terça-feira, 20 de julho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Algumas curiosidades do Mundial da África do Sul

Algumas curiosidades sobre o recém-findo Mundial da África do Sul eu não gostaria de esquecer, por isso vou fazer o registro aqui.

- Uma coisa me incomodava no início da competição e não sabia exatamente o quê. Depois me toquei: todo mundo comentava do frio que fazia na Àfrica do Sul, mas as crianças que entravam uniformizadas como jogadores de futebol ao lado dos atletas a cada jogo estavam sempre desagasalhadas! Nos últimos dias de bola rolando alguém se tocou e as crianças passaram a entrar em campo com vistosos e, provavelmente, quentes agasalhos.

- Na estreia da seleção da Sérvia contra Gana (vitória de Gana por 1 x 0), o meia Dejan Stankovic tornou-se o primeiro jogador a disputar três Copas do Mundo defendendo três países diferentes. Sua jornada histórica começou em 1998, na França, com o uniforme da seleção da Iugoslávia. Depois, em 2006, ele voltaria a uma Copa do Mundo, dessa vez com a seleção da Sérvia e Montenegro.

- Essa partida Gana 1 x 0 Sérvia também registrou outro fato curioso e inédito: foi a primeira vez que dois goleiros do mesmo time se enfrentaram em uma Copa do Mundo. Tanto o ganês Kingson quanto o sérvio Stojkovic defendem o Wigan Athletic, da primeira divisão do futebol inglês.

- Por falar em goleiros, os três goleiros nigerianos convocados para o Mundial na África do Sul jogam profissionalmente em Israel. O titular Enyeama é do Hapoel Tel-Aviv, enquanto Ejide e Aiyenugba defendem o Hapoel Petah Tikva e o Bnei Yehuda, respectivamente.

- O treinador hondurenho, Edgar Alvarez, mostrou uma tremenda falta de senso de oportunidade. Se com a bola nos pés não havia muita esperança de sua seleção fazer história, ainda assim havia uma chance boa do país escrever seu nome nos anais dos Mundiais. Para isto, bastaria que Alvarez tivesse colocado juntos em campo os irmãos Wilson Palacios, Jerry Palacios e Jhony Palacios. Wilson e Jerry ainda entraram como titulares contra a Suíça, mas Johny sequer jogou durante a Copa. Seria a primeira vez que três irmãos defenderiam seu país em uma partida de Copa do Mundo. A história que Honduras acabou fazendo foi a de sair da África do Sul sem marcar um gol sequer.

- No quesito irmãos, a partida Alemanha x Gana apresentou o inusitado e inédito duelo entre os irmãos Boateng. Enquanto o irmão mais velho Kevin Prince-Boateng era um dos destaques de Gana, o caçula Jerome Boateng se firmava na lateral esquerda da Alemanha. Os dois nasceram em Berlim, mas têm ascendência ganesa. Prince Boateng chegou a jogar em seleções de base germânicas, mas optou por defender o país africano como profissional.

FÓRMULA INDY ► Muitos acidentes, muitas bandeiras amarelas e mais uma vitória de Will Power, agora em Toronto

A 11ª prova da temporada 2010 de Fórmula Indy, realizada no circuito de rua de Toronto, no Canadá, no domingo passado, foi marcada por muitos acidentes, muitas bandeiras amarelas e nova vitória do australiano Will Power, líder do campeonato.

Infelizmente, não vi a corrida, estava na casa de meus pais para um almoço. E me dei mal, porque, pelo que diz meu amigo Márcio Arruda em seu blog, foi uma das corridas mais legais do ano.

Tony Kannan foi o melhor brasileiro na prova, chegando em 4º lugar. Agora ele está em 7º na classificação geral, com 273 pontos, uma posição atrás de Hélio Castroneves, que soma 285. Os dois ainda podem sonhar com o título, mas Power está na dianteira com 377 pontos.

Segue aí aquele compacto legal que a Indy Car distribui via YouTube:


Aliás, lá neste link aqui do YouTube, a Indy disponibiliza a corrida inteira para quem quiser assistir.

