e cruzada, para grande defesa de Eduardo no cantinho direito. Ou aos 27', quando Villa chutou de fora e Eduardo de novo defendeu. Ou ainda aos 41', quando Lloriente recebeu um lançamento longo e cabeceou para baixo no canto esquerdo, com a bola raspando a trave.
Quanto a Portugal, sua única chance realmente relevante ocorreu aos 6' dessa etapa final, quando Almeida conseguiu puxar um ataque pela esquerda, limpou Puyol e procurou Ronaldo na área. A bola desviou na zaga e encobriu Casillas, quase caindo dentro do gol. E foi só.
Na Espanha, destaque para o artilheiro David Villa, os meias Iniesta e Xabi Alonso (que toque foi aquele?) e o lateral Sérgio Ramos, incansável no apoio. Em Portugal, só há lugar de honra para Eduardo. Não à toa, o goleiro foi o jogador que mais sentiu a derrota. Afinal, foi quem mais se empenhou por sua seleção em campo. A entrevista final de Carlos Queiroz, dizendo que a Espanha merecera por controlar mais a bola e que quem tem a posse de bola está sempre mais próximo da vitória, é um primor de paradoxismo. Se ele acha isso, como escala o meio de campo que ele escalou? Como deixar Deco e Liedson de fora assistindo a Pepe, Raul Meireles e Hugo Almeida maltratarem a bola? Pepe e Meireles só fizeram disputar com Ricardo Carvalho a malfadada honra de mais violento jogador no gramado. Apesar dos esforços, quem acabou expulso no final foi Ricardo Costa, após uma covarde cotovelada em Capdevilla. Que coisa feia...
Não sei o que foi melhor para a Copa do Mundo: a permanência do bom futebol espanhol ou a eliminação da retrancada e botinuda seleção portuguesa.
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 56: Espanha 1 x 0 Portugal.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
COPA DO MUNDO 2010 ► Em jogo amarrado, Paraguai elimina Japão na cobrança de pênaltis
Decepcionante seria a melhor palavra. Paraguai e Japão não pareciam minimamente dispostos a se arriscar e o 0 x 0 do placar no tempo normal e na prorrogação foi a lógica consequência de um jogo no qual um gol só sairia por acaso, em um lance isolado. Com certeza, decepcionou também ao público que compareceu ao Loftus Versfeld, em Pretória. Ao menos os paraguaios saíram festejando a inédita classificação às quartas de final.
A decepção aumenta pelo fato de ambas as equipes terem condições de jogar mais, para frente, com um mínimo de audácia. Mas o técnico Gerardo Martini de cara mostrou que não iria se expor, ao sacar do time titular o atacante Valdez para a entrada de Benitez, que atuou mais recuado. O início até foi meio enganador. Mal a bola rolou e Okubo finalizava à direita da meta de Bravo, assustando o goleiro paraguaio. O Japão ameaçou pressionar a saída de bola, o Paraguai um pouco também, mas ficou por aí. Logo estavam os dois times esperando um ao outro e as defesas levando ampla vantagem, sem permitir que boas chances fossem criadas. O Paraguai tinha mais posse de bola, mas só conseguia com isso errar mais passes que o Japão, que por sua vez esperava para contra-atacar em velocidade, o que também não conhecia, porque além do Paraguai não sair muito, também errava muitos passes.
Aos 19', um raro momento de emoção na partida, quando Barrios recebeu na esquerda, driblou Komano e chutou nas pernas do goleiro Kawashima, que saía a seus pés. Na resposta, Matsui pegou uma sobra quase na intermediária ofensiva e acertou um belo chute no travessão. Mas a emoção foi ficando por aí. O máximo que ocorria era uma bola parada aqui, outra ali. O Japão simplesmente não conseguia fazer a bola chegar em Honda e não conseguia impor velocidade à saída de bola. O Paraguai procurava os flancos, mas com um ritmo muito lento, o que facilitava a defesa adversária.
No segundo tempo, nada mudou. O Paraguai tinha a bola, mas não criava, e o Japão não encaixava um contra-ataque. De um lado, Roque Santa Cruz pouco era visto na área (a bola também não chegava), Vera não se aventurava e Lucas Barrios até procurava bastante o jogo, mas sem muita ajuda. O pouco que surgia vinha dos pés do veterano lateral esquerdo Claudio Morel, que chegou com perigo algumas vezes ao fundo e batia bem as bolas paradas. Do outro, Honda jogava praticamente isolado no ataque, pois até Endo atuava mais recuado e Matsui mal chegava à frente. Do time veloz e envolvente no ataque que derrubou a Dinamarca, pouco se via.
Os treinadores mexeram, mas sem nada que alterasse o andamento da partida. O Japão ainda caiu mais após a saída de Matsui.
