domingo, 27 de junho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Goleada histórica classifica Alemanha com direito a peculiar vingança contra a Inglaterra

Assim que sentei para escrever me vieram duas ideias para começar o post sobre a partida desde já histórica em que a Alemanha goleou a Inglaterra por 4 x 1, na despedida da Copa do Mundo do estádio Free State, em Bloemfontein. Os ingleses também se despediram e a Alemanha avança, como de costume, às quartas de final da competição.

Pensei em começar com a frase que Muricy Ramalho, então treinador do São Paulo, soltou em uma coletiva: "A bola pune." Não referia-se às circunstâncias de hoje, mas dá para ser adaptada e se encaixar perfeitamente. Se em 1966 a Inglaterra fez o gol que lhe deu vantagem na prorrogação que decidiu a Copa do Mundo de forma irregular (ou melhor, não fez), quando o chute de Hurst estourou no travessão, quicou fora, mas o bandeira e o juiz correram para o meio, hoje o péssimo uruguaio Jorge Larrionda e seu auxiliar mandaram seguir um chute de Lampard que daqui, do Rio de Janeiro, vi na hora que a bola entrou e disse: "Gol.". E não entrou pouco, entrou muito, coisa quase de metro. Daí vem também aquela história de que os deuses do futebol não jogam, mas fiscalizam, mesmo que às vezes com muito atraso. Neste caso, 44 anos de atraso.

Outra maneira que pensei de começar era dizendo que esse negócio de analisar ou comentar em cima de (ou influenciado por) resultados, sem levar em conta o que se passa em campo, é algo muito cômodo, mas que pode causar certos embaraços. Quando a Alemanha perdeu da Sérvia, quase todo mundo deitou falação de que o time era fogo de palha, que havia goleado na estreia porque a Austrália é fraquinha, que isso e que aquilo. Poucos ressaltaram que a Alemanha dominava a partida, quando teve Klose injustamente expulso e, num momento de desacerto imediatamente após a expulsão, na cobrança daquela falta, a Sérvia chegou ao gol que lhe daria a vitória. Dali para frente, mesmo em desvantagem numérica em campo e no placar, a Alemanha impôs o mesmo jogo da primeira rodada, com fluidez na saída de bola e aproximação entre os homens de trás e da frente nas chegadas à área adversária. E o time desperdiçou um caminhão de gols, numa noite especialmente infeliz de Podolski, que até pênalti perdeu. A quem me perguntava, eu seguia dizendo que estava gostando muito da Alemanha, com seus garotos Muller e Oezil na armação e o apoio dos volantes Schweinsteiger e Khedira, que desarmam e saem para o jogo, todos chegando em Podolski, que ora é meia, ora é atacante, e em Klose, a referência na frente. Para o confronto contra o tradicional rival britânico, cravei nos bolões 2 x 1 Alemanha. Achava que os meninos podiam sentir a pressão de um mata-mata. Por isso e por ser um clássico, o placar apertado. Não achava que, apesar de ter nomes consagrados, a Inglaterra pudesse ser melhor na bola. E não foi.

Logo aos 4', Oezil já recebia nas costas da zaga, invadia a área pela direita e chutava sem muito ângulo para James salvar. Uma prévia do que viria adiante. A Inglaterra sempre procurou adiantar a marcação para abafar a saída de bola adversária, recuperá-la e assim ter espaço para criar jogadas de gol. Só que raramente conseguia isso, porque a Alemanha é muito bem distribuída taticamente em campo, raramente apela para chutões e seus jogadores costumam se aproximar para avançar com tabelas e toques de primeira, além de dribles inteligentes: o jogador passa por um adversário e tenta a tabela nas costas de quem vem na cobertura. Assim os espaços vão surgindo e, acertando os passes, pode-se acabar na cara do gol. O maior problema inglês era que, não conseguindo roubar a bola naquela abafada, não tinha jogo para criar saindo com ela dominada da defesa para o ataque. E aí, com todos os seus craques e em pleno século 21, apelava para aquela jogada aérea manjada desde o século 19.

Mas lógico que o futebol sempre apresenta fatores imponderáveis. O gol que abriu a goleada germânica nada teve a ver com táticas ou coisas afins. O goleiro Neuer cobrou um tiro de meta e a Jabulani voou até a intermediária adversária, pegando a zaga em linha e desatenta. O sempre útil Klose ganhou no corpo de Upson e tocou na saída de James. O oportunismo do artilheiro fazia a diferença.

A Inglaterra tentou reagir, mas nenhum de seus astros jogava bem. Lampard não aparecia, Gerrard também não e Rooney tentava se movimentar, se apresentava muito e errava tudo. Sem a bola chegar, o atacante Defoe nada podia fazer para ameaçar a meta de Neuer, que só fez uma defesa de verdade, mas nada difícil, aos 25', quando o volante Barry veio de trás e chutou de longe.

