quarta-feira, 1 de setembro de 2010

POLÍTICA ► Deu na internet: "Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT", artigo de Leonardo Boff

Segue reprodução de excelente artigo assinado pelo teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, autor de "Depois de 500 anos: que Brasil queremos" (Vozes, 2000), no ótimo site Adital.

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30.08.10 - BRASIL
Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT
Leonardo Boff
Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, "capado e recapado, sangrado e ressangrado". Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguradados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: "façamos nós a revolução antes que o povo a faça". E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde "a coisa pública", o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: "não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido". Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. O "Fome Zero", depois o "Bolsa Família", o "Crédito Consignado", o "Luz para Todos", o "Minha Casa, minha Vida, o "Agricultura familiar, o "Prouni", as "Escolas Profissionais", entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um "não retorno definitivo" e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses "descobrindo/encobrindo" o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): "Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-Nação" (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

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Assino embaixo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

IMPRENSA ► O blues nasceu tanto na África quanto a bossa nova nasceu na Europa, certo?

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Sem querer ser o dono da razão, mas opinando porque a internet é livre, acho que os veículos de imprensa perderam de vez o cuidado com a qualidade do material que produzem. De vez em quando dou exemplos aqui porque é algo que me incomoda. Afinal, é minha profissão.

Uma coisa é pessoas como eu cometerem erros em meios como este, já que o fazem por puro diletantismo, passatempo, distração ou o que for. Outra é um profissional receber para isso e alguém pagar para receber informações equivocadas.

Já postei aqui alguns exemplos que me incomodaram. Aqui vai mais um. Esta semana, fechando uma matéria num dos jornais da Globo News sobre o recente evento Back2Black Festival, realizado no Rio de Janeiro, a repórter encerrou seu texto dizendo que o blues nasceu na África. Não é bem assim. Na verdade, não é nada assim.

O blues nasceu tanto na África quanto a bossa nova nasceu na Europa. Não se devem confundir raízes com a formatação de um estilo. Dizer que o blues nasceu na África é o mesmo que dizer que eu, você e todos à nossa volta somos africanos. Afinal, foi lá que foram encontrados indícios mais antigos da presença do homem moderno.

O que parece é que ninguém revisou a matéria para corrigir a informação ou revisou e achou que era aquilo mesmo. Ou, pior, ninguém liga para a qualidade do que é produzido. O que importa é cumprir pauta e finalizar o trabalho.

A pessoa mais desatenta acaba tomando por verdade uma mentira como essa. E, com o tempo, a mentira vai se perpetuando como verdade.

No fim, por linhas tortas segue-se uma não menos torta máxima jornalística: se a lenda é mais interessante que o fato, publique-se a lenda. E dane-se a verdade.

É minha opinião.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FÓRMULA 1 ► Lewis Hamilton vence em Spa-Francorchamps e polariza campeonato com Mark Webber

Ainda a seis corridas do final da temporada de Fórmula 1, parece que a inconsistência de Sebastian Vettel e os azares de Jenson Button vão deixar a competição polarizada entre o inglês Lewis Hamilton e o australiano Mark Webber. No Grande Prêmio da Bélgica, disputado no lindo e desafiador circuito de Spa-Francorchamps, sob sol, chuva e o que mais a natureza mandasse, Hamilton chegou na frente, seguido de Webber e do polonês Robert Kubica (mais um grande desempenho). Agora Hamilton lidera com três pontos de vantagem sobre Webber, que já tem 28 a mais que seu companheiro de equipe, Vettel, e 32 que Button.

Foi uma corrida de minimização dos erros, porque, como de hábito, o tamanho do circuito e o clima da região tornam cada volta um desafio a superar. Mesmo Hamilton não pode evitar uma escapada na brita, precisando de muito talento para não se chocar com o muro de proteção e manter-se na prova.

Logo após a largada, com tempo seco, desabou um aguaceiro no meio da volta que encharcou a pista a pista na região chamada de Bus Stop, fazendo quase todos os pilotos dar um passeio na área de escape. Pior para Rubens Barrichello. Rubinho, que completava 300 corridas não achou o freio e deu o azar de encontrar pela frente um dos poucos carros que fazia a curva dentro da pista, a Ferrari de Fernando Alonso.


Ali acabou a corrida de Barrichello, mas Alonso parou logo no boxe e aproveitou para colocar os pneus de chuva para tentar tirar proveito do acidente. Mas não era dia do espanhol, porque a chuva não durou muito e ele logo teve que fazer nova prematura entrada nos boxes. Depois a chuva voltou. E parou. E voltou...