A classificação da corrida (em negrito, os pilotos brasileiros):

1º) Will Power (AUS/Penske) - 60 voltas - 1h47min15s2554
2º) Dario Franchitti (ESC/Chip Ganassi) - a 1s2757
3º) Ryan Hunter-Reay (EUA/Andretti) - a 1s7605
4º) Tony Kanaan (BRA/Andretti) - a 3s5382
5º) Graham Rahal (EUA/Newman-Haas) - a 9s7349
6º) Danica Patrick (EUA/Andretti) - a 11s9439
7º) Justin Wilson (ING/Dreyer-Reinbold)– a 12s3783
8º) Marco Andretti (EUA/Andretti) - a 16s3360
9º) Simona de Silvestro (SUI/HVM) – a 21s5321
10º) Dan Wheldon (ING/Panther) - a 23s1537
11º) Vitor Meira (BRA/AJ Foyt) - a 25s8960
12º) Hideki Mutoh (JAP/Newman-Haas) - a 26s2878
13º) Paul Tracy (CAN/ Dreyer & Reinbold) - 84 voltas
14º) Mário Moraes (BRA/KV) - 84 voltas
15º) Tomas Scheckter (AFS/Dreyer-Reinbold) - 84 voltas
16º) Bertrand Baguette (BEL/Conquest) - 84 voltas
17) Alex Tagliani (CAN/FAZZT)- 84 voltas
18º) Ryan Briscoe (AUS/Penske) - 83 voltas
19º) E.J. Viso (VEN/KV) - 82 voltas

Não completaram:

20º) Scott Dixon (NZL/Chip Ganassi) - 71 voltas
21º) Raphael Matos (BRA/Luczo Dragon) - 64 voltas
22º) Mario Romancini (BRA/Conquest) - 31 voltas
23º) Alex Lloyd (ING/Dale Coyne) – 26 voltas
24º) Hélio Castroneves (BRA/Penske) - 21 voltas
25º) Takuma Sato (JAP/KV) - 15 voltas
26º) Milka Duno (VEN/Dale Coyne Racing) - 8 voltas

Link para a classificação completa do campeonato na página oficial da Fórmula Indy: http://www.indycar.com/schedule/standings/.

Além da pontuação pela ordem de chegada ao encerramento de uma corrida, cada piloto da Fórmula Indy que liderar o maior número de voltas em cada prova receberá um bônus de 2 pontos, somados à pontuação normal. Além disso, há um ponto extra para quem conquistar a pole-position. Com isso, é possível que um piloto some 53 pontos em uma corrida. (Fonte:http://www.band.com.br/esporte/formula-indy/classificacao.asp)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

COPA DO MUNDO 2010 ► Minha seleção da África do Sul

No gol, Neuer (Alemanha), extremamente regular. Na lateral direita, o espanhol Sérgio Ramos voou a Copa inteira. Algumas duplas de zaga brilharam e resolvi escolher assim, optando pelos alemães Friedrich e Mertesacker. A lateral esquerda não foi muito exatamente uma posição privilegiada na África do Sul. Estava gostando de Fernando Coentrão, mas Portugal jogou tão atrás contra Espanha que ele não pôde aparecer na hora do "vamos ver". Vou ficar então com o uruguaio Fucile, que jogou com extrema valentia e correção tática.

Meu esquema titular será o 4-5-1, para poder aproveitar o máximo de meio-campistas possível. Felizmente, o setor pensador do futebol foi o que apresentou os principais destaques do Mundial. Meus cinco titulares seriam Schweinsteiger (Alemanha), Xavi (Espanha), Iniesta (Espanha), Thomas Müller (Alemanha) e Sneijder (Holanda).

Meu atacante isolado, ao menos no papel, pois na prática teria a companhia dos talentosos meias vindos de trás, é Diego Forlán (Uruguai), eleito o melhor da Copa pela Fifa.