Por isso não foi surpresa o segundo gol alemão, que já havia se desenhado aos 30', numa tabelinha em que Muller tocou para Khedira, recebeu de volta de calcanhar e deixou, de novo nas costas da zaga (esses alemães adoram pegar uma defesa em linha), Klose sozinho com James, que fez grande defesa. No minuto seguinte, não teve jeito: nova tabela, Oezil na meia direita para Klose, que tocou de primeira mais no meio para Muller, que deu um tapa na esquerda para pegar Podolski entrando livre na área. O camisa 10 chutou cruzado e ampliou.

Para a Inglaterra seria fundamental diminuir ainda no primeiro tempo - e não levar mais, claro. Assim, superando suas incríveis limitações táticas, criou sua primeira chance aos 34', quando Milner avançou pela direita e fez ótimo cruzamento baixo na pequena área, onde Defoe se esticou todo para tocar, mas Neuer fez ótima defesa com o braço direito. E era por ali, pela direita, que a Inglaterra conseguia alguma coisa, com a caída de Milner e a voluntariedade do limitado lateral Johnson. Como no lance do gol inglês, aos 37'. Um escanteio foi cobrado curto para Lampard, que levantou para a área. O zagueiro Upson subiu mais que todos e cabeceou para o gol, numa saída meio desastrada de Neuer.

Logo no reinício, a Inglaterra chegou novamente ao ataque e Lampard limpou uma bola que sobrou na entrada da área e chutou, da altura da meia-lua. A Jabulani encobriu Neuer e quicou dentro do gol, no tal lance com o qual comecei o post e deve ser o mais falado na internet nos próximos dias. Teria mudado o destino dos times na partida? Quem sabe? Pela maneira como se portaram o tempo todo, acho que não, mas não há como garantir. De todo modo, a qualquer reclamação inglesa, os alemães poderão sempre responder: "E 1966?"

No segundo tempo, a Inglaterra entrou querendo pressionar mais. Milner e Johnson seguiam insistindo pela direita, com alguma ajuda de Lampard, enquanto Ashley Cole mostrava-se estranhamente discreto do outro lado. Gerrard aparecia mais e Rooney continuava errando, mas não parava de tentar, sempre trabalhando da meia-esquerda para dentro. Aos 6', mais um sinal de que o mar não estava para peixes do lado inglês: da intermediaria, Lampard cobrou uma falta no travessão, com Neuer fazendo um estranho golpe de vista. Mas antes disso, aos 5', eu anotava no meu bloco: "A Alemanha não sai de suas características." A Inglaterra pressionava, adiantava mais ainda a marcação, e os alemães seguiam fazendo seu jogo, saindo no toque, mantendo a mesma distribuição tática desde o apito inicial. E continuava ameaçando a meta guarnecida por James. Era só encaixar o passe certo na hora certa, pois o jogo estava mais para um terceiro gol alemão do que para um empate inglês.

E isso aconteceu aos 21', quando Lampard cobrou uma falta na barreira e detonou um mortal contra-ataque. Muller avançou pelo campo adversário e acionou Schweinsteiger. Oezil fez a o facão do meio para a esquerda e abriu o corredor na direita por onde Muller entrou e recebeu de Schweinsteiger, chutando forte na cara de James para fazer 3 x 1. Aí a porteira abriu de vez. Muller já havia perdido outra chance, quando um novo contra-ataque acabou de vez com as esperanças inglesas. Um lateral cobrado por Johnson no ataque foi recuperado pela defesa alemã e Podoslki, recuado na ajuda à marcação, lançou Oezil na esquerda e aí nem teve graça - para os ingleses. O habilidoso meia canhoto ganhou de Barry na corrida e avançou sozinho pela esquerda. Com toda a tranquilidade do mundo, entrou na área, esperou a chegada desesperada de Ashley Cole na cobertura e rolou macio para o meio, onde Muller chegava para marcar mais um e definir a goleada histórica.

Daí para frente, a Alemanha, depois de desperdiçar mais uma chance ou duas de ampliar, tocou bola, tocou bola, tocou bola... E estaria tocando até agora se Larrionda não apitasse o fim da partida. Para não dizer que nada aconteceu, nos últimos cinco minutos a Inglaterra se esforçou para diminuir o placar, mas só conseguiu fazer Neuer trabalhar um pouco para ganhar mais moral depois da saída em falso no gol de Upson.

Na Alemanha muita gente foi muito bem. Vou colocar á frente de todos Muller, que, segundo o comentarista Gerd Wenzel, da ESPN Brasil, há um ano jogava no time B do Bayer de Munique na terceira divisão de um campeonato regional da Bavária. Ponto para o treinador Joachim Loew.