Felipe Massa conseguiu um bom 4ª lugar, mas parece conformado com uma discreta temporada. Lucas di Grassi foi 17º e Bruno Senna parou na sexta volta.

O destaque negativo da prova foi Sebastian Vettel, cuja caixinha de asneiras parece ter sempre uma surpresa a mais. Desta vez, o rápido alemão provocou uma incrível colisão com Jenson Button. Uma barbeiragem daquelas. Na tentativa de ultrapassar o inglês, com pista seca, Vettel entrou rápido na reta, mas, ao se aproximar do carro da frente, parece ter ficado indeciso sobre que movimento deveria fazer. Ameaçou sair por um lado, recolheu e aí quem decidiu sair sozinho foi o carro, que rabeou e entrou de bico na carenagem da McLaren de Button, furando o radiador de uma maneira nunca vista na Fórmula 1. A McLaren parecia um avião abatido, fatalmente atingido, com um jato d'água forte saindo da lateral como se fosse fumaça.


Do lado positivo, além de Hamilton, Webber e Kubica, Nico Rosberg lutou com unhas e dentes para chegar à frente de Michael Schumacher - e conseguiu. A Mercedes já deve ter percebido que se não tivesse priorizado o veterano e recordista alemão em detrimento do mais jovem após as primeiras provas, Nico certamente estaria com uma pontuação bem maior.

Colocação final após as 44 voltas do GP da Bélgica:

1º) Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes) - 1h29m04s268
2º) Mark Webber (AUS/RBR-Renault) - a 1s571
3º) Robert Kubica (POL/Renault) - a 3s493
4º) Felipe Massa (BRA/Ferrari) - a 8s264
5º) Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes) - a 9s094
6º) Nico Rosberg (ALE/Mercedes) - a 12s359
7º) Michael Schumacher (ALE/Mercedes)- a 15s548
8º) Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari) - a 16s678
9º) Vitaly Petrov (RUS/Renault) - a 23s851
10º) Vitantonio Liuzzi (ITA/Force India-Mercedes) - a 34s831
11º) Pedro de la Rosa (ESP/Sauber-Ferrari) - a 36s019
12º) Sebastien Buemi (SUI/STR-Ferrari) - a 39s895
13º) Jaime Alguersuari (ESP/STR-Ferrari) - a 49s457
14º) Nico Hulkenberg (ALE/Williams-Cosworth) - 43 voltas
15º) Sebastian Vettel (ALE/RBR-Renault) - 43 voltas
16º) Heikki Kovalainen (FIN/Lotus-Cosworth) - 43 voltas
17º) Lucas di Grassi (BRA/VRT-Cosworth) - 43 voltas
18º) Timo Glock (ALE/VRT-Cosworth) - 43 voltas
19º) Jarno Trulli (ITA/Lotus-Cosworth) - 43 voltas
20º) Sakon Yamamoto (JAP/Hispania-Cosworth) - 42 voltas

Não chegaram:

21º) Fernando Alonso (ESP/Ferrari) - 38 voltas
22º) Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) - 15 voltas
23º) Bruno Senna (BRA/Hispania-Cosworth) - 6 voltas
24º) Rubens Barrichello (BRA/Williams-Cosworth) - 1 volta

Classificação do Mundial de Pilotos após 13 provas:

1º) Lewis Hamilton - 182
2º) Mark Webber - 179
3º) Sebastian Vettel - 151
4º) Jenson Button - 147
5º) Fernando Alonso - 141
6º) Felipe Massa - 109
7º) Robert Kubica - 104
8º) Nico Rosberg - 102
9º) Adrian Sutil - 45
10º) Michael Schumacher - 44
11º) Rubens Barrichello - 30
12º) Vitaly Petrov - 19
13º) Kamui Kobayashi - 17
14º) Vitantonio Liuzzi - 13
15º) Nico Hulkenberg – 10
16ª) Sebastien Buemi – 7
17ª) Pedro de la Rosa - 6
18ª) Jaime Alguersuari - 3

Classificação do Mundial de Construtores:

1º) McLaren -Mercedes - 329
2º) Red Bull -Renault - 330
3º) Ferrari - 250
4º) Mercedes - 146
5º) Renault - 123
6º) Force India-Mercedes - 58
7º) Williams -Cosworth - 40
8º) Sauber-Ferrari - 27
9º) STR-Ferrari - 10
10º) Lotus-Cosworth - 0
11º) VRT-Cosworth - 0
12º) Hispania-Cosworth - 0

FUTEBOL ► CBF adia jogo para Corinthians comemorar aniversário

Falar de favorecimento da CBF de Ricardo Teixeira ao Corinthians de Andrés Sanches é como chover no molhado, secar gelo, bater em bêbado ou qualquer outra expressão do gênero que expresse algo sem valor, sem efeito ou redundante. Mas quando fatos se sucedem assim...