Então minha seleção da Copa do Mundo 2010 seria:

Neuer (Alemanha)

Sérgio Ramos (Espanha)
Mertesacker (Alemanha)
Friedrich (Alemanha)
Fucile (Uruguai)

Schweinsteiger (Alemanha)
Xavi (Espanha)
Iniesta (Espanha)
Thomas Muller (Alemanha)
Sneijder (Holanda)


Diego Forlán (Uruguai)

Meu craque da Copa: Thomas Muller (Alemanha)
Meu técnico: Vicente del Bosque (Espanha)
Minha revelação: Oezil (Alemanha)

Meu time reserva atuaria num 4-3-3, em homenagem à vice-campeã Holanda. No gol, Casillas, que salvou a pátria em momentos decisivos, apesar de algumas intervenções estranhas (como aquele gol que ia levando do campo adversário na final) e o beijo que aplicou na sua namorada durante entrevista após a conquista do título, colocando a moça numa tremenda saia justa. A lateral direita vai para o jovem veterano (tem apenas 26 anos) capitão alemão Philipp Lahm. Como estou optando por duplas para a zaga, faço uma escolha improvável: os japoneses Nakazawa e Túlio Tanaka, que pouco falharam e foram particularmente muito bem o jogo aéreo, mesmo contra seleções tradicionalmente fortes na bola alta. Na lateral esquerda, fico com o paraguaio Claudio Morel, melhor válvula de escape lateral do time, apesar de ter sido impedido de apoiar contra a Espanha.

Meu meio-campo fica com dois volantes talentosos, Xabi Alonso e a outra revelação alemã, Khedira, sendo completado pelo meia ofensivo Oezil.

Na frente, três atacantes. Mais enfiado, o ganês Asamoah Gyan, vítima daquele dramático momento nas quartas de final contra o Uruguai, mas que foi bem a competição inteira. Movimentando-se mais e voltando um pouco para buscar jogo quando necessário, o arisco e habilidoso uruguaio Luís Suárez e o artilheiro campeão David Villa, caindo pela esquerda como tanto fez e como tanto se deu bem.

Então seria esta minha seleção B do primeiro Mundial realizado em solo africano:

Casillas (Espanha)

Philipp Lahm (Alemanha)
Nakazawa (Japão)
Túlio Tanaka (Japão)
Claudio Morel (Paraguai)

Xabi Alonso (Espanha)
Khedira (Alemanha)
Oezil (Alemanha)


Luís Suárez (Uruguai)
Asamoah Gyan
(Gana)
David Villa
(Espanha)

COPA DO MUNDO 2010 ► Meus outros sete melhores momentos: 64 jogos depois, para sempre na memória

Ainda durante a Copa do Mundo, fiz um post com meus três melhores momentos da primeira fase da competição (tem ele aqui). Agora, uma semana após a conquista espanhola, vou completar uma lista com "os meus 10 mais" com outros sete momentos. Desta vez, em ordem cronológica.

7 - O copioso choro do atacante Jong Tae-Se durante a execução do hino da Coreia do Norte antes do jogo contra o Brasil

Filho de pais sul-coreanos, Jong Tae-Se nasceu no Japão, mas sempre estudou em escolas ligadas ao regime comunista da Coreia do Norte e decidiu naturalizar-se por opção ideológica. Ele muito insistiu para que fosse convocado e não resistiu à emoção ao ouvir o hino do país que escolheu como pátria. Algo que emocionou a todos, especialmente nestes tempos em que a Copa do Mundo parece apenas só mais uma obrigação para estrelas do mundo todo que faturam milhões com o futebol.

6 - O desespero de Asamoah Gyan após a eliminação de Gana nas quartas de final contra o Uruguai

Todo mundo que acompanhou a Copa com certeza ainda está com esse jogo na cabeça. No último minuto do segundo tempo da prorrogação, o atacante uruguaio Luís Suárez evitou com as mãos, em cima da linha, aquele que seria o gol da classificação da seleção africana e da eliminação de seu país. Suárez foi expulso e deixou o campo aos prantos. Gyan, artilheiro e melhor jogador ganês, inclusive naquela noite, quando foi um verdadeiro guerreiro, cobrou no travessão. Na disputa de pênaltis, o Uruguai converteu a primeira cobrança. Em seguida, Gyan pegou a bola, caminhou para a marca de cal e chutou para igualar a série, com uma personalidade poucas vezes vista. Mas não deu para Gana, o Uruguai venceu e, após Loco Abreu converter o gol da classificação com aquela incrível cavadinha, Asamoah Gyan simplesmente quase sofreu um colapso nervoso, mal se aguentando de pé, completamente inconsolável. Definitivamente, para ele defender seu país numa Copa do mundo não era uma mera obrigação profissional.