De bom na Inglaterra, só mesmo o uniforme, a luta e a disciplina, pois em nenhum momento o time apelou em qualquer sentido. O pior de todos foi treinador Fábio Capello, que não conseguiu fazer o time jogar um tostão furado e insistiu em deixar fora centroavante inglês mais capaz de marcar gols, o grandalhão Peter Grouch, o que inclusive validaria aquela desesperada jogada área..

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 51: Alemanha 4 x 1 Inglaterra.

sábado, 26 de junho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Na prorrogação, Gana bate EUA e põe a África na quartas de final

Em mais um bom jogo das oitavas de final, Gana derrotou os EUA com um gol de Asamoah Gyan no início da prorrogação (1 x 1 no tempo normal) e assim o único país africano na competição alcança as quartas de final. A partida realizada no Royal Bafokeng Stadium, em Rustemburgo, foi equilibrada e acabou decidida num lance de desatenção da defesa norte-americana e oportunismo do atacante ganês, que converteu em gol uma oportunidade semelhante a outras que os EUA tiveram no segundo tempo e não foram capazes de converter.

A primeira desatenção da defesa norte-americana, aliás, ocorreu logo no início do jogo, aos 4', quando Clark errou no meio-campo, foi desarmado por Kwadwo Asamoah e Prince Boateng avançou com a bola dominada pela meia-esquerda até a entrada da área, de onde chutou forte, rasteiro, no canto direito do goleiro Howard, fazendo 1 x 0. Nervoso, Clark, que não jogara contra Eslovênia e Argélia, perdeu os nervos depois disso, quase foi expulso dois minutos depois ao atingir Boateng e acabou substituído ainda aos 31' da etapa inicial.

Gana trocava bem a bola e, mesmo sem criar muito, envolvia os americanos, que erravam passes e só foram se equilibrar mesmo em campo com a saída de Clark e a entrada de Maurice Edu. Nesse final dos primeiros 45 minutos, os EUA já reagiam e dividiam a posse de bola com os adversários. Uma das grandes virtudes do time foi não afobar-se atrás do empate enquanto estava desacertado em campo, procurando tocar a bola em busca de espaços, o que ficou mais fácil após a já mencionada substituição de Clark.

Aos 22', os EUA mostravam qual seria uma de suas armas durante a reação: a movimentação de seus homens de meio-campo. Nesse lance, Dempsey caiu pela esquerda e tocou dentro da área para o volante Bradley, que foi ao fundo e cruzou para o meio, mas Kingson defendeu na pequena área antes da bola chegar aos pés de Findley. Aos 34', a melhor oportunidade no primeiro tempo, quando novamente Dempsey lançou, desta vez na diagonal, da meia-esquerda para a direita, onde Findley recebeu, penetrou sozinho na grande área e finalizou para ótima defesa de pé esquerdo de Kingson, que começava a se destacar.

Aos 36', um lance que foi o prenúncio do gol que derrubaria os EUA na prorrogação: Kingson cobrou um tiro de meta, Gyan raspou de cabeça e Asamoah apareceu dentro da área nas costas de DeMerit para chutar rasteiro e Howard salvar com o pé direito. Um lance para guardar.

No segundo tempo, o panorama mudou um pouco. Dempsey se bandeou mais para o lado direito, Donovan alternava pelos dois lados e Bradley chegava com maior frequência para colaborar na criação de jogadas. Sempre organizadamente e jogando com muita técnica, os EUA passaram a dominar o meio e abriram um buraco no time africano. Mesmo sem ter a intenção de recuar exageradamente, passou a existir um grande espaço entre a linha defensiva e os meias ganeses em relação aos homens de frente. Assim, os contra-ataques existiam, mas eram erráticos, sem a arrumação tática do primeiro tempo.

Logo no minuto inicial, Dempsey desceu pela direita e esticou para Donovan, que centrou rasteiro. Altidore dominou de costas para a meta e ajeitou para Feilhaber (substituiu Findley no intervalo), que riscou da marca do pênalti para a esquerda e quase da pequena área tentou tocar por cima, mas Kingson saiu muito bem e defendeu com a mão esquerda.

Gana ainda tentou confundir a marcação adversária, passando Ayew da esquerda para a direita (onde passou mais tempo nas partidas anteriores), com Inkoom ocupando o outro lado. Mas nesse momento os EUA pressionavam bastante. Até que, aos 15, Feilhaber tocou na meia-direita para Donovan, que apenas escorou para Dempsey dominar e invadir a área, onde foi derrubado por Jonathan Mensah. Pênalti que Donovan cobrou secamente no canto esquerda, à meia altura, com a bola ainda batendo na trave antes de entrar, enquanto Kingson caía para outro lado. Foi bom para o juiz húngaro Viktor Kassai, que um minuto antes deixara de marcar a infração máxima quando o mesmo Jonathan derrubou Feilhaber dentro da área.