Após uma semana em que decidiu arbitrária e injustificadamente (ou melhor, com justificativas patéticas e idiotas) interditar todo o Maracanã ao menos 45 dias antes do previsto (se necessário fosse antes do fim do ano) por não poder receber mais de 45 mil torcedores e dar um estádio de 48 mil lugares ao Corinthians para receber até a Copa do Mundo, a CBF segue sem medir esforços para ajudar os amigos, no tradicional estilo "toma lá, dá cá" de Ricardo Teixeira.

Agora, Brasileirão pegando fogo, principal competição de futebol do país, a CBF adia o jogo do Corinthians contra o Vasco em São Januário, no dia 1º de setembro, sob o prosaico motivo de permitir que o Corinthians comemore seu 100º aniversário em casa.

Mas não adiou para o dia seguinte ou mesmo antecipou o jogo. Adiou para dali a mais de 40 dias. Assim, em plena maratona de jogos quarta-domingo-quarta-domingo, o Timão tem uma semana livre para festejar - e treinar.

Ué, mas isso não é análogo ao tal "esta deliberação tem por escopo, também, manter a igualdade de condições entre os clubes participantes do Campeonato, que poderiam ser prejudicados caso a interdição do uso do estádio ocorresse em meio do returno do Campeonato" que a CBF usou como justificativa, divulgada em nota oficial, para a interdição do Maracanã?
Pergunta que não quer calar: será que a CBF de Ricardo Teixeira faria o mesmo por Flamengo ou Fluminense?

E não é ridículo que a grande maioria dos jornalistas esportivos apontem uma clara retaliação da CBF ao Fluminense por não ter cedido Muricy Ramalho à seleção brasileira? Será que não dava para disfarçar um pouco melhor?

Enfim, é apenas mais um fato desmoralizante que parece mostrar que o Campeonato Brasileiro da CBF é feito mais para uns que para outros.

Mas moral é palavra que não faz parte do dicionário CBFelesco, não é mesmo? Moral, ética, vergonha...

A CBF ainda é um dos resquícios do Brasil que dizia amém para o capital, a cultura e as diretrizes que vinham do estrangeiro. Na política e na economia nacional isso não existe mais. Mas o futebol, infelizmente, é independente e por isso está nas mãos de um ditador mantido no poder por asseclas espalhados por federações falidas, que, por sua vez, são eleitos até por clubes e ligas municipais fantasmas. Depois a CBF não sabe por que muitos torcedores a chamam de Casa Bandida de Futebol.

Mas um dia isso acaba.

É a minha opinião.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

RIO DE JANEIRO ► E aí, vai dar primeira página? Ah, é, não foi na Zona Sul...

Até quando a sociedade carioca e a mídia vão continuar a agir hipocritamente, reverberando com destaque apenas o que acontece no mundinho da Zona Sul do Rio de Janeiro? Abaixo, reprodução do G1:

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22/08/2010 12h36 - Atualizado em 22/08/2010 12h36
Jovem é morto após sair de baile funk no subúrbio do Rio


Ele estava acompanhado da namorada e casal de amigos.
Rapaz não tinha antecedentes criminais.

Do G1 RJ

Um jovem foi morto a tiros quando saía de um baile funk em Manguinhos, no subúrbio do Rio, na manhã deste domingo (21). De acordo com a Polícia Civil, ele estava acompanhado da namorada e um casal de amigos quando foi abordado por dois homens.

O rapaz, de 21 anos, foi morto próximo ao Colégio estadual Compositor Luiz Carlos da Vila. Segundo a polícia, testemunhas contaram que o jovem foi baleado no peito e nas axilas. As testemunhas contaram que, ao mesmo tempo que os assassinos mandaram ele “ir embora” fizeram os disparos contra a vítima.

O rapaz chegou a ser levado para um posto médico em Bonsucesso, mas não resistiu. De acordo com agentes da 21ª DP (Bonsucesso), onde o caso foi registrado, não há passagens da vítima pela polícia. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios.
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Pois é, nem primeira página nem quatro páginas de meio. Muito menos discussões pseudoantropológicas sem fim.

É minha opinião.