5 - As históricas goleadas da Alemanha sobre Inglaterra e Argentina

O melhor futebol de toda a Copa da África do Sul apareceu pelos pés germânicos em duas já antológicas goleadas sobre Inglaterra e Argentina, pelos inapeláveis placares de 4 x 1 e 4 x 0, respectivamente. Não bastasse o fato de Inglaterra e Argentina serem duas das potências atuais da bola e duas das candidatas ao título, são ambos os países provavelmente os maiores rivais alemães no futebol, talvez só comparados aos holandeses. Foram atuações de encher os olhos de um meio-campo formado por Khedira, Schweinsteiger, Muller e Oezil, muito bem acompanhado por um mais aberto e avançado Podolski e pelo artilheiro Klose. Para se ter ideia do feito, nunca uma seleção goleou duas rivais numa mesma Copa do mundo, em sequência, no espaço de uma semana. Sensacional.

4 - O futebol bola-no-pé da campeã Espanha

Não embarco no entusiasmo exagerado em relação à campeã Espanha. Acho que falta, efetivamente, um bom centroavante para que possa ser comparada às maiores campeãs mundiais ou mesmo a equipes que não venceram, mas jogaram futebol que marcaram, como a Hungria de 54, a Alemanha de 74 ou o Brasil de 82. Talvez Fernando torres, se estivesse bem ou em forma ou se jogasse o que se supõe que ele joga (a Copa serviu também para colocar na berlinda todos esses craques mercadológicos, mas isso é outra história...). Mas evidentemente que todo mundo que é apaixonado por futebol deve mesmo jogar as mãos aos céus por ter como campeã mundial uma equipe que valoriza a posse de bola, o toque e a habilidade, sem espaço para botinudos brucutus em sua meia-cancha. O título espanhol fará um grande bem aos próximos anos do esporte. Assim como o vice da Holanda, que, se foi mal na final, é um país que insiste, veja só, em pleno século 21, em jogar sempre com três atacantes, sendo dois abertos pelas extremas! Ou seja: como verdadeiros pontas, uma posição cujo fim foi vaticinado especialmente nos anos negros do futebol, aqueles malfadados anos 90.

3 - A torcida africana e suas vuvuzelas

Tem quem não goste, mas faço parte do time que gostou - e muito - das vuvuzelas. Tenho a minha e venci o desafio de aprender a tocar. Não, não basta apenas soprar, rola uma técnica... Acho que a itinerância da Copa do Mundo e de outros megaeventos eventos esportivos tem sua principal relevância no apresentar a todo o mundo não só uma capacidade exemplar de realização do evento (como única, exclusiva e estupidamente entendem a Fifa e o COI), mas os hábitos de seu povo, as características de seus torcedores, mostrar como pulsam seus estádios e demais palcos esportivos. E os estádios africanos pulsam ao ritmo das vuvuzelas e do canto e da dança de seus torcedores - para desgosto da Fifa, que sonha com um público de ópera em palco de TV, sentado e apenas manifestando-se de acordo com as orientações do placar eletrônico; FAZER SILÊNCIO, APLAUDIR, MANIFESTAR ESPANTO... Como, aliás, também defende o preconceituoso técnico campeão mundial pela Argentina em 1978, quando trabalhou a serviço do regime militar que desgovernava o país na época, Cesar Luís Menotti, que teve a cara de pau de dizer que a Fifa só deveria promover a Copa do Mundo em países onde o torcedor entendesse de futebol e não ficasse fazendo barulho infernal durante as partidas. Dá para acreditar nisso?

2 - As imagens da TV geradora do evento

Jamais, em tempo algum, viu-se no futebol uma qualidade de transmissão como a vista na África do Sul. Mesmo os jogos mais chatos eram visualmente irresistíveis com aquele show que as câmeras nos proporcionaram. E olha que o blogueiro aqui não tem TV full HD, LCD , plasma, 3D ou afins.