O gol não tirou o ímpeto ofensivo dos EUA, que tinha na frente um Altidore muito participativo, mas mau finalizador - e que não teve velocidade para aproveitar excelente lançamento de Donovan aos 21', permitindo a Kingson abafar a jogada. Gana também ameaçava reagir, adiantando a marcação para forçar os americanos a não sair trocando passes. Mas isso não adiantou o suficiente para impedir que as grandes oportunidades continuassem a surgir apenas de um lado do campo. Como aos 30', quando Altidore enfiou para Bradley nas costas da defesa e o bom volante penetrou na área pela esquerda e bateu cruzado, rasteiro, para mais uma ótima defesa de Kingson. Aos 35', Altidore recebeu outro lançamento no ataque, ganhou no corpo de Jonathan e na saída de Kingson tocou para fora, ao lado do poste direito.

Como se vê, os norte-americanos desperdiçaram muitas chances para um jogo decisivo só. E o castigo veio logo no início da prorrogação. Sabe aquele lance lá em cima que disse que era para guardar? Pois é. Um chutão despretensioso da defesa pegou Gyan em condições de ganhar no corpo de DeMerit e Bocanegra e soltar uma bomba no meio do gol, sem qualquer chance para Howard.

Se parecia, durante o segundo tempo, que os jogadores de Gana estavam sentindo mais cansaço, fica-se a impressão - ou a certeza - de que um gol tem um poder de mil vitaminas. Os ganeses se recompuseram e posicionaram-se bem à espera do adversário, procurando segurar a bola o máximo que pudessem. Por outro lado, psicologicamente a nova desvantagem abateu bastante o time dos EUA, que pela primeira vez na Copa, provavelmente exausto de tanto correr atrás (foi assim contra Eslovênia, Argélia e hoje), apelou para a ligação direta da defesa para o ataque, chuveirando bolas e mais bolas, o que não é de seu padrão de jogo.

E apesar de todo o esforço, os EUA não conseguiram empatar novamente a partida, criando poucas chances na base do abafa, inclusive com o goleiro Howard indo para a área em um escanteio e nem voltando, para tentar aproveitar um novo cruzamento. A última chance americana ocorreu no penúltimo minuto, quando Dempsey conseguiu finalizar forte, mas Jonathan salvou no meio do caminho o gol que seria o de empate.

Na seleção de Gana, Ayew segue fazendo uma grande Copa e agora é um dos artilheiros da competição. Mas Kingson foi um monstro, só não pegando mesmo o pênalti. Bem armado e muito forte fisicamente, o time carece de maior tranquilidade nos momentos adversos e de se preocupar com a maneira como divide certas bolas, o que o deixa sempre a um passo da tragédia, que pode vir sob a forma de um pênalti ou de uma tola expulsão. Boateng poderia ter sido expulso e Jonathan já tinha entrado de maneira afoita e derrubado um adversário na área um minuto antes de fazer o mesmo no lance que o juiz assinalou o pênalti.

Nos EUA, destaque para Lando Donovan, cuja falta de pernas na prorrogação foi praticamente fatal para a equipe. Dempsey também fez um grande jogo, com ótimos passes deixando companheiros em condições de marcar. O filho do técnico, Bradley, mostrou muita versatilidade, desarmando firme e ainda saindo com qualidade para o apoio. É uma seleção que, apesar de não possuir muita habilidade, exibe uma técnica bastante apurada e é extremamente disciplinada taticamente. Mérito também do treinador Bob Bradley, para mim, um dos melhores desta Copa do Mundo - na verdade, até aqui o melhor. Pena que deu o azar de substituir Altidore (morto) na prorrogação e colocar em seu lugar o centroavante Gomez, que nada fez.

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 50: Estados Unidos 1 x 2 Gana.

COPA DO MUNDO 2010 ► Em jogo bom, Uruguai derrota Coreia do Sul e depois de 40 anos chega às quartas de final

Fazia um fim de tarde lindo em Porto Elizabeth. Sol, céu azul, temperatura amena. De repente, nuvens, chuva, vento, frio... Assim como o clima, o panorama em campo também variou bastante na abertura das oitavas de final da Copa do Mundo da África do Sul entre Uruguai e Coreia do Sul. O jogo começou aberto, com a Celeste Olímpica um pouco melhor e aproveitando uma falha do goleiro coreano para abrir o placar. Mas a seleção sul-americana ainda no fim da etapa final começou a ceder espaços e no segundo tempo foi intensamente pressionado pela Coreia do Sul, que não desistiu até alcançar o empate. A partir desse instante, porém, o Uruguai voltou a atacar e o fez até desempatar com um golaço de Luís Suarez. Um bom jogo que com certeza agradou o público presente ao estádio.