Assim, não foi surpresa alguma a vaga nas oitavas de final ser decidida na loteria da disputa de pênaltis. Loteria, sim. Tem quem diga que disputa de pênaltis é treino, capacidade, técnica, competência... Acho uma bobagem do ponto de vista lógico. Porque, se fosse assim, uma disputa de pênaltis que tivesse dez Zicos de um lado e outros dez Zicos do outro terminaria empatada, porque todos se equivaleriam em capacidade e talento para cobrar e, como todos seriam extremamente competentes, ninguém erraria. E não é assim que funciona. Na disputa de pênaltis, uma hora alguém tem que errar, por isso é uma loteria mesmo. Uma das coisas que mais me espanta é ouvir um comentarista dizer, com pompa, coisas tipo "disputa de pênaltis é competência". Não creio que seja.
Cobrança de pênaltis é competência, disputa de pênaltis, não, porque um vai ter que errar. Então, na loteria dos pênaltis, deu Paraguai, por uma bola no travessão de diferença, chutada por Komano.
Em um jogo desses, apenas defensores poderiam se destacar mesmo. Ambas as duplas de zaga, Paulo da Silva e Alcaraz no Paraguai, Túlio Tanaka e Nakazawa no Japão, foram muito bem. Aliás, a dupla de zaga japonesa fez uma excelente Copa do Mundo. O lateral Morel também se destacou no Paraguai, de seus pés saindo algumas das poucas jogadas de perigo da partida.
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 55: Paraguai 0 (5) x (3) 0 Japão.
A decepção aumenta pelo fato de ambas as equipes terem condições de jogar mais, para frente, com um mínimo de audácia. Mas o técnico Gerardo Martini de cara mostrou que não iria se expor, ao sacar do time titular o atacante Valdez para a entrada de Benitez, que atuou mais recuado. O início até foi meio enganador. Mal a bola rolou e Okubo finalizava à direita da meta de Bravo, assustando o goleiro paraguaio. O Japão ameaçou pressionar a saída de bola, o Paraguai um pouco também, mas ficou por aí. Logo estavam os dois times esperando um ao outro e as defesas levando ampla vantagem, sem permitir que boas chances fossem criadas. O Paraguai tinha mais posse de bola, mas só conseguia com isso errar mais passes que o Japão, que por sua vez esperava para contra-atacar em velocidade, o que também não conhecia, porque além do Paraguai não sair muito, também errava muitos passes.
Aos 19', um raro momento de emoção na partida, quando Barrios recebeu na esquerda, driblou Komano e chutou nas pernas do goleiro Kawashima, que saía a seus pés. Na resposta, Matsui pegou uma sobra quase na intermediária ofensiva e acertou um belo chute no travessão. Mas a emoção foi ficando por aí. O máximo que ocorria era uma bola parada aqui, outra ali. O Japão simplesmente não conseguia fazer a bola chegar em Honda e não conseguia impor velocidade à saída de bola. O Paraguai procurava os flancos, mas com um ritmo muito lento, o que facilitava a defesa adversária.
No segundo tempo, nada mudou. O Paraguai tinha a bola, mas não criava, e o Japão não encaixava um contra-ataque. De um lado, Roque Santa Cruz pouco era visto na área (a bola também não chegava), Vera não se aventurava e Lucas Barrios até procurava bastante o jogo, mas sem muita ajuda. O pouco que surgia vinha dos pés do veterano lateral esquerdo Claudio Morel, que chegou com perigo algumas vezes ao fundo e batia bem as bolas paradas. Do outro, Honda jogava praticamente isolado no ataque, pois até Endo atuava mais recuado e Matsui mal chegava à frente. Do time veloz e envolvente no ataque que derrubou a Dinamarca, pouco se via.
Os treinadores mexeram, mas sem nada que alterasse o andamento da partida. O Japão ainda caiu mais após a saída de Matsui.
Assim, não foi surpresa alguma a vaga nas oitavas de final ser decidida na loteria da disputa de pênaltis. Loteria, sim. Tem quem diga que disputa de pênaltis é treino, capacidade, técnica, competência... Acho uma bobagem do ponto de vista lógico. Porque, se fosse assim, uma disputa de pênaltis que tivesse dez Zicos de um lado e outros dez Zicos do outro terminaria empatada, porque todos se equivaleriam em capacidade e talento para cobrar e, como todos seriam extremamente competentes, ninguém erraria. E não é assim que funciona. Na disputa de pênaltis, uma hora alguém tem que errar, por isso é uma loteria mesmo. Uma das coisas que mais me espanta é ouvir um comentarista dizer, com pompa, coisas tipo "disputa de pênaltis é competência". Não creio que seja.
Cobrança de pênaltis é competência, disputa de pênaltis, não, porque um vai ter que errar. Então, na loteria dos pênaltis, deu Paraguai, por uma bola no travessão de diferença, chutada por Komano.
Em um jogo desses, apenas defensores poderiam se destacar mesmo. Ambas as duplas de zaga, Paulo da Silva e Alcaraz no Paraguai, Túlio Tanaka e Nakazawa no Japão, foram muito bem. Aliás, a dupla de zaga japonesa fez uma excelente Copa do Mundo. O lateral Morel também se destacou no Paraguai, de seus pés saindo algumas das poucas jogadas de perigo da partida.
Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 55: Paraguai 0 (5) x (3) 0 Japão.
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