1 - A Copa do Mundo da África do Sul como um todo

Eu há muito tempo tenho a opinião de que eventos esportivos globais devem fugir de grandes e tradicionais centros urbanos, muitas vezes envoltos em tensões de diversos tipos, e ir à busca de regiões mais periféricas, digamos assim. Copa na Alemanha? Olimpíada na Grécia? Uma chatice, sem sal algum. Tá, vá lá que a Grécia tem um valor olímpico histórico, mas que só justificaria uma nova competição lá em 1996, centenário dos Jogos, mas esse ano foi, após uma eleição fraudulenta, para Atlanta, que realizou provavelmente a pior Olimpíada das era moderna, com direito a caos no transporte, atentado a bomba e tudo. Fora isso... A gente, ou melhor, eu fico daqui preocupado o tempo todo com a possibilidade de atentados terroristas ou quaisquer manifestações sociais e/ou políticas que possam gerar violência. Quando se parte para áreas mais distantes do grande fluxo de transporte global ou de mais difícil acesso, mais fácil se torna controlar o ir e vir do público e organizar a segurança do evento. Assim foi na Coreia do Sul e no Japão em 2002, do mesmo modo que em Sydney em 2000. A África do Sul acabou sendo assim também, felizmente. Um povo tremendamente receptivo e um ambiente mais leve para todos. Foi tão light a coisa que muitos jornalistas espantaram-se como havia um aparente relaxamento em algumas ocasiões. Claro, assim como o Brasil, o país tem problemas sociais que geram violência e há áreas perigosas, onde você pode ser vítima de furtos ou roubos sem surpresa alguma. Mas são problemas internos e controláveis com uma ação mais eficaz da segurança, que, se feita de modo apropriado, ainda pode deixar um legado positivo no pós-Copa. Esportivamente, ainda na primeira fase ouvi muita gente dizer que a Copa era fraca, muito ruim, uma das piores da História etc. Aos poucos as opiniões foram mudando, o que reforça o exagero daquelas primeiras impressões. Até, porque quem as fez não acompanhou, com certeza, aquele atentado ao futebol que foi a Copa de 1990 na Itália, por exemplo. No frigir dos ovos, mesmo 1986, 1998, 2002 e 2006 perdem na comparação com o primeiro Mundial africano, que, ao meu ver, fica ali pau a pau com o de 1994 nos EUA, perdendo para todos os anteriores, sem demérito algum. Desde que a Fifa começou a inchar a competição, em 1982, passando de 16 para 24 seleções e depois para as atuais 32, o nível técnico, obviamente, só tenderia a cair mesmo. Mas este ano houve a Alemanha, a Espanha, mesmo a Holanda também jogava com a bola no pé, houve a emoção norte-americana, o inesquecível Gana x Uruguai, a surreal épica campanha invicta dos neozelandeses, as vuvuzelas... Muita coisa para lembrar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

CINEMA ► "Apenas Uma Vez" - Um pequeno drama musical delicado, econômico e irresistível

O blogueiro tentou encaixar um "bom, bonito e barato" no título do post, mas não faria justiça ao que é o filme. Então troquei bonito por curto e inverti a ordem de modo que mais se adequasse ao que realmente achei de "Apenas Uma Vez". Ficou "Curto, barato e bom, muito bom". Não gostei. Acabei com o título aí de cima. Não achei muito inspirado, não era bem isso que eu queria, me fugiram as palavras, mas ao menos me pareceu fiel ao que quero escrever.

O lance aqui é registrar a ótima surpresa que foi zapear com o controle remoto e encontrar esse pequeno grande filme à disposição, ali, bem na hora em que eu procurava alguma coisa legal para assistir. Caí no Cinemax, onde se consegue encontrar filmes de fora da em geral medíocre produção hollywoodiana.

"Apenas Uma Vez" retrata o casual encontro entre um compositor que toca nas ruas de Dublin nas horas de vagas de seu trabalho na loja de conserto de aspiradores de pó do pai viúvo e uma imigrante tcheca, pianista, que faz o que pode para sustentar a filha e a mãe: vende flores nas ruas, faz faxina em residências etc.