Antes do primeiro minuto, as duas defesas já haviam dado indícios de que poderiam colaborar para a emoção da partida, a coreana com uma furada espetacular e a uruguaia com um passe no pé de um adversário, falhas não aproveitadas pelos ataques. Talvez ajudasse a dificultar a vida especialmente dos zagueiros (por que dos zagueiros, não sei, estou tentando arrumar uma desculpa para eles) o gramado em mau estado. As duas equipes movimentavam-se abertamente, até que aos 7' o Uruguai inaugurou o placar. Cavani rolou para Diego Forlan na ponta-esquerda e o atacante canhoto fez um improvável cruzamento de perna direita. A Jabulani passou por trás da linha de defesa e pelo goleiro Jung Sung Ryong, que perdeu o tempo de bola e não achou nada. A bola se ofereceu para Luís Suarez, que, quase sem ângulo, chapou de primeira para o gol.

A essa altura, o ataque uruguaio incomodava bastante, com Calvani municiando Forlan e Luís Suarez à frente. Já do outro lado, a Coreia pecava sempre na penúltima bola, aquela que deixaria alguém em condições de dar sequência a um lance de gol. Aos poucos, entretanto, a linha de volantes uruguaia, formada por Pérez, Arévalo e Alvaro Pereira, recuava e ia se fixando como uma linha mesmo, bem à frente dos zagueiros, fazendo um ótimo trabalho nesse sentido, mas isolando-se de Calvani, Suarez e Forlan e os abandonando no momento do contra-ataque. Apenas no fim do primeiro tempo os uruguaios acertaram uma raríssima resposta, com Maxi Pereira se aventurando ao ataque, recebendo na entrada da área e dando um lindo lençol num zagueiro. Na sequência, Maxi chutou antes da bola cair e o zagueiro interceptou a jogada com o braço. Foi pênalti, mas o juiz alemão Wolfgang Stark, bem colocado, achou que não.

Na Coreia do Sul, destacava-se o camisa 10 Park Chu Young, que logo aos 4' fez uma linda cobrança de falta da meia esquerda que chocou-se com o poste direito, com o goleiro Muslera podendo apenas fazer golpe de vista. Mas o time precisava caprichar nos passes para ameaçar mais.

No segundo tempo, o Uruguai vestiu a horrível fantasia de time pequeno que tem usado nas últimas décadas, ignorando a tradição e a força de sua camisa e recuando inteiramente para seu campo de defesa, sem sequer armar-se para contra-atacar. Por isso não foi surpresa que as chance de empatar para a Coreia, que apertava a marcação na saída de jogo adversária, fossem surgindo. A principal ocorreu aos 5', quando Lugano cortou mal um cruzamento, cabeceando nos pés de Park Chu Young, que dominou e de dentro da área bateu por cima, uma chance incrível que o bom camisa 10 não costuma desperdiçar. Mas outras chances ocorreram, principalmente aos 4', quando o lateral esquerdo Lee Young Pyo foi driblando até a linha de fundo e colocou a bola na pequena área sem que ninguém completasse para o gol, e aos 13', na cabeçada de Park Ji Sung no canto esquerdo que Muslera voou para pegar.

O gol de empate surgiu aos 22', num lance que revela um dos maiores problemas uruguaios: o excesso de vontade que às vezes provoca faltas idiotas, simplesmente assim. Como a que Lugano cometeu, saindo quase na intermediária para derrubar o adversário que estava de costas para o gol e próximo à linha lateral do campo. Na cobrança lá da esquerda, a defesa rebateu mal, Lugano se colocou pior e Muslera saiu errado, ficando fácil para Lee Chung Yong cumprimentar para o gol. E logo na saída de bola a Coreia voltou ao ataque e Park Ji Sung deixou Lee Chung Yong em ótimas condições para desempatar, mas o meia chutou em cima de Muslera. O Uruguai pagava caro por sua covardia e a chuva aumentava, assim como o vento. Ainda bem para a torcida que o jogo era bom.

Como num passe de mágica, porém, a seleção uruguaia lembrou que não era proibido atacar e que podia fazer isso muito bem. E aí foi sua vez de desperdiçar oportunidades, principalmente com Suarez, que se movimentava muito à vontade pelo gramado. Assim o 9 uruguaio ameaçou duas vezes: uma aos 27', quando recebeu impedido pela direita, levou uma fração de tempo para perceber que o bandeira nada assinalara e acabou batendo sem ângulo, forte, para Jung Sung Ryong espalmar; outra, logo no minuto seguinte, quando recebeu agora na esquerda, quase na pequena área, sozinho, e se precipitou ao cabecear em vez de dominar antes de finalizar. Uma hora o bom centroavante ia acertar - e acertou em grande estilo. Aos 34', o escanteio cobrado da direita foi parar em seus pés no lado oposto. Ele cortou dois zagueiros para dentro e da risca da grande área colocou de curva, com muita categoria, no canto esquerdo de Jung Sung Ryong. A bola ainda tocou na trave antes de morrer no fundo da rede. Golaço.

A Coreia do Sul, que precisou correr muito em busca do empate, novamente foi à frente atrás de nova igualdade, mas parecia cansada, se não física, mentalmente. Pressionou bastante, com muita garra, mas não chegou lá. Apesar de ter criado uma excelente oportunidade para marcar aos 41', quando Park Ji Sung fez um passe de cinema para Lee Dong Cook, que ficou sozinho na meia direita da grande área, mas se afobou e chutou de cabeça baixa, quando poderia ter dominado com calma e concluído melhor. A bola acabou batendo em Muslera e rolando por baixo do goleiro em direção ao gol, mas lenta o suficiente para a zaga aliviar.
Luís Suarez foi o destaque absoluto do Uruguai e da partida. Forlan e Calvani sofreram com o abandono a que foram relegados durante a maior parte do tempo, o que obrigava Forlan a fugir mais ainda de suas características e recuar para tentar jogar com Calvani. Lugano foi muita garra, coração, caras e bocas, mas falhou duas vezes no lance do gol coreano, como já havia feito antes, na bola que Park Chu Young desperdiçou.

Na Coreia do Sul, Park Chu Young deu uma apagada no final do jogo, mas foi bem a maior parte do tempo. Park Ji Sung fez dois ótimos lançamentos que deixaram seus colegas sozinhos com o goleiro. O meia do Manchester United realmente tem muita qualidade no apsse. E o lateral direito Cha Du Ri, apesar de limitado tecnicamente, apoiou o tempo inteiro. Mas os zagueiros estiveram inseguros e sofreram com Luís Suarez.

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 49: Uruguai 2 x 1 Coreia do Sul.

COPA DO MUNDO 2010 ► Meus três melhores momentos da primeira fase do Mundial

Acho um pouco de pedantismo afirmar "os melhores momentos", pois os meus melhores momentos muito provavelmente são diferentes dos de fulano, que também acha diferente de sicrano e por aí a coisa vai. Cada um tem sua opinião e seus próprios melhores momentos. Esses aqui formam meu pódio do que achei mais marcante na primeira fase da Copa do Mundo da África do Sul.

3 - Atuação do Japão contra a Dinamarca

Para surpresa de todo mundo, o futebol mais bonito da Copa até agora foi jogado pelo Japão, no segundo tempo da partida em que derrotou a Dinamarca por justo - e até modesto - placar de 3 x 1 em Rustemburgo.

A atuação do meio-campo do CSKA Moscou Honda, camisa 18 japonês, foi de abrir os olhos - os nossos, não havia intenção de qualquer trocadilho aqui. E o drible de letra que deu em Rommedahl no lance do terceiro gol é de entrar em qualquer antologia de jogadas mais bonitas dos Mundiais.

E um detalhe: foram dois gols de falta, um de Honda e um de Endo. Sempre que vejo os japoneses cobrando faltas assim (e cobram bem) me lembro da passagem de Zico por lá, como técnico e jogador, e tenho certeza que essa cultura de treinar cobranças de falta o craque brasileiro ajudou a difundir no futebol nipônico.

2 - Empate da Nova Zelândia com a Itália

Quem está acostumado a ver seu país sempre jogando com as honras de favorito às vezes não percebe o que significa um ponto, um resultado ou uma atuação honrosa mesmo em uma derrota para quem está do outro lado da corda. Isso aconteceu na partida Itália 1 x 1 Nova Zelândia.

O simples fato de marcar um gol e ainda arrancar um empate no final do jogo contra a Eslováquia já foi motivo de orgulho para o insipiente e praticamente amador futebol neozelandês. Empatar com os tetracampeões mundiais, onde se disputa um dos campeonatos mais ricos do planeta, então...

Reproduzo mais uma vez o início da matéria do New Zeland Herald, de Auckland, na manhãzinha daquele dia (o jogo foi realizado durante a madrugada de lá): “All Whites 1 x 1 Itália . Dê uma olhada na tabela. Olhe de novo. Em segundo lugar, empatada com a Itália, está a Nova Zelândia.” O jornal faz questão de salientar a diferença entre o futebol dos dois países: enquanto a Itália tem 3.541 jogadores profissionais de futebol, a Nova Zelândia tem... 25! E o segundo parágrafo termina assim: Um país que disputara apenas quatro partidas de Copa do Mundo antes desta manhã empatou com um que tem quatro títulos mundiais. Loucura.”