O clima irlandês ajuda - e muito. Não é uma realidade maquiada. Passa a ideia que costumo ter de um povo operário, que precisa lutar muito para conseguir as coisas. Definitivamente, nada a ver com o glamour de regiões europeias mais abastadas. A fotografia, sem estúdio, toda em locações, talvez até pela rudeza da realidade, é muito bem adequada. A interpretação dos protagonistas, o cantor e compositor irlandês Glen Hansard (vocalista e guitarrista da banda The Frames) e a jovem compositora e multi-instrumentista tcheca Markéta Irglová, é outro ponto alto. Por não serem atores de formação, passam - a mim, ao menos, passaram - uma credibilidade aos personagens que facilmente poderia ser perdida por profissionais que tendem a superatuar em papéis que pedem o oposto: discrição e comedimento para que o personagem sobressaia. Hansard e Irglová atuam no tom certo. E a química entre os dois é excelente. O roteiro é comedido, sensato, não há exageros (há algumas tentações que o diretor John Carney consegue evitar). A direção é discreta e o uso da câmera movendo-se como em documentários (aquelas imagens em que a câmera move-se daqui para ali, engatando com um zoom dando close em alguém) gera maior identificação e empatia com a história. Fica parecendo mais real.

Aí você pega os ingredientes acima, bate no liquidificador e tempera com uma grande dose de música de alta qualidade e pronto: temos um filme envolvente, que chamei de pequeno grande filme porque tem apenas uma hora e meia, custou módicos 150 mil dólares para ser feito e é muito bom. Prova de que não é preciso gastar dezenas de milhões de dólares e três horas de material editado para exibir algo que preste no cinema - muito pelo contrário: normalmente, muito dinheiro e longa duração costumam ser maquiagem para cobrir falta de roteiro, de história, de interpretação... de tudo. Com sua quase média metragem, "Apenas Uma Vez" acaba deixando aquele gostinho de "quero mais", de "já acabou?", algo que o carnavalesco Fernando Pamplona sacou nos seus tempos de Salgueiro e implantou nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro nos anos 1960.

Pequena digressão carnavalesca: até Pamplona, as escolas passavam, passavam, passavam... E quanto mais tempo na pista, melhor, porque isso até servia para prejudicar a escola seguinte. Pamplona impôs no Salgueiro um desfile mais rápido, quase no ritmo de um bloco de embalo, passando rápido pela avenida para deixar saudade, o tal gostinho de "quero mais", em oposição a um eventual "ainda não acabou?". Ou talvez como diz o trecho de um poema de Ferreira Gullar: "E a escola passa e me leva e me deixa. / E dá vontade de chorar: / chorar porque passou linda / e chorar porque já passou."

Voltando ao cinema, a trilha sonora é irresistível. As cenas musicais são de extremo bom gosto e atraentes. O entrosamento de Hansard e Irglová também aqui é ótimo. Depois de ver o filme, a primeira vontade que tive foi de sair atrás do CD.

Uma curiosidade: eu tinha certeza que a cara do Glen Hansard não me era estranha. A cara e alguns trejeitos lembravam um pouco o Bryan Adams, mas não era isso. Uma pesquisa básica no Google ajudou: Glen Hansard é o cabeludo guitarrista Outspan Foster, recrutado por Alan Parker para o elenco musical quase amador do excelente "The Commitments - Loucos pela Fama". Como são as coisas: sábado passado, estava num shopping com minha esposa quando insisti para passarmos nas lojas de DVDs porque estava com desejo de comprar o filme... "The Commitments"! Do nada me deu essa vontade. Eu disse bem assim: "Estou com desejo de comprar o DVD de "The Commitments."

Não achei o DVD de "The Commitments" (acabei comprando o clássico eterno e sempre ótimo "Cantando na Chuva"), mas acabei encontrando essa agradável surpresa, "Apenas Uma Vez", que saciou minha vontade de assistir a um filme musical de conteúdo e qualidade. Muito boa qualidade. Adoro quando isso acontece: achar um filme assim quase que por acaso. Faz valer a fortuna que a gente paga por uma assinatura de TV a cabo com todos os canais de cinema.

A propósito: recomendo também o CD com a trilha de "The Commitments". Felizmente, esse já tenho há muito tempo.