Pois é, apenas 25 jogadores profissionais, todos pertencentes ao mesmo e único clube profissional do país. E onde esse clube disputa partidas oficiais, então? Na liga profissional da vizinha Austrália. E ainda assim empataram mais uma vez na terceira rodada contra o Paraguai e voltaram para casa invictos e como verdadeiros heróis do esporte nacional.

E vamos combinar assim: no frigir dos ovos, acabaram não se classificando para as oitavas de final apenas por causa daquele pênalti bem safado marcado a favor da Itália. Se não...

1 - Vitória nos acréscimos dos EUA sobre a Argélia

O parágrafo que usei para abrir o texto sobre a Nova Zelândia acima serve para começar aqui também. Lógico que os EUA estão bem mais adiantados, mas ainda não possuem qualquer resultado de maior expressividade e seu futebol profissional sofre em busca de investimentos que o fortaleçam e o torne atraente e mercadologicamente competitivo como os esportes de elite norte-americanos, como basquete, futebol americano, beisebol...

E ao contrário da rejeição que normalmente o país desperta por sua política externa, o esforço dos profissionais americanos de futebol costuma gerar simpatia mesmo em quem vê com contrariedade essa atuação do país no campo da política externa (expressão repetida, foi mal), como o blogueiro aqui.

O futebol é o esporte mais praticado pela garotada de lá, mas como não há perspectivas profissionais, quando os jovens crescem deixam o esporte de lado. E assim passou a ser considerado apenas um hobby infantil e adolescente. Mas as coisas andam melhorando e a Major League Soccer tem se esforçado bastante para tornar seu campeonato mais atraente. Até por isso essa vitória sofrida, dramática e emocionante - e justa - foi importante.

Os norte-americanos gostam de vencer e seu futebol é sempre coadjuvante. E gostam de muitos pontos, por isso costumam ver com maus olhos um esporte em que o jogo pode acabar 0 x 0. Mas agora estão aprendendo que um simples 1 x 0 pode provocar emoções inimagináveis.

Para todos que gostam de futebol e acompanham com certa isenção ainda ficou aquela sensação de até ingênua de justiça, de acreditar que os deuses do futebol não jogam, mas fiscalizam (apesar de uns cochilos aqui ou ali). Afinal, contra a Eslovênia os EUA estavam conseguindo uma grande virada, quando foram incrivelmente garfados no final e tiveram um gol anulado de forma absurda. E mesmo contra a Argélia já haviam tido um gol mal anulado.

Assim, depois de dominar a maior parte do jogo (especialmente na etapa final), sempre procurar o gol que lhe daria a classificação e desperdiçar uma chance atrás da outra (sempre fez falta um artilheiro a essa seleção), conseguiu finalmente marcar com o bom Donovan já nos acréscimos, não sem antes desperdiçar mais uma oportunidade no próprio lance do gol, o que tornou o desfecho ainda mais emocionante.
Há quem ache que esse negócio de futebol nunca vai pegar nos EUA. Eu acho que isso um dia pega, sim. Esse vídeo muito legal que foi postado no YouTube mostra que já quem sinta o futebol como nós, por exemplo.

COPA DO MUNDO 2010 ► Blogueiro apostou que Suíça não passava por Honduras - e não passou mesmo

Em dois dos bolões que fiz cravei 1 x 1. No outro, 2 x 1 para Honduras. Só não sei de onde tirei da cabeça que a Suíça poderia marcar. O jogo, fraco tecnicamente, acabou valendo pela movimentação e vontade dos times em marcar de qualquer maneira durante o segundo tempo. Enquanto a Suíça tentava partir para cima, mas não sabia como, por atacar ser um modo de jogo fora de sua programação, a seleção de Honduras desperdiçava caminhões de contra-ataques que poderiam ter levado o país à sua primeira vitória na história das Copas do Mundo. No final, o público pareceu se divertir muito no Free State, em Bloemfontein, cantando e dançando independente do que acontecia - ou não - em campo.

Desde o início a Suíça procurou tomar a iniciativa, mas estava visivelmente fora de sua zona de conforto. Aos poucos, começava a ceder espaços para Honduras, que esbarrava em sua falta de técnica para acertar passes que a levassem a contra-atacar com perigo. Assim, pouca coisa acontecia.

Mas podemos lembrar o chute cruzado de Inler, aos 10', que saiu à esquerda da meta de Valladares, e a cabeçada de Derdiyok para baixo e para fora, após centro de Barnetta da meia direita. Ou duas oportunidades melhores no fim do primeiro tempo, ambas desperdiçadas por Nkufo. A primeira aos 42', quando tentou empurrar para o gol com o peito um cruzamento de Derdiyok (saiu jogando desta vez, o time precisava vencer) da direita que o encontrou bem posicionado no segundo pau. Dois minutos depois, cobrança de falta da intermediária que Nkufo, novamente no segundo pau, cabeceou para fora. Honduras não conseguiu nada de relevante nesta etapa, mas os espaços estavam lá, prontos para serem ocupados.

No segundo tempo, o panorama continuou o mesmo (Suíça atacando, Honduras com espaços para contra-atacar), mas as jogas de área foram se sucedendo na medida em que o tempo passava. Talvez pela necessidade de vitória suíça para se classificar para as oitavas de final de um lado, talvez pela antevisão do fim de Mundial para os hondurenhos do outro. O fato é que finalmente a emoção apareceu em campo. Apareceu e irritou os torcedores dos dois países.

Irritou em relação à Suíça pela imensa dificuldade de criar. E irritou em relação a Honduras pelo sem número de contra-ataques com vantagem numérica desperdiçados ou por jogador tocar na hora de cruzar ou cruzar na hora de chutar ou chutar na hora de tocar e qualquer outra combinação imaginável e ineficaz que se possa imaginar.

A melhor chance de Honduras concretizada em finalização, mesmo, foi aos 8', quando Alvarez recebeu na direita, entortou Grichting e colocou na cabeça de Suazo, que errou a cabeçada já na pequena área. Outra chance incrivelmente jogada fora foi quando encaixou bem um contra-ataque (coisa rara) e Suazo tocou para Alvarez na entrada da área e o meio-campista do Bari, da Itália, dominou e colocou alto no canto esquerdo, para estupenda defesa de Benaglio. As demais oportunidades foram quase inteiramente desperdiçadas naquela triste valsa do tocar-chutar- cruzar na hora errada.

Com Yakin no lugar de Fernandes, a Suíça encontrou mais facilidade para atacar e, mesmo que modestamente, ia criando suas chances. Mas a pressão, conforme aumentava, mais a expunha, porque jamais havia algum helvético na segunda bola à frente da área hondurenha e dali partiam os contra-ataques adversários. Além disso, a equipe centro-americana adiantava a marcação em cima da saída de bola adversária, o que ampliava o campo de jogo e aumentava os espaços para ambos os lados.

Mas o time europeu teve boas oportuinidades, como aos 15', quando Barnetta penetrou na área e chutou para a defesa de Valladares. Ou com o forte chute do lateral Lichtsteiner aos 34', livre pela meia direita da entrada da área, que saiu por cima do travessão. Ou ainda aos 38', quando Derdiyok centrou da direita e a bola cruzou toda a pequena área sem que Frei ou Yakin conseguissem empurrar para a rede. Curiosamente, aos 46', a seleção de Honduras teve uma chance parecida, quando Martinez cobrou escanteio na esquerda e a bola passeou pela pequena área sem que Turcios, Chavez ou Welcome conseguissem fazer o toque final para o gol.

O lance mais incrível de todos, porém, não valeu, pois foi assinalado impedimento antes. Mas a defesa que Valladares fez aos 39' da etapa final, depois que Frei (impedido) pegou uma sobra e chutou quase da marca do pênalti no canto direito do gol, foi qualquer coisa de espetacular. O goleiro voou e espalmou com a ponta dos dedos para escanteio. O detalhe plástico da jogada naquela supercâmera lenta, de frente para a área, é impressionante. Na imagem, vemos Frei se esforçar para bater bem na bola, tendo à frente apenas a rede. A bola vai em direção ao canto e aos poucos surge na tela a mão direita de Valladares, que voou com sensacional plasticidade para praticar a defesa. Incrível, espetacular, impressionante, sensacional... Muitos adjetivos num mesmo parágrafo, mas foi inevitável. Se encontrar algum vídeo com esse lance no YouTube, eu posto aqui.

No esforço suíço, Benaglio fechou uma bela Copa. Barnetta mostrou que não deveria ter sido sacado do time que começo jogando contra o Chile e Lichtsteiner foi bem na defesa e tentou ajudar o ataque. Na seleção de Honduras, Valladares foi, mais uma vez, muito bem e a defesa cuidou bem do ataque adversário durante todos os momentos de pressão. A lamentar, principalmente, os vários erros cometidos em contra-ataques que poderiam ter dado ao país a primeira vitória em Mundiais.

Link da página da Fifa sobre o jogo: Jogo 48: Suíça 0 x 0 Honduras.